De ..Mudar a Europa e Portugal... a 2 de Maio de 2012 às 09:58
A Europa está a Mudar
...
. E aceitou ser uma espécie de lacaio de Angela Merkel. A maioria dos franceses passaram, como é óbvio, a não o suportar e votaram anti-Sarkozy, antes de qualquer outra escolha. Por isso, há uma grande probabilidade de não ter um segundo mandato. Daí a posição inequívoca de Marine Le Pen, quando, na primeira fase das eleições presidenciais, lembrou que proximamente haverá eleições legislativas, que para o futuro da Frente Nacional - e dela própria, Madame Le Pen - são decisivas. Sarkozy que lhe quis "comer" o eleitorado - tornou-se mais à Direita do que a própria Senhora Le Pen. E, assim, não pode permitir-se que, especialmente neste momento, o eleitorado da Frente Nacional se passe para Sakozy. O qual Sarkozy, para de algum modo o conseguir, fez tais piruetas, que deve ter perdido também uma parte do eleitorado do centro.
O escritor e politicólogo francês Bernard-Henri Lévy publicou um grande artigo no El País em que expressa o seu temor por Marine Le Pen poder vir a ser, no futuro, o árbitro do jogo político francês. Penso que não será assim, embora ela o deseje. O fenómeno da Direita extrema que representa sempre foi e é circunstancial. E a vitória de François Hollande vai varrer todas essas preocupações. Vai ajudar a mudar de paradigma, para acabar com a crise. O que cria um clima novo na França e na Europa. Assim o espero.
3. E Portugal? Os portugueses estão muito descontentes e temerosos. O caso não é para menos. Com a troika a comandar - em nome dos mercados - grande parte dos portugueses, os trabalhadores e parte da classe média perderam os seus empregos e estão a passar muito mal, alguns com fome. Os suicídios cresceram, bem como a criminalidade. Portugal, com uma história tão gloriosa e sendo o mais velho país da Europa, com as mesmas fronteiras, tornou-se numa espécie de protetorado. O que não pode agradar a nenhum patriota que se preze. Dizem-nos, os neoliberais, que se trata de uma inevitabilidade. Ora em política não há inevitabilidades. Há boas e más políticas: tudo depende da vontade e da inteligência dos eleitores, nas democracias, claro. Mas as conjunturas mudam, quando as pessoas assim querem.
A austeridade, como se está a reconhecer agora em toda a zona euro - mesmo no Reino Unido -, não nos leva a lado nenhum. A não ser, para os que a sofrem, cada vez a pior. As próprias instituições europeias começam a reconhecê-lo. O presidente europeu, Van Rompuy, convocou uma cimeira - pela primeira vez - para lutar contra a recessão e o desemprego, sem o que, com ou sem austeridade, entraremos em irremediável decadência. No mesmo sentido o americano Spencer Oliver, secretário-geral da Assembleia Parlamentar da Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), de visita ao Algarve, deu uma larga entrevista ao jornal Barlavento em que afirmou: "a crise financeira foi provocada pela ganância de Wall Street". E que para a vencer é preciso, como demonstrou o Presidente Obama, de que é correligionário, lutar contra a recessão, o desemprego e em favor do Estado Social. Cito-o de novo: "As críticas devem ser apontadas aos sistemas financeiros, aos resgates e aos estímulos que canalizaram avultadas somas para salvar muitos banqueiros, que foram os primeiros responsáveis pela actual situação."
O Governo português é democraticamente legítimo porque resultou do voto popular. Nesse sentido, deve ser respeitado. Mas não está isento de críticas. Pelo contrário. Dado que os seus dirigentes, na sua maioria, são convictos neoliberais, só vêem a austeridade, ignorando - o que pode vir a ser trágico - a recessão, o inaceitável desemprego, sempre a crescer, e o desespero em que se encontra a maioria dos portugueses. O Governo que se acautele porque, como disse acima, está a remar contra a corrente europeia. Além disso, está paralisado, não explica ao Povo as medidas que toma nem as privatizações que pretende fazer e, por isso, está cada vez mais isolado...
4. Parabéns Diário de Notícias. Apesar de colaborador do DN, procuro ser imparcial. No entanto, o DN de domingo passado lançou um dossier completíssimo intitulado "Fraude no Banco Português de Negócios", com 19 páginas, que merece ser lido e estudado. Segundo o DN, a fraude pode custar 8,3 mil milhões de euros. O diretor, ...
De .Mudar UE, Portugal e (in)Justiça... a 2 de Maio de 2012 às 10:01
A Europa está a Mudar
...
O diretor, João Marcelino, escreveu um corajoso editorial que intitulou "A promiscuidade e, claro, o roubo".
Diz mais: "Que se trata de facultar aos leitores o máximo de informação possível sobre o caso, para que todos possam formar a sua opinião." E acrescenta: "Para isso recorremos a inúmeras conversas, à consulta de milhares de documentos, num trabalho que levou meses a ser executado." E a terminar: "O verdadeiramente fundamental é que, em qualquer circunstância, se apure no plano judicial tudo aquilo que houver para apurar." Não é tolerável, com efeito, que na sociedade portuguesa continue a fazer caminho a perigosa ideia de que a Justiça é cega e incapaz de agir perante os poderosos.
É aqui que está o busílis. A criação do BPN começou em 1983, a Sociedade Lusa de Negócios, em 1988. Em 2007 o Banco de Portugal pediu ao Grupo SLN/BPN que clarificasse a sua estrutura e procedesse à separação das duas instituições. Aí começaram as dificuldades. Em 2008 Miguel Cadilhe foi eleito presidente do Grupo. E numa entrevista que deu ao mesmo Diário de Notícias de domingo passado, diz, com a sua autoridade - cito - "O que se passou no BPN é a maior, a mais continuada e ostensiva fraude na banca portuguesa." E, no entanto, a Justiça parece estar cega e silenciosa perante as personalidades que são referidas como responsáveis dos abusos e também praticadas pelo BPN. Algumas delas, como se escreve no referido DN, na mais alta esfera do Estado, como o actual Presidente da República.
Ora a Justiça não pode manter o silêncio sobre tais acusações. Porque se o fizer está a dar um golpe fatal no pouco ou nenhum prestígio que a Justiça ainda possa ter. O que é gravíssimo para o nosso Estado de Direito e para a nossa Democracia. Sobretudo no período de emergência que temos tido e com os golpes profundos nas pensões e nos empregos dos nossos trabalhadores e da classe média... O Ministério da Justiça tem o dever de atuar.» [DN] Mário Soares.
Comentar post