Sexta-feira, 27 de Abril de 2012

              Escola da Fontinha: just do it  (-por Daniel Oliveira)

      A Escola da Fontinha era um edifício abandonado durante cinco anos, usado por toxicodependentes. Como é num bairro pobre, nunca Rui Rio se preocupou com isso. Um dia, um grupo de cidadãos resolveu fazer o que a Câmara não fazia: dar um uso àquele espaço. Arranjaram, limparam, pintaram.

      E durante um ano aquele edifício abandonado foi usado pela comunidade: atividades culturais, acompanhamento escolar para os miúdos, aulas. As pessoas que ali trabalharam faziam-no de graça. E isso Rui Rio nunca entenderá.

Muito menos a ideia de um grupo de cidadãos se juntar, na "sua" cidade, sem a sua superior autorização, para fazer alguma coisa pelos outros. Muito menos para desenvolver qualquer tipo de atividade cultural que não passe pelo seu crivo provinciano. Rui Rio matou a vida cultural do Porto, transformando uma das mais vibrantes cidades portuguesas numa pequena cidade de província. Porquê? Porque Rui Rio é um verdadeiro autoritário. Abomina a liberdade dos outros, a criatividade dos outros, a opinião dos outros.

     Mas a Escola da Fontinha carregava outro perigo: ao usarem uma ruina da incúria do poder local para fazerem qualquer coisa de útil para os outros, coisa que todos os vizinhos agradecem e aplaudem, aquelas pessoas exibiam, sem terem de abrir a boca, a negligência do presidente da Câmara. E passavam uma mensagem que Rio não aguenta: se quem te governa não cumpre, faz tu. Muito menos quando quem o faz não procura o lucro.

     O despejo violento de gente que usa um espaço abandonado, ao qual o Estado se recusa a dar uso, para ajudar a comunidade, é um excelente retrato da cultura política e cívica o poder Estado português. Não serve para servir a comunidade.

Serve para impor a vontade do governante. E para exibir o seu poder, não se importa de deixar um edifício emparedado no lugar onde alguém fazia alguma coisa de útil. O gesto autoritário do Presidente da Câmara, injustificável aos olhos de qualquer pessoa com o mínimo de sentido cívico, faz todo o sentido: não é Rui Rio que serve o Estado para este servir os cidadãos. É o Estado que serve Rui Rio para os cidadãos se vergarem ao seu poder

Querem saber porque somos um país atrasado e subdesenvolvido? Porque admiramos a autoridade de homens como Rui Rio. Como se a força bruta fosse a única forma de poder que entendemos. 

Do meu lado, aqueles que fizeram a Escola da Fontinha só podem merecer o respeito, admiração e solidariedade. Eles são, com a sua vontade e generosidade, quem pode fazer deste país uma sociedade decente. Rio, na sua soberba autoritária, é apenas um reflexo da estupidez arrogante do poder que nos atrasa há séculos. E não encontro melhor data para escrever este artigo do que o dia 24 de Abril. 

        

   Fontinha  (-por Bruno Sena Martins)   "Activistas do movimento Es.Col.A reocuparam a Escola da Fontinha, no Porto, em 25 Abril 2012." 

 



Publicado por Xa2 às 11:46 | link do post | comentar

2 comentários:
De DC a 30 de Abril de 2012 às 11:38
O PCP e o BE parece seguir-lhe os ensinamentos não fez outra coisa que mobilizar pessoas para manifs , assim "o faça você mesmo" da politica ainda não encontrou nenhum AKI , Merlin outro espaço de bricolage que não fosse a rua.

Por outro lado quer o PS como o PSD o que cultivaram e criaram foi corruptos e oportunistas acasalados com os mais variados fluxos de interesses económicos e financeiros (Motas, Brizas , Lusopontes ; BPNs, SLNs, etc, etc).

Asim não, assim não vamos lá.

Faltam os ensinamentos e as praticas de cidadania individuais e colectivas.

O resultado sente-se e está à vista.


De .Ditadura Democapitalista. a 3 de Maio de 2012 às 18:04
Pode ser numa escola do Bairro da Fontinha que agora está abandonada e encerrada?
(-por Daniel Oliveira, Arrastão)

O Ministério Público (MP) exigiu ontem que os três homens detidos nos confrontos com a polícia no despejo do movimento Es.Col.A do Alto da Fontinha, no Porto, a 19 de Abril, sejam condenados a penas de prisão suspensas e cumpram trabalho comunitário.

O cúmulo da ironia é punir alguém por defender o trabalho para a comunidade e dar-lhe como pena trabalho para a comunidade.

-----------
mário borges
Não é ironia. É grave.
Então confirma-se que aquelas pessoas vão ser mesmo condenadas?
Qual é mesmo a gravidade do crime que cometeram?
Não se veja o trabalho comunitário como uma benesse.
Estas pessoas pura e simplesmente não podem ser condenadas.
------
chapeleirolouco
só se saberá dia 10 de maio.
-------
Nuno
O que raio é o crime de "injúrias"???
É que se fôr chamar nomes, o Benquerença pode mandar muita gente pr'á choça!!
-------
Nightwish
A filhadaputice é jurisprudência hoje em dia.
---------
RH-

Pior ainda é ter a procuradora do ministério público a fazer política quando diz, a determinada altura em audiência,
"A breve tempo o edifício destina-se a um espaço de intervenção social. Sei o que estou a dizer porque me informei".

Primeiro, esse é um facto nada relevante para o que está em causa no julgamento

Segundo, será que se informou? ou está apenas a tomar partido por uma autarquia que já mostrou estar neste processo de má fé desde o primeiro momento?

Que projeto de intervenção social? aquele que a câmara tenta implementar agora depois do despejo apenas para ficar bem na fotografia.

é absolutamente impensável que uma procuradora do ministério minta, e caso não seja mentira, poderá por favor informar o tribunal das diligência levadas a cabo junto da autarquia para apurar que tipo de projeto irá ser instituído no edifício onde já funcionava um projeto com enorme aceitação e com resultados?

o que ontem acontecu nos juízos de pequena instância criminal do porto foi um julgamento de tribunal plenário (tipo regime Salazar/PIDE) !!
só não vê quem não quer!


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