Rodrigo Rato demitiu-se do cargo de presidente do banco espanhol Bankia (seu BPN !), deixando atrás de si um banco que se prepara para uma injecção de 10 mil milhões de euros do Estado espanhol, mas com direito a pára-quedas dourado de 1,2 milhões de euros. Há variedades de capitalismo, mas há coisas que não mudam no capitalismo financeirizado e desigual: Rato foi ministro da economia e vice-presidente do governo do PP, tendo sido um dos arquitectos da bolha imobiliária espanhola.
Ajudou uma lei de solos feita à medida da economia da construção, puxando uma economia que era dada como exemplo de disciplina laboral e orçamental e adaptação ao euro no discurso neoliberal português nos primeiros anos do milénio; uma bolha que como bom seguidor da sabedoria económica convencional Rato sempre negou, já que as forças de mercado é que sabem.
Depois Rato foi para o topo do FMI, graças ao tal milagre espanhol e regressou depois ao sistema financeiro espanhol para ganhar umas massas. Lembram-se como se dizia que era bem regulado o sistema financeiro espanhol em 2008 e 2009? De facto, não há sistema que resista ao rebentamento de uma bolha destas dimensões, o que só mostra que o controlo público dos capitais tem de ser muito mais forte. É claro que o Banco de Espanha, tal como o Banco irmão do lado de cá, só pensa em desregulamentar as relações laborais para transferir para as classes populares os custos de um sistema financeiro disfuncional, em que só um banco custará mais do que os cortes em educação e saúde anunciados por Rajoy.
Lá como cá, temos uma economia desigual, em que uma “pequena elite de 1400 pessoas, que representa 0,0035% da população espanhola, controlava recursos que equivalem a 80,5% do PIB” (Hay alternativas, p. 39). O problema é sempre o mesmo...
É só denúncias e indignação... toda a gente sabe destes escândalos e governanços à conta do Zé Povinho, mas ninguém faz nada. Fazer mesmo. Não é uma tristeza?
é triste, ... mas alguns vão fazendo alguma coisa, ex: ACP - processo a ex-governantes; DECO - ajuda a sobreendividados e esclarecimentos e desmascarar práticas agressivas/ilegais mercantis; AIC- Auditoria Cidadâ à Dívida; M.Soares: apelo à mudança do PS e de políticas; blogs, vídeos, livros: desmascarar medidas austeritárias de empobrecimento, desmascarar propaganda e mentiras político-económicas, desmascarar negociatas/conluios entre políticos do centrão e banqueiros, empresas monopolistas, carteis, ...
E há propostas alternativas (em Portugal, no Parlam.Europeu, em Espanha, França, Islândia, ...) de partidos/deputados, de movimentos e associações diversas, de centrais sindicais, ... Há entidades (novas e antigas) de defesa/apoio a Desempregados, a Precários, a trabalhadores ... a famílias carenciadas, a sem-abrigo, a crianças, ...
É só procurar um pouco ... e encontra alguém/s a tentar fazer alguma coisa ... e não só a fazer-se ouvir ... e de modo gratuito. - aliás até já há voluntariado e caridadezinha a mais e emprego a menos.
Notícia de hoje: «Peregrinos querem acender “uma velinha para iluminar os políticos” A caminho de Fátima, a pé, os peregrinos repetem que é a fé que os move e este ano, na peregrinação de maio, sublinham que vão acender velas para iluminar os políticos neste tempo de austeridade.»
Fizesem mas era uma «fogueira» no sítio certo e podia ser que se começasse a fazer alguma coisa, agora «velinhas»´...
Reparem só neste exemplo de hoje: «O presidente da Câmara de Oeiras foi condenado a dois anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais, mas tem conseguido adiar o cumprimento da pena.
Relação rejeita recursos. Crimes do caso Isaltino não prescreveram Procuradores não se conformam com o facto de Isaltino não ser detido Possibilidade de novo recurso salva Isaltino Morais da prisão Caso Isaltino decidido nos próximos dias Isaltino Morais não pode ser detido enquanto existirem recursos pendentes A defesa do presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, decidiu recorrer para o Tribunal Constitucional e evita assim, novamente, a ordem de prisão.»
De que é que serviu ser condenado? Alguém tem dúvidas que se pudesse candidatar-se, ganhava outra vez? O povinho gosta é destes srs. gajos, revêm-se neles, gostavam de ser era como eles... «dá cá o meu...» Acham ainda que vamos lá com «indignações»?
De Lutar por melhor Sociedade, Vida, a 14 de Maio de 2012 às 09:13
« AS OITO HORAS FOI UM GRANDE PULO ! » Maria Rosa Viseu foi protagonista de uma luta que a fez conhecer a prisão e a tortura da polícia política, mas que contribuiu decisivamente para a conquista das oito horas de trabalho na agricultura.
A conquista aconteceu a 12 de maio de 1962, há precisamente 50 anos, tinha então Rosa Viseu 27 anos.
Não fez parte do grupo de cinco mulheres e 10 homens presos dias antes (na noite de 27 para 28 de abril), mas conheceu demasiado perto a crueldade da tortura, incluindo a da privação do sono (por duas vezes, uma cinco dias e cinco noites e outra três dias e três noites) e o espancamento.
Foi levada pela PIDE (polícia política do Estado Novo) na madrugada do dia 19 de janeiro de 1961. Ficou presa sete meses, mas nunca denunciou nenhuma das sete mulheres por quem era responsável dentro da organização do Partido Comunista Português (PCP), contou à agência Lusa.
"Até virem as eleições de 1958 eu não sabia nada. Eu achava que de facto tinha que haver os senhores e os pobres. Não tenho vergonha de o dizer. Então, ninguém me explicava nada. Mas depois veio o movimento, agarrou-me. Eu comecei a ler: 'espera aí'. Então a Maria Rosa avançou. Na praça vá de pedir condições, vá de estudar a maneira com que a gente havia de falar todos", disse.
Na "praça de jorna" - onde, ao domingo ao fim do dia, os trabalhadores discutiam com os patrões o preço da jorna da semana (30 a 40 escudos/15 a 20 cêntimos por dia) e onde eram contratados - estavam vigiados.
Maria Rosa era então uma das que mobilizava os outros para "pescarias e piqueniques" na celebrizada localmente "ponte da caleira", junto ao rio, onde combinavam a estratégia para a "praça de jorna".
Se a ameaça de não aparecerem ao trabalho por vezes resultava em melhor jorna, porque eram precisos braços para mondar o arroz, já a reivindicação das oito horas teve que ser imposta.
Combinada nos piqueniques dos domingos de 01 e de 08 de maio, no dia 12 os camponeses do Couço chegaram aos campos às 08:00, já o sol ia alto, e, perante a estupefação dos capatazes, às cinco da tarde "abalaram" rumo a casa.
"Pousaram as suas ferramentas e foram para casa e por mais que os capatazes lhes dissessem que o sol ainda não se tinha posto, elas impuseram o horário de trabalho", disse à Lusa Paula Godinho, a antropóloga que fez a sua tese de doutoramento sobre as lutas do Couço.
"As oito horas foi um grande pulo que se deu para os camponeses, coitadinhos. Depois eu até dizia 'deixámos de ser bichos'. Erámos uns bichinhos porque saíamos às quatro ou cinco da manhã, conforme a distância" (percorrida a pé até ao local do trabalho), disse Rosa Viseu à agência Lusa.
Até aí, as mulheres, que andavam sobretudo na monda do arroz, horas seguidas dentro de água, saíam de casa às quatro, cinco da manhã e só regressavam já noite feita.
As tarefas de casa, incluindo a lavagem de roupa à mão, faziam-se ao sábado - "saíamos hora e meia antes do sol se pôr" - ao domingo e ao começo da manhã de segunda-feira - "pegávamos ao meio dia" - e ainda era preciso ajudar o marido na horta, recordou.
"Foi uma vida tão triste. Eu nem quero pensar nela", disse, recordando que os filhos [teve dois] ficavam entregues a mulheres mais velhas, que já não trabalhavam, a quem as mães entregavam o valor de um dia de trabalho por semana.
Se a luta valeu a pena? "Valeu sim senhora, olha, olha. Eu nunca tive quieta e não estou nada repesa (arrependida). Sofri um bocado", confessou Rosa Viseu à Lusa, segurando na mão uma edição do jornal Avante!.
"Naquele tempo era o [Avante!] pequeno para o metermos aqui [entre os peitos] para ninguém ver. Como é que eu sabia se não estivesse ligada a isto?".
Lusa, 11 de Maio de 2012 (-via A.Brandão Guedes , bestrabalho.blogspot.com, )