Os gregos
votaram contra a austeridade que lhes foi imposta. Mas, ao que tudo indica,
não votaram pela saída da zona euro. Será possível satisfazer a vontade dos gregos? É, se admitirmos que
há uma alternativa à saída e à submissão, a desobediência.
Albert Hirschman pode ser uma inspiração. Mas não me parece que, após novas eleições, as esquerdas da Grécia tenham inteligência e maturidade política para, com base nesta alternativa, constituir um governo de coligação.
No entanto, é esse o caminho defendido pelo economista Jacques Généreux, do Parti de Gauche, nesta
entrevista de que traduzo um excerto:
Regards.fr :
É preciso sair agora do euro? Jacques Généreux : Tudo o que digo não parece possível no quadro europeu e um número importante de pessoas sérias defende a saída do euro.
Há outras vias para além do nacionalismo, frequentemente neo-fascista, ou da
abdicação frente ao neoliberalismo. Nós desejamos
manter-nos no quadro europeu a partir do qual vieram contributos importantes em termos de ambiente, de segurança, de desenvolvimento económico, de progresso social, de bens públicos. Somos
internacionalistas e portanto pelo
reforço da cooperação entre os povos. Há uma via para fazer mudar as coisas na União Europeia:
a subversão a partir de dentro. Permanecemos dentro
e desobedecemos de maneira muito educada e diplomática: prevenimos os outros governos que, em conformidade com
o mandato do povo francês,
nós não vamos respeitar um certo número de tratados e de directivas europeias. Arriscamo-nos a medidas de retaliação? Não, existem muitas condições para entrar na União Europeia mas nenhuma para dela ser excluído. Se um único
país decide retomar em parte o controlo do seu banco central, se
proíbe alguns produtos financeiros, e se
retoma o controlo parcial dos movimentos de capitais, em síntese, se
decide proteger-se da especulação, isso muda tudo para a França e para a Europa. Os países vizinhos verão que,
sem sair do euro, sem drama, podemos proceder de outra forma para resolver a crise. Os gregos, os portugueses, os irlandeses
deixarão de aceitar a austeridade e despedirão os actuais governos. A partir desse momento teremos
uma revolução através do voto que desembocará numa verdadeira
renegociação dos tratados europeus e das directivas. (e das dívidas) (-
por Jorge Bateira )