Para lá do romance europeu
Num dos seus últimos artigos, Vicenç Navarro chama a atenção para a “corrupção do processo democrático europeu” nas instituições que comandam a nossa economia política, cujas actividades e prioridades são essencialmente determinadas pelas fracções do capital, em especial do financeiro, cujo horizonte de operação, independentemente das raízes nacionais que ainda contam, é europeu ou está mesmo para lá do continente. Alguns números: 15.000 a 20.000 lobistas em Bruxelas gastam cerca de 3000 milhões nas suas actividades de compra de influência para definir as inevitáveis regras do jogo que estruturam a construção de mercados, a principal especialidade europeia. O défice democrático em Bruxelas facilita imenso este processo. É por estas e por outras que a propaganda europeia, a que faz equivaler egoísmo a nacional, é enviesada: o míope egoísmo organizado do capital opera em múltiplas escalas e tende a ser mais forte ali onde a democracia e as luzes do debate e escrutínio públicos são mais fracas. O drama é que estes poderes europeus estão a minar as democracias na escala onde estas são mais fortes.
O$ negócio$ de Bruxela$ : quem gere a União Europeia ?
La bancarrotocracia (-por João Rodrigues )
[«os especuladores deixam-nos em trajes menores», «...»]
O Estado espanhol prepara-se para entrar com o equivalente a 2% do PIB num Bankia que já foi abandonado pelo Rato. Os novos dirigentes fazem questão de dizer que não querem apurar responsabilidades. A bancarrotocracia está bem e recomenda-se em Espanha: basta lembrar que o ex-presidente do falecido Lehman Brothers de Espanha é agora o ministro da economia.
Este regime monetário e financeiro favorece o seguinte padrão nas periferias consideradas bem sucedidas até há pouco:
liberalização financeira, influxos de capitais também promovidos pela suposta desaparição do risco cambial, endividamento numa moeda que não se controla (€), bolhas especulativas nos activos, em especial na construção, captura de reguladores pelo poder financeiro reforçado, convenção “milagre económico”, superávites orçamentais, sobreapreaciação cambial, défices na balança corrente, dependência externa crescente, rebentamento da bolha;
crise financeira e económica, défices orçamentais e crise da dívida que não é soberana, constando-se que afinal a produtividade não cresceu, dados os sectores promovidos pela finança de mercado, ou que os bancos afinal não eram um modelo de boa gestão do risco e de robustez, até porque o banco central sem escrutínio democrático andava entretido a promover a redução dos direitos laborais, a sua verdadeira obsessão;
seguem-se programas de
austeridade recessiva que procuram socializar todos os fardos/custos e que trancam as economias numa
espiral depressiva.
Isto só acaba quando se
recriar um regime de controlo de capitais, presença
pública determinante na banca e soberania monetária com
controlo democrático do banco central. Tem de se começar por algum lado: razão tem por isso a
esquerda espanhola em não ter desistido de
exigir a criação de um pólo bancário público robusto ao serviço do desenvolvimento (até o
PSOE começa a defender tal ousadia perante a pressão da realidade...), parte de um processo mais vasto de reformas estruturais – sim, esta expressão tem de ser reconquistada pela esquerda – que ataquem as verdadeiras causas dos problemas.
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menvp disse...É uma ÓTARICE deixar actividades estratégicas para a soberania/comunidade à mercê dos privados! Exemplos:
- roubalheira a 'torto e a direito': Portugal tem a terceira gasolina mais cara da Europa antes de impostos;
- chantagens: a espanhola 'Endesa' decidiu chantagear o Estado português;
- e mais chantagens: para que a Europa não caísse num caos económico, a dívida da Grécia a privados foi transferida para os contribuintes (instituições públicas);
- e... mais chantagens: economistas que aconselhavam a privatização da Caixa Geral de Depósitos... depois, para que a economia do país não caísse num caos... passaram a aconselhar... (nota: e depois de terem sido desviados milhões e milhões!!!) a entrada do Estado em negócios "madoffianos": nacionalização do BPN, Estado vai controlar posição accionista de 20% no BCP, etc.
MFonseca disse ...
...enquanto não existir massa crítica não conseguiremos mudar esta situação. Muito pouca gente em Portugal tem "tomates" para chamar as coisas pelos nomes e muitas menos teriam coragem de se revoltar. As sociedades "modernas" são uma amálgama de zombies e ovelhas que usam qualquer desculpa para ficarem quietos, deixando para a hora do café as suas lamúrias inconsequentes. Qualquer pessoa com 1 dedo de testa e acesso à internet consegue perceber o jogo que a Goldman Sachs, UBS, Deustche Bank, JP Morgan e outros estão a fazer...
A pouco e pouco não restam quaisquer bens (assets) públicos e depois ??
... O que faz não chegar para todos é que uma mão cheia (de super-ricos, bancos e multinacionais) possui 90% dos recursos naturais e financeiros.
... enquanto não "matarmos" este paradigma vicioso e viciado nada mudará. ... Basta olharmos para a história conhecida da "civilização" humana e compreendemos que a "elite 1%" procura manter e alargar o seu poder, dominando e pisando os "99%" povo (trabalhadores)...
De Governação malcheirosa !! a 28 de Maio de 2012 às 16:49
Os deputados, na Assembleia da República, e os governantes, no governo de Passos Coelhote,
andam às turras por questões de semântica linguística e,
nem uns como outros, se preocupam, minimamente, em resolver os reais e verdadeiros problemas que afligem os portugueses que, tão profundamente, afectam a economia e as famílias do país.
Em vez disso vão resolvendo, em lutas intestinas, os diferentes interesses dos vários agrupamentos de que fazem, uns e outros, parte, legislando, aqui e ali, a contento e em prol de tais benefícios, rendas e interesses privados.
...
Na verdade trata-se do dinheiro dos contribuintes, extorquido ao povo de forma descarada, despudorada e, arrogantemente, esbulhado, tanto por via de pesados impostos como através de aumento de preços em bens essenciais e de primeira necessidade ou retirada de direitos de acesso à saúde, educação e de compensação remuneratória condigna de uma sociedade dita desenvolvida.
Será que, sendo o dinheiro deles mesmos, aceitariam entrega-lo, numa qualquer entidade bancária, sem exigirem exercer controlo sobre a sua respectiva gestão?
Será que sendo o dinheiro deles mesmos, e sendo accionistas de 51% do capital social, só aceitariam exercer o controlo sobre 1% desse capital?
Pois é, é mesmo isso que, tudo indica,
o tão cioso ministro Gaspar e respectivo governo, bastante lestos a cobrar impostos e a cortar nos salários e subsídios dos trabalhadores portugueses,
vão acordar com os banqueiros entregando-lhes o dinheiro que eles quiserem para que tais senhores patinhas dele façam o que muito bem entenderem.
Poderão repetir-se “fenómenos” do tipo BPN`s, os portugueses ficam com o “CóCós” nas mãos e por mais que lhes cheire a merda, têm de arcar com os encargos de tão repetitivos roubos, para salvar o sistema financeiro especulador, como já diziam Sócrates, o Pinóquio, Teixeira o contabilista e Constâncio, o zarolho.
Não acham que isto tudo cheira mesmo muito mal, desculpem, chamando os bois pelos nomes, não cheira mesmo a merda?
MARCADORES: participação e cidadania, politicos e governates
(- por DC , Luminária)
De .FMI: - Zonas de Escravos Europeus de 5ª a 29 de Maio de 2012 às 10:21
Retrato de família, com Lagarde ao fundo
«A directora-geral do FMI, Christine Lagarde,(que ganha 380 mil euros/ano livres de impostos !! ) numa entrevista ao “Guardian”, declarou, mais vírgula, menos vírgula, que se está a borrifar para as crianças gregas que passam fome.
E, como se fosse a Madre Teresa de Calcutá, como se tivesse passado a vida nas florestas africanas a fazer voluntariado ou como se entregasse a sua abastada remuneração a obras de caridade, continuou, com desfaçatez:
“Penso mais nas crianças de uma escola numa pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três.”
E concluiu com “chave de ouro”:
os pais das crianças gregas que paguem os seus impostos.
A demagogia destas declarações é muito mais chocante do que o comportamento sexual do seu antecessor.
A bem remunerada burocrata Lagarde fala dos gregos, do povo grego, como quem fala de um bando de salteadores, o que revela, também, para além da demagogia, a arrogância das instituições financeiras
que sugam, em juros, o trabalho alheio e, em vez de se envergonharem da usura, benzem--se como se fossem filantropos.
Depois de ter proposto uma “saída ordenada” da Grécia do euro e da União Europeia, estas declarações de Christine Lagarde significam, também, que,
após a vitória de Holande, em França, e da ascensão eleitoral da extrema-esquerda, na Grécia, o que trouxe para cima da mesa a discussão de novas questões sobre o futuro da União Europeia,
o FMI deixa claro que, nessa contenda, está inequivocamente ao lado da senhora Merkel e da visão alemã da Europa.
Limpa, assim, de uma vez por todas, algumas declarações anteriores da directora-geral do FMI, nas quais insinuou que a Grécia precisava de “mais tempo e mais dinheiro” para poder resolver a sua situação.
Mas, para entender melhor o que está em causa, nesta União Europeia governada pelos interesses alemães, na sexta-feira, o “Der Spiegel” tornou público dois documentos internos do governo alemão, produzidos pelo Ministério da Economia, nos quais se
propõe que os países meridionais em dificuldade, e citam a Grécia e Portugal (a que a Espanha não deve escapar), só se livram do INFERNO em que se AFUNDAM se seguirem o “modelo chinês”, constituindo “zonas económicas especiais” dentro da Europa.
( ZEE de capitalismo selvagem, de trabalho escravo, 15 horas/dia, partilha de "cama quente", tigela d'arroz e c. 100 euros por mês... se for "bom trabalhador e/ou 'simpática' pró chefe"...!! )
Estas “zonas” poderão atrair investimento estrangeiro, e resolver os seus problemas de deficit orçamental e dívida externa,
se aliviarem substancialmente a carga fiscal para as empresas e se eliminarem grande parte do que resta da legislação protectora do trabalho
(nomeadamente o fim da contratação colectiva do trabalho, a facilitação do despedimento, o aumento da idade de reforma, etc.),
e se suspenderem a legislação de defesa do ambiente (poluirem à vontade, estragarem bons terrenos agrícolas, parques, bosques, património comum ... e privatizarem/ venderem tudo ao desbarato !! ).
A senhora Lagarde não está preocupada com o sofrimento de ninguém.
Se estivesse, a instituição que representa podia aliviar o sofrimento das crianças africanas. Mas, como não tem garantias do retorno do dinheiro a emprestar (com os respectivos juros usurários), por parte dos governantes do Niger e de outros países africanos, fica com o dinheiro no cofre.
Porque não quer correr riscos.
Os riscos, para o FMI, estão só do lado dos devedores.
Em boa verdade, Christine Lagarde e a senhora Merkel não estão minimamente interessadas em aliviar o sofrimento de ninguém, antes pelo contrário.
O que elas querem, em nome dos “senhores do dinheiro”,
é que as crianças gregas e as portuguesas sofram como as crianças africanas.
Foi-nos conferida a vil tristeza de testemunhar este aviltamento da Europa e da condição humana.
Como pressagiou Fernando Pessoa: depois do período do dinheiro, “cairemos por fim em outro de autoridade, até que, no extremo, a nova barbárie, outra vez a força, nos tome e leve”.» [i]Tomás Vasques.
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