Segunda-feira, 25 de Junho de 2012
Gaspar em jogo (por Nuno Serra , Ladrões de B.)
Não por acaso, Vítor Gaspar escolheu a passada quinta-feira, no final da reunião de ministros das finanças da zona euro, para começar a levantar o véu sobre os resultados do último relatório de execução orçamental da DGO. Com a atenção dos portugueses concentrada no jogo com a República Checa, tornava-se mais fácil começar a entreabrir as portas que mostram o desastre em que mergulhou o país.
O ministro reconhece nesse momento que «a informação disponível sobre o comportamento das receitas não é positiva», para acrescentar que os dados «traduzem um aumento significativo nos riscos e incertezas associadas às expectativas orçamentais». Mas assegura, uma vez mais, que «o executivo não vai pedir “nem mais tempo, nem mais dinheiro”» para cumprir o défice. Gaspar chegaria mesmo a glosar uma metáfora futebolística sobre a importância de obter resultados durante o «tempo regulamentar» (isto é, sem recorrer a «prolongamentos»).
Ontem, com a divulgação do relatório da DGO - a que o José Maria Castro Caldas fez referência no post anterior - o descalabro orçamental era conhecido em todo o seu esplendor: em valores homólogos, as receitas caem 3,5% (devido a quebras no IRC, IVA e impostos sobre veículos, tabaco e combustíveis) e a despesa aumenta 2% (dado o acréscimo, entre outros factores, de encargos com o pagamento de subsídios de desemprego e a diminuição das receitas da Segurança Social), dilatando o défice do Estado em 35% nos primeiros cinco meses do ano. Valores que, no seu conjunto, ilustram com clareza a espiral recessiva que a insanidade austeritária desencadeou.
Não querendo pedir nem mais tempo nem mais dinheiro, Vítor Gaspar só conhece uma solução para alcançar o tecto do défice estabelecido para 2012 que, nas suas próprias palavras, «o governo está determinado a cumprir», consciente de que «o esforço necessário para atingir esse valor é muito importante». Voltando às metáforas do futebol, Gaspar já se está nitidamente a preparar para pedir mais esforço (e sacrifícios) a certos jogadores.
De .. Austeridade + Desigualdade, ... a 25 de Junho de 2012 às 12:33
Pedro Veiga disse...
Vão continuar a pagar e a pagar mais os mesmos do costume!
Ele (o Gaspar) já o afirmou e passou despercebido a 99 % dos portugueses.
Quando terminar a febre do futebol mais uma onda de austeridade chegará às costas dos portugueses!
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Não serve para nada não, serve para concentrar a riqueza nas mãos de uns tantos.
É por estas e por outras que a esquerda está como está: incapaz de desmontar as falácias neoliberais!
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"o programa real do Syriza é o retorno à autarcia e ao proteccionismo, na verdade o único programa genuíno que a esquerda tem na Europa.
Escave-se fundo nas propostas da esquerda europeia, dispam-se das roupagens politicamente correctas e o que fica é um
erigir de fronteiras face ao dumping social chinês, para manter o que resta do “modelo social europeu”.
Se não for possível fazê-lo a nível da Europa, cada país tenderá a fazê-lo por si, com as excepções daqueles que vivem exactamente da globalização e da internacionalização.
A Europa proteger-se-á da competição com os produtos chineses mais baratos, feitos com mão-de-obra quase escrava,
as deslocalizações serão impedidas porque os seus produtos ficarão demasiado caros ao passarem pela pauta alfandegária,
os consumidores pagarão mais caro, mas os salários permanecerão altos e a regalias sociais serão mantidas pelo menos para a presente geração.
É uma solução errada, que não funcionará, mas é a única que existe à esquerda para garantir o “crescimento” assente num mercado único europeu protegido."
no abrupto
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liberais vêm sempre com estes argumentos...Vê-se mesmo que o investimento capitalista realizado na Ásia foi feito para tirar as vacas das ruas da Índia, limpar as águas do Ganges ou requalificar o ambiente na China...E os cortes salariais que eles promovem na Europa é apenas para os distribuir pelo resto do Mundo, não é?..
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JOSÉ LUIZ SARMENTO disse...
A austeridade serve para aumentar as desigualdades.
E este aumento é um fim em si mesmo, desejado e prosseguido por muita gente poderosa.
Uma sociedade menos desigual não seria um jogo de soma zero:
se os pobres fossem menos pobres, isto não resultaria necessariamente em que os ricos fossem menos ricos.
Até pode ser que ficassem um pouco mais ricos em termos absolutos, embora não o ficassem, obviamente, em termos relativos.
Mas o que lhes interessa é ser mais ricos em termos relativos, não em termos absolutos.
A partir de um certo nível de conforto, já não se procura a riqueza por si mesma, mas sim o maior poder possível sobre os outros.
E este exige a desigualdade, mesmo que para a obter sejam necessárias perdas de eficiência económica.
Trata-se de tornar os pobres o mais pobres possível, para que se submetam a tudo.
Para obter isto, os ricos não se importam nada de ficar um pouco menos ricos.
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