Sexta-feira, 29 de Junho de 2012

                           UE:  Futebol  &   ‘Rebelião’  Latina …   (-por e-pá! Ponte Europa)

   Deixando de fora o Euro 2012 e o disputado encontro de Varsóvia, ontem, e simultaneamente com o desenrolar do 'match', no Conselho Europeu em Bruxelas, viveram-se - segundo se depreende - momentos de exigente e animado debate político.
   Tratou-se do reavivar de um problema recorrente que tem sido sistematicamente agendado (adiado) para o médio prazo. Isto é,  a regulação dos mercados de obrigações através da intervenção dos fundos de socorro europeus (FEEF e SEM).
   Tal intervenção foi exigida - para já e com urgência - por Mario Monti e apoiada por Mariano Rajoy. link
Perante as constantes indecisões e ziguezagues sobre agendas de crescimento, project bonds e eurobonds e face à eminência de novos (mega)resgates (Espanha e Itália... e Chipre...), o enfrentar das progressivas pressões dos mercados tornou-se uma questão central e prioritária que determina a tomada imediata de decisões para a defesa da moeda única.
   O Conselho Europeu terá dificuldades em delinear uma inflexão tão profunda no enfrentar da ‘crise das dívidas soberanastornando equilibrado e transparente o acesso aos mercados de financiamento. Existem - dentro da UE - muitos e poderosos interesses em jogo, nomeadamente, questões de âmbito nacional e, a curto prazo, eleitoral.
    Todavia, o crescente número de países europeus 'encurralados' pelo desmesurado apetite dos mercados, algum dia (terá sido ontem?), teriam de 'bater o pé' e apostar na Europa e no futuro comum.
   Sendo assim, quando na próxima semana se disputar, no futebol, mais uma final europeia, seria bom que, neste caso, os dois países latinos envolvidos, estejam sob a pressão emotiva dos seus adeptos mas livres do silencioso cerco (garrote) dos mercados e das cíclicas indecisões de Bruxelas.
   E, regressando à alegoria futebolística, em Kiev, na próxima final, que ganhe o melhor!


Publicado por Xa2 às 07:54 | link do post | comentar

8 comentários:
De Colin Crouch ... e neolib a 29 de Junho de 2012 às 14:40
...
anos 70, quando os neoliberais insistiam que os governos só tinham de fazer uma coisa: controlar a oferta de dinheiro. Foi essa abordagem que morreu: o grande aumento da dívida privada, a complacência da administração norte-americana em imprimir mais dólares sempre que precisava, o uso de flexibilização quantitativa e de linhas de crédito especiais para os bancos são tudo refutações da teoria monetarista original. Os keynesianos renasceram mas dentro de um enquadramento neoliberal. No entanto, devemos lembrar que o keynesianismo não é sinónimo de governos com dívida crónica, as técnicas keynesianas destinam-se a ser usadas para estimular a economia em alturas de recessão e a ser abandonadas em alturas de inflação; não são feitas para manter elevados níveis de dívida de forma rotineira.

Não concorda, como certos sectores da esquerda, que as empresas multinacionais são a base de todo o mal, porém, não é verdade que grandes conglomerados sem rosto se podem transformar em mundos à parte, trabalhando apenas para os seus accionistas e não cumprindo o seu papel social?

Certamente que não podemos vê-las como a base de todos os males quando ficamos tão contentes ao comprar e usar os seus produtos! Mas é realmente um problema quando exploram o seu poder no mercado para conseguir uma espécie de regulação privada da economia e usam a sua riqueza para agir politicamente de modo a assegurar privilégios dos governos.

Acredita que um melhor controlo da responsabilidade social das empresas pelas instituições públicas e a pressão dos consumidores e dos accionistas será suficiente para mudar esta situação?

Poderá não ser suficiente, mas vale a pena tê-los.

Uma empresa como a Halliburton, que consegue a maior parte dos seus rendimentos com a guerra e a reconstrução depois de um conflito, poderá ser controlada pela pressão dos consumidores?

Boa questão! O seu principal consumidor é o governo norte-americano, junto do qual fazem lóbi com muito sucesso e ao qual também fornecem pessoal. Tem razão; a pressão do consumidor só funciona em sectores onde os consumidores são cidadãos normais e onde os nomes das marcas são importantes, de modo a que uma empresa possa ser envergonhada. Isso deixa de fora uma grande parte da economia – mas também inclui vários sectores.

Não acha que o verdadeiro perigo está em não ter mecanismos que possam regular empresas opacas como a Halliburton?

Não acho que possamos definir o verdadeiro perigo de forma tão precisa. Os problemas dos riscos excessivos assumidos pelo sector financeiro ou o abuso do poder de monopólio por empresas suficientemente grandes para estabelecer padrões globais – para citar dois exemplos – não estão incluídos no modelo Halliburton. O problema é multifacetado.

No seu livro “Post-Democracy” escreveu que “a política e o governo estão a deslizar cada vez mais para o controlo das elites privilegiadas de uma forma que era característica do tempo pré-democrático”. Não é por isso que estamos como estamos?

Sim, realmente. E a causa principal está na mudança nas relações entre capital, trabalho e outros cidadãos que decorre da globalização. Não quero com isto dizer que devemos opor-nos à globalização, tendo em conta que promete melhorias nas condições de vida para milhares de milhões de pessoas no terceiro mundo e também para as pessoas do mundo desenvolvido. Precisamos de regular a globalização e para isso precisamos de melhor organizar os trabalhadores e os outros cidadãos.

Acredita que os governos fizeram tudo o que puderam para proteger a economia dos especuladores financeiros ou será que durante muito tempo preferiu fechar os olhos e deixar que fosse o mercado a regular-se por si mesmo?

Não fizeram. Alguns governos, incluindo o meu no Reino Unido, acreditaram totalmente que desregular o sistema financeiro traria grandes benefícios para todos e que o sector financeiro saberia controlar os seus riscos. Agora que se desmoronou reagem sob grande tensão, sem saber o que fazer. Tendo em conta que o problema se deveu à fraqueza do sistema bancário, os governos passaram a sentir a necessidade de fortalecer o sistema. No entanto, os banqueiros dizem-lhes que isto só pode ser alcançado se lhes for permitido manter a maioria das práticas que provocaram a crise.
...


De Gente de Bem, façam algo ! unam-se... a 29 de Junho de 2012 às 14:44

...
Não é estranho que as mesmas pessoas que nos trouxeram até aqui, a esta crise, sejam as mesmas que hoje nos estão a dizer como devemos comportar-nos para sair dela?

Completamente! Isso explica o paradoxo do neoliberalismo e as instituições financeiras se terem fortalecido e não enfraquecido com esta crise.
----------------

Edmund Burke disse:

"Tudo o que é previso para o triunfo do mal é que os homens de bem nada façam",

e os homens de bem escasseiam, tanto em número como em vontade de enfrentar essa escória que invariávelmente se apodera do poder de decidir o destino do mundo.


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