Quinta-feira, 26 de Julho de 2012
Entretanto, por França...
Bom, agora Montebourg é ministro da “recuperação industrial” e está a ter o seu primeiro e bem duro teste com o anúncio recente de milhares de
despedimentos na Peugeot, símbolo da desindustrialização da França, muito acentuada pelo euro e por uma crise que tem
gerado uma sangria de empregos industriais. Assumindo o projecto de
dizer a verdade ao poder, Jacques Sapir, um dos principais teóricos da desglobalização, lembra ao governante Montebourg o que há a fazer se quiser permanecer fiel ao espírito do candidato Montebourg:
entrar pelo gabinete de Hollande (e órgãos da UE) e dizer-lhe que sem proteccionismo selectivo e política cambial não vamos lá.
Se a linha de Montebourg for derrotada, e tudo está feito para que o seja se não houver forte pressão social e política de baixo, capaz de contrariar a que vem de cima, a Frente Nacional certamente que saberá monopolizar o cada vez mais popular discurso proteccionista, dando-lhe o cunho xenófobo e regressivo que alguns à esquerda estranhamente julgam que é indissociável de uma palavra na realidade a conquistar e a usar sem medos nem hesitações pelos que estão na margem certa.
(
por João Rodrigues , Ladrões de B., 24.7.2012)
MARCADORES: autonomia,
comércio,
des-globalização,
desenvolvimento,
finança,
globalização,
multinacionais,
país,
protecionismo,
transnacionais,
união europeia
De .. a 26 de Julho de 2012 às 11:00
---- O faroleiro disse...
é de facto um dilema terrível
por um lado o proteccionismo nos países desenvolvidos condena milhões à pobreza nos países menos desenvolviods
por outro lado, sem esse proteccionismo é todo um modelo civlizacional que desaba
----- as disse...
declaração de interesses: não sou, nem nunca fui comunista ou socialista. nos sentidos ortodoxos, pelo menos.
mas por vezes lembro-me, e talvez seja bom não o esquecer, que o manifesto do marx expunha claramente que o proletariado não tem nacionalidade.
o seu problema não é nacional nem é resolvido por ser tornado nacional.
o problema é uma relação de forças totalmente desequilibrada.
e, na verdade, não vejo porque movimentos de expansão de um todo político - no caso, europeu - não possam ser acompanhados de movimentos de atomização governativa - no caso, regiões.
parece-me, aliás, bastante óbvio que assim deveria ser.
---- David Domingues disse...
É muito interessante este conceito de desglobalização na dupla vertente ambiental e social.
A esquerda mantém-se aprisionada nos seus pruridos contra os nacionalismos e deixa o campo livre ao "internacionalismo" capitalista que nos conduz ao inferno.
---- as disse...
não me parece que A Esquerda se mantenha aprisionada.
aliás, este post não vem Da Direita e aponta mesmo a saída nacional - este post talvez não, mas o joão.
em todo o caso, o que se poderia discutir era formas alternativas de articular um governo de proximidade com o máximo de abertura mundial.
- e isto não implica ceder ao off-shore ou à deslocalização de empresas,
não implica a desregulamentação por parte do estado, por exemplo (e não, não é incongruência. o estado antes de ser nação, foi, pelo menos, cidade).
por isso, embora concorde com uma leitura ambiental e social antiglobalização, se quiser (e não anti-internacionalista) não é por via do regresso à nação que ele me convence.
e mais, e não é por via ortodoxa por uma razão:
porque o próprio internacionalismo seria apenas um colocar em contacto os nacionalismos. inter - nacionalismo.
e é também nesses estados-nação que o desequilíbrio de forças - veja-se portugal - está já sedimentado.
que os mecanismos económicos ou financeiros de combate À crise ou que a soberania nacional fossem recuperados, não duvido.
mas soberania de quem? a mim cheira-me que o primeiro salário a ser cortado continuava a ser o meu.
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