O país atravessa um momento político, económico e social particularmente sensível, porque vive um período eleitoral, porque está ainda numa situação de recessão económica, porque o desemprego ainda não dá sinais de recuperar.
Ora, se este enquadramento explica um ambiente mais tenso entre os líderes partidários, também exige um comportamento político irrepreensível do Presidente da República. Mas Cavaco Silva não tem ajudado.
O Presidente fez um comunicado inédito... para responder a um comentador. Marcelo Rebelo de Sousa é um dos mais influentes opinion makers do país, eventualmente o mais influente, perspicaz e certeiro na análise, mas Cavaco Silva é o Presidente da República. Ora, não é possível nem aceitável que Cavaco Silva esteja a centrar a sua intervenção política neste registo, numa espécie de ‘vou abrir uma excepção para falar...", porque, às tantas, as excepções estão a tornar-se uma regra e a gerar ruído desnecessário. E obrigam a comunicados como este.
No comunicado, pouco comum, Cavaco garante que não abriu qualquer precedente e não ‘julgou' os antigos administradores do Millennium bcp num processo judicial que está em curso. O Presidente garante que se limitou "a falar da importância da estabilidade do sistema financeiro para o crescimento económico dos países e sobre as reuniões do Conselho Europeu e do G20, em Londres, sobre a estabilização do sistema financeiro internacional". E terá sido neste sentido que abordou a questão da transparência e dos valores éticos nos negócios.
O problema é que Cavaco Silva aceitou responder a uma pergunta directa sobre o caso BCP - aliás, na mesma intervenção pública também falou do negócio da PT e da TVI - e, sendo um político experiente e sagaz, deveria saber que as suas respostas só poderiam ter tido a análise que tiveram: o Presidente deixou uma crítica implícita a Jardim Gonçalves e ao resto da equipa do BCP, o que motivou o comentário de Marcelo.
A verdade é que, contrariamente ao que foi durante anos a sua cartilha em matéria de intervenções públicas, os últimos meses têm mostrado um Presidente demasiado interventivo, até quando está em visitas oficiais e de Estado ao estrangeiro.
Os portugueses têm demonstrado um apego grande à figura do Presidente da República, e isso ficou claro, por exemplo, quando Cavaco Silva discordou frontalmente de José Sócrates e do PS no Estatuto dos Açores. Mas esse respeito e reverência, até, estão sustentados na ideia de que o Presidente da República é um foco de estabilidade, um farol de responsabilidade, acima dos políticos e dos partidos. E Cavaco Silva arrisca perder este estatuto especial.
[António Costa, Diário Económico]
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