Desgraçado de quem tenha o azar de se cruzar com a justiça portuguesa
(-por Daniel Oliveira, Arrastão, 14/12/2012)
As buscas à residência e escritório de Medina Carreira, por o seu nome ter sido usado por suspeitos para ocultar a verdadeira identidade de outros envolvidos no branqueamento de capitais e fuga aos impostos, no caso Monte Branco, pode ter resultado de um engano.
Um engano grave pelo qual os investigadores devem responder. Mas a capa do "Sol" não foi engano nenhum.
A rapidez com que qualquer busca ou escuta que envolva figuras públicas acaba nos jornais já não é defeito da Polícia Judiciária e do Ministério Público. É feitio.
Depois do caso de Medina Carreira, foi o de Teixeira dos Santos Almerindo Marques e o ex-secretário de Estado Costa Pina.
As buscas às suas residências e escritórios também acabaram, ao fim de poucas horas, nos jornais e televisões.
Em causa está uma investigação às PARCERIAS Público-Privado.
E se no caso de Medina Carreira foi fácil provar imediatamente a sua inocência, o mesmo não acontece com estes três.
A divulgação destas buscas transformou-os, aos olhos da opinião pública, em condenados políticos sem direito a defesa.
Nunca escondi as minhas profundas discordâncias com Medina Carreira, que considero ter sido, como comentador, um dos principais advogados de defesa da austeridade, antes dela chegar - parece que entretanto mudou de opinião - e um POPULISTA de todos os costados.
E considero que Teixeira dos Santos foi, dentro do governo anterior, o principal defensor de uma intervenção externa e o seu maior facilitador.
Mas as minhas discordâncias com os dois anteriores ministros das finanças são políticas.
E é no campo da política, e não em julgamentos mediáticos, que o confronto com os dois se deve fazer.
O que a justiça portuguesa fez a estas duas pessoas, que não tenho qualquer razão para suspeitar de falta de honestidade, é uma NOJEIRA.
Não são os primeiros. Não serão os últimos.
De Sócrates a Passos Coelho, o poder político vive sob ameaça do Ministério Público e da PJ.
Vivem eles e vivemos todos nós.
Todos podemos ver a nossa vida devassada, as nossas conversas telefónicas publicadas em jornais, sem que sejamos culpados de coisa alguma.
Toda a gente que seja suspeita de ter cometido um crime deve ser investigada. Dentro da lei e com todas as garantias.
Seja um cidadão comum, seja um detentor de um cargo público, seja um comentador.
Mas também todos temos direito o ver o nosso nome protegido da calúnia.
O problema é sabermos que, como sempre, estas investigações não darão em nada. E não darão em nada porque não são para dar.
Se fossem, não víamos escarrapachada nos jornais cada diligência judicial, cada escuta, cada busca. Se fossem, teríamos menos suspeitos e mais condenados.
Se fossem, não ficávamos com a estranha sensação de que as buscas são feitas para serem noticiadas, que as escutas são efectuadas para serem publicadas.
E que, por de trás de cada fuga de informação, estão sinistros jogos de poder em que as corporações da justiça se envolvem.
A cada episódio destes - e já foram tantos - cresce o temor de que a JUSTIÇA, em vez de nos proteger, nos põe em PERIGO.
Em vez de investigar a CORRUPÇÃO e os CRIMES de colarinho branco, atira lama sobre as pessoas sem nunca chegar a qualquer conclusão.
Em vez de usar o seu poder para fazer justiça o usa para ajustes de contas.
E uma justiça assim assusta. Não assusta os criminosos.
ASSUSTA, acima de tudo, os INOCENTES que tenham o azar de se cruzar no seu caminho.
Esta justiça, tão expedita na forma de investigar e sempre tão parca nos resultados finais, não serve ninguém.
Só acaba por servir, na forma como descredibiliza, os que, com tanto ruído, se vão safando de pagarem pelos seus crimes.
(publicado no Expresso online)
De .Populismo, aproveitam. e lama. a 14 de Dezembro de 2012 às 12:06
A virgem meretriz
Graças à intervenção do Anjo Gabriel a Virgem Maria concebeu sem pecado original.
Dois mil anos depois, em Portugal, há uma meretriz sem pecados, virgem mais virgem não há.
Mas sabe-se que a meretriz tinha dormido com o PS, com Cavaco, com banqueiros, tinha saltado do ministério das finanças, depois de um mandato desastroso,
para o frenesim das fundações, dos conselhos de administração de empresas, de associações imobiliárias, etc., enfim o habitual bónus para os medíocres que passam pelos governos.
Num fenómeno de amnésia coletiva esta meretriz batida conquistou o estatuto de virgem à força do apedrejamento mediático de todos os pecadores que cruzavam a sua mira.
Para a meretriz um suspeito era um culpado e reclamava o seu encarceramento para o dia de ontem. Espero que agora seja fiel ao seu discurso.
Depois das fortes suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais de que é alvo, as jaulas da penitenciária estão à sua disposição.
(-Rui C. Silva, 7/12/2012, Esq.Rep.)
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João VascoDomingo, Dezembro 09, 2012
Percebo a lógica do Rui em dizer que se o Medina Carreira * acusa os outros sem fundamento, seria justo que se enfiasse num buraco quando surgem suspeitas, mas convém não cair no mesmo erro de que o acusam.
Mais a mais, parece que é a equipa Relvas quem controla os cordelinhos do "Sol" e esta reportagem é uma "paga" por recentes críticas de Medina Carreira ao actual Governo, a ver se ele se acalma um pouco.
Estar a divulgá-la pode ser fazer o jogo de Relvas.
O ideal seria dar mais atenção a jornais que apesar de tudo são mais independentes e credíveis.
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* Medina Carreira teve que trabalhar para poder estudar (e trabalhou primeiro na Guiné, onde nasceu e só depois em Lisboa) e licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa na década de 60 (se não estou em erro). Para além disso tem um bacharelato em Engenharia e estudou Economia.
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