Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2012

           Minhoquices ?

      Na sua coluna semanal, Octávio Teixeira defendeu esta semana, mais uma vez, a reestruturação da dívida e a denúncia do memorando como elementos de um programa mínimo de esquerda. Para ser consistente, este programa tem de colocar a hipótese de saída do euro, um dos cenários possíveis, até pela dinâmica política e económica que será potencialmente suscitada, por exemplo, pela necessidade de instituir controlos de capitais para fazer face à fuga dos mesmos ou pela necessidade assegurar o funcionamento do sistema financeiro em caso de reestruturação da dívida e de retaliação a um governo de esquerda neste país. Este é um cenário que, com várias configurações potenciais, Octávio Teixeira não recusa, muito pelo contrário, já que considera a saída do euro desejável.
     Entretanto, parece que há quem, como João Valente Aguiar (JVA), insista em afirmar que uma desvalorização cambial, por exemplo de 30%, se traduz numa desvalorização salarial equivalente. O que conta para os trabalhadores é o poder de compra dos salários na moeda em questão e este é influenciado pela evolução dos salários reais, ou seja, pela diferença entre o crescimento dos salários nominais e dos preços. Quando Octávio Teixeira, num excelente contributo sintético a que cheguei via JVA, assume que uma desvalorização cambial do novo escudo de 30% contribuiria para um aumento da taxa de inflação, que passaria para 8%, por via sobretudo do aumento do preço dos bens importados, então essa taxa de inflação reduziria os salários em 8% anualmente, mas só se a taxa de crescimento dos salários nominais fosse nula, hipótese pouco plausível, e ponto final. Isto é bastante claro no texto de Octávio Teixeira.
     De facto, não há qualquer desvalorização adicional de 30% dos salários por via da desvalorização cambial. A não ser que se assuma que os trabalhadores portugueses vão pegar no seu salário e trocá-lo por euros, se ainda existir moeda única, ou por qualquer outra moeda forte, para comprar caramelos no estrangeiro, em turismo. As pessoas que aqui vivem compram as coisas por aqui, com o dinheiro daqui, sejam produzidas aqui ou lá fora. A desvalorização serve, entre outras coisas, para aumentar a procura externa, vulgo exportações, e basta ver como estas reagem a tímidas desvalorizações do euro, e para desviar a procura interna das importações, agora mais caras, para a produção daqui, ou seja, para ajudar a resolver os défices externos, acumulados desde que se decidiu aderir a este projecto monetário disfuncional. Sair do euro implicaria também uma reestruturação da dívida, até por via da passagem de parte substancial da dívida para a nova moeda, e permitiria recuperar instrumentos perdidos de política industrial, monetária e de crédito.
     Um exemplo com as pessoas que vivem na Islândia e que têm a mania de comprar as coisas na Islândia. Nos últimos anos, este país conheceu uma útil desvalorização cambial nominal de 50%, que permitiu aumentar exportações e diminuir importações, o que, conjuntamente com controlos de capitais e a transferência de partes dos custos do ajustamento para os credores, assegurou uma notável recuperação económica e do emprego. A taxa de inflação anual andou no mesmo período pelos 12% ao ano e os salários nominais cresceram 8% ao ano, o que significou uma desvalorização salarial real de cerca 4% ao ano no período de ajustamento, em vias de ser rapidamente revertida.
     Neste contexto, o ajustamento é mais rápido, menos destrutivo em termos de emprego e logo impede que haja grandes recuos no campo social e na relação das forças sociais. Portugal, com uma taxa máxima de desemprego de 8% antes de aderir a esta utopia monetária, até sabia como as coisas se faziam. Agora vai chegar a 2013 com os trabalhadores depenados, com a taxa de desemprego a aproximar-se do triplo do máximo histórico antes do euro, com uma economia incrivelmente mais dependente, com um Estado social escavacado, com regras laborais incomparavelmente menos favoráveis a quem trabalha e com uma democracia largamente esvaziada. Para quê?
     Dizer só mais umas duas ou três coisas em jeito de conclusão. JVA tem todo o direito de ignorar a literatura de economia política e de política económica sobre a saída do euro ou sobre a importância da política cambial, do controlo de capitais e da política industrial (impossíveis por definição neste contexto de integração) para o desenvolvimento, mas não tem é o direito de dizer que não existem análises e estudos.(e alternativas político-económicas). Há uma obsessão com fantasmas nacionalistas de esquerda em certas franjas da opinião que é favorável a todas as distorções e amalgamas, mesmo do pensamento daqueles que, como Octávio Teixeira, têm provas dadas de análise e de acção política comprometida, da sua participação na nacionalização da banca às suas qualificadas intervenções na AR, incluindo os alertas atempados para o desastre do euro, para os desequilíbrios externos agora identificados e que foram gerados pela política interna do euro. Leia-se também outro perigoso nacionalista, para não sairmos da mesma área política, que dá pelo nome de Agostinho Lopes. De resto, a saída do euro irá tornar-se um elemento que não pode ser evitado numa aposta democrática de esquerda, plausível e popular, basta andar atento, e para a contrariar é preciso mais do que andar à caça de fantasmas ideológicos, ainda por cima com armas que também parecem ter influências monetaristas.

---- O que a troika resgatou foi a banca europeia  (-por D.Oliveira, Arrastão e Expresso online)

     "A troika veio salvar-nos e o governo alemão tem todo o direito a fazer-nos todas as exigências, já que nos resgataram". É esta a ideia em que se baseia a nossa subserviência. Mas vale a pena olhar para os números e para isso aconselho a leitura deste texto do economista José Maria Castro Caldas.    Entre 2002 e 2008, o Estado português devia sobretudo a empresas, bancos e fundos de investimento estrangeiros. Sobretudo alemães e franceses. Representou sempre mais de metade da nossa dívida pública. Em 2008, antes de rebentar a crise internacional que afectou de forma muito violenta as empresas financeiras (num momento em que a nossa dívida pública estava abaixo da média europeia e da alemã), essa dívida já estava, em 75%, nas mãos de instituições financeiras estrangeiras.

     E foi em 2008 que tudo mudou. Por causa da crise financeira, os investidores estrangeiros foram vendendo os títulos de dívidas soberanas. Sobretudo dos países com economias mais frágeis e mais expostos à crise. No final de 2011 já detinham menos de 50%. Grande parte da dívida pública ao estrangeiro foi assumida pelo FMI e fundos europeus. Em2011 tinham 19%, em 2012 terão 34%, em 2014 deverão ter 70%. Se juntarmos a estas instituições a banca nacional, o seu peso entre os credores virá a ser de 80% em 2014.

     Que transferência de dívida fez, então, a troika? Em 2008 os credores privados internacionais tinham 75% da nossa dívida. Em 2014 terão 20%. Livraram-se da nossa dívida.

     Como muitíssimo bem conclui Castro Caldas, a intervenção externa serviu, antes de tudo, "para limpar os balanços das instituições financeiras estrangeiras (sobretudo europeias) de títulos da dívida portuguesa tornados demasiado arriscados". E esse risco foi transferido para os cidadãos da zona euro, através das instituições financeiras públicas.

     Ou seja, o FMI, o BCE e a Comissão Europeia garantiram um resgate aos bancos alemães e franceses (sobretudo estes) que, descapitalizados, precisavam de se ver livres de todos os credores de maior risco. Não salvaram Portugal, assim como não salvaram a Grécia. Salvaram os bancos dos países do centro da Europa. Os europeus pagaram com a assunção do risco. Nós pagámos com a austeridade.

     Os bancos dos principais promotores destes "resgastes", que se livraram, através de dinheiros públicos, dos riscos dos seus próprios investimentos, é que se salvaram. Sim, os contribuintes alemães têm de que se queixar. O seu dinheiro tem servido para salvar dos investimentos que fizeram a banca dos seus países. Assim como os nossos sacrifícios.

----  Taxar os ricos   (legendado em português)   (-por António Paço, 5Dias.net)

 
 .


Publicado por Xa2 às 07:55 | link do post | comentar

14 comentários:
De .Alternativa/s ao Memorando/troika. a 12 de Dezembro de 2012 às 09:36
Sair do euro é uma questão de tempo

[ Não é Resgate, é Sequestro ]

Este texto ('Minhoquices ?') do João Rodrigues suscitou alguns comentários confusos e/ou mal informados.
A gravidade da situação em que o país se encontra, de facto lançado no mesmo trilho da Grécia, recomenda um debate informado e a explicitação dos mecanismos económicos e políticos que sustentam as afirmações dos críticos
(os meus argumentos estão aqui: CDA,5/10/2012- 'Autonomia política e estratégia de desenvolvimento - a alternativa ao Memorando' , https://docs.google.com/file/d/0B00H3y0k3iMSbVpraktwT2hocjg/edit?pli=1 ).

Em boa verdade, o essencial do que estamos a viver já foi experimentado por outros países. A Argentina é um caso recente de aplicação da “desvalorização interna”, de que resultou uma grande depressão, com toda a miséria social que isso significa (ver este filme). Neste, como noutros casos, só a desvalorização da moeda e a autonomia da política económica permitiu tirar o país do buraco em que caiu, algo que é impossível se permanecermos na zona euro.

Apesar das hesitações iniciais (anunciou o incumprimento da dívida em Dezembro de 2001 e apenas um mês depois abandonou a paridade fixa com o dólar) e da improvisação de todo o processo de ruptura com o FMI, o ponto de viragem da economia argentina começou logo no segundo trimestre após a bancarrota.

A Argentina é um caso particular mas comporta algumas lições que devemos ter em conta. Pelo menos esta: “A experiência da Argentina põe em causa o mito popular de que as recessões causadas por crises financeiras implicam forçosamente uma recuperação lenta e dolorosa” (Weisbrot e outros).

(- por Jorge Bateira às 11.12.12 , http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/ )


De .Alianças, + Democracia + Europa. a 12 de Dezembro de 2012 às 09:48
Miguel Serras Pereira disse...
Caro Jorge Bateira,

para além de uma perspectiva estritamente economicista e de uma cegueira ou insensibilidade à dimensão política dos problemas - que, de resto, NÃO são habitualmente seu timbre -, convém lembrar que a situação em Portugal não é comparável com a da Argentina (que não teve de sair unilateralmente de outra moeda continental, etc.).

É verdade que é comparável sob aspectos decisivos à da Grécia, e, justamente, falando da Grécia, convém lembrar que o Syriza, para COMBATER o austeritarismo, RECOMENDA, não o regresso ao dracma, mas a EUROPEIZAÇÃO da LUTA e a exportação da "questão social" para os restantes países da UE
(retoma, aliás, em parte, a posição de uma célebre Carta Aberta de Mikis Theodorakis e Manolis Glezos em defesa da Grecia, da Democracia e da Europa, cf. http://www.kaosenlared.net/kaos-tv/item/9560-la-“carta-abierta”-de-manolis-glezos-y-mikis-theodorakis-con-unas-anotaciones-al-margen-sobre-la-correlación-de-fuerzas-aqu%C3%AD.html).

Convém também lembrar que, sempre na Grécia, os partidários do regresso ao dracma são, por um lado, um KKE estalinista, e, por outro, os nazis da Aurora Dourada.

Mas sobre todos estes aspectos políticos que V. não considera, suponho que já disse o suficiente no comentário que deixei no post do João Rodrigues. Fico, pois, curioso de saber como é que um primeiro passo para a implosão da UE - ou sua dissolução, como recomenda Agostinho Lopes - poderá melhorar a situação da grande maioria da população portuguesa e contribuir para a democratização da Europa e do mundo.

Há ainda a hipótese, que V. poderá endossar, formulada por O. Teixeira e, noutro contexto, por Jerónimo de Sousa:
a expulsão do euro. Caso seja essa a sua linha de argumentação, a minha resposta é a que já dei há uns tempos ao Pedro Viana:

'"[s]e a UE quiser chutar a Grécia", ou Portugal, "para fora do euro", o que temos a fazer é :
RECUSAR a "EXPULSÃO",
reclamar o nosso direito à Europa e o direito da Europa aos direitos e liberdades historicamente conquistados,
apelar aos cidadãos da Europa contra os seus governos e as medidas de expulsão,
mostrando e afirmando que medidas como essa degradarão inevitavelmente as condições de existência da grande maioria de todas as populações da UE' (cf.http://viasfacto.blogspot.pt/2012/11/resposta-ao-joao-bernardo.html).

Não é de "independência nacional" que precisamos para vencer o austeritarismo.
O caminho terá de ser antes:
MAIS DEMOCRACIA para a Europa, MAIS EUROPA para mais democracia.

Cordialmente
msp
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11 de Dezembro de 2012 18:31
Anónimo disse...

Não tenho qualquer dúvida que a Argentina estava em melhores condições de seguir uma via de "autonomia" do que Portugal, porque para começar tem muitos mais recursos naturais.

Eu entendo a posição de quem se quer afastar do "nacionalismo" (JVA+MSP), e pretende alterar a União Europeia realmente existente, que com mais integração, nos permitirá sair da crise.
A única solução imaginável hoje passaria pelos EUROBONDS e talvez uma maior INTERVENÇÃO ESTATAL na banca falida.

A questão aqui no meio é:
onde cabe o socialismo?
Por um lado, nunca uma união europeia apoiada em instituições criadas para servir a classe capitalista permitiria que nos apoiássemos nos eurobonds se não fosse para resolver a crise salvando a banca, mas aí alto e pára o baile.

Finalmente, não sei bem qual posição é a vossa em relação ao horizonte do capitalismo, penso que estamos todos do mesmo lado da barricada contra ele.
Eu subscrevo uma posição mais soberanista, mas temo que redundará num fracasso se Portugal não conseguir CRIAR novas ALIANÇAS estratégicas.
Talvez tivéssemos de engolir o sapo do populismo chavista e lulista para nos conseguirmos abastecer de energia.
--------
11 de Dezembro de 2012 19:20
Nostra Gallus disse...

Do ponto de vista colectivo, poderá ser desejável. Do meu ponto de vista, poderá ser possível. Do ponto de vista individual, poderá ser ruinoso.

Trata-se de cenário que arruinará a classe média, já empobrecida pela extorsão fiscal. A não ser que o indíviduo se prepare. Isto porque do Estado nem bom alento nem bom alimento!

http://nostragallus.blogspot.pt/2012/10/portu-risco-2.html
...


De .p. Futuro Decente: Estado c. recursos. a 12 de Dezembro de 2012 às 09:56
Diogo disse...
Porquê sair do Euro ?

Já sabemos que o Euro é uma moeda controlada por uma pequena OLIGARQUIA planetária que se recusa a emprestar aos países diretamente, mas que empresta aos bancos por tuta-e-meia que, por sua vez, emprestam aos Estados, Empresas e Famílias a juros USURÁRIOS.

Porque não tornar então o Euro numa moeda verdadeiramente europeia?
Que seria emprestada diretamente aos Estados que não pagariam qualquer juro por ela.
Que seria emprestada aos bancos comerciais que seria emprestada, a JUROS completamente CONTROLADOS às Empresas e Famílias?

--------
11 de Dezembro de 2012 22:14
D., H disse...
(diz qualquer coisa de esquerda, D’ Alema…)

Caro Jorge Bateira, além de ter vindo a acompanhar o que tem escrito por aqui, vejo no texto

“Resgatar Portugal para um Futuro Decente”,
que já conhecia, a consistência necessária para ser levado a sério (as referências bibliográficas também ajudam). Por isso subscrevo-o.

Também acho que “Portugal é um Estado-Nação como uma forte identidade, uma história e um património biofísico…”,
uma ideia que nunca vai desaparecer por decreto, nem simplesmente por preconceito pós-moderno…
Isto não significa de todo um “vas-t’en guerre” contra os outros povos, um nacionalismo a destempo (o quê, num país que existe há mais de um milénio?!), nem qualquer veleidade belicista, onde é que isto já ia…

Não percebo o cavalo de batalha que alguns fazem da “permanência de Portugal no Euro”
(não estou a falar da permanência na UE!), justificando-a com o que eu chamaria de utopia esquerdista.
Às vezes penso que toda esta polémica se esgotará, afinal, na procura de palco…

Uma sociedade sem classes, com um Estado em vias de perecimento – porque já desnecessário – não vai acontecer, assim, desta forma e num clique…

Também NÃO percebo tamanho ódio na razão pela qual essas pessoas (de esquerda?) defendem que o melhor é o ESTADO ABRIR MÃO de TUDO o que tem interesse público (que aqui d’el rei, isto é o capitalismo de Estado…).
Por exemplo, não seria melhor o ESTADO DETER 51% da EDP, que defender a entrega de mão-beijada dessa ou doutra empresa ao capital financeiro?

Primeiro, e sempre, é necessário mudar completamente a natureza do Estado; depois é ir acabando com ele tal como o conhecemos.
(Uma mensagem para os camaradas democratas: por favor, não abusem da leitura do Bakunine…)

11 de Dezembro de 2012 23:33


De .Albert Hirschman (1915-2012) a 12 de Dezembro de 2012 às 10:08
«
A generosidade, a benevolência e a virtude cívica não são recursos escassos de oferta limitada, mas também não são competências que possam ser melhoradas e expandidas de forma ilimitada com a prática.
Em vez disso, tendem a exibir um comportamento complexo e compósito, atrofiando quando não são praticadas e invocadas pelo regime socieconómico prevalecente e tornando-se de novo escassas quando são defendidas e estimuladas em excesso.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas estas duas zonas de perigo (...) não são conhecidas e muito menos são estáveis. »
- Albert Hirschman

Através de Rui Tavares, que lhe faz hoje uma bela e justa homenagem no Público, fiquei a saber que morreu ontem um dos gigantes da economia política, da teoria do desenvolvimento económico à história das ideias.
Nascido numa família judaica, na Alemanha, anti-fascista na era dos extremos, Hirschman combateu na Guerra Civil de Espanha. Passou fronteiras e ajudou muitos a passá-las. Na academia apostou em superar as fronteiras disciplinares.
O seu «Pensamento Conservador», estranha tradução portuguesa para A Retórica da Reacção, a da perversidade, futilidade e risco, invocadas para tentar bloquear os avanços progressistas, mas que serve para outros usos,
e as «Paixões e os Interesses» sobre “os argumentos a favor do capitalismo antes do seu triunfo” estão disponíveis entre nós.
Também em Portugal, a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra atribuiu-lhe, em 1993, o Doutoramento Honoris Causa: pensamento luminoso, de facto.
Agora é continuar a traduzir, ler, discutir e prolongar a reflexão. Falta traduzir, por exemplo: Exit, Voice and Loyalty, onde analisa, de forma tão brilhante quanto sistemática (os finos livros que eu li dele são um modelo de elegância argumentativa),
os modos como os indivíduos e os colectivos podem exprimir o seu descontentamento, em diversos contextos institucionais,
sair ou fazer-se ouvir, e a forma como a lealdade molda essa expressão (muito útil para aplicar aos actuais dilemas do euro);
o Shifting Involvements, que é sobre as oscilações na predisposição para a acção colectiva ou individual;
ou o seu Rival Views of Market Society, que compila alguns dos seus artigos, dispersos por várias revistas académicas, incluindo uma das melhores críticas que conheço à parsimónia excessiva da economia convencional na consideração do vasto repertório das motivações humanas, de onde retirei a citação que encabeça este post, relevante para a economia política que que ir muito para lá do egoísmo racional, mas que não quer confiar apenas no altruísmo.

Ilustra bem o pensamento de quem viveu tempos suficientemente interessantes para recusar soluções simplistas e para aprender a pensar as virtudes da impureza e da diversidade, tanto institucional quanto motivacional, que as duas parecem andar associadas.
A não perder por todos os interessados em compreender as intricadas e inevitáveis relações entre política e economia.

(-por João Rodrigues às 12.12.12 )


De M.Friedman/ chicago boys/... a 12 de Dezembro de 2012 às 14:54
De KEYNES ( e Krugman e Stiglitz ... vs. Friedman, alta finança, economistas avençados, e marionetas políticas)

Ouvi com atenção a explanação esquemática do professor sobre a teoria geral de Keynes. A teoria keynesiana não é um imbróglio; imbróglio é a situação criada pelos SEGUIDORES de Milton Freedman que se instalaram nos centros do PODER e na maior parte das cátedras de economia ao ponto de implantarem, desde o início da década de oitenta até à actualidade, a corrente de pensamento económico que os analistas e comentadores designam por «mainstream»; paradigma que está reflectido na legislação europeia e nos estatutos das instituições da U.E. O pacto de estabilidade e crescimento da zona Euro é exemplo paradigmático.

Freedman matou Keynes, mas a crise ressuscitou-o, episodicamente no espaço europeu. Quando foi preciso salvar o sistema financeiro, travar o crescimento do desemprego e incentivar a procura global, a Comissão Europeia recomendou aos países membros políticas expansionistas que produziram alguns dos efeitos pretendidos, mas também produziram o efeito perverso de aumentar o deficit e a dívida pública.
Uma vez salvo o sistema bancário a Comisssão Europeia num golpe acrobático fez o pino e as políticas macroeconómicas rodaram 180º e instituiram a austeridade custe o que custar. A expressão mais acabada da contenção orçamental está corporizada na «regra de ouro» que o partido socialista, em Portugal, não deixou que fosse tranposta para a Constituição.
Toda a política europeia coadjuvada pela Instituições financeiras internacionais saídas do acordo de Breton Woods, sob a inspiração de Keynes, está a sufocar a economia em proveito dos especuladores que povoam o mundo financeiro. Uma perversão que não entrou nos cálculos do inspirador!
Em 2009, Robert Skidelsky publicou o livro KEYNES O Regresso do Mestre a propósito do qual Paul Krugman disse « O grande economista e as suas teorias nunca foram tão relevantes.»

Mais nos USA do que na Europa. O governo de Obama não receou endividar grandemente ( insuficientemente na opinião de Stiglitz e krugman) mas conseguiu quebrar a tendência recessiva e íniciar um processo de recuperação económica que este ano atingirá os 2%, enquanto na Europa a recessão esta firmente instalada e começa já a afectar a economia alemã e de outros países ditos emergentes cuja taxas de crescimento estão a declinar a olhos vistos.
Quando a procura global cai toda a economia afunda e esta é uma lição importante do Mestre. Segundo ele as políticas de austeridade só fazem sentido nos períodos de prosperidade para arrefecer a economia. A lição dos professor espanhol salientou este aspecto ao dizer que isso pode ser realizado através de medidas monetaristas, como a subida da taxa de juros, e medidas orçamentais,como a redução do investimento público.
Também disse que os países da Zona Euro estão fortemente espartilhados pelo pacto de estabilidade e crescimento que os impede de assumirem políticas robustas de crescimento económico, porque não possuem instrumentos bastantes para isso. As políticas meramente fiscais que comandam os níveis dos impostos, ainda nas suas mãos, não são suficientes para inverter a tendências recessivas e impulsionar a economia para o crescimento que é a condição sine qua non para criar possibilidades de saldar a dívida soberana.
Como bem salientou Emanuel dos Santos ( ainda não consegui encontrar o livro) sem crescimento de economia não há maneira de pagarmos aos nossos credores.

A gente do FMI e do Banco Mundial está mais uma vez entre nós para determinar quando, quanto e onde devemos reduzir as funções do Estado.
Isto significa que estamos de joelhos perante esta gente estrangeira o que não deixa de ser entendido pelas consciências patrióticas como uma atitude humilhante para o orgulho nacional. Em 1890, quando o orgulho nacional foi agravado pelo Ultimato a reacção dos portugueses foi espontânea e veemente e provocou a queda do governo e precipitou a queda do regime monárquico!

Quem não quis a troika em Portugal e resistiu a múltiplas e fortes pressões internas e externas para pedir o resgate financeiro, foi José Sócrates porque lhe custa a admitir, mesmo em pensamento que os estrangeiros viessem governar Portugal.

Leia o livro «Os Resgat..


De M.Friedman/ chicago boys/... a 12 de Dezembro de 2012 às 14:58

De KEYNES ( e Krugman e Stiglitz ... vs. Friedman, alta finança, economistas avençados, e marionetas políticas)

Ouvi com atenção a explanação esquemática do professor sobre a teoria geral de Keynes. A teoria keynesiana não é um imbróglio; imbróglio é a situação criada pelos SEGUIDORES de Milton Freedman que se instalaram nos centros do PODER e na maior parte das cátedras de economia ao ponto de implantarem, desde o início da década de oitenta até à actualidade, a corrente de pensamento económico que os analistas e comentadores designam por «mainstream»; paradigma que está reflectido na legislação europeia e nos estatutos das instituições da U.E. O pacto de estabilidade e crescimento da zona Euro é exemplo paradigmático.

Freedman matou Keynes, mas a crise ressuscitou-o, episodicamente no espaço europeu. ...
...
...
...

Leia o livro «Os Resgatados» para ficar com uma ideia de quanto ele teve de lutar para evitar esta humilhação nacional. É um livro esclarecedor cuja narrativa preserva os requisitos da objectividade e imparcialidade que devem presidir à reconstituição histórica dos acontecimentos da vida pública das instituições.

O arrazoado já vai longo e por isso termino.
J.F.
-----------
No dia 4 de Novembro de 2012 11:57, Ricardo Charters d'Azevedo <ricardo.charters@gmail.com> escreveu:

Eis aqui uma dissertação académica que vale a pena ver até ao fim, e que poderá explicar o dilema do nosso Ministro V. Gaspar, ou aumentar o vosso grau de eurocepticismo se seguirem o conferencista.
Mas ele esqueceu-se de dizer que não se consegue aumentar os “gastos públicos”, não por causa dos acordos europeus, mas porque o preço do dinheiro emprestado subiu a tal nível - mais de 7% - que não há possibilidade de ter financiamento aos investimentos públicos !!!.

http://www.youtube.com/watch?v=mk6vgZGdar8&feature=channel PARA MEDITAR!!!
Nao deixem de ver... A Teoria de Keynes ou a explicação para entender bem o sarilho em que estamos metidos !!!


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