Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2012

Depois de 48 anos de escuridão democrática os militares conseguiram, após goradas diversas e arrojadas tentativas, derrubar um regime totalitário e opressivo.

Surge a festa democrática, tendo (re)nascido, além dos tradicionais e costumeiros partidos da área socialista, comunista, social-democrata e conservadora, os extremados das direitas e das esquerdas tais como: FEC-ML, POUS, MRPP, MES, PSR, UDP, etc., etc. com seus slogans, mais ou menos, agradáveis ao ouvido como:

“Os ricos que paguem a crise”;

 “O povo unido já mais será vencido”;

 “Proletários de todo o mundo uni-vos”;

 “Governo p`rá rua” e,

 muitos mais.

Enquanto o povo foi gritando na rua, quem se foi organizando, de mansinho e a coberto dos, muito democraticamente, eleitos - quer governantes como oposições - foram os capitalistas que passaram do sector primário e secundário (agricultura e pescas) para os serviços e banca até abandonarem (quase) tudo de produtivo e passarem ao topo especulativo do tráfico financeiro associado a negócios escandalosos e obscenos além da cobrança de juros usurários. Chegamos à globalização dos mercados e da exploração.

O próprio povo experimentou as enganadoras benesses do “capitalismo popular” que o senhor Cavaco nos vendeu. A propósito do BPN/SLN, há quem afirme que Cavaco tem um problema com a verdade, eu digo que os portugueses têm muitos problemas com os Cavacos, perdão, com as unhas.

O povo passou a acreditar mais e, sobretudo, nas falacias e fingimentos alheios que nas suas próprias capacidades e competências, ou será o sacudir a água do capote das suas responsabilidades e ausências?

O povo parece que se prantou à espera de um qualquer, providencial, milagre mandado por uma tal nossa senhora de Fátima ou de umas quaisquer manigâncias divinas de um Deus sempre ausente.

O povo parece manter-se agarrado a culpabilizações alheias, à espera que outros façam o que a si mesmo compete fazer, não adiantando só atirar com todos os males, incluindo as suas próprias fraquezas, para cima dos políticos e dos capitalistas, a maior parte das vezes designados patrões, dos quais se deixa depender e muitas das vezes elege para seus representantes. Contradições!

A esmagadora maioria dos meus conhecidos (lamentavelmente não consigo pensar nem dizer “meus amigos” o que, a faze-lo, constituiria uma das maiores hipocrisias de que não sou capaz) não passam de um bando de potenciais oportunistas que, em alguns casos se constituíram em maiores sacanas que os anteriores quando ocuparam certos lugares “daquela corja de malfeitores” por si criticados. Contradições!

Como amiúde costumo afirmar, as pessoas deixaram de ter espelhos em casa ou, tendo-os ainda, deixaram de lhes dar uso, não se enxergam. Contradições!

Muita desta gente, fala mal dos políticos por se sentir frustrada e excluída do sistema, quer dos aparelhos político-partidários quer dos poderes da governação. Contradições!

Nós, portugueses tornamo-nos doentes, como o exemplo escrito pelo expoente máximo da nossa literatura, José Saramago: “o doente que se queixava dos pés, chegando ao ponto de andar com duas bengalas e culpar tudo e todos das dores que o afectavam e lhe tolhiam o andamento até que alguém grita para que vá ao médico pedindo-lhe, todavia, que lhe mostrasse antes os pés. O amigo não queria acreditar, as unhas dos dedos davam a volta aos mesmos indo-se encravar por debaixo deles, tendo-lhe exclamado, entre o espanto e incredulidade, ó seu energúmeno porque não corta estas unhas que são a fonte das suas dores? O homem, candidamente, disse: não sabia que era preciso!

Não será que o povo, enquanto sociedade, se descuidou de tratar de si e evitar a sua própria degradação precisando de cortar as unhas que lhe autoflagelam o corpo?

Temos muito mau hábito, para não dizer péssimo feitio que no fundo é a mesma coisa, para escamotear responsabilidades.

Não resolve se continuarmos, só a dizer “nunca tinha-mos pensado nisso” ou “não sabia-mos que era preciso”, sem mais nada fazer. Por isso é que há militares a dizer “para quê fazer outro 25 de Abril se não há, gente honesta, a quem entregar o poder!



Publicado por Zé Pessoa às 13:23 | link do post | comentar

2 comentários:
De .Cidadão vs. semi-escravo. a 12 de Dezembro de 2012 às 16:38
«Não sabíamos» ...
«nunca tinhamos pensado ...»

. A ignorância (tal como o desconhecimento da lei não isenta os cidadãos do seu cumprimento e/ou consequências...) não serve de desculpa a cidadãos de maioridade e 'aptos' ...

.se os indivíduos têm direito a Votar e a ser eleitos, têm toda a Responsabilidade ... pelo que os dirigentes políticos (eleitos 'democraticamente' ou 'assim-assim') da sua autarquia e do seu País fazem, não fazem ou deixam fazer ...
pelo que desperdiçam, mal-gastam, desviam, roubam/dão a amigos, ... e lhe acabam por retirar os bens e Direitos que antes eram 'intocáveis' (incluindo o de cidadania plena, de voto, de greve, de trabalho, de educação básica, de saúde, de liberdade de expressão, ...).

. Se alguém Não Vota ou Vota em branco ou nulo ou ou delega noutro o seu voto ou não comparece nas reuniões de informação e decisão ... sujeita-se às decisões que forem tomadas por outros.

. Se alguém não se candidata ou vota 'mal' ou se abstem ou se esconde ou sai do país (por muito válidas que sejam as suas prioridades ou razões pessoais) ... deixa que os piores que ele/a os governem (e se governem); na prática está a optar ser um «cidadão de segunda» e ... , por isso, ou «passa à acção directa»/revolucionária ou sujeita-se à subserviência, à semi-escravidão, à caridadezinha, ... como mansos indefesos de quem se pode abusar à vontade.

. Portanto já sabe:
se é masoquista, alienado, desinteressado da política, parvo, incapaz, mentecapto, burro ... será tratado como tal.

Zé T.


De Gestão do condominio, pois claro a 12 de Dezembro de 2012 às 18:14
Concordo, plenamente, com o exposto por Zé T.

É como gerir um condominio seja ele fechado ou aberto, pois claro


Comentar post

MARCADORES

administração pública

alternativas

ambiente

análise

austeridade

autarquias

banca

bancocracia

bancos

bangsters

capitalismo

cavaco silva

cidadania

classe média

comunicação social

corrupção

crime

crise

crise?

cultura

democracia

desemprego

desgoverno

desigualdade

direita

direitos

direitos humanos

ditadura

dívida

economia

educação

eleições

empresas

esquerda

estado

estado social

estado-capturado

euro

europa

exploração

fascismo

finança

fisco

globalização

governo

grécia

humor

impostos

interesses obscuros

internacional

jornalismo

justiça

legislação

legislativas

liberdade

lisboa

lobbies

manifestação

manipulação

medo

mercados

mfl

mídia

multinacionais

neoliberal

offshores

oligarquia

orçamento

parlamento

partido socialista

partidos

pobreza

poder

política

politica

políticos

portugal

precariedade

presidente da república

privados

privatização

privatizações

propaganda

ps

psd

público

saúde

segurança

sindicalismo

soberania

sociedade

sócrates

solidariedade

trabalhadores

trabalho

transnacionais

transparência

troika

união europeia

valores

todas as tags

ARQUIVO

Janeiro 2022

Novembro 2019

Junho 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

RSS