Uma questão de tempo (-por Sérgio Lavos, Arrastão)
Vamos lá ver as coisas como elas são: esta gente saberá o que é censura? O que é liberdade de expressão? Não saberão que a censura é sempre um acto de poder exercido pelo mais forte sobre o mais fraco? Uma limitação de expressão que visa calar opiniões contrárias, prévia ou posteriormente? Ontem, quando o Dr. Relvas entrou no ISCTE, rodeado de seguranças, e subiu para um palanque posto à disposição pela estação com mais audiências do país, quem detinha o poder? O ministro dos Assuntos Parlamentares, que tutela a comunicação social e decide os destinos do país, que tem o controle directo sobre os instrumentos que podem exercer a violência de Estado (a polícia e as forças armadas), ou um grupo de estudantes que diariamente sofre as consequências das políticas implementadas pelo Governo a que o Dr. Relvas pertence?
É de facto inacreditável que haja quem esteja, por ignorância ou pura má fé, a confundir censura com o que aconteceu ontem. Durante três minutos, os assobios, os insultos e os apupos ao Dr. Miguel Relvas sobrepuseram-se à propaganda ministerial. Os outros quinhentos e vinte e cinco mil e seiscentos minutos do ano são usados pelo Dr. Relvas para sobrepujar, humilhar e empobrecer os estudantes que ontem não o deixaram falar e deram voz à raiva e à humilhação sentida por milhões de portugueses. Confundir um direito em democracia - o direito à manifestação - com um instrumento das ditaduras - a censura - não é, não pode ser, sério.
O que muita gente parece não perceber é que a democracia não são aqueles breves dois segundos em que depositamos o nosso voto na urna. Os quatro anos (dois milhões, cento e dois mil e quatrocentos minutos) a que cada Governo tem direito não são um cheque em branco. Cada minuto passado no poder por cada um dos governantes tem de ser um minuto a prestar contas, não só ao seu eleitorado mas a todos os cidadãos. Um mandato de quatro anos não é uma ditadura provisória, durante a qual tudo pode ser legítimo, mesmo (e sobretudo) quando todas as promessas eleitorais ou o que está no programa do Governo não é cumprido.
O que o Dr. Relvas sentiu ontem foi a consequência imediata de um ano e meio de desvario, prepotência e desrespeito pelo povo que ele era suposto servir. Três minutos em que a democracia se sobrepôs à ditadura de quatro anos, que parece ser o modo como este Governo olha para o seu mandato. Não se perceber isto é não se perceber nada de nada. Um regime que ataca um grupo de estudantes contestatários (e não-violentos) para defender uma figura sinistra como o Dr. Relvas precisa urgentemente de repensar a sua natureza e existência.
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