Segunda-feira, 11 de Março de 2013

        Que  projecto  é  este ?             

"Os pobres não trabalham porque têm demasiados rendimentos; os ricos não trabalham porque não têm rendimentos suficientes. Expande-se e revitaliza-se a economia dando menos aos pobres e mais aos ricos."        Há trinta anos atrás, o economista John Kenneth Galbraith resumia, como já aqui tinha assinalado, a lógica da economia política e da política económica que, desgraçadamente, hoje estão em vigor no nosso país. Quando António Borges diz que o ideal seria que os salários descessem, vindo em apoio da ideia de mau manual de economia de Passos Coelho, segundo a qual o aumento do salário mínimo é uma barreira à criação de emprego, é de um processo de redistribuição de baixo para cima, baseado numa curiosa teoria dos incentivos, de que falamos. Esta é a lógica da austeridade: criar, através do desemprego de massas, da fragilização das regras laborais ou dos cortes nos apoios sociais uma situação de tal forma desesperada que os de baixo aceitem trabalhar só para aquecer.
     Para isto, é preciso uma ideologia económica, segundo a qual o trabalho tem o mesmo estatuto da batata. Uma teoria também feita de modelos mal comportados, provavelmente os mesmos que levaram o secretário de estado de Gaspar, Morais Sarmento, a ir esta semana ao Parlamento dizer, com total falta de pudor, que Portugal terá, em 2040, uma dívida pública de 60% do PIB; isto depois de sucessivos e clamorosos erros, num horizonte de meses, sobre todos os indicadores relevantes. A ideia, talvez, é convencer-nos que a austeridade é para décadas. Mas para isto também é necessário que a pressão externa não abrande muito e daí que Gaspar não queira negociar condições financeiras que considera excessivamente favoráveis, dizendo no início da semana que a proposta irlandesa de alargar as maturidades dos empréstimos em quinze anos é inconcebível, confiando que os credores externos sejam os seus melhores aliados.
     A verdade é que os salários, caso esta gente não tenha reparado, e não podem ter deixado de o fazer, porque esse é o grande sucesso da sua política económica, já estão em queda há muito e, entretanto, a taxa de desemprego não pára de aumentar a um ritmo avassalador. Ouçam os empresários: não se investe porque não se vende, nem se tem a expectativa de vir a vender. É sobretudo o nível de investimento, de actividade económica, que determina os ritmos de criação ou de destruição de emprego e a austeridade alimenta decisivamente todas as forças da depressão e, logo, da destruição de emprego. É óbvio que a estabilização e recuperação da procura salarial são vitais no actual contexto, sobretudo entre os trabalhadores com menor rendimento e logo com maior propensão para gastar tudo na satisfação das suas necessidades. Isto para não falar que, por exemplo, um salário mínimo em actualização constante, como parte de um esforço mais vasto para equilibrar as relações entre capital e trabalho, diminui a pobreza laboral e as desigualdades, ajudando a bloquear desmoralizadores e improdutivos círculos viciosos de pobreza e incentivando, a prazo, os empresários a inovar, até porque estes sabem que estratégias empresariais medíocres lhes estão vedadas.
     Esta forma de pensar é todo um outro projecto. Olhando para semana que se seguiu ao 2 de Março, temos a confirmação, através das sucessivas declarações de governantes, do medíocre projecto de classe, suportado externamente pela troika, que temos de derrotar.



Publicado por Xa2 às 07:55 | link do post | comentar

5 comentários:
De Desvalorizar e escravizar trabalhadores. a 11 de Março de 2013 às 10:04
Desvalorizar e escravizar trabalhadores
-------------
«Generosidades» (das multinacionais) na Grécia

Em Atenas, representantes de onze multinacionais reuniram com o Ministro do Desenvolvimento, manifestando-se interessados em investir no país
desde que possam admitir trabalhadores a tempo parcial (três ou quatro dias por semana) por 250 a 300 euros por mês,
com poucas ou nenhumas regalias e indeminizações mínimas em caso de despedimento.

Aparentemente, não entendem a reacção negativa dos gregos, governantes incluídos, que vêem neste plano um reforço da pressão do FMI, da troika e da Alemanha
para que os gregos se tornem novos e bons «trabalhadores chineses».

Como diz um comentador, «em vez de nos tornarmos a "Dinamarca do Sul", acabaremos como a "China da Europa"».

Sei que me repito:
é sempre prudente que acompanhemos o que se vai passando na Grécia ... (nós vamos a seguir, no mesmo mau caminho)


(P.S. – O salário mínimo é actualmente 586 euros/mês, depois de um corte de 22%.)

(Fonte: http://www.keeptalkinggreece.com/2013/03/04/mutlinationals-blackmail-greece-part-timers-on-e250-300-monthly-salary/ )


De Ou Federalismo ou saída do Euro a 11 de Março de 2013 às 10:44
Ou Federalismo ou saída do Euro
(-por Daniel Oliveira)
...
...
Conclui Ricardo Paes Mamede, e eu subscrevo, que o problema das economias europeias mais frágeis não foi viver acima das suas possibilidades, ter um Estado demasiado gordo ou não fazer as "reformas estruturais".
Foi aceitarem submeter-se às mesmas regras em condições estruturais diferentes, abdicarem de todos os instrumentos para se defenderem e participar numa integração europeia que não garantia os seus interesses económicos específicos.

A pergunta que resta fazer é esta: e agora?
O que se está a fazer é aprofundar o fosso já existente.
A desvalorização da economia, que substitui a impossível desvalorização cambial, apenas aprofunda este fosso, aproximando ainda mais as economias periféricas europeias do modelo asiático (sem, no entanto, terem os instrumentos que as economias emergentes continuam a garantir para si) e continuando da queda para o abismo.
O reajustamento em curso é um caminho de empobrecimento tal que não terá fim à vista e que se traduzirá num subdesenvolvimento politicamente e socialmente incomportável.

Restam, assim, dois caminhos:
- ou a União Europeia reestrutura de forma profunda o seu funcionamento - a moeda, as funções do BCE e os tratados assinados -, o que passa por uma mudança política nos países mais ricos,
- ou países como Portugal e Grécia (e até a Espanha) terão de abandonar o euro (já que não é provável que a Alemanha e outros o façam).

O que não é possível é continuar a exigir o mesmo a quem parte em posições tão diferentes. Diria mais: exigir que se piorem as condições dos que estão mal para que consigam chegar ao mesmo lugar que os outros.
O que se está a pedir é que dispensemos os cavalos que puxam a carroça para aligeirar o peso e ganhar a corrida.

E este debate - federalismo democrático e uma verdadeira assunção colectiva, na Europa, dos riscos, por um lado, ou saída do euro, por outro - é o mais difícil de todos para quem já tenha percebido que o caminho que está a ser seguido é um suicídio.

A opção europeísta - com a qual ideologicamente simpatizo - tem o problema de depender de outros (sabendo-se que as principais mudanças dependem de uma unanimidade na Europa).
Sobretudo, de conseguir convencer os eleitorados do norte da Europa, que ainda não sentem na pele a crise, de que o futuro da União depende de abdicarem da situação segura em que por enquanto se encontram.
A opção soberanista tem dois problemas:
não pode ignorar os riscos políticos de uma saída do euro e não pode escamotear os efeitos imediatos de tal opção, que passam pela certeza de um primeiro impacto bastante acentuado na economia e nas condições de vida das pessoas.
Seja qual for a opção, ela é composta de enormes perigos.
Não vejo é qual seja a terceira via.
O que me parece pouco sério é que se continue a contestar o caminho da austeridade fugindo a este debate.


De Reformar a democracia a 11 de Março de 2013 às 15:34
Só nos resta refundar a democracia, será que o povo é capaz disso?
Não será estranho o fato de o pessoal continuar à espera de algo impossível , a regeneração dos partidos ?
Até o BE se deixou absorver pelo sistema. O PC, já toda a gente sabe, que não foi capaz de fazer o enquadramento da liberdade democrática no regime egocêntrico da URSS. É urgente inovar, ao povo o que é do povo.


De Regabofe e corrupção de alguns... a 18 de Março de 2013 às 15:23
ANTONIO COSTA abriu a boca

Comentadores e analistas políticos não têm a coragem de dizer o que disse António Costa, em menos de 3 minutos no programa "quadratura do círculo".

RELEMBRAR

E aqui está textualmente o que ele disse (transcrito manualmente):

(...) A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso.
A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir;
não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil.
Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.

E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.

Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia:
em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado.
E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia.
Portanto não é aceitável agora dizer? podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses.
Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira.
E é isso que estamos a pagar!

A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste.
Esta mentira só é ultrapassada por uma outra.
A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados.
Colossais fraudes.
Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.

Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado.
A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma.
A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção.
Os exemplos sucederam-se.
A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo.
Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha.
E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso.
A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público.
Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos.
E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.

Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades.
Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas.
Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam.
Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos...
Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões.
Sem penalizar os cidadãos.

Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise.
Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção.
Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."


De .5 propostas do PS: a 18 de Março de 2013 às 15:32
PS:
5 Propostas concretas para sairmos da crise

1 - Parar com a austeridade
Abandonar a intenção do Governo de cortar 4 mil milhões de euros nas funções sociais do Estado.
O PS defende disciplina e rigor orçamental. Coisa diferente é um corte brutal nas funções sociais que aumentarão a recessão económica e gerarão ainda mais desemprego.
2- Estabilizar a economia
No curto prazo devem ser adoptadas medidas que estimulem o investimento e dinamizem a procura interna, tanto por razões económicas, como por razões sociais:
Algumas medidas:
i) Redução do IVA para a restauração
ii) No âmbito de um Acordo Estratégico de Concertação, aumentando salário mínimo e as pensões mais baixas, a par da estabilização do quadro fiscal
iii) Plano de reabilitação urbana (promovendo eficiência energética), com aproveitamento de fundos comunitários
iv) Financiamento da economia e das PME. É urgente criar o Banco de Fomento. São importantes medidas como a consideração fiscal dos suprimentos como apoio à capitalização das empresas.
3 – Programa de emergência para apoiar os desempregados sem qualquer protecção social
Mobilizar fundos comunitários para criar um programa de qualificação e formação profissional destinado aos desempregados que não tem qualquer proteção social.
4- Adoptar uma estratégia realista para diminuição da dívida pública e do défice orçamental
Mais tempo para fazer diferente e não para continuar a mesma política.
Assumir uma estratégia realista, credível que possa gerar confiança.
Não é possível consolidar até 2015.
Medidas:
a) Renegociação das condições de ajustamento com metas e prazos credíveis, adequados à realidade económica e social do país e ao desempenho da economia europeia e mundial;
b) Renegociação do alargamento dos prazos de pagamento de parte da divida pública;
c) Renegociação do diferimento do pagamento de juros dos empréstimos obtidos;
d) Renegociação dos juros a pagar pelos empréstimos obtido;
e) Reembolso dos lucros obtidos pelo Banco Central Europeu (sistema europeu de bancos centrais) pelas operações de compra de dívida soberana. Só para o corrente ano estão em causa cerca de 3 mil milhões de euros para Portugal.
5 – Agenda para o crescimento e o emprego
i) Promovendo captação Investimento Directo Estrangeiro
a. Diminuição de custos de contexto
b. Tribunal para dirimir conflitos investimento estruturante, incluindo o estrangeiro
c. Investimento no alargamento do Porto de Sines e alargamento do parque logístico
d. Ligação ferroviária de mercadorias Sines-Madrid
e. Desenvolvimento e qualificação das Áreas de Acolhimento Empresarial
ii) Fomentando as exportações
a. Reembolsos do IVA atempados
b. Estímulos fiscais à exportação com revisão do DL 250/2009
c. Utilização da recapitalização da banca para financiamento de sectores transacionáveis
d. Reforço dos instrumentos de seguro de crédito à exportação e de pré-financiamento das exportações
iii) Lançando programa de substituição das importações por aumento da produção nacional
a. Desenvolvimento do Fundo Financeiro para o Desenvolvimento de Recursos Endógenos (agro-alimentar, mar, floresta e turismo)
b. Dinamização dos Pólos de Competitividade e dos Clusters
c. Desenvolvimento do perímetro de rega do Alqueva


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