Segunda-feira, 22 de Abril de 2013

    E se a  UGT  se transformasse numa  central  sindical ?   (-por Daniel Oliveira)

   Sei pouco sobre o novo secretário-geral da UGT. Sei, entre outras coisas, que o porta-voz oficioso do governo, Luís Marques Mendes, dedicou-se, no sábado, a fazer-lhe ataques violentos na SIC, enquanto deixava um desprestigiante elogio a João Proença. Dizia um dos três ex-líderes-comentadores do PSD na televisão, entre outros ataques menos elegantes, que a força da UGT é a de negociar. Se se dedica à luta de rua deixa de cumprir o seu papel. 

      Esta análise sobre o papel dos sindicatos, vinda quase sempre de quem nunca os apreciou, parte de uma visão estranha da própria ideia de negociação. Negociar é confrontar objetivos diferentes para chegar a algum lado. Para dessa negociação surgir um resultado justo e equilibrado é preciso que as várias partes tenham poder negocial. O do governo sabe-se qual é: ter o poder de fazer as leis e definir as políticas. O das associações patronais também: o poder sobre aqueles que contrata e as empresas. O dos sindicatos é apenas o de terem ao seu alcance as formas de luta que a lei lhes garante. E para isso têm, quando é necessário, de os usar. Lutar sem querer negociar é um grito de alma. Negociar sem querer lutar é anunciar a desistência logo à partida.

      O papel da UGT, pelo menos desde que é dirigida por João Proença, limitou-se a ser o de assinar qualquer acordo que lhe fosse posto à frente. A preocupação com o equilíbrio dos acordos firmados e com o seu real cumprimento foi nula. Para Proença, assinar um acordo, por pior que fosse, tornou-se, por si só, em sinal de vitória. Isto foi especialmente evidente no último acordo assinado, que até quem anda distante dos pontos de vista dos sindicatos considerou dificilmente aceitável por qualquer central sindical. Como se isto não bastasse, a UGT recebeu como agradecimento de Passos Coelho e Vítor Gaspar, um olímpico desprezo. Sem que esse desrespeito tivesse qualquer efeito na sua postura.

      A relação umbilical da CGTP com o PCP é um problema grave para a credibilidade dos sindicatos portugueses. Mas vale a pena recordar que a UGT, tendo sido criada de cima para baixo nas sedes do PS e do PSD, sofre do mesmíssimo pecado, com efeitos agravados pela sua muitíssimo menor implantação social. O comportamento de Proença nos últimos anos retirou à UGT o já pouco poder social (e por isso negocial) que tinha. Proença, com a sua subserviência à mesa de negociações, limitou-se a transformar a UGT numa triste irrelevância. E isso é péssimo para os sindicatos e dá às correntes mais sectárias da CGTP o argumento ideal para ficarem sozinhas na defesa dos direitos dos trabalhadores. E é péssimo para o seu peso negocial. Quanto mais irrelevante, piores serão para quem representa os acordos que assinará.

      O pouco que sei sobre Carlos Silva e os compromissos que deixou no Congresso - alterar a sua postura de subserviência ao governo e a vontade de trabalhar com uma convergência com a CGTP -, permite-me ter esperança que, num momento em que todos os direitos dos trabalhadores e todas as funções sociais do Estado são postas em causa, haja da parte desta central sindical uma posição um pouco mais firme (mesmo que não resistindo a convidar Álvaro Santos Pereira para a abertura do Congresso, naquela velha confusão entre Estado e sociedade civil que herdámos do regime corporativista).

      Que Marques Mendes ache a partida de Proença e a chegada de Carlos Silva uma tragédia para o movimento sindical só reforça o meu otimismo. Ter uma CGTP amarrada a deliberações partidárias e a UGT anestesiada pela vontade de fazer o papel de bem comportada serve bem a agenda de Marques Mendes. Mas não serve os sindicatos e aqueles que eles devem representar. Se a UGT portuguesa passar a ter um papel semelhante ao da UGT espanhola talvez a CGTP passe a ser um pouco mais parecida com as Comisiones Obreras. E talvez passe a ser um pouco mais habitual vermos, como vemos por toda a Europa, as duas centrais sindicais a, com as suas diferenças, remarem para o mesmo lado.


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Publicado por Xa2 às 07:56 | link do post | comentar

3 comentários:
De http://blog.5dias.net/ a 22 de Abril de 2013 às 11:45
Carlos Silva na senda de João Proença.
A UGT na forja do patronato. O PS no encalço do PS de sempre.
(-por Renato Teixeira , 19/4/2013, 5Dias)

[Carlos Silva: «Sem Ricardo Salgado não podia ser líder da UGT», Tabu ]

Que é o mesmo que dizer que sem o programa da troika o Partido Socialista não governa e quase como diz a Joana Lopes, Se o Socialismo no Partido fosse vivo comemoraria hoje 40 anos!. Aproxima-se o render da guarda, já se sente o cheirinho perfumado do pote e no ar a excitação, quase eufórica, dos suspeitos do costume.
-----------
E... o último abraço de J.Proença vai para ... o 'pastel de nata' !


De .Defender e Melhorar o Sindicalismo. a 5 de Julho de 2013 às 11:52
GREVE GERAL, O DIA SEGUINTE !

No passado dia 27 Junho 2013, uma percentagem significativa dos trabalhadores portugueses fez mais uma greve geral!
Uma greve forte no setor público e bastante menos forte no privado!
Foi Importante a convergência da CGTP e UGT sob ponto de vista simbólico.
Sabemos que alguns sindicatos da UGT viveram esta greve a contragosto, claro, e pouco fizeram para mobilizar os trabalhadores! Do lado da CGTP, embora em menor percentagem, também houve pouco entusiamo em alguns ativistas.
A própria Confederação Europeia de Sindicatos (CES) inexplicavelmente não enviou qualquer mensagem de solidariedade!

Porém, foi muito mais o medo e a falta de dinheiro a impediram que a greve fosse efetivamente algo de inédito e de muito mais largo alcance político. Mas não só!
Para além do cansaço dos trabalhadores com a crise, que nos afeta de modo particular, com o desemprego, impostos e cortes salariais, temos um problema grave nos locais de trabalho.

O problema chama-se desmobilização por pouco ou nada se acreditar nas nossas próprias organizações.

Neste sentido há que fazer um debate profundo no movimento sindical sobre o que se passa nos locais de trabalho.
É que o nosso sindicalismo deixou de ser de base e de massas como lhe compete e está escrito nos documentos fundadores, pelo menos da CGTP ! Não estou a culpar ninguém!
A responsabilidade é de todos distribuída pela influencia que cada corrente tem no sindicalismo português.
É um facto que pouco a pouco a sindicalização baixou muito. A crise ajudou neste caminho. Mas não foi apenas um problema da crise.

A questão preocupante é que base sindical nos locais de trabalho restringe-se quase aos militantes partidários, suas bandeiras e discursos!
Julgo que as pessoas lúcidas, mesmo militantes partidários com visão, não podem ficar satisfeitas com esta situação!

O sindicalismo é um movimento dos trabalhadores, de massas, congregando todos os trabalhadores para além das suas conceções religiosas, políticas e filosóficas.
É preciso superar urgentemente esta situação que pode matar o sindicalismo naquilo que tem de melhor, ou seja, de um movimento participado dos trabalhadores para a defesa dos seus interesses e direitos num sentido transformador sob ponto de vista económico, cultural e político.
O que fazer para superar a situação? É esse o debate. Voltarei ao assunto!


De yslqDxmWPub a 17 de Dezembro de 2014 às 03:04
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