« Este blog ainda não adoptou o acordo ortográfico. O autor prefere escrever com erros pessoais a fazê-lo com erros oficiais. » - LNT e ...
... as "vogais e consoantes politicamente incorrectas do acordo ortográfico" + um Plano de Acção que garante que (a "irreversibilidade" e) o impossível não é mais do que aquilo que ainda não foi possível realizar:
1 – Suspensão imediata do AOPL nos organismos de administração pública e no sistema de ensino;
2 – Revogação automática e prioritária das disposições do AOLP que mereceram reprovação mais generalizada;
3 - Abertura de conversações com Angola e Moçambique para avaliação das discrepâncias entre a norma ortográfica do AOLP e a que vigora naqueles países;
4 – Nomeação de uma comissão multidisciplinar de peritos para uma revisão profunda do AOLP;
5 – Elaboração de um vocabulário otográfico comum, avalizado pela comissão de peritos;
6 – Aprovação de uma moratória de três anos para a entrada em vigor do AOLP, transferindo-a de 2015 para 2018, data em que voltará a ser avaliada a sua aplicação. ... (- por LNT )
O que torto nasce nunca se endireita (-por Pedro Correia )
Numa semana de Outubro de 1990, dúzia e meia de sábios iluminados reuniram-se no velho edifício da Academia das Ciências de Lisboa para mudarem a ortografia de uma língua falada por mais de 200 milhões de pessoas. Foi assim, neste ambiente de secretismo, quando não havia nenhuma demanda social para esse efeito, que nasceu o acordo ortográfico.
... O acordo nasceu torto desde logo por ignorar a esmagadora maioria dos pareceres técnico-científicos sobre a matéria. Foram produzidas notáveis peças de análise crítica por parte de escritores, professores, linguistas - e todas acabaram no fundo de uma gaveta, olimpicamente ignoradas. O poder político fez tábua rasa dos alertas da comunidade científica - não só portuguesa mas também brasileira - que advertiam para as suas inúmeras deficiências técnicas, para as suas incongruências conceptuais, para os seus clamorosos erros. Temos, portanto, um acordo que quase ninguém defende, que quase ninguém respeita, que quase ninguém aplica na íntegra. O Presidente da República, que o promulgou, confessa numa entrevista que em casa continua a escrever como aprendeu na escola. O Ministro da Educação, que o faz aplicar no sistema lectivo, admite que não gosta de mudar a maneira de escrever. O secretário de Estado que o assinou em nome do Governo português continua a escrever, em blogues e jornais, na correcta grafia anterior ao convénio de 1990.
Este acordo pretendia unificar o nosso idioma, na sua versão escrita, mas acabou por consagrar grafias diferentes. Hoje o Estado angolano, por exemplo, tem uma grafia diferente da do Estado português. E este, por sua vez, acolheu como boas mais de 200 novas palavras que passam a ser escritas de forma diferente entre Portugal e o Brasil. Palavras como
recepção ou
excepção, que viram cair o
p nos documentos oficiais portugueses, enquanto mantêm o
p que sempre tiveram no documentos oficiais brasileiros.
Entre nós, em resultado das chamadas "facultatividades" reconhecidas pelo acordo, vai-se abolindo o carácter normativo da escrita, dando lugar a uma espécie de ortografia à la carte, ao sabor da subjectividade de cada um. Assim é possível ver órgãos de informação pertencentes ao mesmo grupo editorial escreverem nuns casos sector, com c, e noutros setor, sem c. Há jornais que adoptaram o acordo, mas adiantando desde logo várias excepções à regra, continuando por exemplo a pôr acento na palavra pára. Ainda há dias, a propósito da co-adopção, registámos quatro grafias diferentes desta palavra: com p e sem p, com hífen e sem hífen.
... O acordo acabou por conduzir, portanto, ao caos ortográfico. O que fazer?
Aquilo que deve ser feito quando alguma coisa não está bem: mudá-la.
Deve ser constituída sem demora uma comissão de revisão do acordo, com carácter muito alargado e reunindo especialistas dos mais diversos saberes, de modo a produzir um dicionário ortográfico e regras claras, que não violem a etimologia das palavras, como no absurdo espetador em vez de espectador, e não separem famílias lexicais, como na frase «há egiptólogos no Egito». Enquanto não houver essa revisão profunda e enquanto não for produzido esse dicionário, o acordo deve ser suspenso. E naturalmente a sua aplicação obrigatória, prevista para 2016, deve ser adiada, como aliás o Brasil já fez.
Alguém me perguntava há dias por que motivo não se ouvem as vozes dos defensores do acordo.
A resposta é simples: essas vozes não se ouvem porque os defensores deste acordo são em número muito diminuto. Basta folhearmos livros que vão sendo publicados, de escritores das mais diversas tendências, das mais diversas escolas estéticas e de todas as gerações para se perceber que fazem questão em escrever estas suas obras na ortografia anterior ao acordo ortográfico de 1990. Isto sucede não apenas com escritores portugueses: ainda agora foi editado um livro póstumo de Antonio Tabucchi, intitulado Viagens e Outras Viagens. Lá vem a advertência, na ficha técnica: «Por vontade expressa dos herdeiros do autor, a tradução respeita a ortografia anterior ao actual acordo ortográfico.» O mesmo sucede nos jornais: mesmo naqueles que aplicam o acordo, aliás cada qual a seu modo, não faltam colunistas e articulistas que insistem em escrever na ortografia pré-AO.
Em todos os sectores da sociedade portuguesa a rejeição das normas acordísticas é claríssima. E maior seria ainda se não houvesse a imposição de adoptá-las na administração pública, incluindo nas escolas, onde são largos
milhares os professores que se opõem às regras ortográficas emanadas do AO. A estes professores, tal como a todos os utentes qualificados da língua portuguesa, o poder político tem a estrita obrigação de
reconhecer e garantir o estatuto de objecção de consciência. (e Resistência activa ao AO pela Assoc. Estudantes ) ... Nós devemos continuar a resistir também. Em nome daquilo em que acreditamos. ... Porque nós, os mais velhos, somos fiéis depositários de valores culturais que temos o dever de legar às gerações futuras. E nenhum valor cultural é tão nobre e tão inestimável como a nossa língua.
Parabéns ! (-por A. Vidal )A Mia Couto, que acaba de ganhar o prémio Camões. É actualmente um dos meus escritores preferidos de língua portuguesa e o único (repito, o único) que me leva ao sacrifício de ler um livro escrito em acordês. Porquê? Porque, simplesmente, pior do que isso seria não poder lê-lo. Mas é pena que tenha cedido ao AO e ao enganador argumento da uniformização do português. Logo ele, que tem um vocabulário tão próprio e por isso contribui de forma tão expressiva para a diversidade da nossa língua.
O Prémio Camões para Mia Couto (com uma boa mostra de capas dos seus livros)
De PmB a 29 de Maio de 2013 às 14:24
"não se ouvem as vozes dos defensores do acordo."? O senhor deve viver numa caverna.
De Bic Laranja a 29 de Maio de 2013 às 18:30
Ao acordita anterior:
Diga lá aí dumas notícias recentes a defender o «coiso», vá!
O A. O. - A DIVISÃO DAS ÁGUAS
Fui contra o acordo ortográfico (AO) desde o princípio. Mas só a partir do momento em que se tornou praticamente inevitável a sua entrada em vigor, ou seja, depois da publicação do Segundo Protocolo Modificativo é que “fui à luta” no Politeia, há cerca de quatro anos, publicando sobre o assunto três ou quatro textos.
Analisei a questão no plano político, jurídico e da língua, apesar de este último ser aquele em que naturalmente me sentia menos à vontade. Tinha, porém, a meu favor o facto de conhecer razoavelmente o Brasil, a sociedade brasileira, alguma coisa da sua literatura, do seu movimento editorial e acima de tudo o português que lá quotidianamente se fala na rua, na televisão e na rádio, bem como o que diariamente se escreve nos jornais. E por isso me aventurei a falar de um domínio que não era o meu.
Simultaneamente, na direita intelectual mais reaccionária, como é o caso de Graça Moura, ia-se travando uma intensa batalha contra o AO, cujo ponto alto me parece ser o livro do autor acima citado – Acordo Ortográfico, A Perspectiva do Desastre. Entretanto, a reacção contra o Acordo foi-se estendendo a outros sectores da sociedade portuguesa, não conotados com a direita, embora à medida que o protesto engrossava fossem escasseando os argumentos que verdadeiramente o justificava, pontificando muito claramente a partir de determinada altura uma perspectiva puramente conservadora que em si não serve para justificar absolutamente nada.
O próprio Graça Moura, que no princípio tanto se esmerou na busca de argumentos para a rejeição do Acordo, inclusive de natureza jurídica, chegou mais tarde a dizer num artigo no DN – creio que já este ano ou no fim do ano passado – que o Acordo era uma traição aos nossos clássicos!
Enfim, como Graça Moura quando fala politicamente frequentemente raia o absurdo, tal o fundamentalismo dos seus argumentos, nem sequer vale a pena responder a esta “brilhante” objecção.
Também me não seduziu o recente texto de outro brilhante intelectual da direita – Pedro Mexia, politicamente muito mais ágil que Graça Moura – e que tão badalado tem sido nas redes sociais e até replicado por muita gente de esquerda. Claro que o texto – O Aleijão - está bem escrito, como todos os textos de Mexia, é aparentemente sedutor, relativamente irónico, mas a mensagem fundamental que dele se extrai é uma mensagem claramente conservadora, embora disfarçada pela tal agilidade política do autor que tem a manifesta preocupação de deixar claro que uma língua muda “espontânea, inevitável e constantemente”, tentando por esta via atenuar o conservadorismo da mensagem, apesar de ele saber muito bem quão difíceis e lentas são essas mudanças nos tempos em que vigora a norma ortográfica. Por outro lado, no texto de Mexia perpassa difusamente um certo sentimento de suserania perdida, apenas denunciado pelas escassas palavras que acabam o por o trair: “E agora ainda passámos pela humilhação de ter o oficioso “Jornal de Angola”a lembrar-nos que o “étimo latino” ajuda a compreender o percurso de uma palavra”.
É um pouco por estas razões, e também pelo facto de em política a direita nunca ser uma boa companhia que sistematicamente me tenho recusado a “juntar a minha voz” à voz dos intelectuais da direita, numa causa dita transversal.
De facto, o AO é politicamente uma IMBECILidade (as razões aduzidas neste domínio para o justificar são confrangedoramente medíocres), é juridicamente uma ABERRAÇÃO (na medida em que viola o princípio segundo o qual os acordos multilaterais restritos só entram em vigor depois de ratificados por todos os que o assinaram) e constitui no plano puramente linguístico um acto INUTIL, arbitrário e desigual. Realmente, como muito bem sabe quem conhece com alguma profundidade o português do Brasil, se algum ponto de contacto ele tem com o português de Portugal esse ponto é a grafia e depois a fonética. Em tudo o mais diferem radicalmente. Por isso, terá tanto ou tão pouco sentido negociar um acordo para uniformizar a grafia como teria a negociação de um acordo para uniformizar a fonética!
Por último, nesta luta contra o AO seria injusto não recordar o 1º que em Portugal denunciou as suas arbitrariedades e ... o rasgou na A.R.- Jorge Lemos, ex-dep.PCP.
De .Acta, facto, cágado, ... pára -AO. a 7 de Junho de 2013 às 09:28
Merece divulgação , 4 Jun.2013
Até que enfim... alguém faz alguma coisa!!!
Magistrado alega que as "actas não são uma forma do verbo atar" e que "os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso".
"O juiz Rui Teixeira, que conduziu a instrução do processo 'Casa Pia' e que agora está colocado no Tribunal de Torres Vedras, não quer os pareceres técnicos sociais com o novo Acordo Ortográfico", revela o Correio da Manhã na edição de hoje.
O magistrado enviou uma nota à Direcção Geral de Reinserção Social (DGRS) em Abril onde se podia ler, que esta "'fica advertida que deverá apresentar as peças em Língua Portuguesa e sem erros ortográficos decorrentes da aplicação da Resolução do Conselho de Ministros 8/2011 (...) a qual apenas vincula o Governo e não os tribunais'".
Ainda segundo o Correio da Manhã, a DGRS pediu um esclarecimento ao juiz, tendo este respondido que a "'Língua Portuguesa não é resultante de um tal «acordo ortográfico» que o Governo quis impor aos seus serviços', diz o juiz, acrescentando que
'nos tribunais, pelo menos neste,
os factos não são fatos,
as actas não são uma forma do verbo atar,
os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso
e a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário'", escreve o Correio da Manhã.
De eu acordo para o acordo do desacordo a 10 de Junho de 2013 às 14:47
Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos',com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes operacionais'.
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.
O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';
Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'
Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';
As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo' Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
As p.... passaram a ser 'senhoras de alterne'.
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
Helena Sacadura Cabral
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