De PmB a 29 de Maio de 2013 às 14:24
"não se ouvem as vozes dos defensores do acordo."? O senhor deve viver numa caverna.
De Bic Laranja a 29 de Maio de 2013 às 18:30
Ao acordita anterior:
Diga lá aí dumas notícias recentes a defender o «coiso», vá!
O A. O. - A DIVISÃO DAS ÁGUAS
Fui contra o acordo ortográfico (AO) desde o princípio. Mas só a partir do momento em que se tornou praticamente inevitável a sua entrada em vigor, ou seja, depois da publicação do Segundo Protocolo Modificativo é que “fui à luta” no Politeia, há cerca de quatro anos, publicando sobre o assunto três ou quatro textos.
Analisei a questão no plano político, jurídico e da língua, apesar de este último ser aquele em que naturalmente me sentia menos à vontade. Tinha, porém, a meu favor o facto de conhecer razoavelmente o Brasil, a sociedade brasileira, alguma coisa da sua literatura, do seu movimento editorial e acima de tudo o português que lá quotidianamente se fala na rua, na televisão e na rádio, bem como o que diariamente se escreve nos jornais. E por isso me aventurei a falar de um domínio que não era o meu.
Simultaneamente, na direita intelectual mais reaccionária, como é o caso de Graça Moura, ia-se travando uma intensa batalha contra o AO, cujo ponto alto me parece ser o livro do autor acima citado – Acordo Ortográfico, A Perspectiva do Desastre. Entretanto, a reacção contra o Acordo foi-se estendendo a outros sectores da sociedade portuguesa, não conotados com a direita, embora à medida que o protesto engrossava fossem escasseando os argumentos que verdadeiramente o justificava, pontificando muito claramente a partir de determinada altura uma perspectiva puramente conservadora que em si não serve para justificar absolutamente nada.
O próprio Graça Moura, que no princípio tanto se esmerou na busca de argumentos para a rejeição do Acordo, inclusive de natureza jurídica, chegou mais tarde a dizer num artigo no DN – creio que já este ano ou no fim do ano passado – que o Acordo era uma traição aos nossos clássicos!
Enfim, como Graça Moura quando fala politicamente frequentemente raia o absurdo, tal o fundamentalismo dos seus argumentos, nem sequer vale a pena responder a esta “brilhante” objecção.
Também me não seduziu o recente texto de outro brilhante intelectual da direita – Pedro Mexia, politicamente muito mais ágil que Graça Moura – e que tão badalado tem sido nas redes sociais e até replicado por muita gente de esquerda. Claro que o texto – O Aleijão - está bem escrito, como todos os textos de Mexia, é aparentemente sedutor, relativamente irónico, mas a mensagem fundamental que dele se extrai é uma mensagem claramente conservadora, embora disfarçada pela tal agilidade política do autor que tem a manifesta preocupação de deixar claro que uma língua muda “espontânea, inevitável e constantemente”, tentando por esta via atenuar o conservadorismo da mensagem, apesar de ele saber muito bem quão difíceis e lentas são essas mudanças nos tempos em que vigora a norma ortográfica. Por outro lado, no texto de Mexia perpassa difusamente um certo sentimento de suserania perdida, apenas denunciado pelas escassas palavras que acabam o por o trair: “E agora ainda passámos pela humilhação de ter o oficioso “Jornal de Angola”a lembrar-nos que o “étimo latino” ajuda a compreender o percurso de uma palavra”.
É um pouco por estas razões, e também pelo facto de em política a direita nunca ser uma boa companhia que sistematicamente me tenho recusado a “juntar a minha voz” à voz dos intelectuais da direita, numa causa dita transversal.
De facto, o AO é politicamente uma IMBECILidade (as razões aduzidas neste domínio para o justificar são confrangedoramente medíocres), é juridicamente uma ABERRAÇÃO (na medida em que viola o princípio segundo o qual os acordos multilaterais restritos só entram em vigor depois de ratificados por todos os que o assinaram) e constitui no plano puramente linguístico um acto INUTIL, arbitrário e desigual. Realmente, como muito bem sabe quem conhece com alguma profundidade o português do Brasil, se algum ponto de contacto ele tem com o português de Portugal esse ponto é a grafia e depois a fonética. Em tudo o mais diferem radicalmente. Por isso, terá tanto ou tão pouco sentido negociar um acordo para uniformizar a grafia como teria a negociação de um acordo para uniformizar a fonética!
Por último, nesta luta contra o AO seria injusto não recordar o 1º que em Portugal denunciou as suas arbitrariedades e ... o rasgou na A.R.- Jorge Lemos, ex-dep.PCP.
De .Acta, facto, cágado, ... pára -AO. a 7 de Junho de 2013 às 09:28
Merece divulgação , 4 Jun.2013
Até que enfim... alguém faz alguma coisa!!!
Magistrado alega que as "actas não são uma forma do verbo atar" e que "os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso".
"O juiz Rui Teixeira, que conduziu a instrução do processo 'Casa Pia' e que agora está colocado no Tribunal de Torres Vedras, não quer os pareceres técnicos sociais com o novo Acordo Ortográfico", revela o Correio da Manhã na edição de hoje.
O magistrado enviou uma nota à Direcção Geral de Reinserção Social (DGRS) em Abril onde se podia ler, que esta "'fica advertida que deverá apresentar as peças em Língua Portuguesa e sem erros ortográficos decorrentes da aplicação da Resolução do Conselho de Ministros 8/2011 (...) a qual apenas vincula o Governo e não os tribunais'".
Ainda segundo o Correio da Manhã, a DGRS pediu um esclarecimento ao juiz, tendo este respondido que a "'Língua Portuguesa não é resultante de um tal «acordo ortográfico» que o Governo quis impor aos seus serviços', diz o juiz, acrescentando que
'nos tribunais, pelo menos neste,
os factos não são fatos,
as actas não são uma forma do verbo atar,
os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso
e a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário'", escreve o Correio da Manhã.
De eu acordo para o acordo do desacordo a 10 de Junho de 2013 às 14:47
Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos',com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes operacionais'.
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.
O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';
Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'
Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';
As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo' Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
As p.... passaram a ser 'senhoras de alterne'.
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
Helena Sacadura Cabral
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