Terça-feira, 4 de Junho de 2013

Obrigada pela vossa (nossa) greve, dia 17 de Junho   (-por Raquiel Varela)

       Pelos nossos filhos que podem ter na escola um lugar de emancipação e não um armazém de crianças, pelos nossos pais que com o emprego com direitos vêem as suas reformas sustentadas por quem trabalha, e por todos nós, porque viver ao lado de desempregados, com desempregados, viver desempregado, é estar na linha da barbárie social. A minha solidariedade a esta greve.

     «Sou professor há quase 20 anos e ganho 1300 euros por mês. Não me queixo, há quem ganhe muito menos. A minha mulher, também professora, está desempregada. O seu subsídio de desemprego, que está quase a acabar, é de 380 euros. Pago casa ao Banco e tenho duas filhas pequeninas.
Tenho mais de 40 anos. Se neste momento for despedido pelo Ministério da Educação e ficar sem emprego, não sei como vou sobreviver. Eu e as minhas filhas. Com esta idade, quem é que me dá trabalho?»  (-por Ricardo F. Pinto, Aventar.) 
           Há quem tenha mesmo uma "linha vermelha"  (-por Daniel Oliveira)
 Paulo Portas fez dois apelos: que os professores não fizessem greve nos dias de exames e que a UGT negociasse com o governo em sede de concertação social.  A ideia de Portas é que os professores têm todos os outros dias do ano para fazer a paralisação. E que escolheram os piores de todos. O que mais mossa causa. Serei, como pai de uma aluna do 9º ano, prejudicado por esta greve. E, no entanto, acho este apelo descabido.

     As greves não têm como objetivo fazer com que a entidade empregadora poupe um dia de salários, os grevistas vejam o seu ordenado ainda mais reduzido e, no dia seguinte, tudo continue na mesma. Só fazem sentido se forem uma forma de pressionar o outro lado de um processo negocial a ceder. Foi para isso que foram criadas.      Sim, fico irritado se esta greve acontecer. E, por isso mesmo, exijo, como cidadão, que o governo a evite. Recuando no que pretende fazer aos professores. Acho compreensível que, quem concorde com as medidas do governo, ache que são os professores que devem ceder.     O que não me parece aceitável é que, numa luta que tem dois lados, se finja que só existe um.    Pior: que se diga aos professores que só devem fazer greve quando ela não tenha qualquer efeito no processo negocial. Quem escolheu as vésperas de dois exames nacionais para avançar com estas brutais propostas? Quem apresentou medidas de tal forma radicais que nem podem ser consideradas uma base séria para qualquer negociação?

      Paulo Portas quer evitar esta greve? Sendo membro do governo, use o lugar que ocupa para apelar ao primeiro-ministro, ao ministro das Finanças e ao ministro da Educação para recuarem. Não espere que, para não perder ele o emprego, os professores estejam disponíveis para perderem o seu e para verem as suas condições de trabalho brutalmente degradadas. Portas não pode falar como se fosse um árbitro nesta história. É uma das partes. A parte que não parece estar disponível para ceder.

      O apelo à UGT ainda me parece mais desfasado da realidade. Onde estava Paulo Portas quando Passos Coelho e Vítor Gaspar humilharam a central sindical que assinou o que a todos já parecia uma cedência inaceitável? Onde estava quando o seu governo não cumpriu os acordos que assinou, quando eles eram já tão prejudiciais para os trabalhadores? Onde estava quando o governo transformou a concertação social em figura decorativa? Onde estava quando os acordos lá assinados passaram a ser numa mera figura de estilo, em que o que é mau para quem trabalha é aplicado e o resto ignorado? Onde estava quando o primeiro-ministro tornou os palavra do governo, mesmo quando os acordos lhe são tão simpáticos, em qualquer coisa em que não se pode confiar? O tempo para pedir boa vontade aos parceiros sociais já passou. E Paulo Portas, como membro deste governo, é cúmplice dessa oportunidade perdida. Que se tivesse lembrado da importância das negociações quando Vítor Gaspar começou a decidir, sozinho, a política deste governo, ignorando não só a sociedade e os sindicatos, mas todos os restantes ministros.

     Paulo Portas quer que os sindicatos façam o mesmo papel que ele tem feito: que finjam que negoceiam com um governo sem palavra e sem vontade de negociar. Que, no fim, façam umas flores e cedam em tudo sem luta. Para ele, pode ser que chegue. Para quem tem obrigação de representar os trabalhadores seguramente não chegará. Se nem a Portas o primeiro-ministro dá ouvidos, acha que dará aos professores e aos sindicatos sem o risco de pagar um alto preço pela sua prepotência? É que nem todos os portugueses estão dispostos a fazer o triste papel que Paulo Portas reservou para si próprio nesta crise. Há quem tenha mesmo uma "linha vermelha". E não a deixe passar sem lutar a sério.



Publicado por Xa2 às 18:01 | link do post | comentar

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