Duas pessoas foram detidas esta terça-feira em Lisboa, e três ficaram feridas, durante a operação de limpeza dos terrenos onde estava instalado o projeto comunitário Horta do Monte, cujos responsáveis garantem não terem sido oficialmente notificados para desocuparem o local.
Hoje de manhã, explicou à agência Lusa o subcomissário Alcides Rodrigues, a Polícia Municipal (PM) de Lisboa acompanhou funcionários da autarquia e um empreiteiro até aos terrenos situados na Rua Damasceno Monteiro, perto do Largo da Graça, "no sentido de garantir a sua segurança", para realizarem a operação de limpeza ordenada pela autarquia.
"Alguns hortelãos revoltaram-se e insurgiram-se contra os nossos agentes, tendo sido detidas duas pessoas por agressões, injúrias, resistência e coação", disse Alcides Rodrigues à agência Lusa.
O responsável policial acrescentou que a ordem de despejo foi assinada pelo vereador José Sá Fernandes, que tem os pelouros dos Espaços Verdes e do Espaço Público, depois de os hortelãos terem sido notificados pelo município lisboeta para desocuparem o espaço.
Os responsáveis pelo projeto comunitário Horta do Monte disseram hoje à Lusa não terem sido notificados oficialmente para abandonarem os terrenos.
"Estávamos em conversações [com a Câmara de Lisboa]. Neste momento aguardávamos a marcação de uma reunião e uma notificação oficial", disse hoje à Lusa Isabel Serôdio, no local, onde pelas 11.30 se mantinham agentes da PM enquanto uma retroescavadora continuava a operação de limpeza dos terrenos. [DN]
A coordenadora da Horta do Monte afirma que houve três feridos na sequência de agressões de agentes da autoridade, mas o comandante daquela força policial desmente essa versão dos factos.
Inês Clematis conta que pouco depois das 7h00, quando os primeiros apoiantes do projecto chegaram ao terreno, entre a Rua Damasceno Monteiro e a Calçada do Monte, “já estavam com as máquinas a destruir tudo”. “Os polícias não nos deixaram entrar, foram violentos”, descreve a coordenadora da horta, lamentando que a autarquia tenha optado por uma “desocupação forçada, em total desrespeito pelas pessoas envolvidas e pela comunidade”.
De acordo com Inês Clematis, duas pessoas foram detidas pela polícia e outras três ficaram feridas. Uma delas, descreve, caiu ao chão depois de ter sido empurrada por um polícia e foi transportada para o hospital com a cabeça partida. A coordenadora da horta acrescenta que uma outra pessoa “levou bastonadas nas costas quando estava a tentar acalmar as pessoas”, e que uma terceira “foi arrastada e ficou com o braço todo arranhado”.
Na Internet circulam vários relatos que corroboram a versão de Inês Clematis. “Quando cheguei à horta, poucas pessoas, muitos polícias, um rapaz com a cabeça partida e a uma amiga no chão com o namorado a ser imobilizados à força. Fui para onde estavam a correr levei um empurrão que me lixou o cotovelo e mais empurrões sempre que tentava chegar ao pé dela. Muitos polícias e com testosterona e bastões ao alto. Antes, os polícias tinham tirado uma rapariga de uma árvore à força, arranharam-na toda”, descreve-se um desses testemunhos.
Dois detidos: um turco e uma francesa
O comandante da Polícia Municipal de Lisboa confirmou ao PÚBLICO que houve dois detidos, um homem de nacionalidade turca e uma mulher francesa, por “resistência e coacção a funcionários”. Segundo André Gomes, estas duas pessoas “forçaram a entrada” na horta quando esta já se encontrava vedada para que fossem realizados os trabalhos de limpeza ordenados pelo vereador José Sá Fernandes.
“O casal desviou a rede, meteu-se lá dentro e começou a injuriar os funcionários”, descreve o comandante, acrescentando que o homem que acabou por ser detido "agarrou um agente da polícia pelas costas e atirou-o ao chão”. André Gomes acrescenta que esse elemento da Polícia Municipal de Lisboa ficou com os óculos partidos e sofreu ferimentos num braço e num dedo.
Quanto à existência de três feridos entre os apoiantes do projecto da horta comunitária, o responsável da Polícia Municipal de Lisboa assegura que não tem conhecimento dessa situação. “A polícia só desviou as pessoas do terreno. Não houve nenhuma carga policial”, afirma. “Não sei se alguém se aleijou uns contra os outros”, acrescenta, admitindo que se gerou “alguma confusão no local”, onde, segundo diz, se concentraram cerca de 20 pessoas em protesto contra a limpeza do terreno.
Os apoiantes da Horta do Monte fizeram chegar ao PÚBLICO várias fotografias tiradas esta manhã, nas quais se vê um casal deitado no chão e algemado, rodeado de agentes da Polícia Municipal de Lisboa. Há também imagens das máquinas a destruir a horta comunitária e de uma mulher que se colocou em frente a uma delas, tentando impedir o avanço.
Jardim e parque agrícola
A Câmara de Lisboa determinou a desocupação do local para ali construir um jardim e um parque hortícola, com abertura prevista para o próximo mês de Setembro. O assessor do vereador dos Espaços Verdes diz que tanto os dinamizadores da horta comunitária como outros cinco hortelãos que cultivavam o terreno foram convidados a ocupar um talhão no novo parque verde.
“Os cinco hortelãos vão voltar mas o grupo comunitário não aceitou, não quis”, acrescenta João Camolas, garantindo que os dinamizadores da Horta do Monte tinham sido notificados para desocupar o espaço até ao passado dia 14. Já a coordenadora do projecto diz que não recebeu “uma notificação como deve ser”, mas apenas “uns papelinhos que nem estavam assinados”.
“Estávamos receptivos a aceitar o terreno que nos ofereciam no parque hortícola”, garante por sua vez Inês Clematis, apesar de dizer que a proposta da autarquia ia inviabilizar o desenvolvimento de algumas das actividades que o grupo vinha desenvolvendo até agora. [Público]
De Horta do Monte a 25 de Junho de 2013 às 15:02
Quem somos um grupo informal auto-organizado, com uma estrutura aberta a todos que queiram participar e fazer parte. Existe, no entanto, um coordenador responsável pelas actividades colectivas na horta, mantendo a comunicação entre os participantes, sendo também o ponto de contacto entre a horta e o público em geral.
Parcerias:
Associação Arte de Viver
Associação Flor de Murta
Cozinha Popular da Mouraria
DLU - Divisão Limpeza Urbana
Horta Biológica do CNN
Junta de Freguesia da Graça
Projecto Plantar Uma Árvore
Quercus – Núcleo Regional de Lisboa
ULHT – Universidade Lusófona Humanidades e Tecnologias
Localização:
Na intersecção da rua Damasceno Monteiro com a Calçada do Monte, a 2 minutos a pé
do Largo da Graça
(localização)
www.hortadomonte.blogspot.pt
http://www.facebook.com/hortadomonte
Mais info: 960148643 / 912172157
De Dias na Horta a 25 de Junho de 2013 às 15:05
Os produtos são partilhados pelas pessoas que ajudam nos dias da horta, embora aqueles que participam pontualmente sem compromisso são bem vindos e "levam" primeiro que tudo a experiência e aprendizagem de um dia bem passado na horta. O excedente destina-se à cozinha comunitária da horta e a refeições de carácter humanitário.
De Uma Horta por um relvado a 25 de Junho de 2013 às 15:07
O terreno onde se situa a Horta do Monte foi incluído na EMPREITADA. No. 11/12/DMAU/DAEP/DCEVGEP – CONSTRUÇÃO DO JARDIM DA CERCA DA GRAÇA – PROC. No. 32/CP/DEPS/N.D./2012 – D.R. No: 158 Série II de 2012-08-16, que prevê a total destruição da Horta do Monte para a substituir por um relvado!
De Ana Barreiros Vaz Pato. Arquitecta a 25 de Junho de 2013 às 15:09
A horta do monte é um exemplo concreto de cidadania participativa. Um trabalho continuado a custo zero permitiu uma reestruturação de um terreno baldio numa área de horta biológica com uma grande densidade de produção de alimentos. A zona foi diariamente limpa por cidadãos voluntários de toda a espécie de detritos e pouco a pouco, passo a passo ganhando o respeito de todos. Um espaço de inclusão que permitiu a muitas pessoas de todas as idades mas várias em situação de fragilidade social em muito agravada pelo atual contexto de crise, encontrar aqui um apoio à sobrevivência mas também uma oportunidade de trocar ideias, aprender novas técnicas, fazer exercício, viver mais saudável. Não parece possível que qualquer instituição publica e nomeadamente a Câmara não veja neste trabalho uma enorme mais-valia e que ao invés de o apoiar o queira destruir para aí implantar outro modelo, começando do zero mas logo com grandes encargos de investimento e destruição do existente.
De Cátia Marlene Fernandes Maciel, moradora a 25 de Junho de 2013 às 15:09
A Horta do Monte é o único espaço verde da freguesia da Graça no qual uma criança pode brincar em contacto com a terra, sem estar rodeada de ladrões e cocó de cão. É um dos únicos espaços verdes da cidade de Lisboa onde crianças e adultos podem estar em contacto coma terra, flores, legumes e frutos. Sou mãe de uma criança de 3 anos e meio que quando sai de Lisboa, no regresso, pede sempre para ir ver a sua horta ficando tão contente por a re-encontrar que até beija as árvores e as vedações. Não nos tirem o único motivo pelo qual suportamos esta cidade suja, sem árvores, sem espaços frescos e limpos, a NOSSA HORTA.
De Raquel Sofia a 25 de Junho de 2013 às 15:11
Na horta do monte temos oportunidade de nos conectarmos com a natureza e aprendermos sobre os princípios de permacultura, temos também a possibilidade de fazermos diversificados workshops, tais como: de yoga, ateliers de artes plásticas, de dança, de meditação.
Mas para mim, na verdade o mais importante é ver a alegria nas caras das crianças a mexer nas flores, nos vegetais, nos bicharocos e andarem no baloiço de madeira.
De Margherita Allegro a 25 de Junho de 2013 às 15:12
Conhecia Horta do Monte no 2008. Vivia em Lisboa e tinha necessidade de um contacto directo com a terra, com as plantas. Participei nalgumas actividades deles mas depois foi embora de Lisboa. Nunca me esqueci da horta.
Quando voltei no Setembro 2012 fui logo a ver se ainda existia aquele espaço mágico. Conheci Inês e desta vez comecei um participação mais assídua, 1 ou 2 vezes por semana.
Voltei lá pela mesma razão da primeira vez: o simples contacto com a terra. Ver os ciclos naturais dos organismos, desde semente, passando por tímido rebento, ficar planta adulta e produtiva, comer os seus frutos. E ao fim, utilizar a mesma planta para fertilizar o canteiro para o próximo cultivo.
A horta é um exemplo de sustentabilidade. Todas a construções e os canteiros são feitos a partir de material reciclado encontrado na rua e os desperdícios orgânicos são aproveitados para a compostagem. Deixam-se crescer ervas espontâneas, muitas delas comestíveis, para promover uma maior biodiversidade, importante para prevenir pragas a atirar uma grande variedade de insectos polinizadores como abelhas e borboletas, frequentemente ausentes em ambientes urbanizados. As madeiras deitas fora na rua vem utilizadas para cozinhar, e a cinza obtida para lavar loiça ou fertilizar a terra.
A horta é um importante ponto de agregação e integração. Todos são convidados a participar, como nos dias das horta, onde nos encontramos para trabalhar juntos, como nas festas onde cozinhamos juntos, trocamos ideias e conhecimentos, partilhamos e aproveitamos um das presenças dos outros, conhecendo novas culturas e diferentes modos de viver.
A participação é grande e variada em categorias e idades: moradores do bairro, que vêm a cultivar, levar os desperdícios orgânicos no compost, ou aproveitar de uma sopa apena cozinhada, estrangeiros que moram em Lisboa por razões de estudo ou trabalho, famílias com crianças que querem aproveitar dum dia de sol para brincar numa área verde, e ao mesmo tempo aprender algo sobre a natureza.
A horta é uma continua oficina de educação. Grupos de escola primaria foram visitar a horta, aprendendo a importância das minhocas para o terreno, explorando cores, cheiros e utilização de diferentes plantas, observando que é possivel construir a partir de material reciclado.
A sensibilização das crianças ao tema da sustentabilidade é fundamental mesmo para o futuro deles.
Também muitos estudantes de diferentes faculdades (Antropologia, Sociologia, Urbanística e Arquitectura, Agronomia) foram atraídos das diferentes dinâmicas da horta e foram fazer projectos, teses, experiências e diferentes trabalhos no âmbito da horta.
Na Horta do Monte organizam-se também workshop variados, o último foi a realização dum fogão foguete, que permite a utilização segura da madeira deitada fora na rua para cozinhar.
Na minha opinião, a Horta do Monte é um processo continuo de requalificação a nível social e ambiental, que envolve a comunidade em escala pequena, como o bairros próximos e a cidade de Lisboa, mas também chegando a ter uma identidade e repercussão internacional.
Embora seja um espaço no fundo pequeno, oferece variados serviços à população, e tudo baseando-se em trabalho voluntário e auto financiamento.
Pessoalmente, posso chegar à Horta em diferentes estados emocionais, mas depois de umas horas de trabalho lá, sempre termino com um sorriso no rosto e com o ânimo mais tranquilo.
De Joana Cordeiro a 25 de Junho de 2013 às 15:14
Joana Cordeiro - Diretora da Associação Arte de Viver Portugal - AOL Portugal
A Arte de Viver desenvolve actividades abertas à comunidade de yoga, meditação na Horta do Monte, desde há 6 anos e tem muito gosto nesta parceria que tem com este grupo informal. A Horta do Monte é um lugar onde aprendemos a ser mais naturais. É um lugar onde encontramos paz tanto na partilha, como no trabalho. A cidade precisa de lugares assim. lugares onde podemos estar com a natureza e aprender com ela o que ela nos tem para ensinar. A Inês Clematis dedica-se a este projecto há seis anos e tenho acompanhado o seu percurso no cuidado que tem com o lugar e com as pessoas que por ali passam. Escolas e Universidades têm vindo ajudar a desenvolver o espaço e aprender também com o que se faz ali. Preservar a Horta do Monte, é preservar um espaço que proporciona educação, partilha, tranquilidade e alegria, não apenas à comunidade que aí vive e aos transeuntes, como também às pessoas que aí se deslocam porque se sentem aí úteis e felizes
De Flávia Santos a 25 de Junho de 2013 às 15:17
Para mim a Horta do Monte é a prova viva de que os cidadãos conseguem, através da utilização do espaço público, promover uma melhor vida comunitária nos bairros em que habitam. Para mim, qualquer intervenção camarária deveria preocupar-se em ouvir e perceber o historial de trabalho desenvolvido neste terreno, a sua evolução de terreno abandonado e degradado para um local de encontro comunitário ao ar livre, arriscando-se a que, caso não o faça, todas as melhorias sociais conseguidas ao longo dos anos se percam pela pá de uma retroescavadora.
Flávia Santos - Técnica de Desenvolvimento
De Hellington Vieira a 25 de Junho de 2013 às 15:19
A Horta do Monte é um espaço único, de cultivo e de partilha, onde é possível encontrar pessoas de diversas origens, com diferentes formas de pensar. É um espaço para partilhar conhecimentos e experiências relativas a estilos de vida mais sustentáveis. Na Horta do Monte, aprendi sobre a Permacultura, sobre hábitos saudáveis e sobre uma alimentação mais natural, rica e variada. Nesta Horta, tive a oportunidade de conhecer uma Permacultura viva, menos teórica e mais prática, como nunca tinha visto em lado nenhum. Para citar apenas alguns exemplos, escolheria a fantástica oficina do fogão foguete, na qual aprendemos a construir um fogão inteligente e amigo da natureza, e ainda, a oficina informal de casas de passarinhos, onde aprendemos a defender os nossos vegetais, ao mesmo tempo que alimentamos as aves. Aprendi também que é possível unir a natureza à solidariedade, e ajudar a quem precisa de forma natural e sem custos pessoais. O conhecimento que adquiri na Horta do Monte estará sempre comigo e poderá ser aplicado em outros projectos, em outros lugares, com outros grupos. É uma "escola ecológica", que ensina aos seus alunos a amar a natureza e a si próprios.
(Redactor/Criativo Estratégico - Mestrando em Antropologia)
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