O golpe para o segundo resgate?
(-por Daniel Oliveira, Arrastão e Expresso online)
Só há uma forma de perceber a fuga de Gaspar, explicada pelo próprio
pela sua falta de credibilidade, a tentativa de fuga de Portas, a cedência em toda a linha de Passos Coelho e,
bem mais importante, a vontade de Cavaco marcar eleições apenas para meados de 2014, insistindo num acordo entre os três principais partidos.
Todos os agentes políticos se estão a preparar para um segundo resgate.
Que pode ter outro nome e a que o Presidente chama de "pós-troika".
Gaspar percebeu que não tinha credibilidade para negociar aquilo que era a prova do seu próprio falhanço.
Portaspercebeu que já não tinha como salvar a face.
Passos fez-lhe uma proposta impossível de recusar e amarrou-o ao afundanço mais do que certo, daqui a um ano.
E Cavaco Silva quer amarrar todos os que possam governar às conclusões das negociações que aí vêm,
marcando as eleições para um momento em que os portugueses voltem, como aconteceu com o memorando da troika, a ser confrontados com inevitabilidades e compromissos internacionais sem recuo, esvaziando assim o próprio sentido das eleições.
Esta é a única explicação racional (o que não quer dizer que esteja certa), que corresponde ao que tem transpirado das instituições europeias, para estes 15 dias alucinantes.
Se assim for, nunca tive tão poucas dúvidas sobre a urgência de eleições antecipadas.
Eleições onde cada um diga qual a sua posição sobre o recomeço da desgraça.
E em que os eleitores possam dizer o que querem.
Negociar um segundo resgate, que determinará os nossos próximos anos de vida, sem ouvir os portugueses, seria um golpe contra a democracia.
- Façam favor de se retirar vocês!
- Se o povo é o “carrasco”…
…onde anda a guilhotina?
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há todo um mundo velho ainda por destruir
(-por guicastrofelga 12/7/2013)
o problema deve ser o termos políticos que vivem sempre entre o condomínio fechado e o gabinete com ar condicionado.
se calhar eles habituam-se ao ambiente controladinho e esse passa a ser o seu horizonte, coitadinhos: rua? ai não que chove… antes o shopping.
parlamento aberto? ai credo, que protestam quando se lhes aumenta o horário laboral…
fechem as galerias (da casa em que o povo até manda, mas só de quatro em quatro anos).
se repararem bem, costuma ser a maltinha paranóica da segurança a que mais faz por criar pobres, que, como se sabe, são sempre potenciais delinquentes.
de resto, acho muito bem que ela tenha medo.
se eu me estivesse a preparar para impor ou dar cobertura e ares de legitimidade democrática a um novo resgate e mais austeridade não mandatada por ninguém,
com recurso a enjoativas acrobacias políticas e golpes palacianos, falando das consultas e escolhas populares como ‘perigo para a estabilidade financeira’ e que tais, também tinha medo.
o mundo real não é para toda a gente, já dizia a outra: ninguém nasce mulher, donassunção. torna-se. ou não.
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-por P.Bismarck:
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Enquanto fiel depositária da “sagrada” casa da democracia, ela é de facto imagem cristalina do actual poder político e das suas estratégias de dissimulação numa democracia absolutamente formal e esvaziada.
Ao afirmar, posteriormente ao sucedido, que «teremos de reconsiderar as regras de acesso às galerias [da Assembleia da República]», aquilo que a Presidente da AR na verdade quer dizer é que:
teremos de reconsiderar as regras de acesso à democracia e da participação democrática.
Algo em linha com os discursos do poder oficial que vão ecoando um pouco por todo o lado (a JP Morgan foi mais um exemplo da semana que passou).
E, na verdade, o facto com o qual nos temos vindo a confrontar, seguindo essa lúcida e bem actual observação de Walter Benjamin, na qual o fascismo via a sua salvação na possibilidade que dá às massas de se exprimirem (mas com certeza não a de exprimirem os seus direitos),
é que também a actual democracia parece nos conceder a possibilidade de nos exprimirmos, mas não certamente de exprimirmos os nossos direitos.
E o singular direito democrático que está em causa é o direito de acedermos à esfera da política da qual fomos espoliados,
isto é, o nosso direito à politização contra a estetização espectacular em que a política se tornou.
A política como lugar do comum, política como único lugar possível de garantia da nossa liberdade e de um destino tanto individual como colectivo.
Perante uma narrativa que parece ter um fim já bem delineado,
resta-nos estar atentos a estes pequenos lapsos, estes pequenos acontecimentos, que como clarões brilham na opacidade do discurso político, e assim fazer aparecer, expor e denunciar, as verdadeiras motivações de
um poder que diz governar em nosso nome, quando, em boa verdade, não faz mais nada do que colocar-nos como penhores no mercado da dívida global.
«Façam o favor de se retirar!».
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