Segunda-feira, 22 de Julho de 2013

      Passam hoje 50 anos sobre a canção «Os Vampiros» 

 Muita coisa mudou em Portugal. Só não mudaram os vampiros, que por cá continuam a querer comer tudo. Enquanto houver quem lhes franqueie a porta.

                  A direita e a “suspensão da democracia     

Fazendo jus ao lapsus linguae ..., Cavaco Silva resolveu de facto “suspender a democracia”.  ...

                         Uma maioria, um presidente, uma merda     (-por nunotito)

as revoluções começam sempre nas ruas sem saída-1  (fanado à Gui)

... O que Cavaco pretende não é a recuperação económica do país e do emprego, mas é a concretização do plano da troika: tornar Portugal um devedor crónico que seja obrigado a executar durante décadas um plano de empobrecimento generalizado da população, para criar uma China na Europa do sul. E, ao mesmo tempo, garantir uma nova fatia dos rendimentos ao capital financeiro à conta da destruição do Estado Social e alienação das empresas públicas.

    Não existe um interesse nacional, existem vários interesses em Portugal, este governo e este Presidente defendem os do capital financeiro e dos credores internacionais, mesmo à conta da perda de direitos sociais e políticos dos portugueses.

    Não é preciso ser muito esperto para perceber que com a continua destruição de empregos e do aparelho produtivo, com o crescimento da dívida e com o aumento da recessão provocado pelos novos cortes de mais de 4 mil milhões de euros, vamos chegar ao fim do período de intervenção da troika, em Junho de 2014, com mais problemas económicos de que quando a famosa “ajuda” cá chegou.

     Mesmo que os juros da agiotagem caíssem para valores abaixo dos 5%, isso não significa um regresso duradouro aos mercados: um país não pode ir buscar dinheiro a 5%, se não cresce mais que esse valor.  Acresce que para atingirmos os valores de dívida que nos obrigam é preciso nos próximos 20 anos andarmos a pagar mais de 5 mil milhões por ano, para além dos juros crescentes do serviço da dívida.

     Depois do primeiro resgate, seguir-se-á o segundo, o terceiro e assim sucessivamente, caso não seja alterada esta política.

     Obviamente, do ponto de vista meramente económico esta política é um desastre, como até o demissionário Vítor Gaspar reconheceu na sua carta de demissão. Ela tem outros objectivos. Existe um plano a nível europeu de reduzir os direitos sociais na Europa e de destruir o Estado Social europeu, dando mais rendimentos e novos mercados ao grande capital financeiro. Depois da crise de 2008, os decisores políticos falaram em controlar os mercados financeiros e extirpar as offshores, mas nada disso foi feito. Pelo contrário foram desviados biliões de dólares para garantir que a banca sobrevivesse à crise que provocou e foram-lhes dadas as condições políticas e económicas para continuarem a lucrar à conta do empobrecimento dos contribuintes e a perda de direitos dos cidadãos europeus.

     Num recente estudo do Instituto Europeu da Faculdade de Direito revelou-se que apenas 10,8 % dos portugueses tinham confiança no Memorando da troika e pretendia que ele continuasse inalterado. É por essa razão que Cavaco e Passos não querem eleições. Sabem que há muito perderam a confiança dos portugueses. Não é de admirar que Passos Coelho afirme que “não há nada mais incerto que as eleições” e que por isso se deve evitar dar a voz ao povo. Não vão os “mercados” constiparem-se. Aliás, não fazemos nada sem mendigar a aprovação desses ditos “mercados” mesmo que a benção, daqueles que lucram com a política para “os mercados”, nos conduza sempre a uma posição subalterna em que estejamos a pagar juros de agiotagem para garantir a sua fatia crescente de lucros.

     O Presidente retirou a possibilidade que o normal funcionamento das instituições garanta o cumprimento da vontade popular de alterar esta política e de correr com este governo. Mas por muito que queira, os governos não conseguem sobreviver contra a vontade da sua população para todo o sempre.   Cavaco pode declarar a sua inutilidade total para a democracia, mas não pode calar a vontade do povo. Quem costuma construir muros esquece-se que eles podem ser derrubados e que, na maioria das vezes, os autores, ficam soterrados nos seus escombros.



Publicado por Xa2 às 13:55 | link do post | comentar

8 comentários:
De Não se Render. Resistir à Guerra Social a 22 de Julho de 2013 às 16:13
22:07.2013 (JPP)

O NAVIO FANTASMA (18)

... Mas a crise não vai passar e irá piorar se não houver eleições.
Queira o Presidente ou não, se dá ao Governo a remodelação que ele deseja — ela própria a melhor garantia de que vai continuar a haver instabilidade governativa —, e os dois anos até 2015, reforça a arrogância que Passos Coelho já mostrou na crise ao afrontá-lo na Assembleia.
O Presidente volta ao contexto do seu discurso de 25 de Abril, mas numa situação muito mais frágil.
É só uma questão de tempo até toda a gente perguntar se era para isto, por que perdeu todos estes dias?
É que o argumento dos mercados não serve só para aterrorizar os indígenas com as eleições, serve também para Portas, Passos e Cavaco.

Mas há uma razão ainda mais funda, estrutural, para que a crise não se vá embora e ela traduziu-se na
grande OMISSÃO destes dias, no enorme silêncio absurdo e cego com que se discute tudo e três tostões como se as pessoas comuns fossem mera paisagem, os portugueses súbditos sem voz,
— as eleições não servem para nada, dizem-lhes —,
e colonizados pelos colaboradores dos “credores” de um protectorado consentido sem revolta.
Se nada disto mudar, é só esperar pelos próximos episódios.
-------
A CRISE POR DETRÁS DA "CRISE"

Andamos tempo de mais a esquecer-nos de que Portugal ainda é uma democracia. Esquecemo-nos também de que Portugal ainda é um país soberano e independente.
Há demasiadas pessoas a dizerem-nos que tudo isto é só nominal, porque não podemos viver em democracia sob o jugo da “economia” e não há soberania, enquanto houver Memorando.
Aceitem e calem-se, porque o país deve ser governado sem lei, nem Constituição, e submetam-se a tudo que a troika nos diz, porque os nossos soberanos são os “credores”. Isto, dizem-nos, é indiscutível, é a “realidade”, no dizer do primeiro-ministro, e a “realidade” não se discute.

Daqui resulta uma enorme perturbação, ... O ministro dos Negócios Estrangeiros acha normal descrever o seu país como um protectorado. ... Repito: eu posso dizê-lo, ele não.

O facto de o ministro usar essa classificação (ele não é analista, é ministro, pelo que a sua voz é aceite pelas diplomacias estrangeiras como sendo a descrição legítima, não só de facto mas de jure, da situação portuguesa)
não tem origem em nenhum acto do Parlamento, nenhuma rendição de tropas, nenhum Pétain a assinar a submissão a Hitler, em nome da “salvação nacional”.
Se somos um protectorado, devemos organizar a resistência ou ser “colaboracionistas”?

O que é significativo é que a existência de um Memorando, do teor do que foi assinado há dois anos, é considerado pela nossa elite do poder como uma cedência total da soberania, e uma suspensão da democracia, comportando-se em consequência com a maior das naturalidades.
Não é apenas uma medida de emergência financeira, pactuada com entidades de que Portugal faz parte (Portugal é membro do FMI, do BCE e da UE),
mas uma rendição que põe em causa tudo, a começar pela independência e a acabar na democracia.

Na verdade, a questão mais de fundo é que a política definida no Memorando era para uma elite económica-financeira-política
muito mais do que um plano de emergência financeira, era o programa salvífico para “nos comportarmos bem”, e para que “o país nunca mais seja o mesmo”.
Era uma oportunidade única e foi defendida com tropas em batalha, como se fosse uma guerra. E era, era e é, uma guerra social.

Ou seja, o Memorando foi não só uma emergência, mas também uma salvação divina.
Deu aos seus colaboracionistas um bordão político que ia muito para além do seu cumprimento, tornando-se o programa de regeneração nacional que poria em ordem os preguiçosos gastadores dos portugueses que “viviam acima das suas posses”,
reduzindo-os punitivamente à sua condição de pobres de que nunca deveriam ter saído, ainda por cima com dinheiro emprestado e encostados ao Estado.
Quem eram esses portugueses?
Os trabalhadores, os funcionários, os pequenos empresários, os reformados, os pensionistas, os “de baixo”.

Os de cima pagavam uma taxa, uma portagem, mas reforçavam o seu mando e ficavam com um país de mão-de-obra barata, assente no “estabilizador” do desemprego e na perda quase total de direitos laborais.
...


De Coligar e Renascer a Esquerda, Governar a 25 de Julho de 2013 às 10:56
Francisco Louçã:
Três teses Renascentistas para a Esquerda

Extratos. Artigo completo aqui ou aqui) https://www.facebook.com/notes/francisco-lou%C3%A7%C3%A3/tr%C3%AAs-teses-renascentistas-para-a-esquerda/10151590276188214

1ª tese:
a finança-sombra subjuga a economia que subjuga a democracia.
2ª tese:
Na Europa, é preciso o primeiro governo de esquerda que comece a romper o círculo vicioso da subjugação à finança.
3ª tese:
o governo de esquerda não se fará com os comprometidos da troika e exige um novo mapa político.
...
...
Há dois meses, o valor do mercado de derivados não regulados ultrapassou um quadrilião de dólares. Duplicou desde o início da recessão e é mais de 16 vezes o PIB mundial.
É capital fictício,evidentemente, mas é capital – ou seja, o seu valor é garantido por salários,pensões e impostos, através do controlo implacável da dívida pública.
Esvaziado, o Estado deixa de repartir bens públicos porque é uma agência da finança.

Na Europa, a dívida é a máquina que permite simultaneamente perpetuar a renda financeira futura e impor o novo regime social, por via da “corrosão de carácter” a que se refere Sennett:
a maior transformação social desde a passagem da economia agrária para a industrial, a precarização absoluta do trabalho qualificado.
...


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