6 comentários:
De .intencional destruição do sist. público a 20 de Setembro de 2013 às 09:59
Avaliamos o que não ensinamos e certificamos autodidatas
(-por Daniel Oliveira, 19/9/2013)

Nuno Crato acabou com a obrigatoriedade da oferta de inglês no 1º ciclo, nas Atividades de Enriquecimento Curricular.
Nuno Crato aumentou os alunos por turma tornando mais difícil o ensino e retirando tempo de acompanhamento a cada estudante.
Nuno Crato anunciou mais um exame. Agora uma prova de inglês no 9º ano. Por enquanto não conta para a nota.
Mas, orgulhoso com a sua fúria examinadora, já explicou que virá a contar.

O exame será feito pela Universidade de Cambridge e patrocinado (!?!!) por um banco, uma editora de livros escolares e uma empresa de tecnologias de informação.
Os alunos que desembolsarem vinte euros terão direito a um certificado. Os alunos que não sejam do 9º ano e queiram fazer a prova pagam.
Ou seja, um exame obrigatório serve para, à boleia, arregimentar clientes na escola pública.
Preocupado com a liberdade de escolha, pergunto se houve concurso para tão simpática empreitada.
A decisão foi tomada num dia e dois dias depois o protocolo com as empresas e a instituição já estava assinado.
Fosse a colocação de professores tão expedita e teria corrido melhor o início do ano letivo.

Nuno Crato explicou que o inglês é fundamental para o País: "significa o desenvolvimento de negócios em Portugal, o desenvolvimento da indústria portuguesa, com vista à exportação ou pura e simplesmente à comunicação internacional".
E por isso mesmo acabou com ele como oferta obrigatória no primeiro ciclo e aumentou os alunos por turma.
Tenho curiosidade em saber como é que 30 alunos, em 90 minutos por semana, desenvolvem as capacidades orais em inglês que é suposto serem avaliadas.
Sem inglês no primeiro ciclo e com 3 minutos por semana para cada um (se não perderem tempo com a escrita), tenho a certeza que se safam.
Basta verem muitos filmes.
Mas desde que haja um certificado da Cambridge para quê perder tempo com minudências?

Acho que esta sucessão de decisões resumem a política educativa de Nuno Crato.
Uma escola rigorosa para avaliar e baldas para ensinar.
Que serve para fazer exames mas onde não é suposto aprender.
Que exige mas não dá.
Onde negócios se fazem mas as turmas estão a abarrotar.
Tudo com certificado de Cambridge e patrocínio do BPI.

-------- ---------

Incompetência e cegueira ideológica
(-por Sérgio Lavos)

Aquilo que já muitos pais e todos os agentes do ensino sabiam tornou-se agora público: Nuno Crato, ministro do rigor e da exigência, acabou com a obrigatoriedade do ensino de Inglês no 1.º ciclo, no âmbito da redução das Actividades Extra-Curriculares
- isto depois de no ano passado ter reduzido o número de horas da disciplina no 3.º ciclo e ter acabado com opção de Francês no 5.º ano.
O despacho saiu em Julho, mais ou menos na mesma altura em que andava a ser estudada a introdução de um teste de inglês no 9.º ano - o absurdo disto seria cómico se não fosse trágico.
Agora há muitas escolas que não estão a oferecer essa actividade, criando uma desigualdade inadmissível entre alunos.

Crato está a ser um desastre para a escola pública, e por arrasto para a sociedade portuguesa.
A obrigatoriedade do Inglês, uma medida de Maria de Lurdes Rodrigues, foi pensada para responder aos desafios da globalização.
Num mundo global, é essencial o domínio da língua inglesa.
É simplesmente caricato que se crie exames e testes, reduzindo-se o número de horas lectivas das disciplinas para as quais são criadas as provas de avaliação.
Crato soma incompetência a cegueira ideológica, uma mistura que vai fazer Portugal recuar nos rankings da educação, o que irá certamente prejudicar a competitividade do país a médio prazo.
Não há projecto, não há fio condutor, uma ideia que seja para o país.
Não haverá desenvolvimento com este Governo, apenas retrocesso, desigualdade e benefício de grupos privilegiados da sociedade e da economia.
Vamos pagar muito caro estes anos de desvario sem travão desta cambada.


De .Acabar com Praxes (aos "caloiros"). a 20 de Setembro de 2013 às 10:50
A praxe é singular. Pode acabar.*
19/09/2013 Por Elisabete Figueiredo

«O que vemos é uma sucessão de humilhações consentidas – ou toleradas por quem, estando fora do seu meio, não tem coragem de dizer que não.
A boçalidade atinge níveis abjectos.
Os gritos alarves , a exibição de simulações forçadas de atos sexuais, o exercício engraçadinho do poder arbitrário de quem, por uns dias, não conhece qualquer limite.
Tudo isso impressiona quem tenha algum amor próprio e respeito pela sua autonomia, liberdade e dignidade.
Mas a questão é mais profunda do que a susceptibilidade de cada um.
É o que aquilo quer dizer»
(Daniel Oliveira, 19/10/2011)

É preciso dizer isto muitas vezes e não é preciso dizer muito mais que isto.
A praxe é também, ou sobretudo, a reprodução de hierarquias bacocas e balofas, as mesmas hierarquias que os estudantes, tantas vezes, contestam baixinho nas salas de aula e nos órgãos das universidades.
As práticas de praxe configuram rituais de passagem para lugar nenhum ou, pelo menos, não para o lugar que interessa – aquele onde aprender os elementares princípios de cidadania, de liberdade de pensamento e de expressão, de espírito criativo e crítico.
Esse lugar a que, a quase todos nós portugueses, ainda nos falta chegar, fruto da história, do ‘jeitinho’, da ‘esperteza saloia’ e, no limite, da cobardia.

Os meus alunos ouvem-me frequentemente criticar a praxe ou o traje académico.
Contestam-me, muitas vezes sem ser baixinho (e ainda bem), argumentando a integração, a tradição, o convívio.
Eu pergunto(me) com frequência, especialmente nesta época em que o campus da Universidade de Aveiro (como outros, por todo o país) se cobre de negro, de mandões e mandados, de pessoas que são passeadas atadas por uma corda, enroladas em papel higiénico, que se ajoelham, de cabeça no chão, que entoam cânticos com músicas militaristas e letras inqualificáveis,
como podem estas práticas estimular a integração, promover o convívio entre as pessoas, apelar à tradição de aprender, de ensinar, de debater, de criticar.

Há uns tempos, depois de uma aula em que mais de metade dos alunos envergavam o traje académico, passei pelo bar do meu departamento.
A uma mesa estavam alguns daqueles alunos e outros vestidos de igual modo e discutiam animadamente o ‘baptismo’ dos ‘caloiros’ (oh a importância da dimensão simbólico-alegórica! Oh as grandes referências ideológicas destes estudantes!).
Percebi que registavam quem, desses caloiros, tinha ido a todas as ‘sessões’ de praxe (chamemos-lhe assim que, honestamente, não estou, nunca estive, nem estarei para aprender todas as normas e conceitos do regulamento de praxe (regulamento de praxe?)) e, consequentemente, poderia ser ‘baptizado’.
Os faltosos a umas quantas dessas ‘sessões de integração’ não podiam receber tal ‘honra’ e ter, assim, padrinhos. Fiquei perplexa.
E perguntei a um deles qual era a sensação de reproduzir exactamente aquilo que tanto contestavam (e bem) nessa época – o regime de faltas às aulas.
Penso que a minha pergunta não foi bem compreendida.
Talvez o significado de reprodução social lhes escapasse como, lamentavelmente e de forma crescente de ano lectivo para ano lectivo, acontece com muitas outras noções. Mas eu fiquei a pensar naquilo. Neles.
Nestes estudantes, engravatados, trajados ‘a rigor’ que exercem sobre os outros um poder que ainda não percebi exactamente de onde vem e como lhes é conferido.
Uma parte da legitimação desse poder vem das próprias instituições universitárias, outra vem seguramente dos outros, os que acabam de entrar na Universidade e que acatam – sem contestar e sem questionar, por várias razões (é também preciso dizer isto) – as ordens que lhes dão,
sejam elas comer palha, mergulhar numa fonte ou simular qualquer ato sexual, para dizer o mínimo.
Vem desses outros, que uma vez iniciados nestes rituais arcaicos, hierarquizantes, desiguais e humilhantes, esperam ansiosamente a oportunidade de se cobrirem eles próprios de negro e exercer sobre outros o poder e o prazer cobarde e idiota de humilhar.
De ‘integrar’ alguém, como eles dizem, fazendo recurso de conteúdos que os conceitos não contemplam, mesmo numa interpretação muito livre.

Mas liberdade é noção que não cabe na praxe.
...


De Práticas indignas, humilhantes, cobardes a 20 de Setembro de 2013 às 10:56
.Acabar com Praxes (aos "caloiros").
-------------------------------------------------------
A praxe é singular. Pode acabar.*
19/09/2013 , por Elisabete Figueiredo

«O que vemos é uma sucessão de humilhações consentidas – ou toleradas por quem, estando fora do seu meio, não tem coragem de dizer que não.
A boçalidade atinge níveis abjectos.
Os gritos alarves , a exibição de simulações forçadas de atos sexuais, o exercício engraçadinho do poder arbitrário de quem, por uns dias, não conhece qualquer limite.
Tudo isso impressiona quem tenha algum amor próprio e respeito pela sua autonomia, liberdade e dignidade.
Mas a questão é mais profunda do que a susceptibilidade de cada um.
É o que aquilo quer dizer»
(Daniel Oliveira, 19/10/2011)
...
...
...
Mas liberdade é noção que não cabe na praxe.

Reproduzi-vos, pois, uns aos outros, estudantes universitários nacionais.
Reproduzi-vos uns aos outros e aos velhos hábitos da sereníssima e santíssima carneirada até à exaustão e tudo continuará na mesma.

Não deve ser à toa que, ao mesmo tempo, que as práticas de praxe se ampliam e se multiplicam, parece diminuir a capacidade de intervenção social e política dos estudantes.
Integrar pessoas devia ser muito mais (e não devia sequer ser isto) que promover práticas indignas e humilhantes.
O caricato (ou não, atendendo ao exposto) é que os próprios humilhados gostam de assim ser ‘integrados’ e as próprias instituições integram, sem questionar e, muitas vezes,
sem propor alternativas de integração dos novos alunos, estes rituais de ‘integração’.
Isto deve querer dizer alguma coisa a respeito do que vamos sendo (ou não sendo) como povo.
Mas isto já disse o Daniel Oliveira em 2011.
Destes gestos simbólicos (mas que se materializam).
Desta iniciação numa «longa carreira de cobardia»
e na «indignidade quotidiana» que se lhe seguirá em todos os contextos onde,
em vez de cidadãos, serão subservientes e servos.
Portuguesinhos, pois.


De Praxes, Estado e Pessoas dignas. a 23 de Setembro de 2013 às 14:53
Esmagados pelo Estado começa a ser uma praxe

(- por Raquel Varela , 22/9/2013)

Não sei o que é mais grave, se a praxe, se proibir a praxe.
Que sociedade é esta que passa a vida a chamar o Estado para reprimir pela força da lei, da polícia, dos tribunais, todos os comportamentos?

Há milhares de coisas absurdas no mundo e isso não justifica chamar o aparelho repressivo para acabar com elas.
Um hoje professor universitário acaba de contar no seu facebook que acabou com a praxe «andando à porrada». Deu, levou e a vida continuou. Não foi praxado.
Eu não tive que chegar a tanto mas também entrei na Universidade de Coimbra, no 1º dia, e um idiota que nunca mais vi gritou lá do 1º andar «Oh caloira!». Respondi-lhe – evito partilhar convosco os termos – e a minha história com a praxe acabou ali.
Houve alguma tensão, claro. Pensei, «este parvo vai voltar a chatear-me…».
Receei o que podia vir a seguir. Mas medo, medo, era vir o Estado – vestido de reitor – resolver este não assunto da minha vida!

Sou contra a praxe, acho-a meio tótó e sobretudo ela transporta em si uma dose de um ingrediente que creio totalmente desnecessário na vida em qualquer momento – a humilhação.
A praxe tem muitas razões de ser, entre elas, uma sociedade com óbvias dificuldades de relacionamento pessoal, mediado sempre por relações de poder e competição e não de uma negociação, de afectos, de conhecimento e de força, entre iguais.
Em vez de nos construirmos socialmente com o outro – o que implica muita maturidade e cedências -, somos esmagados até que chegue a nossa vez de esmagar.

Sou porém a favor de rituais – a praxe também invadiu as universidades porque a esquerda num sentido lato, uma certa cultura de esquerda, abdicou de construir programas culturais,
que necessariamente implicam também rituais, sociais, implicam, na verdade até alguma hierarquia, com base em respeito, que qb, é saudável.

Bom, mas isto é irrelevante, é apenas uma opinião pessoal.
O que me preocupa seriamente é o apelo que vejo de tanta gente de esquerda – agora face a uma foto em Beja onde os caloiros estão cheio de lama – para que os reitores actuem.
E que tal chamar a mamã em vez do reitor? É que chamar pela mãe é uma declaração de cobardia mas ao menos é individual, não nos leva a todos por arrasto.
Pelo menos assim ficam com a figura de urso só para vocês em vez de nos darem de bandeja
o Estado que cada vez mais se mete em tudo o que não deve (comportamentos, atitudes)
e sai de tudo o que deve (saúde, educação).


Comentar post