Dando voz ao programa dos sociais-democratas (coligados com os liberais, centristas), o Rei Guilherme anunciou ontem o fim do Estado Social na Holanda. Será substituído pela "sociedade participativa", o que passa, na prática, por cada um se desenrascar sozinho. Traduzido por miúdos, o governo holandês vai fazer um corte de seis mil milhões de euros nas despesas públicas. Espera-se que o desemprego suba e que o poder de compra dos holandeses caia 0,5%. Os social-democratas holandeses chegaram ao poder com um discurso contra a austeridade. Uma sondagem da televisão pública diz que 80% da população é contra estes planos governamentais. E, como tem sido habitual na Europa, eles avançarão na mesma.
Faço notar que não há falta de dinheiro na Europa. Pelo contrário, há enormes excedentes que explicam, aliás, como consegue a Alemanha financiar-se a juros negativos. O que há na Europa, em toda a Europa, é a vitória de uma agenda ideológica e dos interesses financeiros que se apoderaram dos principais centros de poder e que sonham com a privatização de todas as funções sociais do Estado. Não espanta que essa vitória venha pela mão de governos social-democratas. Gerhard Schroeder fez mais no ataque ao Estado Social e na contração dos salários dos trabalhadores alemães (o que contribuiu decisivamente para a crise do euro) do que Angela Merkel alguma vez sonhou. Foram os governos socialistas e social-democratas, e não a direita, que construíram o essencial das regras de uma moeda única disfuncional. E, em todos os países europeus onde têm recuperado o poder, não o usaram para travar esta loucura. François Hollande limita-se a anunciar, como um tonto, o fim da crise do euro. Na esperança de não ter de chegar a fazer realmente alguma coisa do que prometeu. Nem um rasgo de coragem se vislumbra na generalidade dos partidos socialistas e social-democratas europeus. O PS português incluído.
O papel que os partidos social-democratas desempenham e desempenharam, nas duas últimas décadas, na destruição do Estado Social e na desregulação económica e financeira é o mais inacreditável gesto de traição de um movimento político à sua própria história. Transformados em meras federações de interesses, os partidos socialistas e social-democratas não estão apenas a enterrar o Estado Social. Estão a enterrar a esperança na democracia, que depende de uma alternativa a este caminho (a confiança nos políticos e no governo atingiu, na Holanda, como em tantos outros países, mínimos históricos). E estão, afinal de contas, a enterrar-se a si mesmos. O comunismo morreu com a queda do muro de Berlim. A social-democracia morreu com esta crise financeira.
Por: Daniel Oliveira [Expresso]
Nota pessoal: Diz Daniel Oliveira que a social-democracia morreu. Pergunto eu, e a democracia-social? Também já morreu?
É que lembro-me que há uns anos Mário Soares, enquanto líder do PS, dizia que o seu partido não era socialista (era preciso na época afastar-se do "esquerdismo marxista" que a palavra "socialista" trazia e ainda, encontrar um espaço ideológico que distinguisse o PS, por do PPD/PSD e por outro do PCP) e o termo que o então líder do PS usou foi que o distinguia do PPD/PSD era que este era social-democrata enquanto o seu PS era democrata-social.
Portanto reforço a pergunta: E a democracia-social? Também morreu? Ou nunca existiu e que houve sempre em Portugal foram dois partidos políticos com nomes diferentes mas com a mesma ideologia e políticas idênticas que disputavam entre si a alternância no poder? E com os tempos e o andar da carruagem não teremos agora os mesmos dois partidos, com políticas liberais ou neoliberais, a disputar o mesmíssimo poder de sempre, continuando a fazer o mesmo, com habilidosas palavras e promessas diferentes?
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