20 comentários:
De .Bloco e Esquerda, q. estratégia ? a 4 de Outubro de 2013 às 16:13
A espiral recessiva do Bloco
(-por Daniel Oliveira, Arrastão e Expresso online, 4/10/2013)

Todas as autárquicas é anunciada a morte do Bloco de Esquerda. Porque em todas as autárquicas o Bloco de Esquerda tem um resultado miserável. É evidente que o resultado do BE, que perdeu vários autarcas, desceu mais meio ponto percentual, não elegeu o coordenador em Lisboa e ficou sem a sua única câmara, sendo péssimo, não decreta a morte de ninguém. Nem do Bloco nem da sua coordenação. Pela simples razão das eleições autárquicas não determinarem rigorosamente nada naquele partido. Maior ou menor, esta derrota é já uma tradição do BE. E esse sempre foi um dos seus dramas.

Sim, é verdade que um partido que nasceu no final dos anos 90 teria sempre muita dificuldade em implantar-se a nível local. Os restantes já lá estão, já têm as suas redes, os seus quadros, a sua influência. Partiram todos em igualdade de circunstâncias, quando a democracia nasceu e os seus quadros tinham todos muito pouca experiência política. Deste ponto de vista, é até mais extraordinária a pouca influência autárquica do CDS.

Mas, de qualquer das formas, seria de esperar que, 14 anos depois da sua fundação, o Bloco estivesse e evoluir nesta matéria. E está, na realidade, a regredir. Tem uma estrutura maior mas elege menos gente e tem menos votos. Por uma simples razão: tirado muito raras exceções, que correspondem à existência de figuras locais do Bloco (não me refiro tanto a Salvaterra, mas mais a casos como o do Entroncamento, onde o Bloco elege sempre um vereador e tem resultados semelhantes em legislativas e autárquicas), os quadros do Bloco nunca desempenharam funções autárquicas relevantes. E, por isso, os seus candidatos dizem pouco às populações. Nuns casos são funcionários e dirigentes do partido absolutamente desconhecidos dos eleitores, noutros, figuras locais com pouco ou nenhum reconhecimento público. Como o Bloco não cresceu internamente o que cresceu eleitoralmente (terá hoje pouco mais de três mil militantes ativos), o leque de escolhas, dentro do partido, é muito reduzido.

Como quem não tem cão caça com gato, o Bloco teria de ter uma estratégia diferente para resolver as suas próprias debilidades e vencer este ciclo vicioso. Isso foi proposto na última convenção do partido: como não se implantou em 1976, como os outros, teria de começar por fazer coligações com outras forças de esquerda ou apoiar listas de cidadãos bem mais abrangentes do que ele próprio. Só assim, com outros, poderia formar autarcas que as pessoas reconheçam como tal. E só deveria concorrer isoladamente onde isso fizesse realmente sentido. Quando ainda era militante do Bloco, estive envolvido neste debate e foi esta a posição que, com uma minoria, defendi. Ela foi derrotada em Convenção. A direção e a maioria que a apoiou optou pela estratégia de, na prática, não fazer alianças em lado nenhum (exceção para o Funchal) e concorrer com a sua sigla ao máximo de câmaras possíveis. Muitos avisaram que esta estratégia levaria a uma nova derrota, depois das derrotas das presidenciais e das legislativas e antes de umas europeias que não seriam fáceis. Quem o disse não era visionário. Tratava-se de uma evidência.

Na noite eleitoral, a única vitória que o Bloco festejou resultou precisamente de uma coligação: no Funchal. Em Caminha, onde esteve preparada uma coligação entre o BE e o PS, vetada, à última da hora, pela direção nacional do Bloco, o PS conseguiu mesmo, ao fim de três mandatos, derrubar o PSD. Com os votos dos eleitores do BE, que não concorreu. As listas de cidadãos que o Bloco apoiou, apesar de não terem vencido, tiveram, em geral, resultados bem superiores aos que o Bloco teria conseguido apenas com as suas forças. Com especial destaque para Coimbra, onde alguns ativistas do BE se diluíram numa coisa maior do que ele e viram um movimento político no qual se identificavam a ultrapassar os 10% e a eleger um vereador e quatro deputados. Pelo contrário, onde o Bloco concorreu sozinho, quase sempre piorou os seus já magros resultados. Não avançou um centímetro na sua implantação local.

Ao contrário do que João Semedo afirmou numa entrevista (em declarações entretanto adulteradas no seu sentido para dar bons títulos), o problema ...


De .Bloco de Esq. - como ganhar ? a 4 de Outubro de 2013 às 16:17
A espiral recessiva do Bloco
(-por D.Oliveira)
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.. o problema não foi a falta de credibilidade que tinha a probabilidade de eleger um candidato do Bloco como presidente de câmara. É que desta vez o BE não se pode queixar do voto útil. Onde ele conta (para a Câmara), perdeu 47 mil votos. Onde ele não existe (para as assembleias municipais), perdeu 74 mil. Ou seja, quem deixou de votar no Bloco nem o tradicional voto de simpatia na assembleia lhe reservou.

Resumindo: foi o pouco que sobrou da estratégia alternativa à da direção que correu bem ao BE nestas eleições. Por uma razão simples: uma coisa é fazer proclamações de princípios, e com isso conquistar votos para uma figura nacional, outra, bem diferente, é implantar um partido no País. Para a primeira basta bons tácticos, boa oratória e, às vezes, boas propostas. Para a segunda é preciso cada um conhecer as suas forças e ter a humildade de se adaptar a elas.

Os problemas no Bloco de Esquerda começaram exatamente com a sua política de alianças nas autárquicas. Mais precisamente, com o rompimento com Sá Fernandes em Lisboa. Aquilo que a muitos parecia um pequeno episódio local era, na verdade, o começo do que iria abalar a credibilidade do Bloco de Esquerda. Na primeira vez que o BE tinha uma responsabilidade executiva sujeita a um escrutínio relevante (não era assim em Salvaterra), mostrava não ter coragem para a suportar. Na primeira vez que a sua política de alianças ultrapassava o mero número mediático (Aula Magna) ou uma campanha conjunta (a da IVG e, mais tarde, a de Alegre), e implicava governação conjunta, o Bloco roía a corda. Esta ruptura, liderada por Luís Fazenda e apoiada por Francisco Louçã, foi só o primeiro sinal do renascer da velha cultura sectária e de contrapoder que se julgava enterrada com os partidos que fundaram o Bloco. Depois dela, a não ida à reunião com a troika, demonstrando um enorme alheamento em relação aos sentimentos da maioria dos portugueses, a moção de censura quinze dias depois da derrota de Manuel Alegre e a intolerância crescente perante qualquer critica interna confirmaram a um eleitorado pouco fiel que, subitamente, o esquerdismo saíra do armário e julgava-se, do alto dos seus frágeis 16 deputados, autosuficiente. O preço foi pago com uma monumental derrota nas legislativas. A maior a que um partido assistira desde o PRD.

A partir daí, os frágeis equilíbrios internos do BE foram seriamente abalados. Desde então, todas as decisões do Bloco resultam dos seus pequenos dramas internos: a incompreensível liderança bicéfala, a desastrosa escolha do apagado líder parlamentar, o nascimento de uma tendência por semana, a necessidade do coordenador ser o candidato a Lisboa para obrigar os ortodoxos (apostados, acima de tudo, em enfraquecer a nova liderança) a recuarem no veto à inclusão, na candidatura, em lugar de destaque, de figuras muito populares do Bloco. E, poucos meses antes, a aprovação na convenção desta desastrosa estratégia autárquica, para impedir novas fracturas internas.

Nos últimos três anos muitos eleitores deixaram de votar no Bloco porque deixaram de acreditar nele. Muitos nem saberão explicar bem porquê. Perderam a confiança e a empatia com o Bloco e cada novo acontecimento só parece confirmar o seu desencanto. E, no entanto, o Bloco de Esquerda faz falta à política nacional. Já fazia antes de nascer. Porque representa um eleitorado que historicamente não teve representação partidária até 1999. Um eleitorado que vive desencatado com a moleza do PS e a ortodoxia do PCP. E esse eleitorado é hoje potencialmente maior, e não menor. O Bloco é necessário porque pode impedir que o descontentamento vá para a abstenção. Porque conseguiu juntar a agenda da igualdade com a agenda da liberdade individual. O Bloco tinha, pela sua natureza, mais capacidade para absorver o voto de protesto do que o PS (demasiado comprometido com este caminho) ou o PCP (demasiado viciado nos seus imutáveis códigos tribais). Não tenho dúvidas em afirmar que, se tivesse tido inteligência, o Bloco poderia valer hoje 15% ou mais. Mas está a bater-se para chegar aos 8%. Mais importante: está a bater-se para continuar a ser relevante no confronto político e não apenas um mero eco rouco das palavras de ordem do PCP.

Acredito que João S..


De Unir / Coligar a Esquerda ou novo partid a 4 de Outubro de 2013 às 16:21
A espiral recessiva do Bloco
(-por Daniel Oliveira, Arrastão e Expresso online, 4/10/2013)
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Acredito que João Semedo via na sua eleição em Lisboa a grande oportunidade para dar a volta à coisa: fazia um acordo com Costa, aceitava um pelouro e o Bloco assumia finalmente responsabilidades. Ele próprio disse que o faria, durante a campanha. Conseguia assim mostrar a diferença em relação à liderança anterior e era nisto que tinha colocado todas as suas fichas. Só que não foi eleito. E agora, para travar a espiral recessiva do Bloco, são precisas medidas mais radicais.

Essas medidas passam, antes de mais, por uma clarificação do seu discurso sobre a Europa, não permitindo que a ideia de dignidade nacional e patriotismo seja monopólio do PCP; por uma posição muito mais descontraída em relação à possibilidade de assumir responsabilidades governativas (mesmo sabendo que não irá governar para aplicar a receita da troika e que isso o afasta de um governo nos próximos tempos); por um abandono dos complexos em relação ao PCP (que representa muito bem um eleitorado que nunca votará no BE); e por passar a ter o eleitorado tradicional do PS como principal destinatário do seu discurso.

Mas tudo isto é apenas conversa. Alguma até já foi tentada. Como o problema do BE é hoje de falta de empatia e de credibilidade junto dos seus potenciais apoiantes, é preciso mais. É preciso que os seus dirigentes, porta-vozes e deputados sejam escolhidos, antes de tudo, pela sua eficácia e qualidade. Que a liderança anterior abandone por cinco minutos o palco e deixe que outros façam o seu caminho. E que a atual liderança prepare a transição para uma nova geração (mais política do que etária). A tradição colectivista da esquerda detesta isto, mas para mudar o discurso e ganhar as pessoas para ele a questão central são por vezes as caras e os nomes. E tudo deve ser feito relativamente depressa, para não vir tarde demais.

Mas tudo isto depende de uma condição prévia: como o consenso é, neste momento, impossível, os equilíbrios internos têm mesmo de ser rompidos. Sem dramas. Ou com o drama que for necessário. Em todos os partidos há linhas que ganham e que perdem. Há quem dirija e quem esteja na oposição. Não há futuro para o Bloco de Esquerda enquanto escolher líderes parlamentares e candidatos a deputados ou a autarcas para agradar a cada capelinha, mesmo que sejam pessoas evidentemente desadequadas para os cargos. Enquanto procurar um meio-termo impossível entre um programa de respostas viáveis e realistas para esta crise e a retórica da cartilha mais primária do marxismo-leninismo. Ou o Bloco cresce e com isso desagradará a uma extrema-esquerda interna muitíssimo mais anacrónica do que o PCP ou regressará, lentamente, à dimensão que essa extrema-esquerda tinha no tempo da UDP.

Dirão, com toda a razão, que as condições necessárias para travar a decadência do Bloco são demasiado radicais. Tão radicais que provocarão fracturas internas insanáveis. E que mesmo assim podem não resolver o problema. Sim, é verdade. Mas porque havia de ser a espiral recessiva do Bloco mais fácil de resolver do que a espiral recessiva do País? É que uma resulta da outra. Quem não descobrir qual será o seu papel político nesta monumental crise está condenado. Morrerá com ela. E o Bloco parece ser o primeiro candidato a essa morte quando, curiosamente, tinha todas as condições para se reforçar neste período.


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