Ontem ficámos a saber que, desgraçadamente,
a Frente Nacional (
extrema direita Fr.) já aparece em França à frente numa sondagem para as europeias, atraindo, por exemplo, o voto de um em cada dois operários. A esquerda
social-democrata implode, mas a
Frente de Esquerda quase não progride. Nem de propósito, no mesmo dia, enviaram-me um artigo de
Costas Lapavitsas sobre a extrema-direita grega, onde este economista marxista, um dos que tem contribuído para
dotar a esquerda de um programa à altura das ameaçadoras circunstâncias, afirma o seguinte:
“É uma
ilusão pensar que o fascismo será derrotado pela acção policial ou pelo simples elogio da democracia. A
extrema-direita só recuará se as condições de vida da maioria não forem sacrificadas para servir os interesses do capital (…); quando a ameaça à soberania nacional for superada
e a dignidade nacional respeitada. Em suma, quando a
ascenção neoliberal na Europa e fora dela for quebrada, já que
o fascismo alimentou-se dos desastres gerados pelo neoliberalismo.”
Pela minha parte, aproveito para repetir o que já
aqui escrevi há uns meses:
A
esquerda europeia maioritária, por exemplo em França,
está reduzida, graças ao euro e ao declínio económico e político por este gerado, a cada vez mais
impotentes discursos sobre o (des)governo económico europeu. A única coisa que
me dá esperança é saber que um pouco por todo o lado, e em Portugal também,
a ideologia do globalismo e suas potentes declinações europeias, o culto da impotência do Estado e do seu decisivo favorecimento pelo “colete-de-forças dourado” de um sistema cambial rígido,
pode estar em quebra à esquerda.
Neste país, a esquerda tem condições únicas para monopolizar
com realismo a bandeira da recuperação de margem de manobra soberana no campo económico, monetário e não só, dando-lhe um cunho progressista,
em defesa do emprego, das liberdades e legitimidade democráticas e da expansão igualitária das capacidades individuais, graças a um
Estado social que não pode ser preservado com estes constrangimentos externos.
Contra as amalgamas em que muitos globalistas se especializaram, esta é aliás a
diferença crucial na economia política e moral face a uma direita nacionalista que, reconhecendo também, como
Karl Polanyi afirmou na sua comparação entre socialismo e fascismo, a “realidade da sociedade” e do poder de Estado, está disposta a
sacrificar as liberdades e a sua igualização perante este reconhecimento.
Nem o programa ‘máximo’, nem o programa ‘mínimo’, nem a exigência da impossibilidade utópica, nem a gestão do estado de coisas existente, mas antes um conjunto concreto de exigências estrategicamente formuladas para atingir o adversário no coração, ali onde as contradições da situação se tendem a concentrar, por forma a criar a alavanca necessária para alterar a correlação de forças. Questões como o incumprimento da dívida soberana, o desmantelamento da UEM e a confrontação com a sua autoritária fuga para a frente são o equivalente contemporâneo das exigências de paz, pão, terra e autogoverno popular de que dependeu o resultado do primeiro assalto aos céus no século XX. Urgentemente colocadas como questões de relevância imediata onde a crise está a ser mais duramente sentida – na periferia da Zona Euro, em particular na Grécia –, são centrais para o debate da esquerda no velho continente como um todo. Num tempo em que o pensamento estratégico se tornou cada vez mais raro, sobretudo à esquerda, e em que a crise do capitalismo inspira perplexidade e embaraço entre o que o que resta dos seus adversários organizados, em vez de gerar energias renovadas para travar novas batalhas, este livro merece ser reconhecido por aquilo que é: um grande acontecimento intelectual, combinando investigação académica rigorosa e inovadora com um compromisso político lúcido mas radical. -[tradução]- - Excerto da introdução de Stathis Kouvelakis a
Crisis in The Eurozone, um livro saído no ano passado, da autoria de Costas Lapavitsas, Eugénia Pires, Nuno Teles e outros economistas do
Research on Money and Finance, onde a
questão da saída do euro é colocada com toda a clareza. A traduzir. De Lapavitsas, Pires e Teles, relembro também
este artigo num Público de final de Março de 2010, já lá vão três anos. ...
... «The left in Greece must rise up against (fascist) Golden Dawn. The only way to stop the fascists (+ neoliberals) profiting from the breakdown of the state is to offer a socialist alternative to capitalism» - C. Lapavitsas.