Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

Os "ricos" (com 2000 euros) que paguem a crise    (-por Daniel Oliveira, Arrastão e Expresso online)

... é basicamente impossível. Mas imagino que,... o governo esteja a enganar a troika e ela a deixar-se enganar. Só assim pode continuar esta farsa que até permite ao governo, enquanto anuncia mais austeridade, falar de novo ciclo.

    ... é um absurdo quando aplicada a uma prestação social que resulta de contribuições. No caso concreto, a 7% da TSU (2,4% do salário) para o risco de morte. Ela mina toda a confiança no sistema, pois muda radicalmente a natureza de um seguro social. E isso tanto acontece com 600 euros como com 2000 euros. O argumento inventado por Portas é que esses 7% de descontos e os gastos em pensões de sobrevivência têm um défice de mil e duzentos milhões (o porta-voz do CDS, João Almeida, tinha, na semana passada, falado de 800 milhões). Esta conta é absurda. Porque, para ser feita, teria de contemplar o ganho que o Estado tem (se me permitem a frieza da linguagem) quando um reformado morre e a sua reforma é reduzida para 60%. Seja como for, a mudança da natureza das pensões abre um precedente sem limitação possível. Da mesma forma que as gorduras do Estado, em 2008, se transformaram na TSU das viúvas, em 2013, as reformas passarão a estar ao sabor da vontade de cada governo, sem terem de manter qualquer relação com a carreira contributiva dos reformados. E com isto mina-se a relação de confiança de que a sustentabilidade da segurança social depende.

     Claro que o limite de dois mil euros, em tempo de crise, passa bem. O governo tem sabido usar a desgraça para dividir os portugueses, tratando gente com dois mil euros como privilegiados, enquanto a redução do imposto sobre o lucro (IRC) das empresas (quase todo de grandes empresas em boa situação) fará perder ao Estado mais do que se vai buscar aos viúvos e viúvas. Já expliquei aqui a insustentabilidade política e financeira de ir reduzindo os tectos das pensões até ser inaceitável não impor um plafonamento dos descontos. É em sede de IRS que o essencial da redistribuição fiscal se tem de fazer. Caso contrário ela é feita várias vezes em várias sedes até destruir a classe média.

     Recordo que os mesmos que serão atingidos por esta medida terão de pagar a continuação da contribuição extraordinária de solidariedade, serão, muitos deles, afetados pelos cortes nas pensões por causa da convergência de sistemas, viram, em vários casos, aumentar o que pagam para a ADSE, tiveram o reescalonamento e a sobretaxa do IRS e ainda têm a nova lei das rendas. Bem sei que dois mil euros brutos é uma fortuna, mas até este rendimento multimilionário se perde com tanta austeridade "humanista" (socorrendo-me das palavras de Portas).

     Dizem-me que a segurança social não é sustentável. Sim, com os níveis de emigração que hoje temos, o desemprego a aproximar-se preocupantemente dos 20 % , a redução dos salários promovida pelo governo, a crescente precariedade e a integração de fundos de pensões descapitalizados no sistema público (CTT, CGD, PT e banca), para ter receitas extraordinárias e empurrar o problema para o governo que vier depois, é difícil termos um sistema sustentável. Diria mesmo que é impossível. Perceberão nessa altura os que aplaudem esta medida como se tivesse alguma coisa a ver com justiça social, que eles virão na próxima razia. Os que têm algum dinheiro ainda poderão tentar fazer PPR. Para os mais pobres é que não vai sobrar nada.

     Estes cortes vão ajudar a resolver alguma coisa? Pelo contrário. Como mostra um relatório recente do Banco de Portugal (e já mostrara um relatório do FMI), cortes nas prestações sociais, em tempo de crise, têm um efeito devastador (nas famílias e) na economia. Por cada euro que se poupa o PIB perde um euro e vinte cêntimos. Ou seja, não é apenas da sustentabilidade da segurança social que estamos a tratar. É da sustentabilidade do País. Sem ela, não haverá reformas para ninguém.

       Um jornal com saídas

Começam a faltar palavras para descrever o que está a acontecer. Não porque seja difícil explicar em que consiste o regime austeritário. É uma engenharia política de destruição do Estado social, democrático e de direito (…) Quais são, então, as palavras que faltam? São as palavras capazes de descrever a actuação dos que impõem este novo modelo de sociedade e os efeitos que este modelo tem, na nossa pele ou na pele dos nossos. Que palavras podem traduzir com justiça a sádica programação do sofrimento? (…) As palavras ficam aquém do necessário. Se nada for feito, crescerá a impotência com que se recebe a notícia de cada novo corte indutor de desigualdades, pobreza, desemprego, emigração e recessão (…) Por onde passa, a austeridade permanente destrói a liberdade, a autonomia, a democracia, a vida digna
(…)        Há que repor o contrato social, que exige uma fiscalidade justa, o que implica enfrentar as ferozes resistências dos que detêm os mais altos rendimentos, do capital financeiro, dos lucros accionistas, etc. E há que compreender que a universalidade do acesso ao serviços públicos, às funções sociais do Estado – que sabemos ser o melhor garante de igualdade e coesão social – só pode ser garantida com a defesa da sua gratuitidade para todos. Foi muito por aqui, que alastrou o cancro das engenharias neoliberais que corroeram o Estado: uma educação, saúde e segurança social cada vez mais para pobres, com o preço e a degradação da qualidade a levar os que têm mais posses para os privados. 
      Recuperando estas condições de autonomia, canalizando os recursos para finalidades socialmente dignas e gerando novos recursos, podemos construir força social e política para compreender também que a participação na actual arquitectura institucional e monetária europeia não permite tornar tais finalidades sustentáveis. Aí teremos escolhas difíceis a fazer, mas já centradas num exercício de palavra e de acção que nos tirem daquilo que, de outro modo, parece um beco sem saída, um corte com todas as pontes que nos ligam a Abril. Há pontes e há saídas, como mostram as iniciativas populares marcadas para os próximos dias 19 e 26 de Outubro.  -   Excertos do artigo da Sandra Monteiro, “pontes de saída”, sugestivo título, no Le Monde diplomatique - edição portuguesa de Outubro de 2013.


Publicado por Xa2 às 07:43 | link do post | comentar

8 comentários:
De Dividir e vilipendio/intriga para reinar a 15 de Outubro de 2013 às 12:22
-----Luis Marques:

Este homem é um verdadeiro politico.
Pôs cá fora uma noticia (cortes acima dos 600 euros).
Mandou dizer que tinha ficado irritado.
Causou o pânico e depois aparece que nem Pilatos a dizer que afinal ele não quer tirar aos pobres mas só acima dos 2000 euros.
Chama-se a isto, criar expectativas negativas para depois tomar a medida na mesma mas tendo maior aceitação pública.

Se isto passar no Constitucional é o inicio do fim da Segurança Social pública e a concretização do velho sonho da direita de privatizar a Segurança Social.

Mais uma vez utilizando a mesma estratégia, isto é,
no privado eles não vos cortam (*) o que recebem mas, no público quando um governo quiser tirar tira.
E o povo prefere que não o enganem e aceita este roubo que é a privatização da SS.

------------------------------
(*)- dividir para reinar (dividir em grupos e subgrupos os alvos a atacar/ roubar e vilipendiar, virando uns contra os outros, e depois de enfraquecido um grupo ou subgrupo arranja-se nova desculpa e novo bode expiatório, e continua para o próximo, etc,...), - até quando vamos permitir isto ?! este caminho e estes 'guias' estão errados.

--------------
depois de cortarem a uns (F.Púb., mas não a alguns especiais...), vão cortar a outro grupo (reformados mas não a alguns especiais/coitadinhos...) e depois a outro (trab.priv., mas não a alguns especiais/coitadinhos...), depois outro (os militares, mas deixam alguns especiais de fora...), ... enganando e virando uns contra os outros ...

----operário:

já se tornou um padrão;
faz-se circular que o roubo é de quinhentos e põe-se os "cumentadores" a discutir a medida.
Depois, rouba-se trezentos e volta-se a por os cumentadores a explicar ao povo que afinal até (foi bonzinho) lucrou duzentos

A central até funciona mais ou menos, falta é saber quem rirá por último



De Finança e NeoLiberais: DESTRUIR EstadoSo a 15 de Outubro de 2013 às 12:40
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A elite da finança e das corporações está apostada em destruir Nações e Estados Sociais.
Armadilhou o sul da Europa (tal como fez/faz na America Latina, Africa, ...) pelo endividamento, quer com a colaboração de políticos medíocres, quer fazendo os estados resgatar com o seu dinheiro a corrupção financeira.
Eles querem destruir as soberanias… dividir/dissolver as Identidades para reinar…
tudo para criarem uma "massa amorfa" de gente inerte, pobre e escravizada
e assim melhor estabelecerem a Nova Ordem Mundial: uma nova ordem a seguir ao caos (organizado por alguns: a alta finança) – uma ORDEM MERCENÁRIA (um Neo-Feudalismo).

------------ Brancaleone:
Não chegaram 5 anos de crise para perceber que o €uro é O PROBLEMA e que os tratados europeus são uma construção Hayekiana construida sobre o dogma da independencia do Banco Central e a anulação de qualquer controle democratico sobre a politica monetaria.

O PS repete que a negociação da divida publica é a prioridade e a unica solução para ultrapassar a crise. E depois:
a mutualização da divida! Uma união fiscal que a Alemanha obviamente não quer, até porque significaria ter que transferir quase 10% do proprio PIB por ano aos seus parceiros, segundo os calculos do economista Sapir:
http://russeurope.hypotheses.org/453#_ftn5
Agora eu pergunto:
desde quando a divida publica foi a origem da crise? Até o BCE não poder mais esconder que o problema foi o ecesso de endividamento PRIVADO nos paises em crise:
http://www.ecb.europa.eu/press/key/date/2013/html/sp130523_1.en.html
E o excesso do endividamento privado teve uma unica causa: a moeda unica!
Os Alemaes nunca teriam andado a emprestar dinheiro tão alegramente em outros paises com o risco de desvalorização cambial!

E para alem disso, como é que se resolveriam os desequilibrios comerciais que a moeda unica criou entre os paises da zona euro? Como anular os diferencias de inflação que destruiram a competitividade dos ditos PIIGS?
A resposta é uma só, e as esquerdas sabem:
Austeridade e desvalorização salarial para reequilibrar balanças correntes negativas.

Quando não é possivel desvalorizar a moeda (que os paises já não tem) é a unica solução e não é uma solução de esquerda!
Significa um ajustamento muito lento e doloroso, que
acaba por destruir o tecido de pequenas e medias empresas que trabalham no mercado interno, que conseguiriam sobreviver graças a uma desvalorização da moeda.
Mas evidentemente os desgovernantes estão preocupados em garantir, a quem ainda tem dinheiro, uma moeda forte para poder adquirir produtos importados a preços convenientes.

O peso do ajustamento da balança comercial será pago pelo "povo": os trabalhadores do público e do privado, cujo empobrecimento tem como consequencia a DESTRUIÇÃO da CLASSE MÉDIA (profissionais, pequenas empresas,comerciantes..)

O resultado do FN em França é significativo. Um partido começõu a explicar aos eleitores a armadilha do euro e os eleitores perceberam.
E o facto que o programa economico da Le Pen esta baseado nos estudos de um economista marxista (o professor Jaques Sapir que mencionei acima)deve fazer reflectir.

Sou italiano e na Itália a situação é a mesma. O debate sobre o euro começõu a pouco tempo nos midias graças a um economista, o prof. Alberto Bagnai, cujo livro "o por do sol do euro" teve um successo enorme.

Mas tal como aqui aconteceu com o prof. Joao Ferreira do Amaral, marginalizado pelo PS, o prof. Bagnai (economista de esquerda) e outros colegas deles, são atacados pela direita e centro-esquerda (neoliberais disfarçados ou politicos ignorantes) como populistas e antieuropeistas!!!

Não parece haver solução a este impasse.
Eu pessoalmente espero que a Le Pen consiga dar o golpe mortal a esta construção politico-monetaria diabolica.
O prof. Sapir apela-se a uma união de esquerda e direita contra o euro nesta entrevista:
http://www.lantidiplomatico.it/dettnews.php?idx=6&pg=5595
No partido grego Syriza o antigo lider saiu e fundou outro, o "Plano B", contra o euro.

Alguem do PS vai esperar que o país acabe como a Grecia (e já não falta muito) antes de abrir os olhos?

-----------
Caminhamos alegremente nas maos desta garotada neo-liberal rumo a mais uma guerra de proporcoes continentais


De Desgoverno de Fantoches incompetentes a 15 de Outubro de 2013 às 15:08
-------- Tiro no pé
(- por Vital Moreira , CausaNossa, 14/10/2013)

Enquanto avança com mais CORTES nos salários da FUNÇÃO PÚBLICA e nas PENSÕES da CGA e nas de viuvez,
o Governo tem o descaramento de avançar nesta altura com um alivio de 2pp no IRC,
ou seja o imposto sobre os LUCROS, o que acarreta uma PERDA de receita fiscal de muitos milhões.

É uma simples TRANSFERÊNCIA de rendimentos entre grupos sociais:
dos TRABALHADORES e pensionistas para os empresários.
Um escândalo!

Mas o Governo deu um verdeiro tiro no pé, porque perdeu o único argumento que tinha para defender os cortes de pensões e remunerações no Tribunal Constitucional,
para justificar uma derrogação do princípio da protecção da confiança, ou seja, que se tratava de medidas absolutamente necessarias e sem alternativa para alcançar a meta do défice orçamental para o próximo ano.
Afinal, uma parte importante dos cortes não tem esse objectivo, destinando-se antes a oferecer um prémio aos empresários.

-----------Uma benção para o Governo

A fixaçao da opinião pública na questão das pensões de viuvez
tem permitido fazer esquecer outras medidas de austeridade de impacto muito mais vasto e profundo,
como o agravamento do corte de salários na função pública e a reduçao das pensões da CGA, a título da chamada convergência de sistemas.
O Governo agradece!

---------- Confusão deliberada

Como aqui ja se escreveu anteriormente, o que há de grave no corte das pensões de viuvez não é somente a sua redução -
- que poderia eventualmente ser justificada a título excepcional e limitado em situação de emergência financeira, se aplicada a todas as pensões acima de determinado valor --
- mas sobretudo o facto de o Governo ter decidido sujeitar o seu montante a uma "condição de recursos",
como se se tratasse de uma prestação de protecção social, sem base contributiva, em que a condição de recursos faz sentido.

Sucede, porém, que a pensão de viuvez é um direito,
aliás com guarida constitucional, com base contributiva.
Não se compreende por isso que, sendo a base a mesma, a pensão possa ser reduzida em certos casos e não noutros só porque o titular tem direito a outra pensão.


De Desgoverno: até a Privatizar é MAU. a 15 de Outubro de 2013 às 15:24
Saber o que se quer com os Correios

O governo português podia, apesar de tudo, ter aproveitado melhor as necessidades decorrentes do resgate para conceber algumas medidas que a sua fraqueza e comprometimento não o autorizariam em tempos normais:
estender o universo tributário a muitas actividades de organizações RELIGIOSAS, reduzir as RENDAS excessivas de empresas como as ligadas à energia, renegociar as PPP e os SWAPs, etc.
E sobretudo ter um plano estratégico para as PRIVATIZAÇÔES forçadas pelos credores.

Ainda ontem li no El País que a SEPI-Sociedade Estatal de Participações Industrias de Espanha- se prepara para se candidatar à compra do serviço postal português ( CTT ), com o objectivo de «estar presente nuns CORREOS IBÉRICOS, que abarque toda a península»

No meio da confusão governamental portuguesa há quem veja claro na fronteira e saiba o que quer.
E isto com a Espanha também em crise!
Que diferença entre as oligarquias e neoliberais fantoches ...
---- -------

e no RU, a para a privatização dos seus Correios (Royal Mail), os trabalhadores tiveram prioridade na compra de ações... e a procura foi 3x superior à oferta.

Aqui, com este DesGoverno tuga é o total descalabro... para benefício de oligarquias de amigos/ protectores / piranhas/ agiotas/ sanguessugas . ..



De Merda a 16 de Outubro de 2013 às 00:22
Este governo é uma merda. Exactamente igual ao anterior que nos meteu nas mãos dos banqueiros e nos deixou as PPP das autoestradas e outras para pagar durante os próximos 50 anos e igual ao que há-de vir a seguir. Como são uma merda os partidos que tem o exclusivo desta podre democracia.
Alias, uma merda como é também o povo que os elege a uns e a outros desde os pequenos caciques autárquicos


De (ex-) Classe média tb. desesperada a 29 de Outubro de 2013 às 14:52
13:32 ( JPP- José Pacheco Pereira, 28/10/2013, Abrupto)

POR FAVOR TIREM-ME DAQUI

De cada vez que escrevo sobre o que acontece em Portugal,
haja ou não haja "guião", haja ou não haja Orçamento, haja ou não haja mais peripécias do Governo bipolar que temos, haja ou não haja avaliações da troika, haja ou não haja manifestações, haja ou não haja greves, haja ou não haja mais uma mentira, um escândalo, uma inconfidência, uma fuga via Marques Mendes, ou um "recado" via Expresso, haja ou não haja um retorno vingativo e um ajuste de contas, haja ou não haja o que houver,
Portugal parece Sísifo com a sua pedra, ou um navio que não sai do sítio, encalhado por uma maldição qualquer num canto do oceano.
Até aqui, nestes textos, parece que se volta sempre à maldição de Sísifo, ou do Navio-Fantasma, ou, mais prosaicamente, ao Dia da Marmota do filme Groundghog Day com Bill Murray, traduzido para português apropriadamente como o Feitiço do Tempo. Nem o mítico Sísifo, nem o wagneriano Navio-Fantasma, nem o Bill Murray, acordando sempre no dia seguinte no mesmo dia anterior, são novidades, porque já estou a repetir referências que já fiz.
Já não tenho mais metáforas, nem mitos, nem filmes.
Por favor, tirem-me daqui.

Quando falo em público, as perguntas das pessoas são sempre as mesmas:
"Quanto tempo é que isto vai durar?",
"Como é que nos vimos livres destes senhores?",
"Quando é que saímos disto?",
"Como é que se dá a volta?", e outras variantes do mesmo.
E embora eu desconte a relação entre o que diz o palestrante e as expectativas dos ouvintes, cujo acto de lá ir é já de si uma mostra de empatia e interesse, seja de simpatia, seja de antipatia,
mesmo assim há alguma coisa que está muito errada quando uma sala com duas ou três centenas de pessoas, no meio de uma noite de tempestade, no fundo,
quer saber quando é que anda tudo à pancada e a partir montras ou coisas piores, e manifesta o seu enorme desagrado e impotência por tal não acontecer.
E quando falo de uma sala destas - e estou a pensar em exemplos muito concretos e recentes - estou a falar de gente da CLASSE MÉDIA, composta, educada, com profissões reconhecidas como sendo de elite, engenheiros, médicos, professores, advogados, funcionários públicos dos escalões superiores, reformados com pensões acima de mil euros, pelo menos, alguns pequenos empresários privados, e os seus filhos qualificados e desempregados.

Bem sei que são eles, os que "ainda têm alguma coisa", o ALVO preferencial da sanha governativa, aquilo que antes se chamava "classe média", e hoje se considera os ricos e os privilegiados,
para confiscar fiscalmente e REDUZIR, por todos os meios, salários e pensões, ao remedeio, à quase pobreza, quando não à POBREZA.
E são eles que me perguntam, de uma forma cada vez menos eufemística, quando é que há uma REVOLUÇÃO, nem mais nem menos.
E mesmo eu, que entendo que toda a intransigência face ao Governo e à governação é pouca, ainda fico surpreendido com a veemência da sua REVOLTA,
que já ultrapassou a hostilidade aos governantes, para estar já na raiva por NADA ACONTECER e no vitupério ao "povo" que aceita tudo e NÃO FAZ NADA.
E se pensam que estou a exagerar, enganam-se.
A coisa está muito negra por estes lados.

Não estou a falar de gente que tenha simpatias pelo PCP, pelo BE.
Bem pelo contrário, a sua esmagadora maioria são votantes "centrais", votaram no PSD e no PS e mesmo no CDS.
Estão informados, muito mais informados do que a média dos portugueses, vêem a SICN e a TVI24, acompanham os debates, lêem o Expresso no fim-de-semana, sabem o que disse o Marcelo e o que escreveu o Vasco Pulido Valente ou o Miguel Sousa Tavares, conhecem-me da Quadratura mais os meus companheiros de debate.
E estão positivamente FURIOSOS, não só porque o seu bolso é o alvo principal mas também porque se sentem IMPOTENTES e, acima de tudo, insultados e HUMILHADOS.

Se voltarmos ao nosso país, permanentemente no Dia da Marmota, ou encalhado no Mar dos Sargaços, ou a levar a pedra ao cimo do monte para a ver cair, percebe-se que não lhes faltam irritantes quotidianos.
Há, primeiro que tudo, o estado ontológico da "inevitabilidade", ...
...


De ..alguém faça uma REVOLUÇÂO c. luvas... a 29 de Outubro de 2013 às 15:01
28.10.13 - 13:32 (JPP)


POR FAVOR TIREM-ME DAQUI
...
... Há, primeiro que tudo, o estado ontológico da "inevitabilidade", ou seja, nós somos os "forçados da dívida", presos numa prisão de alta segurança, cujos carcereiros menores, empregados dos carcereiros maiores, nos dizem que não há a mínima esperança de sair de lá.
Volto ao armazém literário, para ver a entrada do Inferno de Dante:
ó vós que entrais, perdei toda a esperança.
Como é que se vive sem esperança?
Eles sabem.

Depois que palavras novas - nem sequer estou à espera de dizer promissoras, salvíficas, esperançosas
- esperam eles ouvir de Cavaco Silva ou Passos Coelho, que logros e enganos renovados esperam de Portas ou Maduro, que coisas convincentes de Seguro,
que não sejam as mesmas de ontem, gastas, cansadas, fora de qualquer prazo de validade.
Nem sequer mentiras novas, mas sempre as mesmas recicladas.
Já vimos tudo, já ouvimos tudo, já sabemos tudo, e é também por isso que a indústria das peripécias, vulgo comunicação social, nunca descansa nos seus moinhos de orações.
Coisa graves há, Angola, dívida, orçamento, SAQUE fiscal, DESTRUIÇÃO da confiança, VIDAS estragadas, perda, PERDA, perda.
Mas misturadas com muita irrelevância que ganha terreno no meio do cansaço, a ver se ainda há alguma novidade.
Ah! Sócrates escreveu uma redacção sobre a tortura e desceu dos céus parisienses via RTP...
E depois? Serve de entretenimento, mas mais nada.

Este gigantesco marasmo inquina tudo.
Bloqueia qualquer solução política que "abra" a situação e permita avançar.
Cavaco Silva tem muita culpa ao não ter fechado uma crise endémica, que está aí todos os dias no governo da diarquia, com eleições antecipadas.
Não mudava tudo, mas permitia uma descompressão da situação.
O que é que o impedia de ter exigido aos partidos nova legislação para encurtar os prazos eleitorais e assim minimizar os danos dos tempos longos entre a decisão de haver eleições e a posse de um novo governo?
O que é que o impedia de forçar um pacto pré-eleitoral entre os três partidos, dizendo-lhes claramente que ia convocar eleições, em vez de andar penosamente a pedi-lo em público, recebendo um não?

Havia riscos e custos?
Certamente que havia, nos juros que nos impediriam de ir aos mercados.
Mas a verdade é que depois da "crise Portas" também não há condições para ir aos mercados, e suspeito que os portugueses preferiam defrontar o problema com ELEIÇÕES do que ter que pagar o mesmo preço com Portas a agitar-se todos os dias para parecer bem e Passos Coelho a tirar-lhe o tapete para que ele pareça mal.
Até a troika, que sabe o que são factos consumados, aceitaria a inevitabilidade, esta virtuosa, de haver eleições.
Mas Cavaco Silva não quis e agora está condenado a aceitar um orçamento INCONSTITUCIONAL, ele que jurou defender a Constituição.

O bloqueio político é o maior problema que Portugal hoje conhece, maior do que o défice e do que a dívida,
porque ele condiciona o defrontarmos o problema do défice e da dívida em democracia e a médio prazo, única forma de o podermos fazer.
Sublinho, em democracia.
Bloqueado politicamente, com este PSEUDOGOVERNO, arrastando-se nas suas contradições, preparando um GOLPE contra o Tribunal Constitucional, com uma ilegalidade tornada normal pela retórica da "emergência financeira", com as instituições a não funcionarem, Portugal está encalhado no meio do mar, traz aos ombros a pedra maior dos sacrifícios do seu povo, para a ver cair de novo, e assiste pela milionésima vez às comemorações do Dia da Marmota.

Admirem-se pois que aqueles pacíficos cidadãos queiram a revolução.
Tirem-me daqui.
Por favor, porque somos gente educada.
Queremos partir tudo, mas somos educados.


De Guerra de Classes - ricos a ganhar ... a 29 de Outubro de 2013 às 16:15
Sábado, 26 de Outubro

[ NÃO HÁ BECOS SEM SAÍDA ! Que se Lixe a Troika ! ]

«Existe uma guerra de classes, sem dúvida, mas é a minha classe - a classe dos ricos - que está a fazer a guerra, e estamos a ganhá-la». - O autor destas palavras é o multimilionário Warren Buffet e ele tem toda a razão.

Os mais poderosos concentraram o seu poder, riqueza e influência nas últimas décadas, curto-circuitando a Democracia, e fazendo dos Governos seus criados.

Tentam espalhar a mensagem de que não existem alternativas às políticas que os favorecem, e têm uma vitória em cada crédulo que nela acredita, em cada papagaio que a repete.

Os grandes bancos provocaram uma crise internacional, e pagam milhões para que todos acreditem que a culpa é do estado social;
eles viveram acima das nossas possibilidades, e alegam que os trabalhadores, desempregados e reformados é que têm de apertar o cinto;
eles aumentam os seus lucros e o seu poder, e juram a pés juntos que têm de fechar escolas e hospitais -
pois claro, os recursos são finitos e não dão para tudo.

Cegos e desorganizados, caminhamos para um novo feudalismo, ouvimos ou repetimos as ladainhas usadas pelos poderosos para nos roubarem.

Impõe-se a dignidade da resistência.
O imperativo moral de lutar pela Justiça.

Eu irei à Manifestação.

Não sei aonde é que esta manifestação vai chegar, mas sei que mas sei que levantar-me do sofá este Sábado é o mínimo que posso fazer.

Menos que isso é conformismo, desistência, e o cinismo conveniente dos preguiçosos.

Mais que isso, está nas nossas mãos: podemos não ter os recursos materiais e organizacionais, o tempo e a disponibilidade para enfrentar esta luta que os mais poderosos têm.

Mas a história mostra que a necessidade aguça o engenho: se não desistirmos, teremos a criatividade, a iniciativa, a solidariedade, a força, os números, a convicção, a capacidade para vencer.

Vamos transformar este mundo num lugar melhor.

Isto é só o começo.


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