28.10.13 - 13:32 (JPP)
POR FAVOR TIREM-ME DAQUI
...
... Há, primeiro que tudo, o estado ontológico da "inevitabilidade", ou seja, nós somos os "forçados da dívida", presos numa prisão de alta segurança, cujos carcereiros menores, empregados dos carcereiros maiores, nos dizem que não há a mínima esperança de sair de lá.
Volto ao armazém literário, para ver a entrada do Inferno de Dante:
ó vós que entrais, perdei toda a esperança.
Como é que se vive sem esperança?
Eles sabem.
Depois que palavras novas - nem sequer estou à espera de dizer promissoras, salvíficas, esperançosas
- esperam eles ouvir de Cavaco Silva ou Passos Coelho, que logros e enganos renovados esperam de Portas ou Maduro, que coisas convincentes de Seguro,
que não sejam as mesmas de ontem, gastas, cansadas, fora de qualquer prazo de validade.
Nem sequer mentiras novas, mas sempre as mesmas recicladas.
Já vimos tudo, já ouvimos tudo, já sabemos tudo, e é também por isso que a indústria das peripécias, vulgo comunicação social, nunca descansa nos seus moinhos de orações.
Coisa graves há, Angola, dívida, orçamento, SAQUE fiscal, DESTRUIÇÃO da confiança, VIDAS estragadas, perda, PERDA, perda.
Mas misturadas com muita irrelevância que ganha terreno no meio do cansaço, a ver se ainda há alguma novidade.
Ah! Sócrates escreveu uma redacção sobre a tortura e desceu dos céus parisienses via RTP...
E depois? Serve de entretenimento, mas mais nada.
Este gigantesco marasmo inquina tudo.
Bloqueia qualquer solução política que "abra" a situação e permita avançar.
Cavaco Silva tem muita culpa ao não ter fechado uma crise endémica, que está aí todos os dias no governo da diarquia, com eleições antecipadas.
Não mudava tudo, mas permitia uma descompressão da situação.
O que é que o impedia de ter exigido aos partidos nova legislação para encurtar os prazos eleitorais e assim minimizar os danos dos tempos longos entre a decisão de haver eleições e a posse de um novo governo?
O que é que o impedia de forçar um pacto pré-eleitoral entre os três partidos, dizendo-lhes claramente que ia convocar eleições, em vez de andar penosamente a pedi-lo em público, recebendo um não?
Havia riscos e custos?
Certamente que havia, nos juros que nos impediriam de ir aos mercados.
Mas a verdade é que depois da "crise Portas" também não há condições para ir aos mercados, e suspeito que os portugueses preferiam defrontar o problema com ELEIÇÕES do que ter que pagar o mesmo preço com Portas a agitar-se todos os dias para parecer bem e Passos Coelho a tirar-lhe o tapete para que ele pareça mal.
Até a troika, que sabe o que são factos consumados, aceitaria a inevitabilidade, esta virtuosa, de haver eleições.
Mas Cavaco Silva não quis e agora está condenado a aceitar um orçamento INCONSTITUCIONAL, ele que jurou defender a Constituição.
O bloqueio político é o maior problema que Portugal hoje conhece, maior do que o défice e do que a dívida,
porque ele condiciona o defrontarmos o problema do défice e da dívida em democracia e a médio prazo, única forma de o podermos fazer.
Sublinho, em democracia.
Bloqueado politicamente, com este PSEUDOGOVERNO, arrastando-se nas suas contradições, preparando um GOLPE contra o Tribunal Constitucional, com uma ilegalidade tornada normal pela retórica da "emergência financeira", com as instituições a não funcionarem, Portugal está encalhado no meio do mar, traz aos ombros a pedra maior dos sacrifícios do seu povo, para a ver cair de novo, e assiste pela milionésima vez às comemorações do Dia da Marmota.
Admirem-se pois que aqueles pacíficos cidadãos queiram a revolução.
Tirem-me daqui.
Por favor, porque somos gente educada.
Queremos partir tudo, mas somos educados.
Sábado, 26 de Outubro
[ NÃO HÁ BECOS SEM SAÍDA ! Que se Lixe a Troika ! ]
«Existe uma guerra de classes, sem dúvida, mas é a minha classe - a classe dos ricos - que está a fazer a guerra, e estamos a ganhá-la». - O autor destas palavras é o multimilionário Warren Buffet e ele tem toda a razão.
Os mais poderosos concentraram o seu poder, riqueza e influência nas últimas décadas, curto-circuitando a Democracia, e fazendo dos Governos seus criados.
Tentam espalhar a mensagem de que não existem alternativas às políticas que os favorecem, e têm uma vitória em cada crédulo que nela acredita, em cada papagaio que a repete.
Os grandes bancos provocaram uma crise internacional, e pagam milhões para que todos acreditem que a culpa é do estado social;
eles viveram acima das nossas possibilidades, e alegam que os trabalhadores, desempregados e reformados é que têm de apertar o cinto;
eles aumentam os seus lucros e o seu poder, e juram a pés juntos que têm de fechar escolas e hospitais -
pois claro, os recursos são finitos e não dão para tudo.
Cegos e desorganizados, caminhamos para um novo feudalismo, ouvimos ou repetimos as ladainhas usadas pelos poderosos para nos roubarem.
Impõe-se a dignidade da resistência.
O imperativo moral de lutar pela Justiça.
Eu irei à Manifestação.
Não sei aonde é que esta manifestação vai chegar, mas sei que mas sei que levantar-me do sofá este Sábado é o mínimo que posso fazer.
Menos que isso é conformismo, desistência, e o cinismo conveniente dos preguiçosos.
Mais que isso, está nas nossas mãos: podemos não ter os recursos materiais e organizacionais, o tempo e a disponibilidade para enfrentar esta luta que os mais poderosos têm.
Mas a história mostra que a necessidade aguça o engenho: se não desistirmos, teremos a criatividade, a iniciativa, a solidariedade, a força, os números, a convicção, a capacidade para vencer.
Vamos transformar este mundo num lugar melhor.
Isto é só o começo.
Comentar post