O objectivo deste DESGOVERNO neoliberal é mesmo continuar a degradar os bens e serviços públicos
para, depois, ter uma "justificação" para os privatizar/ vender (dar) a preço de saldo aos amigos e familiares ou a quem lhes der uma boa comissão (a depositar em offshore) e/ou um bom 'tacho' (tipo administrador, director, ... com regalias douradas) para ele e seus familiares.
E este DesGoverno/ SAQUE
tanto se aplica a hospitais, como a escolas, serviços técnico-administrativos, património, terrenos públicos, arte/bens culturais ...
e a concessões de infra-estruturas, gestão/controlo de recursos, direito a impôr ou aumentar + taxas, comissões, impostos e tretas aos cidadãos e contribuintes em geral, ...
ou a isentar e subsidiar as grandes empresas e os negócios dos amigos e sócios.
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Os «impedimentos» selectivos do Memorando
Lê-se hoje no Público que Pedro Mota Soares, quando «confrontado com a proposta da OIT, que recomenda o aumento do salário mínimo», terá lembrado a quem o escutava que
«o memorando impede o aumento da remuneração mínima». O que significa que uma eventual subida do Rendimento Mínimo Nacional apenas terá lugar - segundo o ministro - depois de terminado o Programa de Assistência Financeira.
É estranho, pois eu ia jurar que o Memorando de Entendimento assinado com a Troika também impedia qualquer acréscimo nas transferências do Orçamento de Estado para as escolas do ensino particular e cooperativo, exigindo pelo contrário os necessários cortes nestas gorduras do Estado.
E eis que o ministro Nuno Crato não só não reduz essas verbas como as aumenta, de 239 para 240 milhões de euros, no OE de 2014.
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Pela enésima vez: «Portugal não é a Grécia»
Grécia, 10 de Janeiro de 2012:
«Gregos em desespero entregam filhos a instituições» (BBC News)
Portugal, 01 de Novembro de 2013:
«Mães entregam filhos a instituições por causa da crise» (Visão)
(-por Nuno Serra , Ladrões de B., 5/11/2013)
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Um sistema público de educação não é uma pista de corridas
Muitas das transformações a que o ensino público tem sido sujeito, e que pervertem as funções mais nobres de que o mesmo está constitucionalmente investido - garantir, a todos, a igualdade de oportunidades e o acesso a uma educação de qualidade - têm como pano de fundo uma ideia que se foi insidiosamente instalando na sociedade portuguesa. A ideia de que o fomento da competição entre escolas, da concorrência entre estabelecimentos de ensino (e entre o público e o privado) melhoram os resultados em educação.
Um dos estímulos mais fortes à impregnação desta «narrativa» consistiu sem dúvida na publicação anual dos rankings de escolas, elaborados a partir dos resultados dos exames do ensino básico e secundário. Desde então, assistiu-se a uma crescente focalização das questões educativas no desempenho das escolas, como se tudo dependesse delas e dos seus professores, desprezando-se a importância dos contextos em que estas se inserem e, por essa via, as origens socio-económicas dos alunos que as frequentam (e que são, justamente, dos factores mais relevantes para explicar o «sucesso» e «insucesso» dos diferentes estabelecimentos de ensino). E foi também a partir daqui que começou a ganhar maior expressão o falso mito da suposta supremacia das escolas privadas (cuja ocupação de lugares cimeiros nos rankings se explica, fundamentalmente, pela faculdade de que dispõem em seleccionar os seus alunos).
Mas as coisas não se resumem a isto. Em termos práticos, é nesta tese sobre a necessidade de estimular a concorrência entre escolas, aparentemente para melhorar resultados, que radica a maior parte das medidas já adoptadas por Nuno Crato (e as que o ministro pretenderá ainda adoptar). Como é o caso, por exemplo, da eliminação do princípio de área de influência (que permite flexibilizar a escolha do estabelecimento de ensino pelos alunos e suas famílias) e da supressão formal do princípio de constituição de turmas heterogéneas. Ou a possibilidade de as escolas poderem vir a ter autonomia para recrutar professores e dispor de reforços orçamentais em função dos resultados obtidos, passando ainda pela degradação deliberada da escola pública (com a diminuição do número de professores e de auxiliares de educação, o aumento do número de alunos por turma, a constituição de mega-agrupamentos de escolas e a supressão de ofertas extra-curriculares, entre outras medidas), tendo em vista facilitar as condições de concorrência que assim são oferecidas, de bandeja, ao ensino privado.
Um dos resultados mais relevantes deste processo é a dualização crescente da rede pública de estabelecimentos de ensino: as melhores escolas tornam-se cada vez melhores e as escolas com mais dificuldades vêem a sua situação consecutivamente agravada. Incentivados a competir entre si, os estabelecimentos de ensino tendem a fechar-se sobre si mesmos e a ficar obcecados com o seu próprio sucesso. E a serem, desse modo, incentivados a deitar mão a tudo o que os possa beneficiar comparativamente (incluíndo a rejeição de alunos com maiores dificuldades de aprendizagem ou com necessidades educativas especiais, ou dificultando o acesso a exame de alunos que não garantam contribuir positivamente para a posição nos rankings, práticas que são adoptadas já há muito tempo pela generalidade dos colégios e demais escolas privadas).
Em todas estas transformações, há uma concepção essencial das responsabilidades do Estado em matéria educativa que fica irremediavelmente posta em causa: o sistema público de educação é, de facto, um sistema, composto por unidades que contribuem para uma missão comum: garantir a todos o acesso a um ensino de qualidade. O que requer políticas sensíveis às especificidades de cada contexto socio-espacial e a adopção de medidas que adequem, em cada caso, os recursos existentes aos desafios em presença. Ora, com as mudanças em curso - e as que se pretedem acrescentar e aprofundar - corre-se seriamente o risco de as escolas públicas deixarem de se encarar a si próprias como parte de um todo, para o qual contribuem, passando a assumir-se como participantes numa corrida desenfreada e que aprofunda o fosso das desigualdades. Não, um sistema público de educação não é uma pista de corridas. E
De
Izanagi a 7 de Novembro de 2013 às 00:56
Ora aqui está um tema que merecia por parte dos militantes do PS, um debate de cujas conclusões os parlamentares deveriam ser os porta-vozes.
Eu sei que isso não vai acontecer, tanto mais, porque alguns, ou mesmo muitos dos beneficiados com estas medidas são militantes do PS ou são independentes que estão sempre próximos do poder.
E como os militantes honestos, aqueles que militam por princípios, por causas, por ideologias, são poucos, nada vai acontecer, lamentavelmente.
"É essencial reduzir o número de alunos por turma e pagar bem aos professores"
- Raquel Varela .
ver em
http://www.youtube.com/watch?v=is5E8RdjMdo
De .Melhorar o Ensino/ Escola . a 12 de Novembro de 2013 às 10:49
Para melhorar a Escola e o Ensino Público
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(propostas que a maioria dos docentes/agentes educativos, no terreno e com alguns anos de serviço, há muito identificaram mas que os sucessivos governos e ministros da Educação e 'douta' gente dos gabinetes e 'conselhos e peritos' não querem entender ou aplicar, antes pelo contrário !!) :
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.. Reduzir o nº de alunos por Turma (máximo 20, mas se existirem alunos com NEE deverá este nº ser ainda mais reduzido ).
.. Aumentar a remuneração dos profissionais (docentes e outros).
.. Diminuir a Burocracia (planos, reuniões, ... e agilizar/simplificar estas e as respectivas actas).
.. Atribuir mais poder educativo e disciplinar, de facto, aos docentes e órgãos das Escolas - incluindo prémios (de mérito, bolsas, ...) e castigos, que poderão incluir trabalho comunitário na escola, suspensão, expulsão, penalização monetária dos Enc.Educ., ...).
.. Fixar os programas e conteúdos basilares e evitar constantes alterações e reformas 'cosméticas' (gramaticais/ ortográficas, nomenclaturas, ...- que só servem para vender mais livros e cursos/acções e dar protagonismo/promoção aos "inovadores").
.. Evitar atribuir, em cada ano lectivo, a um docente, mais do que 2 níveis /anos diferentes.
.. Evitar as grandes/demoradas deslocações dos alunos (casa-escola), aproximando as escolas /ensino do seu "alvo".
.. ...
(e, como regra para qualquer sistema/ organização: KIS - keep it simple ! )
(-por um ex-docente)
Mais 20 milhões para os amigos dos colégios
(-por Ricardo Ferreira Pinto , 13/11/2013, 5Dias)
Enquanto outros se entretêm com questões secundárias, o ministério de Nuno Crato vai levando a cabo o seu trabalho de sapa de DESTRUIÇÃO da Escola Pública.
O passo decisivo está dado e chama-se cheque-ensino.
No próximo ano lectivo, num momento em que há cortes em todos os sectores, em nome do emagrecimento do Estado, aí vão mais 20 milhões de euros para os amigos dos colégios.
Alunos que já estão na Escola Pública e que aí continuariam sem custos acrescidos para o Estado são desviados para que o dinheiro vá parar directamente às mãos dos amigos do Governo.
Não se sabe com que critérios, mas também não interessa.
O que interessa é que o dinheiro vá parar aos bolsos dos mesmos de sempre.
Aqueles para quem as crises são sempre excelentes oportunidades de negócio.
Aqueles a quem a crise nunca chega.
O Governo mais liberal de sempre entende que determinadas empresas privadas devem subsistir com a ajuda do Estado.
O pretexto é o mesmo de sempre, a liberdade de escolha.
Mas a liberdade de escolha de quem?
Só se for a dos colégios, que vão continuar a escolher os alunos que muito bem entendem.
Obviamente, escolherão apenas os que têm melhores notas e os que não têm problemas de comportamento.
Os outros ficam para a Escola Pública.
...
(e - quem paga ?
a factura é paga pelo Estado/ contribuintes (e consumidores) que não podem fugir - para o mercado subterrâneo, para offshores, ... ou emigrar
- i.e. pelos trabalhadores e micro e pequenos empresários ;
e, entretanto, estes cidadãos perdem direitos sociais, laborais e de acesso aos serviços públicos "universais e tendencialmente gratuitos" ou têm pior serviço ou mais caro: na saúde, educação, transportes, ... e serviços públicos em geral !!
e não se manifestam ?!!!
e continuam a dizer que tem de ser, que não há alternativa, ...
pior que ser cego é aquele que não quer vêr ou é demasiado egoísta e medroso !!!)
O marketing da receita fácil
por Daniel Oliveira
Os rankings das escolas não são, como julgam algumas pessoas, listas oficiais.
São feitas por jornalistas (que até usam critérios diferenciados), com base em dados oficiais brutos, sem qualquer preparação técnica especial para tal encomenda.
A publicitação das médias dos exames, para permitir a publicação desta curiosidade jornalística, foi conseguida pelo jornal "Público" e pelo seu antigo diretor, José Manuel Fernandes, defensor de sempre da linha PRIVATIZADORA do ensino.
E, sem outros dados relevantes, fundamentais para qualquer avaliação séria, servia muitíssimo bem os interesses do lóbi do ensino particular, hoje representado pelo grupo de pressão Fórum para a Liberdade de Escolha na Educação, que se bate pelo financiamento público a estas empresas privadas.
O objetivo fundamental era, usando apenas as notas nos exames, demonstrar que os colégios conseguiam melhores resultados do que as escolas públicas. Assim se incentivava a lógica de competição entre escolas e, para além de se garantir publicidade gratuita para os colégios mais seletivos, criava-se o ambiente favorável à integração do sistema privado na oferta pública escolar. Integração conseguida através de várias modalidades de financiamento público aos colégios, que vão dos contratos de associação ao cheque ensino.
A campanha contra as obras da Parque Escolar, que, apetrechando escolas públicas com condições iguais ou superiores às do ensino privado, punham em causa a atratividade competitiva dos colégios junto das elites, foi outro momento deste poderosíssimo grupo de pressão. Que sempre teve, como expliquei ontem, muitos contactos no Ministério da Educação. Hoje o seu poder é total. Um dos maiores defensores, desde a primeira hora, da sua agenda chegou a ministro. E é para favorecer os interesses das empresas privadas de educação que, antes de mais, está a trabalhar. Como se pode perceber no novo estatuto que regula o seu funcionamento.
A pobreza dos dados que o ranking nos fornece é hoje aceite por todos os que têm algum pensamento nesta matéria. O ex-ministro da Educação David Justino, atual presidente do Conselho Nacional de Educação, considera mesmo que as leituras que se fazem desta mera listagem são "muitas vezes precipitadas" e que falta "melhor informação, mais detalhada, até para que se possa fazer o cruzamento de variáveis e se possam ter leituras complexas".
Os rankings apenas nos dizem das média de exames. Nada sabemos sobre outras capacidades que a escola dá ou não dá ao estudante. Depois, apenas o faz, como não poderia deixar de ser, em relação aos exames nacionais. Ou seja, apenas em relação a algumas disciplinas. Que, num determinado projeto educativo, sendo relevantes, até podem não ser as mais importantes. Também não se baseia, como se deve basear qualquer processo de avaliação, em objetivos. Como esteranking é cego à progressão que os alunos fizeram naquela escola, acaba por ser totalmente determinado pelo contexto social e cultural onde o estabelecimento de ensino se insere. Uma escola num contexto social e culturalmente desfavorecido, mesmo que seja muitíssimo melhor do que uma escola num contexto social e cultural favorecido, ficará invariavelmente atrás.
Dou sempre um bom exemplo, que ajuda a compreender algumas coisas: o colégio São João de Brito fica em primeiro, ou muito próximo disso, em quase todos os rankings anuais. Mas este não é o único colégio da Companhia de Jesus. Outros dois, com o mesmo proprietário, têm o mesmo projeto educativo, a mesma exigência e os mesmos métodos pedagógicos: o Instituto Nun'Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache, Coimbra. Os dois têm uma diferença em relação ao São João de Brito: têm contratos de associação e recebem, gratuitamente (pago pelo Estado) os mesmos alunos que qualquer escola sem possibilidade de seleção receberia.
O Instituto Nun'Álvares está 505º, 300º, 549º e 126º do ranking nacional, conforme os anos em causa. Se contarmos apenas com as escolas de Santo Tirso, o Instituto é, no 4º ano, o 5º classificado (o 1º é a famosa e alternativa Escola Básica da Ponte, que, em termos pedagógicos, representa tudo o que Crato abomina); ...
O marketing ...
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Se contarmos apenas com as escolas de Santo Tirso, o Instituto é, no 4º ano, o 5º classificado (o 1º é a famosa e alternativa Escola Básica da Ponte, que, em termos pedagógicos, representa tudo o que Crato abomina); no 6º está em 4º, no 9º está em 7º e só no 11º/12º é que é o primeiro de quatro escolas. O Colégio da Imaculada Conceição, em Coimbra, está em 193º, 191º e 166º doranking nacional, conforme o ano em causa. Se ficarmos só pelo concelho de Coimbra, está, no 6º ano, em 13º, atrás de seis escolas públicas, no 9º, também em 13º, atrás de oito escolas públicas, e no 11º/12º, em 9º, atrás de seis escolas públicas.
Ou seja, com os mesmos métodos e exigência mas sem a seleção social que o São João de Brito pode fazer, vai-se o brilho todo e ficam a léguas do topo. Na realidade, ficam atrás de muitas escolas públicas nos seus concelhos. Foi a própria Companhia de Jesus que, há dez anos, explicou a disparidade de resultados com o facto do colégio de Coimbra ficar "num meio paupérrimo" com "fraco nível cultural". Explicando, no fundo, que o ranking diz muito mais sobre meio onde a escola está e os alunos que seleciona (ou não seleciona) do que da sua qualidade intrínseca.
Será tudo um engano, uma ilusão? As escolas que estão no topo não serão mesmo melhores? São, provavelmente, as que apresentam menos risco. Porque uma escola que seleciona resolve, sem trabalho, vários problemas. Os maus alunos não são em número suficiente para atrasarem uma turma. Não tem de lidar com problemas sociais graves que a dispersem. Tem menos problemas disciplinares. Tem menos abandono escolar. Tem mais participação dos pais e da comunidade envolvente. Uma escola mesmo boa é aquela que consegue resultados aceitáveis num ambiente completamente hostil. Essas têm os professores e as direções mais capazes. E estão a meio ou abaixo de meio da tabela destes rankings. Mas qual é a melhor escola? O São João de Brito ou a escola Dr. Azevedo Neves? É que, ao contrário do colégio, a escola da Damaia não faz qualquer seleção (impossível, no seu caso), está inserida numa zona muitíssimo problemática e a maioria dos seus alunos não tem o português como língua materna. Conseguiu ser a 32ª melhor escola no ranking. Nem hesito em dizer que esta escola é seguramente muito melhor, no seu trabalho pedagógico e disciplinar, que o colégio mais selectivo de Lisboa. Não preciso de advinhar. Basta recordar o resultado que o mesmo projeto consegue quando está privado da seleção.
Quando os pais olham para o ranking é a seleção que os pais procuram. Quanto mais difícil for entrar mais eles querem que os filhos entrem. Pensam, com alguma legitimidade, que a escola terá um ambiente social e cultural mais seletivo que trará, em princípio, menos problemas para a evolução escolar dos seus filhos (vamos neste texto ignorar os efeitos nefastos do elitismo e do excesso de competição). Acontece que, no ambiente de seletividade que os rankings favorecem nas escolas com melhores resultados, não são os pais que escolhem as escolas, são as escolas que escolhem os filhos. E aqui entra o que para mim é realmente relevante neste debate. Não é o ranking em si, que apenas terá validade para quem lhe quiser dar (nunca lhe dei nenhuma), mas o que ele fez às escolas.
No sistema público eles promoveram a seleção que lhe deveria estar interdita. Com algumas exceções (já falei da Dr. Azevedo Neves), quase todas as escolas públicas que costumam aparecer nos lugares cimeiros destes rankings fazem seleção logo no momento da aceitação de matriculas. Primeiro entram os alunos com melhores notas, de meios socialmente favorecidos ou, melhor ainda, que acumulem as duas condições. Isso torna-se espacialmente fácil em grandes centros urbanos. E, depois duma boa colocação nos rankings, aumenta a procura (muitas vezes até de pessoas que, pela localização real das suas residências, não teriam direito à colocação dos seus filhos) e, com oferta a menos, aumenta a seleção.
Porque as notas não resultam exclusivamente do meio, o processo de seleção tende a agregar numas escolas os bons alunos e noutras os maus. Isso nota-se muitas vezes em escolas públicas vizinhas. É uma espiral seletiva que acaba na criação de escolas públicas de elite e do "refugo". Tendendo as escolas ...
O marketing da receita fácil
(-por Daniel Oliveira)
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...Tendendo as escolas com melhores alunos a desistir, desde cedo, de quem tenha mais dificuldades e lhe estraga a média. Este processo que leva as escolas a selecionarem os melhores promove uma cultura de facilitismo e não o oposto: se é difícil eu resolver um problema, deixo-o para outro que, ficando com todos os problemas, não consegue resolver nenhum. Eu só quero a parte fácil para mim. No privado, faz parte do negócio. No público é inaceitável. Mas é isso mesmo que os rankings promovem. Não é a exigência na formação de quem vai sair da escola. É o egoísmo na seleção de quem lá entra.
Ou seja, os rankings conseguiram aprofundar processos de estratificação social, cultural e académica dentro do próprio sistema de ensino público. Isto, para não falar dos privados de topo, que incentivam alunos com menor rendimento escolar a mudarem de escola, num processo de darwinismo social intolerável para qualquer pedagogo decente.
É claro que aqui estou a pintar a coisa com traços grossos e toscos. A coisa é um pouco mais contraditória e difusa do que isto. Mas esta é a cultura criada pelos rankigns. Que conseguiram uma coisa ainda mais grave: contribuíram para desvirtuar a razão de ser de ensinar. Hoje, nas que são consideradas as melhores escolas do país, ensina-se para os exames. Para ser mais preciso: ensina-se para se fazerem os exames que contam para o ranking. Em vez da escola trabalhar para o aluno é o aluno que deve trabalhar para uma boa colocação da escola num ranking. Porque isso traz melhores alunos e facilita a vida dos professores e direção. O que quer dizer que a escola se concentra apenas nas competências do aluno que lhe trazem proveito a si: ter boas notas nas disciplinas avaliadas pelos rankings. A ideia dum projeto educativo equilibrado, que promova as várias capacidades do aluno e que o direcione para as suas próprias vocações, deixou de fazer sentido em muitas escolas. Uma "boa escola" tem excelentes fazedores de exames de matemática, português ou outras disciplinas que contem para ranking. No resto, da expressão artística ao desporto, da capacidade de expressão oral à criatividade, o seu ensino pode ser uma desgraça. E, em muitos casos, é mesmo. A minha pergunta é esta: mesmo partindo dum ponto de vista que recuso - que a função da escola é preparar apenas profissionais -, alguém acredita que este é o sistema de ensino que melhor serve o futuro do país?
Digo sem qualquer receio e até com alguma experiência pessoal: as escolas nos primeiros lugares dos vários rankingsestão longe de ser as escolas que melhor preparam os nossos filhos para a vida adulta, seja ela pessoal ou profissional. Algumas são próximo de medíocres no seu sistema de ensino e técnicas pedagógicas. São meras máquinas burocráticas de preparação de jovens para exames. Sem imaginação e com aversão a quem se distinga, por exemplo, pela criatividade. Nem mais um milímetro do que isto. A que acrescentam a seleção social e cultural.
Se isto pode ser preocupante no sistema privado de ensino, é gravíssimo nas escolas públicas. Não apenas pelo que faz às escolas que decidem seguir este caminho, atrasando ainda mais o nosso sistema de ensino em relação a outros, que apostam mais na polivalência de competências, na criatividade e na responsabilização dos alunos. Mas por o que faz às escolas que saem deste modelo e que vivem com a pressão da competição pela boa nota no exame, que tão pouco revela do seu trabalho. E o que faz às escolas que, em meios desfavorecidos, sempre tiveram de lidar com imensas dificuldades. A que se juntou mais uma: por mais extraordinário que sejam os seus resultados, como, fruto do meio em que trabalham, nunca conquistarão um lugar interessante no ranking, só vai para lá quem não consegue fugir. Numa espiral de degradação da qualidade do meio escolar, que aprofunda ainda mais o fosso entre os melhores e os piores.
Pela estratificação da rede escolar e pela perversão das boas práticas pedagógicos que alimentam, os rankingstransformaram-se num cancro para a nossa escola. ...
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O marketing da receita fácil
(-por Daniel Oliveira)
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Pela estratificação da rede escolar e pela perversão das boas práticas pedagógicos que alimentam, os rankings transformaram-se num cancro para a nossa escola.
Um dos piores serviços que a comunicação social prestou à comunidade.
E, porque se baseia nos resultados dos exames e em nada mais, numa poderosa arma para impor um determinado olhar sobre o que deve ser a escola.
Um ponto de vista que, através de uma avassaladora operação de marketing, exclui à partida todas as alternativas.
Por isso mesmo, a obra editada pelo Centro de Investigação das Políticas do Ensino Superior, da Fundação das Universidades Portuguesas (CIPES),
"Um olhar sobre os rankings", considera que, pelos efeitos "sociais e educativos" perversos" que teve, os rankings tornaram-se numa "calamidade pública".
Isto, deixando de fora o seu objetivo inicial destas listas:
promover os colégios privados que, quanto mais candidatos conseguirem, mais facilmente podem fazer a seleção que os valoriza. (e lhes dá mais lucro).
Mas essa parte é business as usual.
Publicado no Expresso Online e em www.Arrastão.org
A reforma do Estado, o cheque-ensino e o tráfico do costume
(-por Daniel Oliveira
Numa reportagem da semana passada, a TVI (2013/11/04 «Verdade inconveniente») voltou a mostrar-nos como funcionam as relações do Estado com os colégios privados com contratos de associação e que se batem por uma suposta "liberdade de escolha".
Desta vez não se ficou pelo grupo GPS (http://expresso.sapo.pt/colegios-privados-gps-uma-historia-exemplar=f771463 ),
que permitia que alguns dissessem que se tratava apenas de um caso de polícia. Mostrou (ver em cima ) como estamos perante um fenómeno generalizado.
O padrão é simples de resumir. Num determinado concelho há escolas públicas suficentes.
Algumas em excelentes condições, com obras muito recentes e com um óptimo quadro docente.
Outras, pelo contrário, há decadas à espera de investimento.
Escolas que chegam e, em alguns casos, até sobram para o número de alunos na região.
Mas, no mesmo raio de influência, autoriza-se a construção de escolas privadas que, à partida, sabem que contarão com apoio público - caso contrário nunca se lançariam no negócio.
Esses colégios têm direito a subsídio público para receberem alunos, ao mesmo tempo que as escolas públicas veem o número de turmas reduzido muito abaixo da sua capacidade.
Um apoio público de milhões permite que os ditos colégios ofereçam o que está interdito às escolas públicas: transporte para todos, por exemplo.
E assim se duplicam custos e se garante o subsídio público a atividades privadas que não cumprem nenhuma função que o Estado não tivesse já condições para garantir.
E se deixam as escolas do Estado a morrer por falta de alunos ou de recursos.
... ...
... ...
É para manter esta forma de fazer negócios no país, passando para uma nova fase da RAPINA, e não para modernizar a economia e os serviços públicos, que se pede um consenso nacional em torno duma SUPOSTA REFORMA do Estado.
Na realidade, a novidade que nos oferecem é antiga de séculos:
continuar a proteger e a financiar uma das mais medíocres e protegidas elites económicas da Europa - que é constituída, há mais de cem anos, por mais ou menos as mesmas famílias («os donos de Portugal»).
A reforma que querem é apenas uma nova fase do negócio do costume.
Por isso Cavaco Silva insiste tanto no tema.
Se há quem saiba da velha arte de gerir interesses políticos e empresariais é o mais antigo político português no ativo.
Não tivesse sido a década "cavaquista" um dos pontos mais altos desta traficância e o BPN a sua caricatura mais grotesca.
Maria de Lurdes Rodrigues, Sobre os maus usos dos rankings
‘2. Ao contrário do que se tem argumentado, não foram as famílias que ficaram com mais informação para escolherem a escola dos seus filhos.
Foram as escolas que passaram a ter mais facilidade para escolher e para reservar lugares para os melhores alunos,
ou seja, para selecionar aqueles com quem o trabalho pedagógico é mais fácil.
Os restantes alunos, com os quais o trabalho pedagógico é verdadeiramente mais difícil, ficam nas escolas que não escolhem os alunos.
Muitas famílias passaram já pela experiência de serem “aconselhadas” a escolher outro estabelecimento para os seus filhos porque os resultados menos bons destes comprometiam a posição da escola nos rankings.
Neste sentido, a competição introduzida foi negativa, porque, em vez de melhorar a qualidade do trabalho pedagógico, melhorou sobretudo os mecanismos de seleção dos alunos e aumentou a desigualdade escolar.
A tendência continuará a ser as escolas “boas” ficarem melhores com um esforço mínimo, porque selecionam os melhores alunos,
e as escolas “menos boas” enfrentarem cada vez mais dificuldades, sobretudo se faltarem políticas de apoio e de discriminação positiva.’
Dos silêncios convenientes dos rankings de escolas
1. Pelo segundo ano consecutivo, o Ministério da Educação disponibilizou
- a par dos resultados dos exames que permitem elaborar rankings de escolas -
indicadores de caracterização do contexto socioeconómico dos alunos (profissões e habilitações escolares dos pais e recurso à Acção Social Escolar).
E também pelo segundo ano consecutivo, o Ministério da Educação RECUSOU_SE a disponibilizar estes mesmos DADOS para os estabelecimentos do ensino privado.
De facto, nem sequer no caso dos colégios e escolas particulares que beneficiam de apoio estatal o acesso a estes elementos de caracterização de contexto foi assegurado pelo ministro Nuno Crato.
2. Como se explica esta duplicidade de critérios e a sonegação deliberada de informação?
O que temem Nuno Crato e os interesses que o ministro representa?
Se é por mérito próprio - e não pela SELECTIVIDADE SOCIAL que resulta da liberdade de poderem escolher os seus alunos - que os colégios e as escolas privadas tendem a obter melhores resultados nos rankings, porque razão se fecham a sete-chaves os dados de caracterização socioeconómica de quem os frequenta?
A resposta a estas questões torna-se por demais evidente:
no dia em que for divulgada informação sobre as ORIGENS SOCIAIS dos ALUNOS dos colégios e escolas particulares, sobretudo das que obtém melhor posicionamento nos rankings, desfaz-se o MITO da supremacia intrínseca do ensino PRIVADO.
Isto é, no dia em que se tornar possível aceder a estes dados, os idiotas úteis ao serviço do USO FRAUDULENTO dos rankings serão obrigados a abdicar da ligeireza com que hoje os analisam e enaltecem.
Aliás, enquanto não lhes fosse dado acesso à mesma informação de que hoje já dispõem para as escolas públicas,
os órgãos de comunicação social que se dedicam anualmente a estabelecer as ordenações de escolas deveriam recusar-se a incluir os privados nesse exercício.
3. Mas esta duplicidade de critérios na gestão da informação revela também, com particular eloquência, os termos em está a ser concretizado o reforço inaudito do «ESTADO PARALELO» a que Pedro Adão e Silva se referiu recentemente, a propósito do guião de Paulo Portas.
A criação de novos mercados, que PARASITAM o Orçamento de ESTADO através da contratualização de serviços públicos com privados, padece deliberadamente de um mal que não é sequer novo:
a mais que escassa «transparência e ausência de REGULAÇÂO e escrutínio».
De facto, para os ideólogos do «IR AO POTE», os privados são bons quando se trata de os considerar como parte integrante dos sistemas de política social pública.
Mas ficam dispensados, na hora da prestação de contas, do rigor e do escrutínio, das mesmas obrigações a que se submetem os organismos públicos.
Até um dia, em que talvez venhamos finalmente a perceber onde estavam as VERDADEIRAS GORDURAS do Estado e o quanto elas nos custaram em ineficiência, em DESIGUALDADE e no DESVIO, para bolsos privados, do dinheiro de todos nós.
(- por Nuno Serra, 12/11/2013 http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/
De Idiota prova d'acesso idiota à carreira. a 22 de Novembro de 2013 às 15:24
O secretário-geral Federação Nacional dos Professores (Fenprof) classificou hoje uma "idiotice" o guia de prova de acesso à carreira dos docentes e ameaçou com várias formas de protesto até ao dia da avaliação.
Segundo o Guia da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, divulgado pouco antes da meia-noite de quinta-feira, os professores que na construção do texto da prova tenham mais de dez erros de ortografia, de pontuação ou de morfologia serão classificados com zero valores nesse item.
"Estamos perante a estupidez assumida pelos responsáveis do Ministério da Educação, isto não tem sentido nenhum", comentou à agência Lusa Mário Nogueira.
No entanto, o secretário-geral da Fenprof disse não ter ficado surpreendido com o tipo de prova apresentado.
"Quanto mais idiota esta prova fosse, mais nós deixávamos de estar surpreendidos, porque na verdade esta prova é uma idiotice, não faz qualquer tipo de sentido", afirmou.
Mário Nogueira adiantou que os professores que vão realizar a prova fizeram um curso de formação específica com profissionalização para a docência.
"Estamos a falar, na maior parte, de professores que trabalham há 20 anos, que têm tido excelentes, muito bons e bons", sublinhou o secretário-geral da Fenprof.
Para Mário Nogueira, esta prova "é humilhante e inqualificável", que tem como objectivos "pôr na rua" os professores.
Depois de terem demitido os professores precários, "agora é a fase seguinte", afirmou Mário Nogueira.
"Estes professores vão pagar a bala para serem abatidos", comentou, disse ainda, referindo-se aos 20 euros que os docentes vão ter de pagar para realizar a prova
"Isto é brincar com as pessoas, gozar com as pessoas", declarou, considerando que "um ministro e um secretário de Estado que têm este tipo de comportamento" têm de ser demitidos "rapidamente", defendeu.
Mário Nogueira reiterou que esta prova "não faz sentido e não se pode fazer", anunciando acções de protesto.
"Faremos tudo nos tribunais, faremos greve. Vamos ver até ao próprio dia o que vamos fazer, mas até no próprio dia podemos fazer", considerou, acrescentando que é "um insulto" a uma classe profissionalizada.
A prova de avaliação será composta por 32 itens de selecção (escolha múltipla) e um "item de construção", no qual é pedido aos docentes que escrevam um texto segundo o Acordo Ortográfico actualmente em vigor com um número de palavras compreendido entre 250 e 350.
As perguntas de escolha múltipla vão valer 80% da prova, enquanto o "item de construção" corresponderá a 20% do total, segundo informação disponibilizada no site do Instituto de Avaliação Educativa.
"Os erros de acentuação e de translineação, assim como o uso indevido de letra minúscula ou de letra maiúscula inicial também são considerados erros de ortografia.
A prova destinada aos docentes sem vínculo à função pública está marcada para o dia 18 de Dezembro.
Lusa/SOL, 22/11/2013
Professores Contratados: Guia da prova é 'absurdo' e 'redutor'
O presidente da Associação dos Professores Contratados considerou hoje o Guia da Prova de acesso à carreira dos docentes "redutor" e "desfasado do que é ser professor no século XXI" e das necessidades do sistema educativo.
Segundo o Guia da Prova, os professores que na construção do texto da Prova de Avaliação tenham mais de dez erros de ortografia, de pontuação ou de morfologia serão classificados com zero valores nesse item.
Para César Israel Paulo, o ministro da Educação "surpreendeu de novo" com o guia da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, que será composta por 32 itens de escolha múltipla e um "item de construção", no qual é pedido aos docentes que escrevam um texto segundo o Acordo Ortográfico com um número de palavras compreendido entre 250 e 350.
"Nuno Crato tinha surpreendido ao decidir aplicar esta prova verdadeiramente absurda, sem sentido e discriminatória e agora surpreende de novo apresentando um modelo absolutamente redutor e desfasado do que é ser professor no século XXI e do que são as necessidades do sistema público educativo português", disse à agência Lusa o presidente da associação.
Para o César Israel Paulo, este guia é "mais um comprovativo do retrocesso educacional" que a equipa do Ministério da Educação está a aplicar ao ensino público português e que "se vai pagar muito caro nas gerações futuras".
"Os professores de português terão certamente de continuar a luta, pois está agora demonstrado e verdadeiramente comprovado que esta prova não é mais do que uma rasteira que vai ser aplicada aos professores contratados de português no sentido de os afastar da profissão", sublinhou.
César Israel Paulo adiantou que o guião coloca toda a questão da qualidade em "pequenos pormenores de Matemática e Língua Portuguesa" que podem afastar um docente de uma área específica, "importante para o desenvolvimento do país", após 14 ou 20 anos de profissão por "colocar mal algumas vírgulas".
"Se esta prova fosse aplicada a outras classes, como médicos e deputados, onde muitas das vezes estas vírgulas em decretos-lei fazem a diferença, neste momento teríamos muito poucos médicos no sistema público e teríamos muito menos deputados na Assembleia da República", elucidou.
O responsável associativo considerou ainda que esta prova "não vai abonar em nada a qualidade do sistema educativo português".
As perguntas de escolha múltipla vão valer 80% da prova, enquanto o "item de construção" corresponderá a 20% do total, segundo informação disponibilizada no site do Instituto de Avaliação Educativa.
"São classificadas com zero pontos as respostas que não atinjam o nível de desempenho mais baixo ou quando se verifique uma das seguintes condições: afastamento integral do tema, mais de seis erros de sintaxe, mais de dez erros inequívocos de pontuação, mais de dez erros de ortografia ou de morfologia", lê-se no Guia da Prova.
Os erros de acentuação e de translineação, assim como o uso indevido de letra minúscula ou de letra maiúscula inicial também são considerados erros de ortografia.
A prova destinada aos docentes sem vínculo à função pública está marcada para o dia 18 de dezembro.
Lusa/SOL,22/11/2013
Um lugar para a educação
(- 12/1/ 2014 por Raquel Varela, 5Dias)
Choca-me tanto o CDS querer descer a escolaridade obrigatória como a progressista ideia de “esquerda” de não haver chumbos.
Na vida há muitas ideias, não há só duas.
Andamos entre os defensores da escola “fascista”, desigual, e os partidários do paternalismo e do facilitismo total, como se não existissem outras hipóteses de organização da educação.
A escolaridade obrigatória em Portugal tem sido feita sem qualidade – atirando uma massa de crianças e jovens para a ignorância.
O modelo PS foi esse.
O modelo PSD/CDS é o do elitismo. Não apoio nenhum.
Um ignorante é-o com registo estatal (diploma) ou sem ele, infelizmente.
Alguma classe média adora chocar-se com «os pobres que têm um telefone caro».
Esquece-se que um telefone complexo é muito mais barato do que ter prazer a ler um livro porque para ler um livro é preciso ter lido muitos, é preciso conhecer o vocabulário, compreender as palavras, situar os lugares.
Para ler um livro é preciso pais que leiam livros e que os tornem aquilo que são – viagens pelos mundos da humanidade.
É preciso pais que tenham cultura suficiente para tirar os filhos da frente da televisão, a super babysitter do século XXI.
Ter um telefone e mandar mensagens é uma actividade barata.
Para se ir a um concerto e não o achar aborrecido e ter prazer é preciso ter aprendido a gostar de música, ter ouvido boa música.
A educação musical em Portugal nas escolas podia ser aprender a ler música e tocar um instrumento – em vez disso tocam uns ferrinhos…
Tocam ferrinhos porque assim a força de trabalho está ocupada, prolongam-se os horários de trabalho e os putos ficam na escola ainda que a fazer algo inútil.
Um ignorante é-o porque não desvela o conhecimento, é-o porque é iletrado – lê mas não compreende o que lê;
é-o porque em vez de ir dar um passeio no jardim fica a ver na televisão as personagens passearem no jardim.
Tudo isto se muda com muita facilidade mas não se revolve tirando os putos da escola nem os colocando lá inutilmente.
Resolve-se gastando muito dinheiro, em muitos professores,
em turmas pequenas, em professores universitários que formam os de secundário,
numa sociedade saudável de pleno emprego e acesso à cultura.
Claro que para isso não se podem construir 10 estádios de futebol ou pagar a dívida pública,
“dívida” que do ponto de vista económico é exactamente o mesmo que construir 10 estádios de futebol.
---------- Hugo:
... A escola pública teve qualidade crescente até à chegada da ministra de má memória que foi M Lurdes Rodrigues
– tanto que dela se gerou a “geração mais qualificada de sempre”, da qual faz parte a Raquel Varela (supondo que andou na escola pública).
Desde então, o ataque à educação, que começou com a demonização dos professores
e depois a treta da avaliação e depois os cortes deste governo,
arrasou com as aquisições da escola democrática (que o foi realmente) – se algo subsiste ainda, é por milagre – e os milagreiros serão os professores, que não há outros.
------ M.Machaqueiro:
... Infelizmente, quem podia fazer a diferença nas escolas – os professores – está hoje reduzido ao estado de espírito que se documenta aqui:
http://educar.wordpress.com/2014/01/12/estado-de-negacao-2/
--------- RVarela:
Chumbos não são sinónimo de qualidade, mas cá como não se investiu na qualidade deixou-se de chumbar.
É o mesmo que colocar blush num doente anémico. Não muda nada a não ser na aparência.
Uma escola de qualidade não precisa de chumbar ninguém, mas isso implica um acompanhamento de professores e alunos que exige um investimento gigante, que na minha opinião, deve ser feito.
Cump
Estado De Negação
(-Paulo Guinote under A Vidinha, Penso Eu De Que... , 12/1/2014)
Cumpri a primeira semana de aulas do segundo período do ano lectivo em decurso num estado a que chamei, apenas meio a brincar, de negação.
De negação, porquê?
Por muitas razões, a menos das quais não será a escassez de sentido que faz um conjunto de momentos que se insere num processo de que não se percebem exactamente os objectivos, por manifesta incompetência ou miopia de quem os conduz a que se associa a desorientação evidente de muitos dos destinatários. Perdi qualquer confiança naqueles e desespero para que estes não desistam de si próprios.
(desejava não ter de explicitar que falo da desgovernança em Educação, mas aprendi ao oongo dos anos a nunca subestimar a incapacidade alheia para perceber o óbvio)
Por estado de negação, entenda-se a ida para a escola armado apenas com as competências as capacidades (não certificadas por prova oficial) de um professor analógico comum ou dois esquemas depositado na conta do gmail e o conteúdo de um cacifo a deitar por fora de materiais que já deveria ter deitado fora, tantas são as consoantes alegadamente mudas que os polvilham.
Ahhh… e munido também do devido respeito pelos alunos e de um incómodo sentido de dever profissional que cada vez é mais empecilho do que ajuda.
Mas sem qualquer carga de esperança ou ânimo especial no sentido maior da função docente e da Educação num contexto político em que isso é desprezado ou manipulado de forma retórica e indecorosa. Quando temos uma organização de juventude governamental a apelar à redução da escolaridade e à exclusão social dos que para eles são incapazes ou, talvez de forma mais certa, indignos de beneficiar dos serviços públicos básicos de uma sociedade democrática moderna. Sendo que muitos dos rostos que encaro todos os dias são exactamente de gente assim, que outros consideram filhos de deus nenhum.
Não se entenda com isto que deixei de cumprir as obrigações decorrentes do meu horário lectivo, não lectivo ou outro qualquer.
Em boa verdade, ainda hoje reservarei um par de horas para completar uma base de dados com os resultados comparados dos alunos do 5º ano em relação ao ano anterior.
Assim como as turmas do 6º ano de Português tiveram direito a uma introdução à Grécia Antiga, à sua mitologia e aos mecanismos de transmissão das tradições orais para suporte escrito, como preparação para a leitura do Ulisses de Maria Alberta Menéres. E as turmas do 8º ano de História tiveram direito a aulas que julgo moderadamente interessantes sobre as origens, características e difusão do Renascimento na Europa, incluindo explicações que penso bastante operacionais do antropocentrismo, heliocentrismo, classicismo e racionalismo daquelas centenas de mentes geniais que fazem parecer que 98% da população europeia do século XVI não viviam como 99% da população europeia do século XV ou XIV.
Cumpri os meus deveres profissionais, mas tão só isso. Cheguei, desempenhei, saí. Como se quase nada se estivessse a passar. Como se não tivesse voltado para a insanidade quotidiana de um sector da vida nacional que está entregue a uma cambada de ineptos e vulnerável, como não estava há muito, à influência de imbecis preconceituosos, escassamente formados e ainda pior informados.
Estou a exagerar?
Nada disso.
Bastam alguns minutos de congresso do CDS para se provar à saciedade como a mediocridade de sucesso se compraz consigo mesma e a sua incompetência vaidosa que nenhum fato de bom corte e risquinhas subtis pode disfarçar, muito menos dentinhos de porcelana e gel mal distribuído. Daqui por uns dias veremos o mesmo em tons laranja e com mais actores.
Estarei eu a dizer que, se assim estou, devo dar o lugar a quem mais ânimo terá para desempenhar a função que agora é minha?
Nada disso.
Porque sei perfeitamente que grande parte ...
Estado De Negação
(-Paulo Guinote under A Vidinha, Penso Eu De Que... , 12/1/2014)
...
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Porque sei perfeitamente que grande parte do lumpen desesperado por um emprego e que muitas vezes critica o corporativismo de quem tem um lugar “dos quadros”, embora merecendo exercer a sua profissão com dignidade, dificilmente chegaria em melhores condições ao ponto do trajecto a que eu e muitos como eu chegámos. Há quem grite que faria melhor, mas que chegando ao lugar se satisfaria em mandar fazer cópias das matérias por dar e em carregar no play dos inovadores meios audiovisuais. E correriam atrás de toda e qualquer hipótese de encosto. Generalizo, eu sei, mas deixo espaço a excepções.
Estarei eu a dar razão aos que acham que é tempo de fazer entrar “sangue novo” nas escolas e que é preciso renovar, domesticando, a classe docente?
Não, pelo contrário.
A esses digo, sem rebuço ou receio de perder tença, que mais vale irem bardamerda com as suas teorias e teses que rebuscaram em leituras mal compreendidas e numa vidinha de aquário, que os faz pensar que aquelas plantas de plástico são verdadeiras e na realidade são verdinhas eternamente e que a comida cai do céu só porque são peixinhos dourados. E acrescentarei que não os invejo de modo algum, apenas os deploro por só conseguirem ser medíocres como são e ou não o perceberem ou, percebendo-o, serem incapazes de contrariarem e/ou ultrapassarem essas suas limitações, mesmo que brindadas com sucesso em nomeações.
Acho que há uma altura em que se deve dizer aquilo que se pensa sem recorrer a especiais floreados, meias palavras, véus ou cortesias desnecessárias. Sem que isso signifique que o vernáculo transborde do essencial para se vincar a ideia essencial ou que se lance mão da cassete tradicional dos revolucionários de papel.
Este país é há muito pasto fácil para medíocres que se sucedem na Situação (no sentido hegeliano em que tudo se acaba por harmonizar numa síntese final) e parece que é inútil esperar que mesmo aqueles que o sabem ser se esforcem por se superar.
Esta semana que passou foi assim, a próxima logo se verá.
Quem se sentir incomodado, que se coce nos sítios adequados e siga o seu caminho.
De cheque ensino e 'subvivência' familiar a 16 de Maio de 2014 às 14:52
---- O cheque ensino e a hipocrisia
(por Frederico Francisco) Li há pouco no Público.pt um artigo de opinião do Paulo Guinote com o qual concordo na íntegra. O essencial do raciocínio está resumido no seguinte parágrafo:
"A verdade é que quem nega cerca de 300 euros para a sobrevivência de uma família com os pais e um filho ou pouco mais de 400 euros para uma família com pais e três filhos é em tantas situações quem quer esse valor para pagar o convívio social e heráldico da sua própria e desafogada descendência."
Aproveitando que este assunto veio à baila, deixo um desafio aos defensores do cheque ensino que ajudaria a eliminar a hipocrisia subjacente ao modelo. Esse desafio consiste em propor um modelo de cheque-ensino que coloque escolas e alunos em pé de igualdade. Fundamentalmente, gostava de ver um cheque-ensino que permitisse que qualquer aluno se inscrevesse em qualquer escola e não permitisse a selecção de alunos. Desta forma, os preços das propinas teriam que ser tabelados pelo valor do cheque, de forma a que não houvesse selacção pelos rendimentos da família. Naturalmente, as escolas com melhor posição nos rankings, irão ter enormes listas de espera, e aqui entra o ponto chave da proposta que eu gostava de ver. No caso de o número de candidatos ser superior ao número de vagas numa escola que receba cheque-ensino, a selecção teria de ser feita por sorteio.
Em suma, se me apresentarem um modelo que permita ao filho ou filha de um casal que vive com o salário mínimo ou com o subsídio de desembprego estudar nos Salesianos ou no S. João de Brito, estou disposto a discutir este assunto. Aí, eliminados ou reduzidos os efeitos de selecção social, veríamos como evoluiriam os rankings.
Estarão dispostos a colocar a questão nestes termos? Ou será que a razão principal para escolher uma escola privada não é a qualidade de ensino mas antes a composição social da sua população estudantil?
Até lá, penso que um ensino público universal e de qualidade continua a ser o melhor garante de (alguma) igualdade de oportunidades no acesso à educação.
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