Maria de Lurdes Rodrigues, Sobre os maus usos dos rankings
‘2. Ao contrário do que se tem argumentado, não foram as famílias que ficaram com mais informação para escolherem a escola dos seus filhos.
Foram as escolas que passaram a ter mais facilidade para escolher e para reservar lugares para os melhores alunos,
ou seja, para selecionar aqueles com quem o trabalho pedagógico é mais fácil.
Os restantes alunos, com os quais o trabalho pedagógico é verdadeiramente mais difícil, ficam nas escolas que não escolhem os alunos.
Muitas famílias passaram já pela experiência de serem “aconselhadas” a escolher outro estabelecimento para os seus filhos porque os resultados menos bons destes comprometiam a posição da escola nos rankings.
Neste sentido, a competição introduzida foi negativa, porque, em vez de melhorar a qualidade do trabalho pedagógico, melhorou sobretudo os mecanismos de seleção dos alunos e aumentou a desigualdade escolar.
A tendência continuará a ser as escolas “boas” ficarem melhores com um esforço mínimo, porque selecionam os melhores alunos,
e as escolas “menos boas” enfrentarem cada vez mais dificuldades, sobretudo se faltarem políticas de apoio e de discriminação positiva.’
Dos silêncios convenientes dos rankings de escolas
1. Pelo segundo ano consecutivo, o Ministério da Educação disponibilizou
- a par dos resultados dos exames que permitem elaborar rankings de escolas -
indicadores de caracterização do contexto socioeconómico dos alunos (profissões e habilitações escolares dos pais e recurso à Acção Social Escolar).
E também pelo segundo ano consecutivo, o Ministério da Educação RECUSOU_SE a disponibilizar estes mesmos DADOS para os estabelecimentos do ensino privado.
De facto, nem sequer no caso dos colégios e escolas particulares que beneficiam de apoio estatal o acesso a estes elementos de caracterização de contexto foi assegurado pelo ministro Nuno Crato.
2. Como se explica esta duplicidade de critérios e a sonegação deliberada de informação?
O que temem Nuno Crato e os interesses que o ministro representa?
Se é por mérito próprio - e não pela SELECTIVIDADE SOCIAL que resulta da liberdade de poderem escolher os seus alunos - que os colégios e as escolas privadas tendem a obter melhores resultados nos rankings, porque razão se fecham a sete-chaves os dados de caracterização socioeconómica de quem os frequenta?
A resposta a estas questões torna-se por demais evidente:
no dia em que for divulgada informação sobre as ORIGENS SOCIAIS dos ALUNOS dos colégios e escolas particulares, sobretudo das que obtém melhor posicionamento nos rankings, desfaz-se o MITO da supremacia intrínseca do ensino PRIVADO.
Isto é, no dia em que se tornar possível aceder a estes dados, os idiotas úteis ao serviço do USO FRAUDULENTO dos rankings serão obrigados a abdicar da ligeireza com que hoje os analisam e enaltecem.
Aliás, enquanto não lhes fosse dado acesso à mesma informação de que hoje já dispõem para as escolas públicas,
os órgãos de comunicação social que se dedicam anualmente a estabelecer as ordenações de escolas deveriam recusar-se a incluir os privados nesse exercício.
3. Mas esta duplicidade de critérios na gestão da informação revela também, com particular eloquência, os termos em está a ser concretizado o reforço inaudito do «ESTADO PARALELO» a que Pedro Adão e Silva se referiu recentemente, a propósito do guião de Paulo Portas.
A criação de novos mercados, que PARASITAM o Orçamento de ESTADO através da contratualização de serviços públicos com privados, padece deliberadamente de um mal que não é sequer novo:
a mais que escassa «transparência e ausência de REGULAÇÂO e escrutínio».
De facto, para os ideólogos do «IR AO POTE», os privados são bons quando se trata de os considerar como parte integrante dos sistemas de política social pública.
Mas ficam dispensados, na hora da prestação de contas, do rigor e do escrutínio, das mesmas obrigações a que se submetem os organismos públicos.
Até um dia, em que talvez venhamos finalmente a perceber onde estavam as VERDADEIRAS GORDURAS do Estado e o quanto elas nos custaram em ineficiência, em DESIGUALDADE e no DESVIO, para bolsos privados, do dinheiro de todos nós.
(- por Nuno Serra, 12/11/2013 http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/
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