O marketing da receita fácil
(-por Daniel Oliveira)
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Pela estratificação da rede escolar e pela perversão das boas práticas pedagógicos que alimentam, os rankings transformaram-se num cancro para a nossa escola.
Um dos piores serviços que a comunicação social prestou à comunidade.
E, porque se baseia nos resultados dos exames e em nada mais, numa poderosa arma para impor um determinado olhar sobre o que deve ser a escola.
Um ponto de vista que, através de uma avassaladora operação de marketing, exclui à partida todas as alternativas.
Por isso mesmo, a obra editada pelo Centro de Investigação das Políticas do Ensino Superior, da Fundação das Universidades Portuguesas (CIPES),
"Um olhar sobre os rankings", considera que, pelos efeitos "sociais e educativos" perversos" que teve, os rankings tornaram-se numa "calamidade pública".
Isto, deixando de fora o seu objetivo inicial destas listas:
promover os colégios privados que, quanto mais candidatos conseguirem, mais facilmente podem fazer a seleção que os valoriza. (e lhes dá mais lucro).
Mas essa parte é business as usual.
Publicado no Expresso Online e em www.Arrastão.org
A reforma do Estado, o cheque-ensino e o tráfico do costume
(-por Daniel Oliveira
Numa reportagem da semana passada, a TVI (2013/11/04 «Verdade inconveniente») voltou a mostrar-nos como funcionam as relações do Estado com os colégios privados com contratos de associação e que se batem por uma suposta "liberdade de escolha".
Desta vez não se ficou pelo grupo GPS (http://expresso.sapo.pt/colegios-privados-gps-uma-historia-exemplar=f771463 ),
que permitia que alguns dissessem que se tratava apenas de um caso de polícia. Mostrou (ver em cima ) como estamos perante um fenómeno generalizado.
O padrão é simples de resumir. Num determinado concelho há escolas públicas suficentes.
Algumas em excelentes condições, com obras muito recentes e com um óptimo quadro docente.
Outras, pelo contrário, há decadas à espera de investimento.
Escolas que chegam e, em alguns casos, até sobram para o número de alunos na região.
Mas, no mesmo raio de influência, autoriza-se a construção de escolas privadas que, à partida, sabem que contarão com apoio público - caso contrário nunca se lançariam no negócio.
Esses colégios têm direito a subsídio público para receberem alunos, ao mesmo tempo que as escolas públicas veem o número de turmas reduzido muito abaixo da sua capacidade.
Um apoio público de milhões permite que os ditos colégios ofereçam o que está interdito às escolas públicas: transporte para todos, por exemplo.
E assim se duplicam custos e se garante o subsídio público a atividades privadas que não cumprem nenhuma função que o Estado não tivesse já condições para garantir.
E se deixam as escolas do Estado a morrer por falta de alunos ou de recursos.
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É para manter esta forma de fazer negócios no país, passando para uma nova fase da RAPINA, e não para modernizar a economia e os serviços públicos, que se pede um consenso nacional em torno duma SUPOSTA REFORMA do Estado.
Na realidade, a novidade que nos oferecem é antiga de séculos:
continuar a proteger e a financiar uma das mais medíocres e protegidas elites económicas da Europa - que é constituída, há mais de cem anos, por mais ou menos as mesmas famílias («os donos de Portugal»).
A reforma que querem é apenas uma nova fase do negócio do costume.
Por isso Cavaco Silva insiste tanto no tema.
Se há quem saiba da velha arte de gerir interesses políticos e empresariais é o mais antigo político português no ativo.
Não tivesse sido a década "cavaquista" um dos pontos mais altos desta traficância e o BPN a sua caricatura mais grotesca.
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