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... Dos dez milhões de portugueses que somos devem contar-se pelos dedos de uma mão aqueles que não gostariam de ter uma casa junto ao mar. Alguns conseguem-na. E entre esses há os que frequentemente, graças a interpretações assaz excepcionais dos PDM, POOC e demais legislação conseguiram a casa, restaurante, espaço... dos seus sonhos não só ao pé do mar mas mesmo em cima das dunas e das falésias. Nas maravilhosas noites de Verão em que o mar lhes torna infinita a sala de jantar essas casas são naturalmente deles e apenas deles. Mas quando chega o Inverno todos nós nos tornamos proprietários das ditas casas e restaurantes pois somos chamados a pagar obras que "impeçam o avanço do mar", expressão que é mais ou menos sinónima de obras de milhões de euros que obviamente outras marés destruirão.
E contudo, por mais absurdo que tudo isto possa parecer estou em crer que esta é a mais poderosa ideia existente em Portugal: uma casa na duna durante o Verão mas isolada do mar no Inverno. Ou por outras palavras um regime especial para os privilégios e outro, geral, para os deveres.
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São tantos os suplementos que Helena Matos aparentemente esqueceu o «suplemento para fardas» cujo aumento tinha sido aprovado na véspera da manifestação em S. Bento. Dois dias depois dessa manifestação, um cabo da GNR fez uma outra no Love Clube, em Oliveira de Azeméis, numa festa dedicada ao dia da mulher onde tirou a farda e o resto para uma plateia feminina que o aplaudiu com entusiasmo e aproveitou para ver as partes pudendas de um exemplar de uma classe que nas ruas é difícil de ver até fardada – a não ser nas esquadras e aquartelamentos onde descansam das suas vidas agitadas.
Não esquecer ainda os privilégios dos «corpos e carreiras especiais» : diplomatas, inspectores, agentes/trabalhadores das finanças, dos registos e notariado, funcionários do Banco de P., da A.R., deputados, governantes, conselheiros, dirigentes, administradores de empresas públicas ou participadas, , .... com os seus subsídios, suplementos, senhas de presença, subsd. representação, residência, telemóvel, computador, carro, ... férias e seguros, ...
-- tudo benesses que os trabalhadores dos regimes gerais não usufruem.
Se até se percebe que cada um «puxe a brasa à sua sardinha» especialmente nos escalões de rendimento mais baixo, mais mal pagos, ... numa República democrática e justa não se compreende nem deve aceitar estas discriminações (positivas para os com mais capacidade reivindicativa ou que exercem funções em serviços/ entidades «sensíveis» e negativas para os outros)
E o que se aplica a trabalhadores/funcionários tem o seu correspondente no resto da sociedade, com algumas empresas/organizações e actividades a serem privilegiadas no acesso a concursos/..., nos subsídios públicos, isenções fiscais, no tratamento burocrático-administrativo, no acesso a fundos, na concessão de privilégios ou quase monopólios sectoriais ou territoriais, ...
- ... esta situação revela que vivemos num regime podre, corrupto, nepotista, injusto, não democrático, não transparente, ... cuja elite procura dividir para reinar ... e apenas partilha alguns dos direitos e bem-estar com a 'famiglia', e aqueles de que mais precisa para se manter no poder e continuar a saquear o país e a maioria dos seus cidadãos, tratados como servos.