De NeoLiberais ou Fascistas 'globaisinhos' a 6 de Janeiro de 2014 às 11:28
O INTERESSE NACIONAL TEM DIAS...
por Tomás Vasques, em 02.01.14
Muito boa gente submete-se ao discurso oficial*, construído por Passos Coelho e Cavaco Silva, nos últimos 3 anos. O discurso da “situação” assenta em meia dezena de falácias, repetidas até à exaustão, para parecerem verdades:
1) um governo do partido socialista provocou a crise em que vivemos;
2) para sairmos desta crise não há alternativa às medidas tomadas pelo actual governo, em consonância com os nossos “parceiros europeus”;
3) Prosseguir estas medidas (de empobrecimento da maioria dos portugueses) é de interesse “nacional ”;
4) os socialistas deviam compreender esta “realidade”, abandonarem os seus “interesses partidários”, e coligarem-se com o PSD e o CDS, para melhor se cumprir o “interesse nacional”;
5) Só perigosos esquerdistas e radicais, gente do passado, não entende a “bondade” da “solução” de futuro radioso que Passos Coelho e Cavaco Silva nos dão.
*Para perceber a falácia do “discurso oficial” releia-se o discurso de tomada de posse, neste segundo mandato, do senhor presidente da República, em que o "interesse nacional", na altura, passava pelo derrube do último governo, e todas as declarações do actual primeiro-ministro durante a campanha eleitoral.
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RAPAZES MODERNAÇOS.
por Tomás Vasques, em 08.10.13
Há por aí uns rapazes, armados em modernaços, que gritam, mais coisa, menos coisa:
“reformados? Cortem nessa cambada de inúteis que andam a viver à custa do orçamento”;
“viúvas? A tomarem chá das cinco e a receberem o dinheirinho ao fim do mês”;
“greves? Lá vem essa seita de gente bem remunerada a dar cabo da economia do país. Vejam lá se os desempregados fazem greve?”;
Tribunal Constitucional? Bando de socialistas e comunistas que não querem perceber que não há dinheiro para pagar luxos”.
Estes rapazes nasceram fora do seu tempo
Se tivessem nascido há 60 ou 70 anos não precisavam de gritar, como gritam.
Viviam na paz e no sossego do seu “ambiente natural”. (o da "união nacional" / "a bem da nação" : o salazarismo fascista).
Continuamos vidrados nas piruetas dos acusadores puros
(-por Rui Cerdeira Branco, http://365forte.blogs.sapo.pt/ 1/1/2014)
Camilo Lourenço diz que ele e o FMI estão furiosos com o fim da espiral recessiva. O crescimento recente é mau.
Camilo Lourenço descobriu em 2014 que em 3 anos não se reforma estruturalmente uma economia.
Camilo Lourenço reconhece, sem o assumir, que tudo isto foi uma palhaçada inútil e inconsequente (exceto na parte em que destruiu a vida de muitas pessoas).
Afinal, o malvado consumismo está de volta.
E vestigios da prometida eficácia reformista? O fulgor exportador?
Da austeridade expansionista? E a substituição de importações?
Tudo anda a reboque do exterior, os empreendedores lusos continuam verbos de encher instrumentalizados para anular qualquer assome que justifique intervenção mais ativa do Estado na economia mas ... quase nada se fez além de destruir competitividade.
Sim, destruir competitividade quando se perdem quadros especializados altamente formados,
quando se ignoram a assimetrias internas à zona euro no mercado de capitais,
quando se força um aumento brutal e imediato nos custo de produção energéticos e
quando o euro não para de valorizar dificultando-nos a porta a qualquer escape além Europa.
E espantosamente, com tudo isto, esperava-se um milagre económico.
O que se recupera resulta:
1) da influência externa (porque os outros recuperam)
2) e/ou porque houve alguma folga (nem toda a austeridade esperada e depressiva era legal e veio a entrar em vigor, lembram-se?) e
3) porque chegámos a alguma psicologia favorável ao consumo por parte dos que podem - já nos anos 80 falámos do pudor induzido pela crise com uma retração "excessiva do consumo" entre aqueles que têm bolsos fundos e posteriar relaxamento do receio pela exibição consumista.
Mas não se alarmem. A culpa essa continua a ser dos mesmos.
As bestas estão perfeitamente identificadas e não há mudança de diagnóstico que as redima.
A austeridade cega e o "plano" de um bando de credores que não se entende, passam incólumes.
E Camilo Lourenço continua coberto de razões. De dedo em riste e pirueta sempre pronta.
Um perfeito ilusionista mistificando muito mais do que esclarece. Um proverbial vendedor da banha da cobra intelectual.
Está bom tempo para o seu negócio. Disso não tenho dúvidas. Um verdadeiro empreendedor.
A autodeterminação, lembram-se?
(por JOSÉ MANUEL PUREZA, 3/1/2014)
Talvez o efeito maior do momento neoliberal da longa globalização tenha sido o anátema quase total lançado sobre o valor político da autodeterminação. E talvez o efeito maior da atual crise desse momento seja, em quase todas as regiões do mundo, o retorno a esse valor.
Os dois lados da ambivalência política da globalização - feita quer de integração dos mercados financeiros quer de mundialização das lutas pelos direitos humanos - juntaram-se, a partir da década de oitenta,~
na produção de um discurso crítico da soberania dos Estados, remetida para a categoria de resíduo político.
Vivemos os últimos trinta anos sob o manto dessa desconsideração dos Estados e das suas soberanias, tidas como obstáculos quer ao pleno funcionamento dos mercados quer ao pleno cumprimento de padrões de boa governação amigos dos direitos e da dignidade.
O resultado foi a súbita desvalorização do conceito de autodeterminação no debate político internacional.
O que fora a grande referência dos movimentos de libertação do pós-guerra, animando uma geração de lutas que mudou por inteiro o mapa do mundo, saiu quase totalmente de cena,
castigada ora por supostamente camuflar situações de estatalidade inviável, ora por servir de bandeira a mobilizações desalinhadas com o primado do mercado mundial.
Tomando esse alinhamento como critério, louvou-se efemeramente a retórica de autodeterminação presente nas revoltas ocorridas no Leste europeu ou no mundo árabe, ao mesmo tempo que se eliminava a palavra - e o seu conteúdo político transformador - do vocabulário aplicado à América Latina ou a África, por exemplo.
Para preencher esse vazio alguns crentes na regulação do momento neoliberal da globalização sugerem a hipótese de um constitucionalismo global.
E, generosos, põem no centro desse constitucionalismo global a uniformização de um catálogo de direitos fundamentais e dos cânones do Estado de direito.
Sucede, porém, que a vida não lhes dá razão.
O constitucionalismo global efetivamente existente, não o dos livros e das conferências mas o da política concreta que está aí, é afinal o da constitucionalização do próprio neoliberalismo.
Veja-se, no espaço da União Europeia, o valor constitucional prático que se pretende conferir à "regra de ouro" do equilíbrio orçamental para a atirar quer
contra os governos que decidam seguir uma orientação de intervenção contracíclica, por exemplo, quer
contra os próprios tribunais constitucionais nacionais.
Veja-se, em escala mais ampla, o que resultará da aprovação da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (vulgo, tratado de comércio livre entre a União Europeia e os Estados Unidos),
com os investidores (como a Monsanto, a Philip Morris ou a Microsoft)
a poderem processar os governos nacionais diante de um tribunal ad hoc
se estes adotarem legislações nacionais que aqueles considerem prejudiciais para a sua liberdade de negócios.
Este constitucionalismo global efetivo que rouba toda a autonomia - incluindo a de determinar o conteúdo das leis - aos Estados e aos povos que eles é suposto representarem
é por isso mesmo um ataque letal à democracia.
A Europa do Sul está a trazer de volta a autodeterminação para o centro da política.
Porque é aqui e agora que os efeitos do discurso encantatório da integração política e económica se estão a exibir em toda a sua perversidade.
Aqui, integração e perda da autodeterminação estão a ser sinónimos e os dois estão a significar austeridade sem fim e desdém da democracia.
Unir os povos do Sul da Europa para resgatar a nossa autodeterminação contra o constitu- cionalismo global ordoliberal que nos amarfanha é hoje um imperativo da democracia.
Essa é a questão essencial das próximas eleições europeias.
Lembrem-se também disto
[figura: $ dinheiro preso a bola de ferro e/ou presos ao dinheiro ]
Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff são capazes do pior – a defesa tão ortodoxa quanto errónea da chamada ideia perigosa, a AUSTERIDADE –
e do melhor – a sua detalhada quantificação das crises financeiras ao longo da história,
extraindo padrões e algumas implicações políticas heterodoxas.
Como sublinham em trabalho no quadro do FMI, desta vez não pode ser mesmo diferente no mundo desenvolvido, apesar de todas as lições esquecidas da história:
sem uma combinação que inclua REESTRUTURAÇÂO da dívida e “REPRESSÂO FINANCEIRA”,
ou seja, maior CONTROLO POLÌTICO sobre os CAPITAIS, colocando-os ao serviço das necessidades públicas,
nada feito neste e noutros contextos de endividamento e crise.
No trabalho recuperam um episódio significativo da época dos incumprimentos soberanos, os anos trinta do século passado, quando os países europeus se livraram de dívidas da Primeira Guerra Mundial que tinham acumulado face aos EUA, correspondendo a 16% do PIB destes últimos,
que, por sua vez, ao libertarem-se da relíquia bárbara do padrão-ouro, se livraram de dívida, interna e externa, no mesmo montante.
De resto, um dos padrões mais significativos de Reinhart e Rogoff, que sempre me pareceu subestimado pelos autores, é agora afirmado com clareza:
as épocas de REPRESSÂO (regulação e tributação) FINANCEIRA são épocas de maior ESTABILIDADE financeira, como nos indica o período que vai do fim da Segunda Guerra Mundial aos anos setenta.
A LIBERALIZAÇÂO financeira está sempre prenhe de custosas CRISES, como bem sabemos desde os anos oitenta.
Também na esfera financeira, sobretudo aí, é de DESGLOBALIZAÇÂO, de recuperação da SOBERANIA, da real, não de fraudes do tipo pós-troika, que temos de nos lembrar.
(- por João Rodrigues , 5/1/2014, Ladrões de B)
Excesso de fé
(-por Raquel Varela , 6/1/2014, 5Dias)
Encheram-se hoje as redes sociais de gente a rezar para que Merkel se magoe a sério.
Fico impressionada com tanta gente
achar radical e impossível fazer revoluções ou lutas pelo controlo da produção
mas acha normal torcer para a Merkel se magoar e deixar o poder porque hoje caiu a fazer ski.
Primeiro porque não se derrotam adversários políticos com quedas de ski. A sociedade é felizmente mais complexa – esse estado de luta social terminou algures quando eramos chimpanzés.
Segundo, porque o problema do nosso país e da Europa não é a Merkel,
é o conjunto da burguesia alemã, portuguesa e europeia que tem feito um banquete com esta crise.
Espero não ter como resposta a este pequeno comentário que «burguesia» é um conceito ultrapassado. Porque teria que responder que ultrapassada e demagógica é essa noção de que uma pessoa concentra o poder (e os males e as soluções) de uma sociedade.
PS: burguesia (detentor dos meios de produção) é historicamente um conceito muito mais adequado do que os que são referidos como alternativa, seja o de
elites (também as há no movimento operário),
empresários (também há pequenos, que são esmagados por estas políticas) ou
grande capital (como se o capital fosse grande ou pequeno…).
[ Não adianta olhar pró céu com muita fé e pouca Luta ! ]
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Desiludido...
"...estamos fartos de viver mal, fartos dos impostos, do custo de vida, da falta de emprego, do fecho incessante de empresas, das reestruturações, fartos de sermos desprezados...".
Onde é que eu já li isto??
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/revolta-dos-barretes-vermelhos-alastra-em-franca=f840257#ixzz2pdsNmnGr
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2013, um ano de luta social em análise
(-por Francisco, 5Dias, 4/1/2014)
Introdução
Diz-nos o economist que para 2014 Portugal tem risco elevado de “social unrest” (obtém um score de 3 numa escala de 1 a 4, em que 4 é o risco máximo). Esta notícia veio acordar alguns fariseus que andam embalados pela sua própria propaganda… Também serve de abanão para quem deste lado da barricada anda algo “desorientado” (aqui e aqui).
Na verdade, em 2013 as manifestações, greves ou ocupações foram quase quotidianas. Para além disso, no plano mediático, os casos e polémicas envolvendo o governo foram muitíssimo frequentes (só este ano foram 7 remodelações)… em média, não houve um dia sem um incidente e vários dias houve em que diferentes protestos de vários tipos tiveram lugar. 2013 foi um ano em que assistimos a protestos de massas, mas sobretudo a um alastrar e radicalizar da luta ao nível local e sectorial. Acções que em 2012 foram apanágio de grupos nas margens da contestação, em 2013 foram adoptados por grupos “mainstream”. O estreitamento da base social de apoio ao governo foi tornado claro nas eleições autárquicas. Eleições que também demonstram que existe espaço fértil para novos projectos políticos captarem o vastíssimo descontentamento difuso contra o governo e o regime em geral.
Este texto procura fazer uma revisão do que foi a luta social em Portugal no ano de 2013. A lista de eventos feita é necessariamente limitada, no entanto parece-me que todos os grandes momentos estão identificados, quer aqueles que marcaram pela positiva, quer os que marcaram pela negativa… sendo que alguns, como o 2 de Março, tiveram simultâneamente um carácter positivo e negativo. Os comentários e a síntese que faço está muito longe de abranger todos os tópicos que poderiam ser invocados. Mas creio que certas questões/reflexões fundamentais e raramente expressas em público constam deste texto. Uma das maiores armas ao serviço dos inimigos do povo de várias matizes é o de construir mistificações à volta da história, apagar certos eventos, difundir a desmoralização e o capitulacionismo entre a resistência. Por isso mesmo é fundamental que quem está deste lado da barricada não esqueça exactamente o que se passou, como se passou e porquê…
O maior objectivo deste artigo é fazer um registo e uma análise da luta, da perspectiva do movimento popular que combate o processo reaccionário em curso de empobrecimento generalizado e imposição da barbárie. Terá as suas limitações, mas proporciona ...
...
"Austeridade": tirar aos pobres e dar aos multimilionários
(-por R.Narciso, PuxaPalavra, 21/12/2013)
A política de austeridade imposta na UE pela Alemanha a Portugal, e outros "países do sul" resume-se na essência a :
salvar os bancos e o sistema financeiro em geral, à custa dos cidadãos suas vítimas. Mas não de todos os cidadãos.
À custa principalmente (da classe média e ) dos mais pobres, poupando ou aumentando as fortunas dos mais ricos.
Aconselho-vos o livro de Mark Blyth, "A AUSTERIDADE - A História de uma ideia perigosa" e como aperitivo o vídeo em http://youtu.be/E1Kzp5EVUWg.
Mark Blyth calcula em cerca de 3 triliões de euros, à escala global, o buraco gerado pelo sistema financeiro internacional em consequência da sua desenfreada e aventureira ação de agiotagem, com as super alavancagens e a criação de produtos financeiros cada vez mais sofisticados e fora de controlo para sugar dinheiro.
A política de austeridade representa uma monstruosa transferência de riqueza dos que menos têm para os que têm mais e
sem que sirva sequer os objetivos que oficialmente se propões atingir, antes agravando-os como se vê em Portugal, com a dívida do Estado a crescer a par do agravamento da austeridade e do empobrecimento.
A política de austeridade imposta a Portugal pela Alemanha através da União Europeia, que controla, através do Eurogrupo que domina, através do BCE em que manda, está a levar o país aceleradamente ao desastre.
Isso não seria possível se o governo de Passos Coelho/Paulo Portas amparado por Cavaco Silva não se tivesse assumido - traindo quem o elegeu - como representante dos credores, como defensor dos interesses dos "mercados".
Se este governo legitimado pelo voto não tivesse perdido a legitimidade ao contrariar tudo o que prometeu se este governo não se tivesse revelado
uma espécie de capataz de interesses estrangeiros, de Merkel, do FMI, dos credores e agiotas internacionais, a situação seria diferente apesar dos constrangimentos da União Europeia.
Apesar do contexto europeu adverso não é indiferente ter um governo que defenda Portugal e os portugueses ou
um governo como o destes "cipaios" que querem ir além da Tróica, cujo sentido da dignidadede nacional é o de se colocarem ao nível dos empregados do BCE, da UE ou do FMI e de possivelmente aspirarem a uma confortável recompensa dos seus tutores logo que corridos pelos portugueses do governo.
Menos-valia
Sociólogo vê ‘regressão à barbárie’ e analisa o acúmulo de funções, a falta de segurança e a ausência de lazer
[Mônica Manir, O ESTADÃO de S.P., 22-12-2013, via MIC]
Elísio Estanque não vai estar dando respostas prontas nesta entrevista. Vindo do Alentejo, ele obviamente não prima pelos gerúndios característicos do infoproletariado, a massa de trabalhadores dos call centers. Mas a questão é mais que gramatical. Esse sociólogo de 61 anos se diz contra seguidismos e alinhamentos cegos. Tem estilo próprio. E vai direto ao ponto:
"O que vemos nas duas últimas décadas é uma regressão à autêntica barbárie no mundo do trabalho".
Professor da Universidade de Coimbra, Elísio sentiu a feia crise em seu país. No entanto, quando fala de barbárie, não trata apenas do desemprego brutal entre os jovens portugueses.
Quer discutir por que trabalhadores em geral - e não só os infoproletários - se distanciaram dos sindicatos e se trancafiaram num "individualismo negativo", sem direitos sociais básicos.
"Ninguém imaginava que, mesmo nas democracias avançadas, iriam surgir fenômenos de degradação humana nesse nível", afirma.
Ele fala de acúmulo de funções, de falta de segurança, de alta rotatividade, de vigilância escamoteada, de ausência de lazer, de exaustão.
Opina sobre o paradigma desenvolvimentista do Brasil, onde a taxa de desemprego de novembro, 4,6%, é mínima histórica. Também tem interesse em comparar a classe média portuguesa com a nossa "nova classe média", de que ele desconfia, e faz isso tudo a partir de Campinas, onde está desde janeiro como professor visitante da Unicamp, em companhia da mulher ucraniana.
Causou surpresa, na semana passada, o caso da redatora de uma agência de publicidade da Indonésia que morreu após trabalhar três dias seguidos em frente do computador.
O pai dela, diretor executivo de outra agência, disse que a filha passara de seu limite. Como medir esse limite em tempos de infoproletariado?
Ao tomar esse evento apenas como ilustração de muitos milhares de outros que têm acontecido nos últimos tempos, eu diria que essa PRESSÃO que faz com que o trabalhador seja levado pra lá do suportável das capacidades humanas depende de um clima geral que está a exaurir a classe.
Esse clima tem despojado o trabalhador daquilo que são - ou que foram - alguns direitos de segurança, de inserção social e de recompensas materiais e salariais.
Nas últimas duas décadas houve uma inversão na lógica do funcionamento da economia. O mercantilismo se reforçou e está a individualizar mais as relações de trabalho.
As pessoas ficam sob um controle ainda maior na medição dos indicadores da produtividade, dependente de serem ou não capazes de alcançar objetivos muitas vezes insuperáveis. Portanto, nesse caso da Indonésia e também em muitos acidentes de trabalho em que questões de segurança são descuradas, tudo representa uma vulnerabilidade muitíssimo grande do trabalhador.
E isso acontece tanto em segmentos mais qualificados e de ensino superior como naqueles de menor qualificação e trabalho indiferenciado.
Temos na construção civil, por exemplo, vários exemplos de risco que levam os trabalhadores a sofrer acidentes físicos, inclusive.
Nessa semana, aliás, ocorreu a morte de um operário na Arena Amazônia motivada, diz o sindicato da categoria, pela correria dos trabalhadores para entregar o estádio no prazo.
Há na história momento semelhante de tamanha vulnerabilidade do trabalhador?
Nos anos 1990, Ulrich Beck, alemão que estuda essas temáticas, falava da brasileirização do mundo.
Pensava na enorme precarização da força de trabalho na qual não há praticamente direitos, e sim uma enorme rotatividade e instabilidade.
Só que, na Europa, não se esperava que ela fosse tão brusca, tensa e violenta.
É um individualismo negativo que faz lembrar aquele que existia antes da Revolução Francesa, antes de a sociedade industrial moderna estar consolidada.
Era o trabalhador colocado como força bruta, como mercadoria, totalmente dependente daquilo que fosse do interesse das entidades empregadoras.
O que assistimos nas últimas duas décadas é uma espécie de regressão a esse período de autêntica barbárie. ...
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http://micportugal.org/index.htm?no=10003961
Menos -valia
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autêntica barbárie.
E isso é vivido, no caso dos trabalhadores da Europa, depois de eles terem passado por três décadas da chamada época de ouro do Estado previdente, quando a conquista de direitos repunha o trabalho num estatuto de reconhecimento social.
Há sete, oito anos, ninguém imaginava que, mesmo nas democracias mais avançadas, surgiriam fenômenos e situações de tamanha degradação humana.
Isso, de alguma forma, tem a ver com a inovação tecnológica?
A inovação tecnológica tem sempre duas faces: a brilhante e a obscura.
Há muito se vinha discutindo que, com a tecnologia, o trabalhador ficaria mais liberto do componente mais duro do trabalho, podendo usufruir de mais tempo livre.
Mas a inovação tecnológica não tem acarretado consigo mais liberdade, mais autonomia, mais emancipação.
Ao contrário: permite uma vigilância mais apertada. Ela cria uma precariedade que não é apenas objetiva e material, mas também psicológica, o que leva o trabalhador a recriar os instrumentos da própria vulnerabilidade.
Como isso acontece?
O trabalhador é colocado numa situação vulnerável não apenas porque sabe que pode ser deslocado de um momento para outro ou ser facilmente demitido, mas também porque incorpora a ideia de que é preferível aceitar qualquer que seja a condição de trabalho a não ter nenhum.
Daí que concorda em ser colocado numa posição de maior dependência.
E aceita de certo modo ser explorado até a exaustão, como naquela situação à qual nos referimos no início. Isso acontece na relação assimétrica de poder que ele mantém com a entidade patronal, uma entidade que muitas vezes nem conhece pessoalmente.
O acúmulo de funções seria uma faceta dessa exploração?
Isso se insere no paradigma das empresas enxutas, retórica enfocada a partir dos anos 1980 com o chamado Consenso de Washington, que levou a uma GLOBALIZAÇÃO maior dos mercados.
Isso intensificou imensos fluxos do capitalismo financeiro e colocou o capitalismo produtivo a sua mercê.
Na prática, isso se traduziu na tentativa de ESPREMER ao máximo o TRABALHADOR que fica na empresa, fez com que a polivalência deixasse de ser sinônimo de maior autonomia e margem de opção do trabalhador para torná-lo mais dependente de uma competitividade castigante.
Dentro das empresas também há uma condição muito estimulada entre os trabalhadores, os PRÉMIOS de produtividade, que muitas vezes são ilusão.
Se olharmos de um lado a multiplicação do lucro da atividade financeira e de outro os salários, há uma distância que se foi elevando nas últimas décadas em todos os países, a começar pelos EUA.
Resumindo, essa multiplicidade de competências aconteceu por imposição de cima para baixo.
A margem de negociação foi desaparecendo porque o próprio campo SINDICAL deixou de negociar as condições de trabalho, entre elas também as horas extras.
No caso das horas extras, seria o momento de resgatar o cartão de ponto?
O cartão de ponto nos remete aos setores mais burocráticos, aos setores dos servidores públicos, nos quais, apesar de tudo, ainda existe alguma previsibilidade.
A pessoa sabe que, quando deixar o local de trabalho, estará livre.
Mas me parece que essas situações sejam cada vez mais excepcionais porque os servidores públicos - pelo menos na Europa, no Brasil ainda é diferente -, estão sendo igualmente DESCARTADOS, enquanto os recursos públicos seguem muitas vezes a lógica do PRIVATISMO.
Eu diria que o cartão de ponto, neste momento, está no bolso de todo mundo. Está no celular, no computador, nos imensos meios técnicos que as empresas possuem para controlar o que cada um está a fazer a cada momento.
Como esse trabalhador pode reagir?
Desde que o capitalismo moderno se consolidou surgiram conflitos, como o movimento ludista, em que os trabalhadores destruíram as máquinas por temer que elas viessem a substituí-los no emprego.
Mas eles logo aprenderam que, sozinhos e isolados, não conseguiriam resistir de modo nenhum.
A resposta tinha de ser coletiva, por força do movimento sindical, que nos países mais avançados foi sendo institucionalizado e trouxe imensas conquistas para as condições de vida.
Mas hoje,
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Menos-valia
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... Mas hoje, num salto histórico para este momento de regressão, os SINDICATOS estão a ser o principal alvo da força do grande capital internacional.
Houve uma viragem de paradigma nas últimas duas ou três décadas. Os sindicatos temem ser agressivos, estão muito enfraquecidos.
Em parte porque, seja no INFOPROLETARIADO ou em outros vínculos laborais, as empresas e o trabalho tendem a ser terceirizados (e em 'outsourcing' e por empresas de trabalho temporário, e com LEGISLAÇÃO desreguladora, que DESPROTEGE os TRABALHADORES).
Note-se por exemplo que, aqui no Brasil, cerca de 1/3 da força de trabalho é terceirizada. Em Portugal, mais de 30% dos trabalhadores estão com CONTRATO a termo certo, ou seja, estão em situação de PRECARIEDADE.
As novas gerações de força de trabalho vão entrando no mercado em condição particularmente precária e dependente, individualizada e com MEDO.
Esse jovem não procura o sindicato?
Apesar de muitas vezes esse jovem ser sobrequalificado, pelo menos na Europa, já que o desemprego atinge mais aqueles que passaram pela universidade, ele NÃO procura os SINDICATOS.
E por duas razões:
- uma é a PRESSÃO que existe dentro das instituições do mercado de trabalho quanto a isso;
- outra é o déficit de confiança que as novas gerações têm rotineiramente em relação ao sindicalismo.
Ou seja, o próprio sindicalismo também não soube renovar-se e adaptar-se para responder de modo mais eficaz a esses problemas.
Portugal anunciou que gastará € 300 milhões para combater o desemprego jovem. Isso é suficiente?
Esse valor é, com certeza, insuficiente para programas de incentivo ao emprego de jovens que, na faixa abaixo dos 30 anos, ultrapassam os 40% de desempregados em Portugal. Na Espanha, são 50%.
É insuficiente sobretudo se não for acompanhado de outras políticas de incentivo à recuperação da economia,
o que só pode acontecer se houver, de novo, um investimento e uma alavancagem por parte do poder público e da intervenção estatal.
Porque, DESASTROSAmente, esse paradigma NEOLIBERAL parte do princípio de que tudo que é PRIVADO é eficaz e tudo que é público é custoso.
Se a economia não crescer, se não houver mais oferta de emprego e trabalho assalariado, é obvio que esses jovens continuarão a sentir-se sem futuro, em busca de qualquer saída.
No caso de Portugal, a saída tem sido MIGRAR para a Alemanha, Holanda, Luxemburgo e França, ou mesmo para o Brasil.
O desemprego no Brasil caiu para 4,6% em novembro, mínima histórica antes do fim do ano. O senhor vê esse cenário com otimismo?
O que tem acontecido no Brasil é um crescimento econômico muito significativo e uma melhoria notória nas condições de trabalho, porém justamente porque a base de partida era extremamente degradante e miserável para muitos setores.
E, ainda hoje, apesar das melhoras em termos de formalização do emprego em relação há 15 anos, repara-se nos altíssimos porcentuais de ROTATIVIDADE.
Minha leitura vale para todas as sociedades:
quando se avança segundo uma orientação progressista e emancipatória de maior COESÃO social, maior DIGNIDADE para as classes trabalhadoras, maior acesso à SAÚDE, à EDUCAÇÃO, à cultura, ao DESCANSO da mente, aí estaremos a caminhar no bom sentido.
Se o paradigma desenvolvimentista do Brasil sair triunfante dessa encruzilhada em que nos encontramos, é possível que a classe trabalhadora, nas próximas décadas, vá se beneficiar disso.
Mas neste momento há uma grande incerteza nesse sentido. Os poderes do CAPITALISMO GLOBAL são realmente ESMAGADORes.
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Elísio Estanque, 22/12/2013, http://micportugal.org/index.htm?no=10003961
Da Economia de Guerra num País Exangue...
(-por Ana Paula Fitas)
Considerando o enquadramento externo nacional e para evidenciar que aí não pode continuar a residir a nossa esperança de sobrevivência como país, escrevi um texto a que chamei "O Precipício Europeu"...
Entretanto, hoje, tive acesso a um extraordinário -porque frontal e contundente artigo, publicado no jornal francês LIBÉRATION... Vale a pena ler, nomeadamente porque, por cá, há muita dificuldade em
enfrentar e reconhecer a realidade e
a comunicação social parece ter como missão dissimular a gravidade dos factos,
colocando-se ao serviço de uma cumplicidade contrária ao interesse público.
O artigo intitula-se "ECONOMIA DE GUERRA EM PORTUGAL" e caracteriza um país explicitamente considerado "EXANGUE":
"(...) Le Portugal est un pays exsangue.
Le chômage officiel, qui approchait les 20%, a diminué ces deux derniers trimestres «à la faveur» d’une baisse de la population active.
Celle-ci est le fruit d’une émigration de masse dont les flux atteignent, voire dépassent, ceux des années 60 qui avaient vu un grand
exode des Portugais, fuyant la misère, la dictature et la guerre coloniale.(...)"
("clicar" sobre a citação para ler na íntegra).
http://www.liberation.fr/monde/2013/12/10/economie-de-guerre-au-portugal_965506
por: Cristina SEMBLANO Economiste, enseigne l’économie portugaise à l’université de Paris–IV Sorbonne 10 décembre 2013 à 17:06
Uma estratégia bem premeditada : REDUZIR o ESTADO ao MÍNIMO
[ Este Governo odeia tudo o que cheire a Estado
( e a Democracia, desenvolvimento, transparência, justiça, emprego e estabilidade, ascensão social, classe média, ... - educação, saúde e bem-estar para a maioria da população) ]
Nicolau Santos levanta neste seu artigo do Expresso aquilo que é a estratégia principal deste governo ao serviço do grande capital internacional.
Avançando/propagandeando que o que está a fazer é equilibrar as contas do país e lançar as bases para o crescimento de Portugal, este governo mente, não é capaz de assumir que o que pretende/deseja é um país onde os ricos tenham o poder absoluto e a democracia seja apenas um simulacro.
O CDS já deu o mote ao defender que o ensino obrigatório até ao 12.º ano tem de recuar porque ofende "a liberdade de cada pessoa querer aprender" e avança mais, ao dizer, aqui reside uma das razões para a elevada taxa de desemprego. Para ler o artigo clique sobre o texto.
Etiquetas: Estado, Governo, redução
# posted by Joao Abel de Freitas, PuxaPalavra
José Luís Arnault da "família" que nos governa e da do Goldaman Sasch
O Goldman Sachs premiou Arnaut com o lugar de membro do conselho de administração do seu conselho consultivo internacional. Os favores pagam-se. Arnault participou na recente oferta pública de venda dos CTT à Goldman Sachs e este banco agradeceu-lhe, lá saberá porquê.
Arnault faz parte da "família" que nos governa às ordens da ORDEM FINANCEIRA em que o Goldman Sachs é estrela principal.
'' José Luís Arnaut foi quase tudo no PSD: secretário-geral nos consulados de Marcelo e de Barroso (quando foi detectado o pagamento ilícito da Somague ao PSD), ministro de Barroso e deputado. Agora, dedica-se à advocacia. O seu escritório interveio em vários negócios popularizados por Passos Coelho como a “ida ao pote”, designadamente nos seguintes casos:
• Teve intervenção na privatização da REN, tendo sido, após a operação de venda, nomeado administrador não executivo pela República Popular da China;
• Assessorou o grupo Vinci (que não tinha experiência na área dos aeroportos) na privatização da ANA, tendo depois passado a presidir à assembleia geral da empresa;
• Foi nomeado assessor jurídico da TAP na operação de venda do capital do Estado, que, entretanto, borregou (não havendo por isso notícia de ter sido nomeado para os seus órgãos sociais);
• Participou na recente oferta pública de venda dos CTT à Goldman Sachs e este banco agradeceu-lhe com um lugar no conselho de administração do conselho consultivo internacional deste banco para “fornecer conselhos estratégicos sobre uma série de negócios, regiões, políticas públicas e questões económicas, em particular sobre Portugal e os países africanos de língua portuguesa”.
Quem diria que este licenciado em Direito pela Universidade Lusíada — conhecido no aparelho laranja por Asnô — se tornaria num alto quadro da finança internacional? Depois venham cá dizer que a JSD não é uma escola que fabrica grandes quadros.''
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Nota: O post foi alterado. Esta informação obtive-a através de José Curado Gaspar Matias no Facebook.
Etiquetas: José Luís Arnault. Goldman Sachs, privatização dos CTT.
# posted by Raimundo Narciso , PuxaPalavra, 10/1/2014
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Veículos dourados :
A Sachs de oiro sempre foi um veículo que os fez ascender socialmente muito alto.
LNT
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No entanto as coisas são diferentes:
Gaspar parte para o FMI num retorno normal, uma vez que tinha sido o FMI que o indicado como seu agente no Ministério das Finanças de Portugal;
Santos Pereira parte para a OCDE na sequência de um concurso. Não se trata de uma nomeação mas sim de uma escolha mediante a avaliação de competências para desempenhar o cargo;
Arnaut parte para a Goldman Sachs num acto de agradecimento por serviços prestados.
Um vai porque de lá nunca tinha saído, o outro vai por selecção entre pares e o outro vai porque "tem Mundo" neste cu de mundo.
Não há possibilidade de confundir as coisas e quem o faz só pode estar a fazê-lo por mal (ou porque acha que informação e conhecimento são a mesma coisa).
LNT [0.027/2014]- ABarbearia do sr.Luis, 13/1/2014
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