A economia política está à vista (-por J.Rodrigues)
Temos insistido, por exemplo com a metáfora da
ida ao pote, que uma das principais e mais
perversas orientações das políticas públicas
neoliberais é a transformação dos serviços públicos em outras tantas oportunidades para negócios – da saúde à educação, das prisões aos
centros de emprego: “O Governo quer avançar com a colaboração entre os centros de emprego e as empresas privadas de recursos humanos na gestão e colocação de desempregados não subsidiados.” Obviamente, esta
tendência predatória adensa a rede entre a política e o grande capital, essencial no capitalismo realmente existente, o que obriga a sair do romance do mercado para a realidade do poder e das suas redes,
tanto mais fortes quanto mais fracos são os freios e contrapesos sindicais ou de controlo social através da propriedade e gestão públicas de sectores essenciais. Dois exemplos desta saída do romance para a realidade são o trabalho sobre os mais poderosos do Negócios e
Os Donos de Portugal: têm agora uma
infografia e uma
visualização interactiva que vale a pena ver. --- (Também aqui na coluna à direita, em «
destaque do mês» de janeiro 2014 apresenta-se :
Um ecossistema ystem ofpolítico-empresarialcorporate politicians,,,, Portugal 1975-2013 (via
http://pmcruz.com/eco/ ). Clic na aplicação para ter uma visualização interactiva das
relações de (ex-)membros de Governos de Portugal com empresas e grupos económicos.
ive visualization of the relations between members of Portuguese governments and companies Tendo cada empresa um tamanho proporcional ao número de (ex-)políticos que participam nessa empresa (como acionistas, administradores, dirigentes, ...).- Será que existe mesmo grande correlação entre a promiscuidade política/políticos e os negócios ... ?
É que a falta de interesse do parlamento/ A.R. em melhorar a "lei das incompatibilidades" (e o nepotismo, o tráfico de influências, fontes privilegiadas, as regalias de deputados e ...), o "período de nojo" após o exercício de cargos políticos, as despesas da sua própria 'casa/A.R.' (e da P.R. e gabinetes governamentais), deixam muito a desejar em termos de exemplo a seguir pelos cidadãos... - pois «à mulher de César não basta ser séria...» e a Democracia e a Res Púbica exigem transparência, justiça e igualdade de tratamento e de acesso.
O elogio às comissões de inquérito (da A.R.)
(-por Daniel Oliveira, 8/1/2014, Arrastão e Expresso online)
Por causa do inenarrável relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito aos SWAP, que teve como única vantagem dar a conhecer ao País a não menos inenarrável deputada que escreveu o dito, voltou a ladainha do costume: as comissões de inquérito não servem para nada.
Os prevaricadores agradecem. Se há coisa que qualquer maioria dispensa é comissões de inquérito credíveis.
As comissões de inquérito têm uma função:
averiguar do cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os atos do Governo e da Administração.
É uma função central do parlamento. E isso consegue-se em dois momentos:
no período de inquérito, público e aberto à comunicação social, e na aprovação dum relatório final.
Na realidade, o essencial acontece na primeira fase.
Muitos dos jornalistas e comentadores que desprezam estas comissões foram, nos últimos anos, buscar-lhes imenso material para o seu trabalho.
Muito do que ficaram a saber sobre o BPN, sobre as PPP e até sobre os SWAP foi graças a estes inquéritos públicos.
E se o público em geral não é capaz de fazer o seu próprio juízo sobre as responsabilidades de cada um nestes três casos, quer dizer que
ou não se interessou
ou a comunicação social falhou na sua função de informar, o que passa sempre por traduzir para uma linguagem acessível o que é complexo por natureza.
Só depois do inquérito vem o relatório.
Na realidade, não tendo qualquer valor judicial, e tendo sido as inquirições feitas perante os olhos de todos, ele é quase irrelevante. Não há ali uma sentença.
E talvez seja este o maior equivoco de em relação às comissões de inquérito. Há gente que espera que ali seja feita justiça.
Só que, apesar de ter poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, não cabe a estas comissões fazer justiça. Cabe aos tribunais.
Ainda assim, nas comissões parlamentares do BPN, das PPP e dos SWAP foi recolhida informação documentada que foi enviada ao Ministério Público.
Por uma vez, façamos alguma justiça à nossa democracia.
Apesar de todas as tentativas de instrumentalização, apesar de se misturar tudo para tudo parecer de igual relevância,
tem sido menos habitual do que no passado o bloqueio, por parte das maiorias, ao funcionamento destas comissões.
E elas têm tido muito mais exposição mediática, que é uma condição para o cumprimento duma das suas funções (a da transparência do Estado).
Se há momento em que deixou de fazer sentido dizer que as comissões de inquérito não servem para nada é nos últimos anos.
Sim, muitas vezes os relatórios são parciais e não correspondem ao que aconteceu no inquérito.
Sim, irrita constatar a incapacidade de ter no parlamento espíritos livres e independentes.
Sim, incomoda saber que há tanta gente na política que nunca critica o seu partido.
Mas muitos dos que se irritam e incomodam costumam ser bem lestos a tratar as discordâncias internas nos partidos como sinal de fraqueza do seu líder.
E a comportar-se, na sociedade, com a mesma obediência acrítica ao poder mais próximo.
Somos uma sociedade pouco democrática, com inúmeras dependências,
politicamente pouco sofisticada e que desvaloriza o confronto de opiniões, como se vê pelo sucesso de todos os apelos à "unidade nacional" e ao "consenso político".
Porque havia de ser diferente dentro de cada partido?
Mas a falta de rigor dos relatórios, desmerecendo os deputados que os escrevem, não apaga o que aconteceu nas comissões.
A convicção geral de que elas não servem para nada diz muito mais da falta de exigência dos cidadãos consigo próprios do que sobre o funcionamento (que genericamente é deficiente) da Assembleia da República.
Para quem se quis informar, a comissão de inquérito dos SWAP (assim como as das PPP e do BPN) deu muito material.
Só que não há comissões de inquérito que valham a um país que não lê jornais e acompanha pouco a vida política.
É que para a transparência do Estado ter algum benefício público é preciso que alguém esteja a olhar para lá.
JOGOS DE CASINO.
(-por Tomás Vasques, em 08.01.14, )
Os “mercados” estão a aliviar a pressão sobre os juros da dívida soberana portuguesa, tal como acontece nos países da Europa com maiores dificuldades financeiras. A Irlanda, a Itália, a Espanha estão, também, a beneficiar desta tendência geral, tal como a Grécia e a Eslovénia. Neste imenso casino global, em que os Estados soberanos se transformaram em “máquinas de jogo”, onde os “investidores” fazem as suas apostas, como se estivessem numa mesa de roleta ou numa pista de cavalos, só há um perdedor: a imensa maioria da população europeia a quem é sonegado grande parte dos seus rendimentos e lançada na miséria para poder alimentar a ganância dos “mercados”. É este o “maravilhoso” mundo novo dos neoliberais, contra ao qual – dizem-nos – não há alternativa: governos “soberanos” curvados e obedientes aos “senhores do dinheiro”. A lógica dos “mercados”, que tomou conta do discurso oficial dos governos europeus, são a ante-câmara de um novo modelo de campo de concentração, para onde se atiram milhões de pessoas com salários mensais que não dão para pagar um jantar de um ministro ou desempregados a vegetar por aí. Como escreveu Maiakovski:
Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Os cordeirinhos de Wall Street
(-14/1/ 2014Penélope, AspirinaB
O Económico publica hoje uma entrevista a um português que trabalha na Goldman Sachs. Pois é.
Depois de um brevíssimo período de discrição, a gigante financeira voltou ao Olimpo e anda por aí a procurar repetir que comanda.
E onde trabalhava António Esteves antes da Goldman Sachs? Não adivinharam.
Na Merril Lynch, que foi à falência na crise do subprime, contribuindo para tudo o que se seguiu, que não foi nem está a ser bonito, graças a fraudes e mais fraudes.
Este homem diz-nos agora que, pelas suas altíssimas qualidades, foi, depois do desastre, convidado para a Goldman Sachs, onde é “partner” e, segundo diz, corresponsável pelo desempenho da organização.
Eis como descreve o que aconteceu (bold meu):
“Começo a carreira no Deutsche Bank em 94, em Lisboa. Depois de dois anos e meio passo para o Santander Negócios em Portugal e trabalho até 1998.
Nesse ano recebo um convite da Merrill Lynch mesmo antes da entrada em vigor da moeda única. Em 2007, quando rebenta a crise, a Merrill Lynch é das primeiras a serem AFECTADAS e, em 2008, recebo uma série de convites de bancos, sendo que o da Goldman Sachs foi o que mais me atraiu.”
A serem afetadas, disse? Oh, pobre vítima.
A bandalheira era o seu core business!
Em 2008, afundaram-se com perdas de 8,5 mil milhões de dólares, obrigando à intervenção do Bank of America.
E prossegue, pronto para outra, já todo refeito e penteado no novo emprego, pois não teve nada a ver:
“A Goldman Sachs é um banco que tem a capacidade de atrair o melhor TALENTO que existe (note-se como o talento já andava pela Merrill Lynch).
Quando uma instituição tem as melhores pessoas a trabalhar para ela, essas pessoas poderão depois acabar noutros lugares de INFLUÊNCIA. Isso é normal.
Não é por aí que é diferente de outras entidades.
Tem é esta cultura de ‘partnership’ em que todas as pessoas são co-responsáveis do que o banco faz.”
Sem dúvida. Todos responsáveis é igual a NINGUÉM responsável.
Quanto ao “acabar NOUTROS lugares de influência”, já tínhamos ouvido falar, mas assim está muito mais claro.
E para terminar, AMEAÇAndo-nos com a vontade de ajudar:
“Assistimos a muitos casos de pessoas que saem da banca de investimento para o Estado? Pondera dar esse passo?
Não sei. É uma pergunta muito difícil. Neste momento, AINDA não. Quero muito AJUDAR Portugal[…]”
Oh God! Como o saudoso António Borges nos ajudou? Please, não!
Ainda há uma diferença grande entre uma instituição financeira, com acionistas interessados em ganhar dinheiro,
e uma instituição de ajuda humanitária, que é o que muitos portugueses precisam depois das vossas brincadeiras.
Pelo que, do que precisávamos mesmo era de uma empresa de DESINFESTAÇÃO.
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Claro como breu
(13 /1/2014Penélope)
A ida de José Luís Arnaut para o conselho consultivo internacional da Goldman Sachs é mesmo muito vantajosa para Portugal, não é?
É lá que este bravo vai lutar pela defesa dos interesses do país, de que é exemplo a privatização dos CTT, não é?
Já António Borges tinha lá feito um bom trabalho em prol não só de Portugal como da economia mundial, não tinha?
Se a situação económica do país melhorar,
este governo vai investir na educação/qualificação dos portugueses e na investigação científica, não vai?
O CDS e o PSD governaram tão bem que conseguiram dar a volta e dinamizar a economia portuguesa, foi isso?
Como prémio de tanta competência e sabedoria, os portugueses vão querer vê-los a governar até 2019, não vão?
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