
A declaração de Cristiano Ronaldo de que é pai e as reacções em redor desta notícia revelam que continuamos a considerar as crianças, antes de mais, como bebés-objecto. Bens que pertencem a quem detiver o registo de propriedade e que podem ser trocadas e alienadas a gosto dos adultos.
Não é uma coisa nova, sobretudo nas classes mais altas em que os pais dispunham da vida dos filhos para com elas fazer ou consolidar alianças, mas é uma coisa triste, incompatível com os direitos das crianças que hoje queremos ver postos em prática. Quer os pais tenham ou não fama e dinheiro.
Num primeiro momento, a notícia deixa qualquer um feliz. Ao assumir o filho recém-nascido, presume-se que de uma relação ocasional, Ronaldo porta-se bem. Não faltam exemplos de homens que recusam a prestar-se ao teste de ADN, quanto mais a acolher a criança. Mas onde começamos a tropeçar é nos “direitos exclusivos” que o pai anuncia, ufano, como se o filho fosse só seu.
Como se fosse bom para alguma criança ser rejeitada ou eventualmente vendida pela mãe, como se fosse um jogador de futebol a quem se comprasse o “passe”. O furor feito à volta desta notícia deixa claro que, para muita gente, ser filho do CR já é mais do que bastante (“E o puto só se for um ingrato é que não agradece!”). Mas ser filho só de um pai, ou só de uma mãe, não chega, e ser capaz de exercer em conjunto os direitos parentais, mesmo quando separados, é o que os bons pais devem aos filhos.
Finalmente, a hipótese da barriga de aluguer. Embora inverosímil, foi propagada com entusiasmo pelos média, como se fosse ético e normal alguém pagar a uma mulher para gerar, dar à luz e ceder uma criança. Como se tivéssemos todos passado a achar que os ricos têm direito a reger-se por leis morais feitas em Hollywood.
- Por Isabel Stilwell, Destak
Estas conversas de economistas que todos os dias vemos na televisão ou lemos nos jornais, que os problemas do 'mundo' são problemas económicos e se resolvermos os problemas económicos pelos mecanismos da economia o 'mundo' fica salvo é, para mim, conversa da treta.
O número e a gravidade dos casos de violência contra as mulheres evidenciam algo que, na história da vida privada, sempre existiu mas não era anteriormente assumido e relatado. Quando eu era criança, conheci ainda algumas mulheres que se sentiam privilegiadas por os maridos nunca lhes baterem, nem baterem aos filhos do casal.
Na verdade, os comportamentos violentos e agressivos, mais frequentes nas famílias humildes, não eram vistos como criminosos e eram mesmo tolerados pela sociedade. E talvez os homicídios no âmbito familiar fossem então menos frequentes do que hoje, porque a violência quotidiana alimentava e satisfazia o poder dos "donos da família".
No entanto, convém distinguir dois tipos de agressões. Há a agressão quase psicopática, que utiliza a violência como meio de satisfação e conservação do domínio tirânico sobre a família, mas há também uma agressão neurótica, de outra natureza, que pode revelar uma perturbação psíquica ou emocional gerada por diferentes factores.
Em ambos os casos as vítimas têm de ser protegidas, mas as respostas do Direito devem ser diversas. No primeiro caso, há que afirmar uma censura forte ao agente e aos valores que o motivam, através da aplicação de penas severas. No segundo caso, para além da aplicação de penas, importa pensar em medidas complementares de terapia.
De todo o modo, há alguns anos que se iniciou, em Portugal, uma crítica sistemática e profunda à violência contra as mulheres. No plano legislativo, a Revisão de 2007 do Código Penal culminou esse movimento, com a consagração, em termos consideravelmente amplos, do crime autónomo de violência doméstica, a par do crime de maus tratos.
Mas já antes, em 2000, fora mudada, no Código de Processo Penal, a natureza jurídica do crime de maus tratos, que passou a ser um crime público. Desde então, pode – e deve – ser instaurado procedimento criminal se as autoridades judiciárias ou os órgãos de polícia criminal tomarem conhecimento do crime, independentemente da apresentação de queixa.
Existe hoje, por conseguinte, uma consciência crescente de que os crimes de violência doméstica são intoleráveis. Mas importa reforçar a repulsa social contra as formas de opressão familiar. Com ilhas de violência não há democracia, pois esta implica a igual dignidade de todas as pessoas, na sociedade e na família. Os poderes privados nunca são legítimos. Várias notícias recentes demonstram que há muito por fazer para prevenir estes crimes.
Falta ainda transformar a luta contra a violência doméstica numa verdadeira paixão política, com utilização dos meios de intervenção social mais eficazes e campanhas mediáticas intensas, apelativas e de grande impacto, como tem acontecido em Espanha.
[Correio da Manhã, Fernanda Palma]
Histórias de vida
Vejam lá se gostam desta lição de história que nos foi contada por um ilustre historiador da Marinha.
“Nos tempos idos do fascismo, o pai de António Oliveira Salazar era feitor numa grande propriedade do velhote Perestrello situada lá para os lados de Santa Comba Dão. Perestrello teve dois filhos, um rapaz e uma rapariga. A menina ainda foi namorada de Salazar e o rapaz, mais conhecido pelo Perestrello Vasconcellos, que cursou engenharia, quando Salazar chegou ao poder colocou-o como administrador da Casa da Moeda e posteriormente, em 1939, assumiu a gestão do Arsenal do Alfeite.
Perestrello Vasconcellos morreu em 1962 e deixou seis ou sete filhos, dos quais um deles foi engenheiro naval, na Lisnave, e outro, sentiu vocação para sacerdote e veio a ser capelão da Marinha. Em 1959, o capelão Perestrello Vasconcellos fez parte da célebre conspiração "Caso da Sé", na qual participaram vários opositores ao regime como Manuel Serra. Na eminência do capelão também ser preso, o presidente do governo Oliveira Salazar chamou a S. Bento o pai do capelão Perestrello Vasconcellos e aconselhou-o a mandar o filho para o Brasil para que não tivesse o desgosto de ver um filho na prisão. Tudo em consideração ao velhote Perestrello de quem o pai de Salazar tinha sido feitor.
E foi assim, que o padre Perestrello Vasconcellos debandou para o Brasil. Nos anos 70 com a primavera marcelista do primeiro-ministro Marcelo Caetano, o padre Perestrello Vasconcellos regressou a Portugal e foi exercer o sacerdócio na paróquia de Loures.
Num belo dia, o admirado e venerado padre Perestrello Vasconcellos, em plena missa dominical, deixou os paroquianos atónitos e lavados em lágrimas. Anunciou que iria deixar o sacerdócio porque se apaixonara por uma senhora da família Lorena. O padre passou à sua condição de cidadão com matrimónio e dessa união nasceu Marcos Perestrello Vasconcellos, o ex-vereador socialista da Câmara de Oeiras e actual secretário de Estado do governo do Partido Socialista.
Conclusão da história: o fascismo e a Igreja Católica deram à luz ilustres socialistas…”
P.S.: Na verdade, verdadinha é que todos, de uma forma ou de outra, todos somos provenientes da mesma mistura. O que me parece grave, muito grave mesmo, é que uns e outros não tenhamos conseguido libertar-nos, ainda dessas raízes que nos prendem os passos e nos tornam tão tacanhos e obsoletos. É por isso que, há quem diga, “da cunha à corrupção não dista um passo de formiga” e é bem verdade. Continuamos feudais e feudalizados, a viver em quintas e senhorios. Como no tempo do Salazar.
Mário Cordeiro, pediatra, disse numa conferência organizada pelo Departamento de Assuntos Sociais e Culturais da Câmara Municipal de Oeiras, que muitas birras e até problemas mais graves poderiam ser evitados se os pais conseguissem largar tudo quando chegam a casa para se dedicarem inteiramente aos seus filhos durante dez minutos.
Ao fim do dia os filhos têm tantas saudades dos pais e têm uma expectativa tão grande em relação ao momento da sua chegada a casa que bastava chegar, largar a pasta e o telemóvel e ficar exclusivamente disponível para eles, para os saciar. Passados dez minutos eles próprios deixam os pais naturalmente e voltam para as suas brincadeiras. Estes dez minutos de atenção exclusiva servem para os tranquilizar, para eles sentirem que os pais também morrem de saudades deles e que são uma prioridade absoluta na sua vida. Claro que os dez minutos podem ser estendidos ou até encurtados conforme as circunstâncias do momento ou de cada dia. A ideia é que haja um tempo suficiente e de grande qualidade para estar com os filhos e dedicar-lhes toda a atenção.
Por incrível que pareça, esta atitude de largar tudo e desligar o telemóvel tem efeitos imediatos e facilmente verificáveis no dia-a-dia.
Todos os pais sabem por experiência própria que o cansaço do fim de dia, os nervos e stress acumulados e ainda a falta de atenção ou disponibilidade para estar com os filhos, dão origem a uma espiral negativa de sentimentos, impaciências e birras.
Por outras palavras, uma criança que espera pelos pais o dia inteiro e, quando os vê chegar, não os sente disponíveis para ela, acaba fatalmente por chamar a sua atenção da pior forma. Por tudo isto e pelo que fica dito no início sobre a importância fundamental que os pais-homem têm no desenvolvimento dos seus filhos, é bom não perder de vista os timings e perceber que está nas nossas mãos fazer o tempo correr a nosso favor.
[Boletim da Acreditar]
Telenovelas também são causa de endividamento de famílias
As telenovelas são um importante factor de endividamento das famílias, porque induzem padrões de vida e de consumismo como meios para atingir a felicidade e não têm personagens com prestações por pagar, nota o economista e docente Óscar Bernardes.
Numa acção de formação que ministrou em Coimbra, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, afirmou que esses programas televisivos de entretenimento são feitos de forma a que as pessoas se identifiquem com personagens.
«Há sempre alguém que tem um padrão de vida real», referiu, acrescentando que mesmo que essas personagens vivam dramas no pequeno ecrã «depois vão seguindo o caminho da felicidade e as pessoas querem imitá-las porque se identificam com elas».
Segundo o docente no Instituto Superior de Paços de Brandão, nas telenovelas «toda a gente tem cavalo, criadas não faltam, há adolescentes com motorista, que são donos de bar e de escola, um faz motocrosse, os quartos são fantásticos, e há ‘n’ portáteis, e não há ninguém que tenha de pagar prestações, que viva num bairro e tenha uma vida miserável».
«As pessoas que têm uma vida horrível e que começam a identificar-se com a personagem da novela pensam que podem ter uma vida como ela e vão copiá-las», observou.
Óscar Bernardes, que ministrou em Coimbra uma acção de formação em Economia Doméstica dirigida a técnicos e beneficiários do RSI (Rendimento Social de Inserção), salientou que as telenovelas induzem comportamentos de consumo e muitas vezes «as suas histórias são construídas pelas próprias marcas» de produtos e serviços, que são utilizados pelos «heróis» do pequeno ecrã.
«Nunca se viu um marketing tão agressivo, com promoções e saldos. É uma sociedade consumista em que o ideal de felicidade e realização passa por ter telemóvel, um bom carro e ir ao cinema todas as semanas», exemplificou.
Na acção de formação organizada pela Rede Social da Câmara de Coimbra e pelo núcleo distrital da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN), Óscar Bernardes deu alguns truques para evitar a aquisição de bens supérfluos, porque se estima que as pessoas comprem mais de 85 por cento do que aquilo que necessitam.
Ir ao supermercado com tempo, sem os filhos e sem fome, procurar os produtos nas prateleiras de baixo, porque é onde se localizam os mais baratos, optar por marcas brancas e levar uma lista feita em casa à medida das necessidades foram alguns conselhos que deixou. [SOL]
Família, um conceito amplo e diverso que varia conforme cada cultura, região, circunstancia ou conjugação de interesses.
O conceito de família diverge de país para país e em cada um deles também assume diferentes conotações, veja-se o caso italiano.
“Família” em termos etimológicos deriva da palavra latina “famulus”, que significa “escravo doméstico”. A família representa um grupo social primário, no sentido mais restrito do termo, que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições.
Embora tenha evoluído bastante e, hodiernamente, se apelide de família as mais diferentes formas de agrupamentos de interesses a verdade é que a sua origem não foi feliz nem o é em muitos dos casos a que nos tempos modernos se aplica essa designação grupal.
Muito se falou das listas concorrentes tanto à legislativas como às eleições autárquicas realizadas no passado Domingo e que neste caso com frequência demasiada se verifica ser, pouco mais que agrupamentos familiares nos sentido primitivo do termo, “grupo social primário”.
A comunicação social, mesmo a televisiva, fez eco de um caso concreto de uma freguesia nos Açores, concorrente à eleições do passado dia 11, entre avós e netos, pais e filhos, cunhados e sobrinhos, se resumia a uma só família.
Este fenómeno poderia constatar-se em outras listas concorrentes que, em número significativo, são constituídas em torno de três ou quatro famílias.
Idêntico fenómeno se verifica nas escolhas dos elementos para constituir as mesas de voto e não é caso para menos visto que há já alguns anos esta presença no escrutínio eleitoral dá não só direito de ficar ausente ao trabalho no dia seguinte como, ainda, um abono de 76,00€.
É sabido, como abundantemente tem sido divulgado pelos Órgãos de Comunicação Social, que um número significativo dos “dinossáurios” (uma espécie de pequenos salazares auto-perpectuados nos lugares) vão ter de “abandonar” a família autárquica, não por vontade própria mas porque a lei os obriga. Não refiro aqui os nomes porque são muitos e o que mais importa é a substancia antidemocrática do fenómeno.
A lei deveria, no sentido da qualificação da democracia, obrigar os partidos políticos a não incluir cidadãos quer nas listas que propõem a votos como nas de representantes nas mesas de voto além de três vezes seguidas. Há famílias que só não levam o gato e o periquitos a participar nas mesas de voto porque estes, uma vez em liberdade, fugiriam desta democracia.
Certamente que uma regulamentação desta natureza acabaria por constituir uma vantagem partidária, um enriquecimento democrático e a apropriação de uma maior consciência cívica e de cidadania por parte dos eleitores e cidadão em geral.
Sendo que, concomitantemente, o país sairia a ganhar e a sociedade tornava-se bastante mais coesa.
Creio, sem embargo de contestação, que são estas atitudes que mais distinguiriam a actual democracia da ditadura que nos governou durante 48 anos.
No próximo ano comemoram-se os 100 anos de implantação da República, caso não haja a cautela necessária tais comemorações correm o risco de branquear os períodos negros, os buracos escuros em que o que comemoramos agora esteve mergulhada. É por isso absolutamente necessário distinguir tais períodos bem como as diferentes famílias influentes em cada um deles. Se assim não for, as ditas comemorações tornar-se-ão um embuste enganador.
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