Como ilustra
este gráfico, quanto maior é a
centralização da negociação salarial entre patrões e sindicatos menores tendem a ser as desigualdades salariais. O “fórum”, que substitui o “mercado”, ou seja, a correlação de forças dentro de cada empresa, é sempre mais igualitário.
A ideia liberal do
governo – “pretende-se aumentar a competitividade do mercado de trabalho, através da adopção de mecanismos de
descentralização da contratação colectiva, privilegiando a negociação de base empresarial” – é parte da
política de fragilização dos sindicatos, de aumento da discricionariedade patronal, empresa a empresa,
e de aumento das desigualdades salariais.
O sucesso laboral do “modelo nórdico” assentou em instituições de negociação colectiva facilitadas por elevadas taxas de sindicalização. Isto também favoreceu coligações em defesa do Estado social universal. Este é o segredo do seu relativo igualitarismo.
A Dinamarca,
por exemplo, com metade das desigualdades salariais de Portugal, gastava, em 2007, 45 000 euros por desempregado; Portugal gastava 8 000 (valores ajustados ao poder de compra).
Por isso é que o ex-primeiro ministro dinamarquês Poul Rasmussen, o da flexisegurança, deixou um aviso sensato quando esteve em Portugal:
“Se em Portugal decidem de um dia para o outro cortar a protecção laboral, arriscam-se a que tudo o resto não se chegue a realizar. E os empregos precários tornam-se na regra da economia”.
Reduzir direitos laborais e cortar nas prestações sociais é a receita para o desastre laboral, gerando os incentivos para uma variedade de
capitalismo cada vez mais medíocre. A constelação de instituições e de políticas que geram
empregos decentes, apontada pelo economista do trabalho
David Howell, fica cada vez mais distante. De resto, os países com
estruturas negociais mais robustas, mecanismos de partilha e maior protecção laboral e social dos trabalhadores
parecem ter aguentado melhor o embate destrutivo da crise em termos de emprego.