Hoje, o sistema bancário nacional está completamente dependente do apoio público. O seu financiamento é garantido através do Euro sistema a taxas de juro de referência de 0,25%. A sua capitalização teve que ser empreendida pelo Estado, em 5,6 mil milhões de euros, devido à incapacidade dos seus acionistas. E, no entanto, ao contrário da narrativa governamental, a banca continua enfraquecida. Na sua atividade, os quatro maiores bancos nacionais totalizaram 1200 milhões de prejuízos até setembro.
As causas são fáceis de identificar: com a austeridade e recessão que assola o nosso país o número de empresas e famílias incapazes de cumprir com os seus contratos de crédito não pára de subir. Assim, com a continuação da austeridade e crise no futuro não é expectável qualquer reversão desta tendência. Os balanços da banca continuarão a degradar-se, consumindo o capital entretanto injetado pelo Estado e bloqueando qualquer extensão de crédito à economia portuguesa.
Os empréstimos públicos realizados no processo de recapitalização são apresentados como tendo preços acima do mercado. Esta afirmação não faz qualquer sentido. Não existe mercado, e logo não há nenhum preço de mercado, já que a banca não se conseguia financiar através de agentes privados. Ainda assim, importa notar que os juros pagos pela banca por estes empréstimos do Estado são dedutíveis no IRC da banca paga ao Estado. Ou seja, na verdade, estes juros têm um desconto real de 25% (taxa nominal do IRC) naquilo que é pago ao Estado.
Finalmente, os representantes do Estado nos bancos intervencionados não têm poder para reconfigurar o modelo de negócio atual da banca que, por exemplo, faz uso do financiamento barato do BCE para comprar dívida portuguesa no mercado secundário a uma taxa de juro muito superior, no que são lucros seguros feitos à custa dos portugueses. Medidas como o eventual corte nas remunerações das administrações da banca, além de mero número demagógico (os salários auferidos não têm qualquer limite em valor), servem só para criar uma cortina de fumo sobre o que é preservação a todo custo do poder financeiro em Portugal.
Este ano, as 25 maiores fortunas do país perfazem 16,7 mil milhões de euros, 2,3 mil milhões a mais do que em 2012, este valor corresponde a 10% do produto interno bruto (PIB), sendo equivalente a todo o dinheiro que o Estado português foi buscar aos mercados com a emissão de dívida a curto prazo este ano. “Os tempos podem ser de crise, mas as maiores fortunas nacionais continuam a crescer”, avança a revista.
No topo da lista dos mais ricos de Portugal encontra-se Américo Amorim que, tendo conseguido duplicar a sua fortuna em apenas um ano, com a subida de flecha do preço das ações que detém na Galp Energia, no Banco Popular e na Corticeira Amorim, voltou a conquistar o primeiro lugar do pódio, destronando Alexandre Soares dos Santos, agora em segundo lugar. A sua fortuna, avaliada em 4,5 mil milhões de euros, é superior ao esforço de austeridade exigido para este ano.
Ainda que tenha descido na classificação, Soares dos Santos (PDoce) viu a sua fortuna aumentar de 2,1 para 2,2 mil milhões de euros.
Em terceiro lugar surge a família Guimarães de Mello (Cuf), com uma fortuna de 1,7 mil milhões de euros.
Belmiro de Azevedo (Sonae/Continente), mantém o quarto lugar ranking, com uma fortuna de 1,2 mil milhões de euros, o dobro do valor apurado em 2012.
Maria Isabel dos Santos (uma das principais acionistas da Jerónimo M./PDoce), volta a ser identificada como a mulher mais rica de Portugal, subindo do 9.º lugar para o 7.º lugar, com uma fortuna de 574,9 milhões de euros.
Nos primeiros dez lugares do ranking surge ainda Maria do Carmo Espírito Santo Silva (BES), com uma fortuna avaliada em 497,4 milhões de euros.
E na Europa e em Portugal como é ?! Excelente apresentação (em inglês) sobre a desigual distribuição da riqueza nos EUA , a percepção do que os cidadãos pensam ser a realidade, o seu desejo/ideal, e o que é realmente ! A distribuição de riqueza é aberrantemente desigual e injusta. Esta situação é péssima e agrava-se para os cidadãos que estão abaixo da classe dos 80%, pior para os abaixo dos 60%, dos 40%, e dos miseráveis abaixo dos 20% ...).
Por outro lado, 1% dos cidadãos (os hiper-ricos) detêm 40% da riqueza do país !!, por exemplo, os presidentes das grandes empresas recebem, não 10x mais, mas até 380x mais do que recebe o trabalhador médio dessa empresa !!
["Governo pequeno/ fraco é 'assobio de cão fascista' para: (favorecer) maior controlo/ poder das grandes empresas/ multinacionais/ alta finança", i.e., o Estado/ interesse público fica dominado/ afogado/ 'na mão' das grandes empresas, oligarquias e lobbies ... com as suas concessões, contratos (PPP, 'swaps', cláusulas leoninas, ...), 'outsourcings' (até fiscalizador e legislativo !), consultorias, isenções, subsídios, comissões, juros agiotas e rendas exorbitantes quesugam o Estado/contribuintes e sugam os cidadãos/clientes.]
Esta imagem explica eloquentemente a retórica da direita neoliberal com uma clareza espantosa. Eles não se calam, sempre com propaganda (e 'novilíngua orweliana' de significado alterado/ 'especial': 'nacional', patriótico, empreendedorismo, 'mercado's, 'liberal', liberalização, 'flexibilização', privatizar, moderno, globalização, 'investimento', crise, 'gorduras', 'reformas', estruturais, estratégicas, 'não há alternativa', ...) e ameaças entre os dentes, vão da Ayn Rand para o Hayek e voltam, citam filósofos, metem o Adam Smith e o John Locke em todos os argumentos, mas no fim do dia o que está em causa é um ataque concertado à democracia e à classe média que a sustenta. Os miseráveis vão sempre ser de direita, como têm sido desde o neolítico: querem é bola e Fátima e fado, e serão sempre os primeiros a fazer fila para se alistarem, lutarem e morrerem por reis e por cardeais, pela indústria do petróleo, pela do alumínio, ... e pela 'nação'/ 'nacional salvação' (dos oligarcas privilegiados e seus desGovernantes fantoches). Os inimigos da cleptocracia(do desgoverno com roubo, furto, burla, apropriação indevida de bens públicos, de gestão dolosa, do nepotismo, tráfico de influências, corrupção, assédio, prepotência, ditadura ...) são a classe média. São as pessoas que lêem livros e jornais e têm aspirações de liberdade, civilização, transparência, justiça, cultura, democracia, paz, sustentabilidade, os que querem deixar um mundo decente aos filhos e aos netos: os que se gostavam de ver (bem) representados nos parlamentos e nos governos.
Até 1973 o Estado francês controlava o sistema financeiro do país, assim como a moeda, o franco, através do Banco Central. Para as necessidades do Estado, para pagar a administração pública, para investir na saúde ou na educação o governo, se o dinheiro dos impostos não lhe chegava, pedia dinheiro emprestado ao Banco Central e não pagava qualquer juro.
Aconselhado pelos banqueiros, em 1973, o presidente Pompidou publicou uma lei que alterou radicalmente a situação. A partir de então o Estado quando necessita de dinheiro pede emprestado aos bancos privados que, obviamente levam o seu juro. Parece absurdo. Parece, mas assim os bancos, os acionistas dos bancos e os administradores dos bancos passam a ter uma gigantesca fonte de riqueza e de facto passam a controlar, mais ainda, a vida económica do país.
No vídeo que aqui está, informa-se que, de1973 a 2010 a dívida pública da França tinha aumentado 1,348 biliões (milhões de milhões) e que, sintomaticamente, os juros pagas pelo Estado à banca privada nesse mesmo período foi de 1,408 biliões de euros. O aumento brutal da dívida pública da França nestas 4 décadas foi praticamente igual aos juros pagos, neste período, pelo Estado aos banqueiros , consequência daquela lei de Pompidou que entregou aquele poder do Estado, poder do povo, aos banqueiros e acionistas dos bancos.
Esta situação de os Estados terem de pedir dinheiro emprestado aos bancos privados em vez de o obterem sem juros do banco central do seu país generalizou-se a quase todo o mundo. E é também a situação na zona euro. Esta mudança de paradigma foi aliás um passo grande do sistema financeiro internacional na sua longa caminhada para o controlo dos governos nacionais e do "governo do mundo". Obviamente que não podemos concluir que os bancos são "maus". Os bancos foram instrumentos fundamentais e absolutamente indispensáveis ao desenvolvimento histórico e atual da economia mundial. Deveriam era serem propriedade dos Estados ou controlados por eles e não o contrário.
Na crueldade abusiva e indiferente com que a política vai conduzindo os tempos, como se a servidão, a pobreza e a dependência fossem naturais por inerência à condição social da vida humana, vale a pena registar as palavras de D. Januário Torgal que podemos ler AQUI e a síntese assertiva de um homem cuja experiência e determinação em marcar o pensamento e a história de Portugal podemos encontrar no texto que, a seguir, transcrevo:
«O antigo Presidente da República Mário Soares considera que a «democracia está em baixa», porque as pessoas tem «muito medo», mas, adverte, o desespero é tal que aqueles que têm fome podem zangar-se. Em entrevista ao jornal "Público", o histórico socialista afirma que os portugueses não reagem com veemência às dificuldades que estão a atravessar porque "há muito medo na sociedade portuguesa".
"É por isso que a democracia está em baixa, porque não havia medo e hoje há muito medo. As pessoas têm de pensar duas vezes quando têm filhos. Mas é uma coisa que pode levar a atos de violência", adverte. Mário Soares ressalva que é uma situação que não quer que suceda. No entanto, "pode acontecer, porque o desespero é tal que aqueles que têm fome podem zangar-se".
Fazendo um paralelismo sobre a reação dos portugueses às dificuldades que atravessam e o que se passa no Brasil, afirma que "no Brasil vieram para a rua de forma pacífica porque acham que há muita corrupção. Aqui, em Portugal, não há corrupção a rodos, porque a justiça não funciona. Ou por outra, a justiça só funciona para os pobres". "Aos que roubam milhares de contos ao Estado, em bancos e fora de bancos, não lhes acontece nada", critica. Mário Soares receia que a seguir à crise política possa "vir uma revolução": "Eu esperaria que fosse pacífica, mas pode não ser". Pode também seguir-se uma ditadura, o que "era ainda pior", sublinha.
O antigo presidente considera que não existe uma relação entre o país e o Governo, que "ignora o povo", e que a "democracia está em perigo".
Neste momento, somos uma pseudodemocracia, porque a democracia precisa de ter gente que resolva os problemas", diz, questionando: "Quando o Presidente da República não é capaz de resolver nada a não ser estar de acordo com o Governo, e o Governo não faz nada porque não tem nada para fazer, nem sabe o que há-de fazer, o que é que se passa?"
Sobre o que faz a oposição, Mário Soares afirma: "protesta". "Eu não tenho nenhuma responsabilidade política, nem quero ter, mas penso, leio, escrevo e estou indignado, claro, porque estão a destruir o país", sublinha. Questionado pelo Público sobre se o Banco Central Europeu devia estar a emitir moeda, Mário Soares foi perentório: "pois claro". Não admite a saída do euro, frisando que é a "favor do euro e da União Europeia, embora não aceite que a chanceler Merkel seja uma pessoa não solidária com os outros países, é contra o espírito da União Europeia. Relativamente ao presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, Mário Soares acusa-o de ser "um camaleão", considerando que Portugal não ganhou nada em tê-lo naquele cargo. "Foi só desprestigiante para Portugal. Nunca achei que ele podia ser bom. Avisei sempre, escrevi que era um grande erro. Diziam que era português, mas na Europa não há portugueses, nem de qualquer outro país, há europeus", comenta. Mário Soares diz ainda que Durão Barroso "não pode" chegar ao cargo de secretário-geral da ONU, "depois de tudo o que disseram dele, a senhora Merkel, os franceses e tantos europeus". "Futuro político acho que não tem", remata.» in DIÁRIO DIGITAL/LUSA
Este é um dos «clubs da elite política-financeira-...»
(há outros, incluindo 'pensadores/thinkTanks', fundações, associações maçónicas, religiosas /OpusD, caridadezinhas, universidades, partidos, ... financiados por magnates da Banca, da Especulação bolsista, das Multinacionais : armamento, farmacêuticas, alimentos/sementes, petróleo, automóveis, aviões, minérios, água-distribuição, electricidade, telefones, jornais, TVs, redes sociais/internet, ...) ... que MANDA, compra/ameaça/manipula desGovernos FANTOCHES, seus capatazes e avençados escribas. ... e "faz a opinião" das maiorias e dos eleitorados, desvirtuando a Política, a Democracia, a transparência, as liberdades e a equidade de acesso, ... prejudicando o interesse público e milhões de contribuintes e cidadãos.
A bárbara agressão, contra os trabalhadores, a classe média e os excluídos, perpetrada pelo neoliberalismo, por intermédio do capital financeiro e dos seus sequazes, tem procurado buscar alguma legitimidade, alegando estar a seguir os ditames de uma infalível ciência económica, objectiva e neutra. Obedecer ao que é de facto um verdadeiro esoterismo numerológico seria afinal garantir, a longo prazo, a melhor solução; que, pela sua exclusiva conformidade com a ciência, seria afinal a única possível. O breve texto que a seguir transcrevo contribui muito para desmontar essa mistificação. Por isso, as instâncias de poder do capitalismo financeiro internacional podem ainda reproduzir como autómatos as vulgatas ideológicas do neoliberalismo; mas fazem-no já como espectros de uma ideologia que a realidade tornou obsoleta. Desta vez, achei que devia traduzir o referido texto, para que todos o possam ler sem serem embaraçados pela barreira da língua. O texto foi publicado no jornal italiano Repubblica (31 de maio de 2013), sendo seu autor o jornalista Roberto Petrini . Trata-se de um comentário a uma recente descoberta do economista norte-americano Joseph Stiglitz, nome sobejamente conhecido que se tem imposto pelo rigor e desassombro crítico. O título alerta-nos desde logo :"A desigualdade mata o crescimento: eis a demonstração de Stiglitz". E acrescenta-se de imediato:
"Com o teorema de Stiglitz foi infligido outro duro golpe à ortodoxia neoliberal dominante nos tempos da grande crise: se o índice de Gini (ou seja, o indicador que mede a desigualdade) aumenta, o “multiplicador” dos investimentos diminui e assim o PIB abranda. Eis porque razão".
Segue-se depois o texto:
"É a desigualdade o verdadeiro “killer”/assassino do PIB. Nos países onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres o produto interno bruto marca passo e às vezes cai. Nas nações onde existe uma grande “middle class”(classe média) , pelo contrário, a prosperidade aumenta. O Prémio Nobel Joseph Stiglitz rompe com as demoras e formaliza num verdadeiro teorema, como ele próprio o define, a síntese dos estudos que dirige há anos.
O teorema de Stiglitz a partir da frente keynesiana lança uma bomba nas trincheiras neoliberais. Baseia-se no mecanismo do que os economistas chamam a “propensão para o consumo”: os ricos tem-na mais baixa do que a classe média, logo se a distribuição do rendimentos lhes favorece o “shopping”, contrariamente ao que se podia pensar intuitivamente, ela deprime-se. É, pelo contrário, a classe média a consumir quase tudo aquilo que tem no bolso e a impulsionar o PIB e a economia, quando a distribuição do rendimento a favorece. A prova? O gráfico de Stiglitz é inatacável quando os ricos ( ou seja, o 1% mais rico da população) se apropriam de 25% do rendimento rebenta a “bomba atómica económica”. Aconteceu assim com a Grande Crise dos Anos Trinta e com a grande recessão deste século. Além de que as teorias neoliberais que têm marcado os últimos trinta anos: “ os apologistas da desigualdade sustentam que dar mais dinheiro aos mais ricos - escreve Stiglitz no seu relatório ̶- seria vantajosos para todos, porque levaria a um maior crescimento. Trata-se de um ideia chamada “trickle-down economics”( economia de efeitos em cascata). Ela tem um longo “pedigree” e há tempos que tem vindo a ser desacreditada.”
A ocasião para serem apresentados os extraordinários resultados da investigação de Stiglitz, numa espécie de antestreia mundial, é a convenção organizada em Roma pela SIEDS ( la Società italiana di economia, demografia e statistica), iniciado ontem (30 de maio de 2103), onde o Prémio Nobel enviará as considerações conclusivas, escritas a quatro mãos com o seu próximo colaborador italiano da Università Politecnica delle Marche, Mauro Gallegati.
Assim o “mainstream” é posto a um canto. O teorema é claro e luminoso como uma fórmula química ou um relação física: se índice de Gini (ou seja, o indicador de desigualdade inventado por um economista italiano, Corrado Gini) aumenta, logo aumenta a desigualdade, o “multiplicador” dos investimentos diminui e portanto o PIB trava.
A equação de Stiglitz arrisca-se a ser o terceiro golpe nas posições da teoria económica dominante agora vacilante. O primeiro, dado há alguns meses, foi aquele que pôs em causa o "dogma" da austeridade: o FMI na verdade calculou que o corte do deficit num ponto percentual reduz o PIB em dois e não apenas ̶ como se cria até hoje ̶ em meio ponto percentual. O outro golpe desajeitado foi aquele que desmontou, desmascarando um erro “Excel”, a teoria da dívida de Rogoff e Reinhard, segundo a qual para além dos 90 por cento na sua relação com o PIB ela levaria inevitavelmente à recessão.
Mas o novo assalto de Stiglitz arrisca-se a ser ainda mais perigoso para as teses do “status” económico. A desigualdade, de facto para o Prémio Nobel, fere profundamente o PIB, não só através da queda dos consumos mas também porque o sistema é “ineficiente” se prevalecem rendas e monopólios. “Frequentemente a caça ás rendas ̶ concluem Stiglitz e Gallegati ̶ comporta um verdadeiro esbanjamento de recursos que reduz a produtividade e o bem-estar do país”.
Na Alemanha, nas últimas décadas, o número de funcionários das autoridades tributárias (Finanças), mal pagos, diminuiu 5%. Em contrapartida o número de especialistas em otimização fiscal (leia-se fuga legal aos impostos) aumentou 30% e o número de advogados fiscalistas (outro tipo de especialistas na fuga ao fisco) aumentou 60% e são altamente remunerados. Mesmo que mais nada dissesse bem se percebe para que lado têm andado as coisas.
Há 4 grandes empresas que detêm o grosso da atividade de fuga aos fisco, uma atividade essencial ao mundo da alta finança internacional. São conhecidas pelas BIG FOUR: a Deloitte, a PriceWaterHouseCoopers, a Ernst & Young e a KPMG. Elas têm ao seu serviço 700 mil especialistas, trabalham em 150 países e faturam 76,5 mil milhões de euros por ano.
Só no minúsculo Chipre têm ou tinham 2.500 especialistas. São seus clientes as maiores multinacionais. Por exemplo a Deloitte tem a Vodafone ou a Microsoft, a Ernst & Young tem, p.ex. a Google, a Aple, a Amazon, a Coca Cola. A fonte é um estudo do alemão Walter Wullenweber que o publicou, em 15 de Março deste ano, na revista Stern, um estudo em parte reproduzido no Courrier Internacional, origem destes dados.
Nesse estudo diz-se que as Finanças de países como a Grécia, Chipre, Portugal ou Irlanda são incapazes de cobrar impostos às grandes fortunas. Mas o exemplo poderia, se este alemão quisesse, alargar-se à Alemanha. De facto um pouco adiante ele refere que na Alemanha desde 1960 os impostos sobre salários, consumos energéticos ou sob a forma de IVA, isto é os que atingem a população em geral, quase duplicou e os impostos sobre lucros, isto é sobre o capital e portanto sobre as grandes fortunas, caíram 75% . É obra! Todas estas situações parecem paradoxais mas “esmiuçando” percebe-se que não o são assim tanto.
Os estados e os governos querem cobrar o máximo de impostos ou pelo menos todos os impostos que a lei estipula mas… nada se perceberá ou ganhará coerência se não se perceber que a função dos estados e dos governos é disputada e influenciada por forças contraditórias. Por um lado, pelo mundo do trabalho, por forças democráticas, por grande parte do eleitorado e por outro pelo mundo do capital, pelos bancos, gestores de fundos e fortunas, o mundo financeiro em geral. Mas os campos não são perfeitamente delimitados. Os altos salários estão em geral do lado do capital e o pequeno capital está, frequentemente, do lado do trabalho. E quem detém a maior parte da influência, e frequentemente o controlo dos governos salta à vista.
Aquele exército de 700.000 funcionários da fuga ao fisco e os mil e um paraísos fiscais convivem em perfeita harmonia com os governos e os Estados porque nestes prevalecem os interesses do capital e, em particular, do capital financeiro.
Do ponto de vista ético esta situação é, para os que não conhecem bem as leis que regem a sociedade, profundamente desmoralizadora e obriga a olhar para os governos, especialmente os dos mais fortes países ou para as organizações internacionais, EUA, Alemanha, Japão, UE, ONU, etc, como entidades profundamente hipócritas, cúmplices dos multimilionários quando não da ilegalidade e do crime. Todos sabemos que as BIG FOUR e quejandas só existem porque os parlamentos e os governos que fazem as leis fazem-nas frequentemente sob o controlo dos juristas especializados na fuga ao fisco, funcionários daquelas empresas ou de sociedades de advogados especializados no mesmo objeto, como o bastonário da AO, Marinho Pinto ou o vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade, Paulo Morais, além de outros, não se cansam de denunciar.
A fuga aos impostos em grande escala pelas grandes empresas, bancos e sociedades é uma forma da concentração da riqueza em cada vez menos cidadãos e uma forma de contrariar a redistribuição da riqueza pelo estado social que assim fica com menos meios para a educação, para a saúde para as reformas e demais medidas sociais.
Jean- Claude Juncker, antigo ministro das finanças e do trabalho e actual primeiro ministro do Luxemburgo, na qualidade de presidente do eurogrupo, afirmou que, como seria lógico, Portugal e a Irlanda beneficiariam, segundo o “princípio da igualdade de tratamento”, das condições concedidas à Grécia, no âmbito dos respectivos memorandos de entendimento estabelecidos com os credores, representados pela tróica.
As pressões francesas e, sobretudo, alemãs desautorizaram o luxemburguês a tal ponto que o obrigaram a recuar relativamente às declarações anteriormente proferidas e de tal modo se considerou “injustiçado” que circula à boca pequena, nos corredores das instâncias europeias, que Juncker manifesta vontade de sair, da presidência do eurogrupo, no início do próximo ano.
Quem tem o dinheiro manda à fava os princípios e dá as ordens que mais lhes convém em cada momento e na estratégia dos seus, egocêntricos, interesses. Pelos vistos, a Portugal e à Irlanda, ainda não sacaram o suficiente que lhes convenha aliviar a pressão!
Às malvas a solidariedade entre os estados e a fome que alguns cidadãos possam estar a ser vitimas, nos países intervencionados.
Os nossos boys, perdão alunos, seguem-lhes a cartilha e dizem-se, absolutamente, de acordo com os mestres.
Porque será que a senhora Merkel não aceita, agora também, que se apliquem princípios de solidariedade idênticos aos que se aplicaram ao seu próprio país na sequência da segunda guerra mundial e no âmbito do acordo que se consubstanciou no Plano Marshall? Estranhas contradições!
E porque será que “os bons alunos” se submetem tão cordatamente, como cordeirinhos, às imposições de garrote que asfixiam os países e as populações mais fragilizadas?
Parece que tudo gira em torno dos objectivos de apanharem as empresas nacionais. Os políticos e os donos das riquezas, extorquidas através das mais hediondas formas exploratórias, admitem que tudo valha e aceitam que não haja o mínimo de escrúpulos para atingir tais finalidades. Estranhas contradições!
Como é possível conceber-se que, depois de tamanho desenvolvimento tecnológico, evolução económica e social, se aceite, tão pacificamente, o actual estado de coisas, se admita o aumento da pobreza e dos excluídos, se permita uma tão desigual distribuição da elevada de riqueza produzida quer em cada estado como planetariamente? Estranhas contradições!
Permita-me que o trate assim, tal é o carinho que tenho por si e, ainda maior é pelas medidas que tem tomado e pela ideologia social ultraliberal que nelas, tão afincadamente, coloca!
Obrigado,
Agradeço a si e ao seu governo tudo o que têm feito pelos reformados, pois nós não precisamos de qualquer aumento, por maior ou mais pequeno que pudesse ser e, digo-lhe mais, a si e ao querido Gasparzinho, podemos muito bem viver sem o 13.º e o 14.º mês.
Aceitamos com muita alegria e bom grado as rapinagens que ambos, bem acolitados com os demais que por aí vegetam, já nos fizeram e continuam a fazer até que nós e os outros cidadãos ganhemos a coragem, necessária e suficiente, para os removermos.
Aceitamos tudo isso e muito mais, não só porque somos os melhores reformados do mundo mas também porque não pagamos luz, nem gás, nem água (lavamo-nos só no natal), o senhorio não quer receber as rendas das casas onde vamos sobrevivendo, a farmácia oferece-nos os remédios, os transportes são gratuitos, etc., como a todos/as os desempregados/as jovens ou adultos. Vivemos quase num paraíso!
Tudo nos é dado gratuitamente, ao contrário dos parlamentares, juízes, ministros, administradores de empresas chinesas, alemãs ou angolanas etc., que têm de trabalhar duramente para conseguir o pouco que têm.
Eu reformado/aposentado só trabalhei 30, 35, 40, 45 ou mais anos, descontando durante esses anos todos para uma Segurança Social que, hoje, me acha culpado de todos os males.
Reformado/aposentado que, teimosamente, quer continuar a viver, agora que não trabalho (com horários fixos) quero continuar a participar, de forma cidadã, na construção democrática do meu país. Embora me tenha sido extorquido grande parte do dinheiro, que descontei durante tantos anos, para a minha Segurança Social, desbaratado por governos impostores que dele se serviram para equilibrar os Orçamentos do Estado, não me podem considerar como um empecilho vagabundo que só serve para receber o valor da reforma.
Por via disso e, como forma de lhe continuar a agradecer, até que se vá embora, Sr. 1º Ministro, comprometo-me a aliciar os meus pares para a única greve que, nós reformados podemos fazer, é a de não mais morreremos e entupiremos ainda mais os hospitais públicos, com nossas exigências doentias.
Nós, os reformados, agradecemos seu carinho e respeito, mas não por muito tempo.
Num dos seus últimos artigos, Vicenç Navarro chama a atenção para a “corrupção do processo democrático europeu” nas instituições que comandam a nossa economia política, cujas actividades e prioridades são essencialmente determinadas pelas fracções do capital, em especial do financeiro, cujo horizonte de operação, independentemente das raízes nacionais que ainda contam, é europeu ou está mesmo para lá do continente. Alguns números: 15.000 a 20.000 lobistas em Bruxelas gastam cerca de 3000 milhões nas suas actividades de compra de influência para definir as inevitáveis regras do jogo que estruturam a construção de mercados, a principal especialidade europeia. O défice democrático em Bruxelas facilita imenso este processo. É por estas e por outras que a propaganda europeia, a que faz equivaler egoísmo a nacional, é enviesada: o míope egoísmo organizado do capital opera em múltiplas escalas e tende a ser mais forte ali onde a democracia e as luzes do debate e escrutínio públicos são mais fracas. O drama é que estes poderes europeus estão a minar as democracias na escala onde estas são mais fortes.
O$ negócio$ de Bruxela$ : quem gere a União Europeia ?
[«os especuladores deixam-nos em trajes menores», «...»]
O Estado espanhol prepara-se para entrar com o equivalente a 2% do PIB num Bankia que já foi abandonado pelo Rato. Os novos dirigentes fazem questão de dizer que não querem apurar responsabilidades. A bancarrotocracia está bem e recomenda-se em Espanha: basta lembrar que o ex-presidente do falecido Lehman Brothers de Espanha é agora o ministro da economia. Este regime monetário e financeiro favorece o seguinte padrão nas periferias consideradas bem sucedidas até há pouco:
liberalização financeira, influxos de capitais também promovidos pela suposta desaparição do risco cambial, endividamento numa moeda que não se controla (€), bolhas especulativas nos activos, em especial na construção, captura de reguladores pelo poder financeiro reforçado, convenção “milagre económico”, superávites orçamentais, sobreapreaciação cambial, défices na balança corrente, dependência externa crescente, rebentamento da bolha;
crise financeira e económica, défices orçamentais e crise da dívida que não é soberana, constando-se que afinal a produtividade não cresceu, dados os sectores promovidos pela finança de mercado, ou que os bancos afinal não eram um modelo de boa gestão do risco e de robustez, até porque o banco central sem escrutínio democrático andava entretido a promover a redução dos direitos laborais, a sua verdadeira obsessão;
seguem-se programas de austeridade recessiva que procuram socializar todos os fardos/custos e que trancam as economias numa espiral depressiva. Isto só acaba quando se recriar um regime de controlo de capitais, presença pública determinante na banca e soberania monetária com controlo democrático do banco central. Tem de se começar por algum lado: razão tem por isso a esquerda espanhola em não ter desistido de exigir a criação de um pólo bancário público robusto ao serviço do desenvolvimento (até o PSOE começa a defender tal ousadia perante a pressão da realidade...), parte de um processo mais vasto de reformas estruturais – sim, esta expressão tem de ser reconquistada pela esquerda – que ataquem as verdadeiras causas dos problemas.
...enquanto não existir massa crítica não conseguiremos mudar esta situação. Muito pouca gente em Portugal tem "tomates" para chamar as coisas pelos nomes e muitas menos teriam coragem de se revoltar. As sociedades "modernas" são uma amálgama de zombies e ovelhas que usam qualquer desculpa para ficarem quietos, deixando para a hora do café as suas lamúrias inconsequentes. Qualquer pessoa com 1 dedo de testa e acesso à internet consegue perceber o jogo que a Goldman Sachs, UBS, Deustche Bank, JP Morgan e outros estão a fazer... A pouco e pouco não restam quaisquer bens (assets) públicos e depois ??
... O que faz não chegar para todos é que uma mão cheia (de super-ricos, bancos e multinacionais) possui 90% dos recursos naturais e financeiros. ... enquanto não "matarmos" este paradigma vicioso e viciado nada mudará. ... Basta olharmos para a história conhecida da "civilização" humana e compreendemos que a "elite 1%" procura manter e alargar o seu poder, dominando e pisando os "99%" povo (trabalhadores)...
Notícias recentes dão-nos conta que 700 trabalhadores chineses de uma fábrica de calçado desportivo, em Yucheng, que fornece a Nike e a Adidas, entraram em greve. Resistem a despedimentos e à redução dos seus já miseráveis salários. Foram, como é evidente, ferozmente reprimidos. Como se sabe, o impressionante crescimento económico da China não tem sido acompanhado por aumentos salariais proporcionais. A sua miséria serve para acumular riqueza em meia dúzia de mãos.
Estes trabalhadores suspeitam que se prepara uma deslocalização. Mesmo sendo trabalhadores muito baratos há ainda mais barato que eles num outro lugar do planeta. E esta "contenção salarial", como agora se chama à escravatura, é garantida por um regime totalitário que os mantém ordeiros e obedientes. Não faltará quem lhes diga que o risco que correm com esta greve, para além da prisão, é a da empresa ir mesmo embora. Que o melhor que teriam a fazer era comer e calar. Porque a vida é mesmo assim.
Esta greve, e tantas outras que, apesar da repressão, se vão multiplicando na China, é uma esperança para todos nós. A luta social dos chineses é o que mais facilmente pode travar a competição entre países para degradar a vida dos trabalhadores. E esta competição vem sempre com uma chantagem: ou aceitam, ou vão para o desemprego. E não falta quem tente mascarar isto de justiça global. Empobrecemos para os chineses viverem melhor. Chega então o memento em que os chineses ouvem o mesmo argumento: empobrecerão para outros quaisquer viverem melhor. Até, globalmente, vivermos todos pior. Menos os que lucram com esta concorrência pela miséria.
Os chineses que fazem greve são também uma lição. O risco que correm, ao fazer uma greve, é incomensuravelmente maior do que aquele que corremos. Por enquanto, ainda temos o direito à greve.
Podemos perder o emprego? Sim, muitos dos que estão na situação laboral que este governo sonha para todos nós - sem segurança nem contratos -, podem. Podemos perder uma promoção? Sim, podemos. É o preço que se paga pela coerência e coragem.
Cada um decidirá se vale a pena. Se a defesa da escola pública para os seus filhos, dos hospitais para si e para os seus pais vale o risco. Se a resistênciaaoassalto aos seus salários, às indemnizações por despedimento, aos subsídios de natal e de férias, às reformas para as quais descontaram e aos seus impostos vale o risco. Se o nosso futuro como comunidade e se a defesa do Estado Social que nos garantiu, apesar da nossa pobreza, uma vida um pouco mais digna (é comparar os números de há quarenta anos e de hoje) merece esta luta. Sendo certa uma coisa: se a greve de amanhã não se justifica, nenhuma outra se justificará.
O argumento contra a greve é sempre o mesmo. É sempre a mesma chantagem. Que ela só piorará a nossa economia. Que precisamos "é de trabalho". Aqueles que vivem à custa do nosso esforço, do nosso trabalho e dos nossos impostos contam com isso.
Contam os que esperam reduções salariais - que, como se vê pela China, nunca nos permitirão competir com ninguém, porque lá no fundo do poço há sempre quem receba menos para produzir mais - para aumentar ainda mais a desigualdade no mais desigual dos países europeus.
Contam os banqueiros, que fazem exigências ao governo para determinar as condições para receberem o dinheiro que os contribuintes pagarão com juros.
Conta o governo, que entre a troika e os banqueiros, tem de escolher a quem cede, sem nunca passar pela cabeça ceder a quem trabalha. Porque se quem trabalha não mostra o poder que tem não tem poder nenhum. Não conta na equação de governos avençados a interesses. Governos que só se lembram de onde vem a sua legitimidade em campanhas eleitorais. Campanhas onde nos prometem o que não tencionam cumprir.
Na vida, nada se consegue sem luta. Tudo o que temos - do Serviço Nacional de Saúde à Escola Pública, do salário mínimo às férias e fins-de-semana - custou demasiado a muitos para desistirmos sem resistir. Foram criados porque os que vivem apenas do seu trabalho foram suficientemente corajosos para mostrar que sem eles não há paz social, não há produção, não há riqueza, não há lucro. Que eram e continuam a sereles que criam a riqueza. De tempos em tempos isso tem de ser recordado.
Vivemos um momento histórico. Tudo está em causa. Os nossos direitos são tratados, por uma elite que vive numa redoma social, como privilégios. A nossa dignidade é tratada como um luxo. Não falta quem nos explique que é de cabeça baixa e em silêncio que sairemos desta crise. Cada um por si. Cada país por si, cada trabalhador por si, cada cidadão por si. Paralisados pelo medo que nos vendem em horário nobre. Nunca foi assim que nenhuma sociedade evolui.
A greve de amanhã não nos tirará da crise. Nem arruinará o País. Mas, se ela correr mal, é um sinal que damos. Um sinal de desistência e resignação. Na sexta-feira, se isso acontecesse, estaríamos todos mais desesperados, sozinhos e derrotados. Prontos para perder tudo o que conquistámos com muito mais esforço do que aquele que nos é pedido para esta greve. Às vezes, não trabalhar é a única forma de mostrar a quem tem poder que é do nosso trabalho que o seu poder depende. Espero, por isso, que corramos um décimo dos riscos que os trabalhadores de Yucheng correram. Pela mesma dignidade a que eles julgam ter direito. Quem falta nos momentos históricos não se pode queixar da história. Porque ela é feita por nós.
Nos últimos tempos (não só) é notória uma certa dinâmica cultural (política e económica) manifestada pelas classes ricas que querem marcar ostensivamente as distâncias relativamente ao geral da população. Mais que uma cultura da diferença, perfeitamente legítima, exprimem e incentivam uma cultura da desigualdade. Fazem inclusive questão em marcar essa desigualdade nas suas manifestações da vida quotidiana, na forma como habitam (condomínios fechados), como fazem as suas festas, como se vestem, os carros que compram. Nos bastidores da política de austeridade está de facto uma cultura da desigualdade ! Consideram esta forma de agir uma distinção de classe, um tique aristocrático e recriam-se em estabelecer limites aos outros tratando-os com desprezo. Consideram que o que têm é legítimo e merecido, mesmo que não tenham mexido a ponta de uma palha! Têm tiques de casta, são particularmente narcísicos e, a maioria, extremamente vulneráveis. Para eles o mundo gira á sua volta e os outros estão aí para os servir, para trabalharem para eles a baixos salários e sem horários, claro! A palavra igualdade provoca-lhes urticária. O mais grave, porém, é que esta cultura que eles segregam contamina outras pessoas que desde a escola foram colonizados e se tornaram acríticos e manipuláveis. O desejo legítimo de viver melhor não se pode confundir com a adoção de uma cultura da desigualdade, bebendo os tiques dos ricos e a sua maneira de pensar! Nada mais trágico do que ver alguém vestir a camisola de outrem e esquecer a sua identidade! A dominação começa precisamente no momento em que o dominado pretende imitar o dominador! No fundo está possuído pelo dominador! Combater a cultura da desigualdade é fundamental para não nos deixarmos dominar e construirmos o nosso trajeto de vida com autonomia e identidade ! Este combate passa por um trabalho cultural e político a que os sindicatos e organizações cívicas deveriam dar mais espaço e importância. Afirmar uma cultura da igualdade económica e social, na diferença de cada um, é um valor histórico e atual dos movimentos de trabalhadores. É que o pensamento neo-liberal afirma em todo o mundo a «lei do mais forte e mais hábil» sem se interessar pelas razões (condições materiais e espirituais) que estão na base da desigualdade entre as pessoas. Essa lógica levada ao extremo pode fundamentar a liquidação da maioria da humanidade! A igualdade do movimento operário e socialista não é o igualitarismo castrador mas também não é a mera igualdade de oportunidades e muito menos a cultura da casta e das elites. Tendo em conta estas balizas os conteúdos de uma verdadeira igualdade devem ser hoje repensados, onde seja tida em conta o mérito e esforço de cada um, sem que a sociedade deixe, no entanto, que se reproduzam as dominações de quem acumula á custa do trabalho de outros.