Neste fim de semana as televisões, para além da crise e do futebol, falaram muito do voluntariado. Alguns jornais davam como certo que mais de 15 mil pessoas se tinham oferecido para acções de voluntariado e que cerca de 800 instituições sociais desejavam esses voluntários!
No século passado o voluntariado estava quase circunscrito á Igreja Católica e a algumas tias que não tinham que fazer! Falar em voluntariado era algo anacrónico e as classes altas e burguesas fugiam a sete pés de tal actividade!
Hoje, porém, tornou-se moda fazer voluntariado social e ambiental. Algum voluntariado aparece patrocinado por multinacionais e pela banca e as classes ricas, nomeadamente altos quadros de grandes empresas, dedicam-se com inestimável afinco a acções de voluntariado dirigido aos «mais carenciados», aos sem abrigo, crianças, deficientes, enfim a todo um caudal humano que cresce a olhos vistos com a crise provocada pela finança!
Para além de
ser moda (chic) o voluntariado é uma terapia e previne as depressões ou pelo menos pode minorá-las, com origem particularmente nas condições em que é exercido o trabalho, a profissão. Muitas das frustrações que as classes médias enfrentam podem ser minoradas com esta busca de reconhecimento e satisfação no voluntariado!
Muito deste voluntariado faz
aquilo que deveria ser feito por outros (trabalhadores), nomeadamente por pessoas que não têm emprego e pelos actores dos processos. O
voluntariado acrítico serve perfeitamente o sistema e aumenta a crise. É necessário aprofundar esta onda de voluntariado e ter em atenção os seus objectivos.
O voluntariado deve intervir de forma crítica visando fundamentalmente humanizar. Mesmo atacando situações de emergência, deve
proporcionar as saídas da pobreza e da opressão e
não substituir possíveis empregos ou
lavar a cara de empresas que frequentemente adoptaram técnicas de gestão
arrasadoras dos empregados!
Mais ainda, existem acções de voluntariado em empresas que visam a
manipulação dos seus trabalhadores e a criação de um
falso clima de coesão, erradicando assim qualquer clima de
reivindicação e de autonomia!
Estas estratégias levadas a cabo por gestores experientes são absorvidas com muita facilidade pelos jovens trabalhadores que têm frequentemente uma
visão ingénua das relações de trabalho!
O debate que se trava no Conselho de Concertação Social sobre o aumento do salário mínimo nacional para 500 euros é um dos sinais mais
chocantes das
desigualdades sociais em Portugal e da
miséria moral a que chegou o nosso País!
Será que um aumento de oitenta cêntimos por dia a um trabalhador vai criar assim tantos problemas ás empresas como dizem as associações patronais?
Será que uma empresa que não é capaz de tomar esta medida
tem alguma viabilidade e futuro?
Como é possível travar o aumento do salário mínimo sem reparar para o
aumento da actividade dos bancos alimentares contra a fome? Vamos passar a um
país de pobres e dependentes da caridade? Como se devem sentir mal os Capitães de Abril ao olhar para este país!
Há crianças com fome e a pobreza ataca uma larga percentagem de trabalhadores de baixos salários.
É aí que se deve atacar a pobreza. E não me venham com a
criação de riqueza pois esta existe em grande escala nomeadamente no nosso País. Ainda hoje se noticiava que a venda de carros da marca
Porsche aumentou 60% em Portugal. Cada uma unidade destes carros é vendida acima de 100 mil euros!! Não ver com os olhos abertos é a pior cegueira que existe! Esta cegueira está a atacar Portugal e Europa. Todavia, esta cegueira pode
levar-nos a
todos ao desastre!