
Para o comum dos mortais, o homem das classes médias, é incompreensível a ganância pelos milhões da parte dos gestores de grandes empresas, nomeadamente bancos, e o facto de, mesmo ganhando muito, ainda são levados a roubarem, apropriando-se de valores que não lhes pertencem directamente e utilizarem os dinheiros das empresas para se rodearem de quadros valiosos e escritórios de enorme luxo em edifícios extremamente vistosos e carros de preço elevado.
A questão da ganância é típica do homem pré-moderno, arcaico, conservador de direita e tribal, sendo a última a principal característica. Os administradores movem-se em círculos restritos nos quais interessa ter mais que outros ou parecer ou ser mesmo. O círculo é a sua tribo. No fundo, um ordenado milionário e os bens que acompanham equivalem aos cornos ornamentais de um veado, dotado assim pela natureza para atrair as fêmeas. O mesmo sucede com a vistosa cauda do pavão. Trata-se pois de uma herança muito anterior ao nascimento do “homo sapiens”. De resto, é por isso que os empresários compram empresas e formam grupos completamente desnecessários e que povos como o português não pensam no que seria uma sociedade equilibrado, mas sim se o crescimento nos aproxima mais ou menos dos países mais ricos da Europa. Esta é agora a nossa tribo.
A fortuna ou os adereços animais são meios com que a natureza dotou os machos para a conquista das fêmeas, considerando o “status” sociológico como um factor de superioridade genética e garantia de uma maior produção de prole. O “status” não se mede pois pelo conteúdo material necessário à existência, mas pelo que têm os outros membros da horda, manada ou tribo. O “homo oeconomicus” não existe, o que existe é o “homo animalis”. O homem pré-moderno é pois um exemplar do paleolítico catapultado para a contemporaneidade. Daí que apenas nas finanças e nas ideologias políticas totalitárias é que se move bem. Para além disso, o grande gestor é um actor ou fingidor. Não necessita de ter génio, precisa é que os outros membros da tribo se convençam que é um génio, mesmo que os resultados não sejam nada bons. O mesmo acontece, naturalmente, com o grande político.
No fundo, o grande gestor é como algumas senhoras dos sanitários de restaurantes ou algo de semelhante. Não cumprem a sua missão de manter a limpeza, mas estão sentadas à entrada perante uma mesa com um pratinho cheio de moedas e fazem um sorriso amigável a todo o utente do serviço. O gajo que for mijar, enquanto aperta a braguilha, sente-se obrigado a depositar, pelo menos, 50 cêntimos no pratinho. A outra que mantém tudo limpo com grande esforço não recebe nada.
O gestor pré-moderno, conservador e arcaico, é o que “trabalha” o trabalho dos outros. O complexo neo-córtex humano permitiu emancipar-se da própria evolução biológica e criar estratagemas mentais que permitam libertar-se do próprio trabalho e, mesmo assim, gozar de um “status” altamente elevado. Como dizia Emile Durkheim, o pai da sociologia, a natureza humana é formada pela sociedade. A história foi até aos dias actuais, a história dos que não trabalham, mas conseguem gozar de grande consideração.
Assim, o banqueiro ou gestor é ainda um animal predador disponível para destruir o seu próprio habitat se com isso usufruir de alguma vantagem e disposto a gastar muito mais do que necessita apenas para adquirir um elevado estatuto social.
Ao invés desse “homo animalis” temos o “homo sapiens moderatus” pós-moderno.
O homem pós-moderno é um descrente e não é animado pela pressão genética para a procriação, pois sabe que vive num pequeno planeta com quase sete mil milhões de humanos. Ele procura a mulher pós-moderna, bonita e igualitária para formar um casal médio sem necessidade da cornadura de veado. O ideal do pós-moderno é o amor desprovido da animalidade, apenas humano. O homem e a mulher pós-modernos gostam de gostar e amam o amor sem competição.
Os pós-modernos são fundamentalmente ateus globais; não acreditam nos deuses das religiões do mundo, portanto, nem nos deuses teológicos, nem no deus dinheiro ou deus do poder político. Acreditam naquilo que é mais moderno que o moderno, o futuro, mas para todos mais ou menos por igual.
“Se tenho o que necessito, porque razão devo ter mais que isso?”, pergunta a si mesmo o homem pós-moderno.
O homem pós-moderno gosta do trabalho e não se aproveita do trabalho dos outros, não é bom a mandar, mas é melhor a cooperar e a mobilizar o colectivo, é um verdadeiro “homo moderatus”. Talvez sejam mesmo as únicas coisas que o homem pós-moderno adora, o trabalho em todas as suas circunstâncias e gostar de gostar.
O pós-moderno surge como uma mutação consciente do passado, representa a nível cerebral o “genoma mémico” do futuro baseado na solidariedade e comunidade. Mémico de memes ou genes mentais do pensamento evolutivo.
Se nada há entre o pré-moderno e o pós-moderno é porque a evolução é interior; o pré- e o pós- ocupam os mesmos espaços neuronais, evidenciam-se mais nuns que noutros, tal como aconteceu com a evolução genética e cultural. A evolução para o pós-moderno é actualmente mais vantajosa e permite que a multidão dos humanos seja mais pós-moderna que os poucos banqueiros e gestores pré-modernos ou arcaicos.
Apesar dos salários multimilionários dois administradores da banca e de algumas grandes empresas terem diminuído numa média global de 18% continuam ainda a serem uma afronta aos trabalhadores mais pobres do País e ao facto de muitas das grandes empresas e, em particular, a banca, estarem a viver com apoios estatais como garantias para permitirem o fluxo de financiamentos estrangeiros que, mesmo assim, não tem vindo em quantidade significativa porque os gestores milionários não são, afinal, tão bons como deveriam ser.
O Jornal de Negócios publicou recentemente a lista do que auferem em média os membros dos conselhos de administração e do que ganham em média os trabalhadores das referidas instituições.
Assim, o mais arrogante dos gestores, Ricardo Salgado, presidente do BE integra um conselho de administração em que cada um dos seus membros recebe uma média de 932.909 euros por ano. Não se conhece o salário particular de cada um, apenas a despesa em salários dos administradores dividida pelo número de indivíduos a ocuparem esses cargos. O presidente, obviamente, ganha mais que a média. Mesmo assim, auferindo uma mensalidade de 66.636 euros, provavelmente brutos, esta é o resultado de uma quebra de 33,7%. Repare-se que o BES paga relativamente bem aos seus quadros e empregados, os quais ganham anualmente 55.254 euros, ou seja, 16,8 vezes menos.
O Conselho de Administração que mais ganha por cabeça depois da PT é o da empresa que nos vai ao bolso todos os dias e pretende receber milhões do Estado sob a rubrica “défice tarifário” e agora apresentou ao Governo uma reivindicação chantagista de um apoio substancial ao kWh produzido pelas eólicas. Trata-se do EDP dirigida pelo Sr. António Mexia, cujos membros do C.A. recebem anualmente 1.095.855 euros por cabeça, ou seja, 23,24 vezes que a média dos salários de quadros e trabalhadores que é de 47.154 euros. A bela presidente executiva da afiliada da EDP, a Sra. Ana Maria Fernandes, está num C.A. bem mais modesto com apenas 235.000 euros anuais por cabeça.
A PT apesar de enfrentar a concorrência quase mortal do Skype e VoipBuster continua a ser a que mais paga aos seus administradores, mais de 1,5 milhões por cabeça. É obra!
Assim, temos ainda os seguintes valores salariais por pessoa nas diversas empresas cotadas em bolsa e, por sinal, bem mal cotadas:
- Portugal Telecom: 1.553.306 / administrador e 19.287 / quadro e trabalhador.
- Sonae SGPS: respectivamente 922.500 e 17.917.
- Portucel: respectivamente 904.919 e 51.777.
- Cimpor: respectivamente 797.658 e 26.973
- Brisa: respectivamente 739.351 e 32.396.
- Galp: respectivamente 683.167 e 37.354.
- Zon: respectivamente 637.347 e 34.110.
- Jerónimo Martins: respectivamente 623.046 e 11.564 euros – é a empresa que mais mal paga aos seus funcionários.
- BCP: respectivamente 487.571 e 40.520.
- Sonae Indústria quase falida: respectivamente 334.042 e 41.400.
- Mota-Engil: respectivamente 216.238 e 17.424 euros. O nosso camarada Jorge Coelho é, sem dúvida, o administrador que aufere o mais baixo salário no conjunto das empresas portuguesas cotadas em bolsa.
Saliente-se aqui que a média por quadro e trabalhador parece, por vezes, elevada, por serem empresas que empregam bastantes engenheiros e economistas e porque o trabalho mais mal pago como limpezas, guarda de portões, reparações, etc. ser contratado a empresas de fora, pelo que os salários mais mai baixo não entram nas médias.
A empresa que mais gasta com o seu Conselho de Administração é o BES que desembolsa 12,6 milhões de euros, segue-se a EDP com 7,7 milhões e em último lugar no total de pagamentos ao C.A. está a Mota-Engil com 1,4 milhões.