Domingo, 10.05.09

 

Para o comum dos mortais, o homem das classes médias, é incompreensível a ganância pelos milhões da parte dos gestores de grandes empresas, nomeadamente bancos, e o facto de, mesmo ganhando muito, ainda são levados a roubarem, apropriando-se de valores que não lhes pertencem directamente e utilizarem os dinheiros das empresas para se rodearem de quadros valiosos e escritórios de enorme luxo em edifícios extremamente vistosos e carros de preço elevado.
A questão da ganância é típica do homem pré-moderno, arcaico, conservador de direita e tribal, sendo a última a principal característica. Os administradores movem-se em círculos restritos nos quais interessa ter mais que outros ou parecer ou ser mesmo. O círculo é a sua tribo. No fundo, um ordenado milionário e os bens que acompanham equivalem aos cornos ornamentais de um veado, dotado assim pela natureza para atrair as fêmeas. O mesmo sucede com a vistosa cauda do pavão. Trata-se pois de uma herança muito anterior ao nascimento do “homo sapiens”. De resto, é por isso que os empresários compram empresas e formam grupos completamente desnecessários e que povos como o português não pensam no que seria uma sociedade equilibrado, mas sim se o crescimento nos aproxima mais ou menos dos países mais ricos da Europa. Esta é agora a nossa tribo.
A fortuna ou os adereços animais são meios com que a natureza dotou os machos para a conquista das fêmeas, considerando o “status” sociológico como um factor de superioridade genética e garantia de uma maior produção de prole. O “status” não se mede pois pelo conteúdo material necessário à existência, mas pelo que têm os outros membros da horda, manada ou tribo. O “homo oeconomicus” não existe, o que existe é o “homo animalis”. O homem pré-moderno é pois um exemplar do paleolítico catapultado para a contemporaneidade. Daí que apenas nas finanças e nas ideologias políticas totalitárias é que se move bem. Para além disso, o grande gestor é um actor ou fingidor. Não necessita de ter génio, precisa é que os outros membros da tribo se convençam que é um génio, mesmo que os resultados não sejam nada bons. O mesmo acontece, naturalmente, com o grande político.
No fundo, o grande gestor é como algumas senhoras dos sanitários de restaurantes ou algo de semelhante. Não cumprem a sua missão de manter a limpeza, mas estão sentadas à entrada perante uma mesa com um pratinho cheio de moedas e fazem um sorriso amigável a todo o utente do serviço. O gajo que for mijar, enquanto aperta a braguilha, sente-se obrigado a depositar, pelo menos, 50 cêntimos no pratinho. A outra que mantém tudo limpo com grande esforço não recebe nada.
O gestor pré-moderno, conservador e arcaico, é o que “trabalha” o trabalho dos outros. O complexo neo-córtex humano permitiu emancipar-se da própria evolução biológica e criar estratagemas mentais que permitam libertar-se do próprio trabalho e, mesmo assim, gozar de um “status” altamente elevado. Como dizia Emile Durkheim, o pai da sociologia, a natureza humana é formada pela sociedade. A história foi até aos dias actuais, a história dos que não trabalham, mas conseguem gozar de grande consideração.
Assim, o banqueiro ou gestor é ainda um animal predador disponível para destruir o seu próprio habitat se com isso usufruir de alguma vantagem e disposto a gastar muito mais do que necessita apenas para adquirir um elevado estatuto social.
Ao invés desse “homo animalis” temos o “homo sapiens moderatus” pós-moderno.
O homem pós-moderno é um descrente e não é animado pela pressão genética para a procriação, pois sabe que vive num pequeno planeta com quase sete mil milhões de humanos. Ele procura a mulher pós-moderna, bonita e igualitária para formar um casal médio sem necessidade da cornadura de veado. O ideal do pós-moderno é o amor desprovido da animalidade, apenas humano. O homem e a mulher pós-modernos gostam de gostar e amam o amor sem competição.
Os pós-modernos são fundamentalmente ateus globais; não acreditam nos deuses das religiões do mundo, portanto, nem nos deuses teológicos, nem no deus dinheiro ou deus do poder político. Acreditam naquilo que é mais moderno que o moderno, o futuro, mas para todos mais ou menos por igual.
“Se tenho o que necessito, porque razão devo ter mais que isso?”, pergunta a si mesmo o homem pós-moderno.
O homem pós-moderno gosta do trabalho e não se aproveita do trabalho dos outros, não é bom a mandar, mas é melhor a cooperar e a mobilizar o colectivo, é um verdadeiro “homo moderatus”. Talvez sejam mesmo as únicas coisas que o homem pós-moderno adora, o trabalho em todas as suas circunstâncias e gostar de gostar.
O pós-moderno surge como uma mutação consciente do passado, representa a nível cerebral o “genoma mémico” do futuro baseado na solidariedade e comunidade. Mémico de memes ou genes mentais do pensamento evolutivo.
Se nada há entre o pré-moderno e o pós-moderno é porque a evolução é interior; o pré- e o pós- ocupam os mesmos espaços neuronais, evidenciam-se mais nuns que noutros, tal como aconteceu com a evolução genética e cultural. A evolução para o pós-moderno é actualmente mais vantajosa e permite que a multidão dos humanos seja mais pós-moderna que os poucos banqueiros e gestores pré-modernos ou arcaicos.



Publicado por DD às 21:21 | link do post | comentar

Apesar dos salários multimilionários dois administradores da banca e de algumas grandes empresas terem diminuído numa média global de 18% continuam ainda a serem uma afronta aos trabalhadores mais pobres do País e ao facto de muitas das grandes empresas e, em particular, a banca, estarem a viver com apoios estatais como garantias para permitirem o fluxo de financiamentos estrangeiros que, mesmo assim, não tem vindo em quantidade significativa porque os gestores milionários não são, afinal, tão bons como deveriam ser.

O Jornal de Negócios publicou recentemente a lista do que auferem em média os membros dos conselhos de administração e do que ganham em média os trabalhadores das referidas instituições.
Assim, o mais arrogante dos gestores, Ricardo Salgado, presidente do BE integra um conselho de administração em que cada um dos seus membros recebe uma média de 932.909 euros por ano. Não se conhece o salário particular de cada um, apenas a despesa em salários dos administradores dividida pelo número de indivíduos a ocuparem esses cargos. O presidente, obviamente, ganha mais que a média. Mesmo assim, auferindo uma mensalidade de 66.636 euros, provavelmente brutos, esta é o resultado de uma quebra de 33,7%. Repare-se que o BES paga relativamente bem aos seus quadros e empregados, os quais ganham anualmente 55.254 euros, ou seja, 16,8 vezes menos.
O Conselho de Administração que mais ganha por cabeça depois da PT é o da empresa que nos vai ao bolso todos os dias e pretende receber milhões do Estado sob a rubrica “défice tarifário” e agora apresentou ao Governo uma reivindicação chantagista de um apoio substancial ao kWh produzido pelas eólicas. Trata-se do EDP dirigida pelo Sr. António Mexia, cujos membros do C.A. recebem anualmente 1.095.855 euros por cabeça, ou seja, 23,24 vezes que a média dos salários de quadros e trabalhadores que é de 47.154 euros. A bela presidente executiva da afiliada da EDP, a Sra. Ana Maria Fernandes, está num C.A. bem mais modesto com apenas 235.000 euros anuais por cabeça.
A PT apesar de enfrentar a concorrência quase mortal do Skype e VoipBuster continua a ser a que mais paga aos seus administradores, mais de 1,5 milhões por cabeça. É obra!
Assim, temos ainda os seguintes valores salariais por pessoa nas diversas empresas cotadas em bolsa e, por sinal, bem mal cotadas:
  • Portugal Telecom: 1.553.306 / administrador e 19.287 / quadro e trabalhador.
  • Sonae SGPS: respectivamente 922.500 e 17.917.
  • Portucel: respectivamente 904.919 e 51.777.
  • Cimpor: respectivamente 797.658 e 26.973
  • Brisa: respectivamente 739.351 e 32.396.
  • Galp: respectivamente 683.167 e 37.354.
  • Zon: respectivamente 637.347 e 34.110.
  • Jerónimo Martins: respectivamente 623.046 e 11.564 euros – é a empresa que mais mal paga aos seus funcionários.
  • BCP: respectivamente 487.571 e 40.520.
  • Sonae Indústria quase falida: respectivamente 334.042 e 41.400.
  • Mota-Engil: respectivamente 216.238 e 17.424 euros. O nosso camarada Jorge Coelho é, sem dúvida, o administrador que aufere o mais baixo salário no conjunto das empresas portuguesas cotadas em bolsa.
  •  

Saliente-se aqui que a média por quadro e trabalhador parece, por vezes, elevada, por serem empresas que empregam bastantes engenheiros e economistas e porque o trabalho mais mal pago como limpezas, guarda de portões, reparações, etc. ser contratado a empresas de fora, pelo que os salários mais mai baixo não entram nas médias.
A empresa que mais gasta com o seu Conselho de Administração é o BES que desembolsa 12,6 milhões de euros, segue-se a EDP com 7,7 milhões e em último lugar no total de pagamentos ao C.A. está a Mota-Engil com 1,4 milhões.


Publicado por DD às 11:55 | link do post | comentar | comentários (4)

MARCADORES

administração pública

alternativas

ambiente

análise

austeridade

autarquias

banca

bancocracia

bancos

bangsters

capitalismo

cavaco silva

cidadania

classe média

comunicação social

corrupção

crime

crise

crise?

cultura

democracia

desemprego

desgoverno

desigualdade

direita

direitos

direitos humanos

ditadura

dívida

economia

educação

eleições

empresas

esquerda

estado

estado social

estado-capturado

euro

europa

exploração

fascismo

finança

fisco

globalização

governo

grécia

humor

impostos

interesses obscuros

internacional

jornalismo

justiça

legislação

legislativas

liberdade

lisboa

lobbies

manifestação

manipulação

medo

mercados

mfl

mídia

multinacionais

neoliberal

offshores

oligarquia

orçamento

parlamento

partido socialista

partidos

pobreza

poder

política

politica

políticos

portugal

precariedade

presidente da república

privados

privatização

privatizações

propaganda

ps

psd

público

saúde

segurança

sindicalismo

soberania

sociedade

sócrates

solidariedade

trabalhadores

trabalho

transnacionais

transparência

troika

união europeia

valores

todas as tags

ARQUIVO

Janeiro 2022

Novembro 2019

Junho 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

RSS