A República dos economistas (liberais) (-por J.T. Lopes, 6/5/2015)
«Assisti com algum espanto a uma das últimas edições do Expresso da Meia-Noite, na SIC Notícias, com três economistas (neo) liberais (incluindo Mário Centeno, coordenador do estudo sobre o quadro macroeconómico encomendado pelo PS, uma economista da Universidade Nova e a deputada do CDS-PP Cecília Meireles) e José Reis, da Universidade de Coimbra.
A certa altura, o discurso tornou-se surrealista, pois dir-se-ia que a economista da Universidade Nova e Mário Centeno tinham entrado na estratosfera dos modelos e das equações, uma vez que raciocinavam sem qualquer ligação à terra, confrontando com grande à-vontade e esoterismo argumentos técnicos sobre os “estabilizadores” e “multiplicadores” do “exercício”, distanciando-se a grande velocidade daquilo a que Paulo Portas chamaria, com o talento retórico habitual, “economia real” e que eu preferiria tão-só apelidar "sociedade portuguesa". (...)
A República dos economistas (neo)liberais, à qual o PS prestou vassalagem, está nos antípodas do que vem propondo o economista não liberal Thomas Piketty: repor a distribuição da riqueza no centro da análise. Para tal, é imperioso combater a concentração e acumulação de capital,
através da articulação entre um imposto progressivo sobre as sucessões, um imposto progressivo sobre o rendimento e um imposto progressivo sobre o capital.
O máximo que o “modelo” de Centeno permite é uma tímida reposição do imposto sucessório que um anterior governo do PS aboliu. Sobre as taxações dos activos financeiros e das grandes fortunas nem uma modesta equação.
Importa perguntar, como naquele graffito que há uns anos iluminava uma das paredes do ISCTE:
« estes economistas, para quê? » Ou, por outras palavras, «quem nos mergulhou no furacão da crise vai agora salvar-nos?» Ou, se preferirem ainda,« onde está a política?»
Onde está a preocupação concreta pela superação das fracturas da sociedade portuguesa?
A ideologia, pelo contrário, eu sei bem onde está. Bem no centro, no coração mesmo, daquele modelo “limpinho”, abstracto e cheio de maravilhosos e acertados multiplicadores.»
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As designações/ termos podem significar/ ter conceitos diferentes e não são neutras. Claro que a terminologia e conceitos usados geralmente têm por detrás uma intenção e também se diferenciam entre seguidores de diversas ideologias e de culturas e países diferentes, o que induz a confusões quando se desconhece o contexto.
.. Liberal vs. NeoLiberal (tb 'de mercado',...) vs. Não Liberal (tb social-democrata, ...)
.. Impostos regressivos (e mínimos) vs. Impostos progressivos
.. Estado mínimo (e neoliberal, de mercado, livre, global, ...) vs. Estado Social (com políticas sociais-democratas, mais interventivo na economia)
.. Economia ('neutra'/ 'de mercado') vs. Política (incluindo a económica, 'ciência' social e humana)
.. Direita vs. esquerda ; centro vs. extrema-... ; 'centrão' (c.-direita + c.-esquerda, alternância de 2 ou 2+1, sem significativa diferenciação de políticas e práticas)
«LIBERAL» é designação antiga (séc. XVIII e XIX) referindo-se a LIVRE em sentido alargado: Liberdade social e política (democracia), mas também a Liberdade económica/ de comerciar, «laisser faire, laisser passer», e de exercer actividades/ profissões 'liberais'.
Mais tarde (finais do séc. XX e XXI), aparece o termo «NeoLiberal» (e também "ordoLiberal", "ultraLiberal"), mais desligado da "Liberdade social e política" (já reconhecida e aceite na generalidade dos países 'ocidentais democráticos'), e mais restrito e incisivo na vertente política económica defensora de um Estado mínimo, privatizador, pouco regulado, pouco interventivo na 'economia' e na 'sociedade civil', e deixando a livre actuação dos agentes de mercado, em concorrência 'livre', estabelecer o seu 'equilibrio' e 'auto-regulação', 'ajustamentos', 'reformas' e 'soluções', para os problemas da produção, consumo, distribuição, preços, recursos, ambiente, relações de trabalho, salários, crescimento, ... Por oposição a esta ideologia (política económica de 'direita'), aparece a 'esquerda' («Não Liberal», não neoliberal) a defender o que é público, o «Estado Social» e a «social democracia/ socialismo democrático».
Para os anglo-saxões (UK, USA, ...) e seguidores da 'escola de Chicago', o termo «liberal» continua a ser actual e usado/ assumido pela 'DIREITA' (partidos Republicano, Conservador, Liberal, 'Popular', ...). Para diferenciar do significado histórico-social comum, a 'ESQUERDA' (partidos Democrático, Trabalhista, Socialista/Social Democrata, Verdes, ...), designa geralmente as posições (político-) económicas da actual 'direita' (no poder) como 'neoLiberais', 'ordoliberais' ou 'ultraliberais'.
Note-se também que «capitalismo» quase deixou de ser referido depois da "queda do Muro de Berlim", pois é assumido que quase todos os estados são capitalistas (embora a esquerda ainda critique o 'capitalismo selvagem'); e «comunismo» só é referido a 3 estados, aos raros 'partidos comunistas', ou como insulto para irritar alguma esquerda. ...
--- Economia e 'Empreendedorismo' condicionados. (Harmódio, 3/1/2013)
Vamos começar por esclarecer que o 'Empreendedorismo' no nosso país (tal como a "Livre Concorrência") nunca foi mais que um conceito universitário importado (sem qualquer cuidado de adaptação à realidade no terreno… o mesmo cuidado e primor do costume que os nossos académicos/políticos nos têm habituado).
Mesmo em melhores tempos a maioria dos mercados estavam dominados por algumas empresas de “grande” dimensão (e boas ligações políticas e financeiras) que "fechavam o jogo" a todos os outros (novos e independentes), para além de haver Cartelismo (acordo de preços e condições de um grupo de empresas para dominar o mercado e enganar consumidores e autoridades públicas) e oligopólio quase-Monopolio, sobre-explorador de Trabalhadores, de Clientes/ Utentes e de Fornecedores/ Produtores (pequenos e/ou desunidos).
E o crédito bancário a investimento de risco sempre teve um valor anedótico estando dependente da "Linhagem Familiar" (dos poderosos e das 'luvas', 'cunhas' e nepotismo) mais do que o mérito do plano de negócios. Logo, excluindo esta elite privilegiada, o empreendedorismo nunca foi saída e para ninguém neste país.
Sempre foi este o ambiente de negócios português. Sempre foi um (exclusivo) jogo de Ligações pessoais/negócios, Familiares, partidárias, religiosas/OD e maçonarias).
Depois será conveniente dizer que os ganhos em exportações se ficam em grande parte a dever à diminuição dos Custos Laborais (e fragilização do trabalhador, salários baixos, +horas mal ou não pagas, tarefeiros/ precariedade sem direitos...) ,
por isso, o tal “mérito” dos privados de pouco nos serve a não ser que o modelo social que se esteja a apontar como objectivo seja o das Filipinas/... . Bom proveito nos façam esses “ganhos” que além de não serem (re)distribuídos equitativamente (como urge num país de Desigualdades sociais galopantes) depressa se transformarão em armas para chantagear o país (através de organizações patronais, oligarcas e políticos neoliberais) a aceitar condições laborais permanentemente MÁS (“não podemos melhorar nada senão perderíamos competitividade”).
Quanto ao resto pouco há a dizer que todos não saibam já.
A Oposição (PS) é um fantasma que não quer assumir o poder (com políticas de esquerda) porque sabe que não vai existir saída airosa deste buraco de dívida iligítima (e principalmente privada) que (governantes neoliberais) resolveram assumir (como pública/ soberana) e que os contribuintes e trabalhadores estão a pagar muito caro.
A Corrupção política prossegue (sendo mais danosa nos grandes negócios e privatizações) como sempre prosseguiu, mesmo quando envolve regimes ditatoriais. 'Business as usual'.
Todos podem saber isto e pode dar um post simpático, mas a verdade é que pouquíssimos querem saber de uma vírgula daquilo que aqui foi escrito (e preferem propagandear/ enganar a maioria e esta aceita alienar-se e culpar outros pelas suas desgraças, iliteracia, frustração, empobrecimento e má governação).
--------- ver tb em comentários (o contexto e as definições/ aplicações de outros conceitos/ designações): "austeridade", ...
De Privatização dá Comissões e tachões a 20 de Maio de 2015 às 15:39
A noiva já vai grávida?
Marcelo Rebelo de Sousa compreende a pressa do governo em privatizar a TAP, mas manifestou o seu pesar na TVI, por o governo não ter conseguido encontrar um noivo adequado para a TAP.
O que Marcelo não explicou é que a pressa do governo resulta do facto de a noiva estar grávida e ser preciso, urgentemente, garantir que daqui a nove meses dê à luz as comissões.
No entanto, tal como aconteceu com os submarinos, ou com o deputado Nuno Magalhães, ninguém assumirá a paternidade.
(- por Carlos Barbosa de Oliveira 20/5/2015,
Vai o pote, dispara a dívida
( http://corporacoes.blogspot.pt/ 24/5/2015, M. Abrantes)
----- Abutres sem tempo para preparar assalto às últimas jóias da coroa [ CGD , Águas de PT, ...] (mas já se fala na hipótese deste PR não dar posse a um governo sem maioria, e prolongar este Desgoverno PSD/CDS até às eleições presidenciais jan/fev,2016 !! : é continuar a SAQUEAR vilanagem !! )
• Luís Villalobos, Onde falharam as privatizações (http://www.publico.pt/economia/noticia/onde-falharam-as-privatizacoes-1696623?page=-1 ) :
«(…) Outro aspecto importante das reprivatizações prendia-se com a redução do peso da dívida pública na economia. Uma intenção com algum mérito, mas que falhou redondamente.
Durante estes anos, a venda de empresas que estavam nas mãos do Estado rendeu cerca de 35 mil milhões de euros (tendo por base um valor referido por Ana Suspiro no livro Portugal à venda).
Quanto à dívida pública, está agora na casa dos 220 mil milhões de euros (130% do PIB).
Historicamente, a descida da dívida pública esteve associada aos pagamentos decorrentes das reprivatizações e não do controlo das despesas.
Assim, rapidamente voltou a subir e o resultado do encaixe com a venda de empresas foi o mesmo que
atirar copos de águas para um fogo alimentado por gasolina (fenómeno que continuou a verificar-se com o actual Governo).
(…)
Caso a privatização da TAP seja finalizada, pouco resta ao Estado para vender.
Com os falhanços que se verificaram no processo das reprivatizações, espera-se que o futuro seja diferente para grupos como a Águas de Portugal e a Caixa Geral de Depósitos.»
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---Há uma parte do artigo que não está no post e que é importante para enquadrar temporalmente esta história das privatizações dos bens públicos em sectores estratégicos e geralmente monopólios naturais –
«Em 1990, Mário Soares e Cavaco Silva, enquanto Presidente da República e primeiro-ministro, respectivamente, assinaram a lei-quadro das privatizações»
- mas também não está no post a assunção do carácter NEOLIBERAL que levou a que o rol descrito de empresas estratégicas e monopolistas fossem privatizadas, e nestes 25 anos, pelo PS, PSD e CDS.
Alinharam todos pela bitola neoliberal com a esfarrapada DESCULPA que os PRIVADOS (a maioria estrangeiros) é que eram bons a gerir o interesse público (estado e cidadãos). Vê-se ! !!!!
Há também uma parte do futuro que é muito fácil de adivinhar e melhor que qualquer astrólogo:
o PS, o PSD e o CDS vão querer privatizar o que resta do sector empresarial e da área social do Estado,
recorrendo às mais diversas formas e ENRIQUECENDO brutalmente uma MINORIA de catrogas, vitorinos, amados, mexias, loureiros, cadornas, varas, ...
à conta dos bens de todos, com a maioria dos cidadãos sempre a perder.
-(maio 24),
Organizações católicas, dizem eles...
«O Hospital de Santa Maria, o maior do
país, está minado por uma teia de interesses
(com 'tachosos' - 'luvosos' interesses e milionárias compras de bens e serviços; máquinas, medicamentos, empresas de trabalho temporário, ... adjudicação de estudos e consultorias)
e lealdades a partidos políticos, à maçonaria e organizações católicas,
conclui um estudo que avaliou a qualidade e funcionamento de seis instituições nacionais.
A análise ao Hospital de Santa Maria (HSM), a cargo de Sónia Pires, salienta que, “apesar das melhorias registadas a partir de 2005″, a unidade hospitalar
“continua atravessada por fortes conflitos de interesse e atos nas zonas cinzentas ou silenciadas que se configuram como corrupção“.
“A Maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos ainda são três realidades externas que intersetam a esfera do HSM”, refere
o estudo “Valores, qualidade institucional e desenvolvimento em Portugal, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (do PD), que vai ser apresentado na quinta-feira.
A investigadora, que se baseou em questionários e entrevistas recolhidos entre 2012 e 2013, traça um retrato negro (tb ajuda a 'deitar abaixo o SNS,... para privatizar...!!)
da instituição onde se entrecruzam os interesses públicos e privados de “grupos poderosos“, nomeadamente na classe médica e na direção de serviços de apoio
que condicionam o funcionamento dos serviços a nível de recursos humanos e aquisição de material clínico.» --[Observador]
Parecer:
O curioso desta notícia é que se diz sem gaguejar "maçonaria" mas na hora de falar em Opus Dei (e IPSS católicas,...) parece existir um manto protector dos senhores da Obra de Deus, senhores que pela terra parecem mais dedicados a "obrar".
Também não deixa de ser curioso que ninguém se lembre da presença da Opus Dei ao mais alto nível do ministério da Saúde.
(- 28/5/2015, http://jumento.blogspot.pt/ )
John Locke, Duvid Hume, Adam Smith os IDEÓLOGOS da AUSTERIDADE ?
---- John Locke (1632 - 1704) grande filósofo inglês é o primeiro ideólogo do liberalismo. Representante da burguesia em ascensão ele é um grande ideólogo da liberdade individual e da propriedade privada CONTRA o poder discricionário e abusivo do REI e da nobreza, contra o ABSOLUTISMO.
Com Locke nasce a primeira teorização do liberalismo económico, do indivíduo contra o Estado (absolutista).
---- Mark Blyth na sua obra "AUSTERIDADE a História de uma Ideia Perigosa" (Quetzal 2013) diz que Locke foi o pai teórico da AUSTERIDADE, e que esta se ergue de tempos a tempos, ao longo da história do capitalismo.
A AUSTERIDADE que assola a Europa do Euro e é seguida com entusiasmo e volúpia ACRÍTICA pelos regentes da Troica em Portugal, Passos/Portas/Cavaco.
Outros grandes figuras da Filosofia ou da Economia se lhe seguiram com novas "nuances" adequadas às circunstâncias, como o escocês David Hume (1711-1776) ou o grande e também escocês Adam Smith (1723-1790) .
Vem daqui a quadratura do circo da doutrina (agora Neo-)Liberal (no sentido económico) acerca do
ESTADO:
1) NÃO SE PODE VIVER COM ELE,
2) NÃO SE PODE VIVER SEM ELE,
3) NÃO QUEREMOS PAGÁ-LO.
Remetendo-nos à ÉPOCA deste grandes pensadores e interpretando os interesses dos capitalistas/burgueses NÃO SE PODE VIVER COM ELE porque cobra-nos impostos ,
NÃO SE PODE VIVER SEM ELE porque é necessário manter a ordem e para defender o direito sagrado à "nossa" propriedade.
NÃO QUEREMOS PAGÁ-LO percebe-se.
Nos tempos (actuais é preferível usar "Neoliberal" em vez de "Liberal", pois o contexto é outro) da UE e do EURO a tradução é:
NÃO SE PODE VIVER COM ELE
(quando é controlado por gente má como a do Syriza) e deve em qualquer circunstância ser
reduzido ao mínimo, privatizando-se tudo o que dê lucro (mesmo que a privatização seja uma nacionalização chinesa como no caso da EDP),
NÃO SE PODE VIVER SEM ELE
porque é preciso manter parlamentos e governos que façam as
leis que convêm ao capital financeiro e tenham
fortes polícias para manter o respeitinho da "populaça" incluindo aqui as classes médias.
NÃO QUEREMOS PAGÁ-LO:
Cortem nas pensões, cortem do serviço nacional de saúde, cortem na Educação, rebentem com a segurança social, e na Administração Pública em geral.
Não estou contra Locke, Hume ou Smith. eles lutavam contra o poder despótico e senhorial dos reis e dos nobres e interpretavam as forças progressistas em ascensão.
Estou é contra os actuais paladinos da AUSTERIDADE posta ao serviço da nova nobreza do dinheiro
mas que mesmo com esse propósito é ao que parece, e os EUA tendem a comprová-lo, uma orientação pouco inteligente e de curto alcance.
(# posted by Raimundo Pedro Narciso, 1/6/2015 , http://puxapalavra.blogspot.pt/2015/06/john-locke-duvid-hume-adam-smith-os.html#links )
Elogio da austeridade
(-por Rui Herbon, 12.06.15, delito de opinião)
Zygmunt Bauman – que introduziu o conceito de modernidade líquida, a do precário, inseguro e volátil – analisou o fenómeno à escala mundial e denunciou a transformação do consumo, que passou a ser CONSUMISMO. Trata-se de uma corrida vertiginosa em direcção à novidade pela novidade em si mesma, onde o prazer já nem sequer reside no que se tem mas no que se adquire, onde as mercadorias caducam de um dia para o outro e não há limites aos desejos humanos, condenados por isso a estarem sempre insatisfeitos.
George Miller, um neodarwinista norte-americano, vê o MARTKETING como o invento mais importante dos últimos milénios porque é a única invenção que apareceu para dar real poder económico às pessoas, isto é, o poder de fazer com que os nossos meios de produção transformem o mundo natural num pátio de recreio para as paixões humanas. E questiona-se se na sua versão moderna o marketing é algo bom ou mau. Aponta como positivo o facto de o marketing PROMETER uma idade dourada na qual as instituições sociais e os mercados são organizados para maximizar a FELICIDADE humana (o que a ciência faz para a percepção, o marketing promete para a produção). Aponta como NEGATIVO o facto de o marketing nos INDUZIR a COMPRAR coisas que na realidade não necessitamos e que, mais do que desordenar as nossas casas ou garagens, corrompe as nossas almas.
Com o fenómeno do consumismo tem relação natural o seu oposto: a AUSTERIDADE. Tony Judt, historiador falecido em 2010, relatou numa crónica na New York Review, intitulada "Austerity", memórias da sua juventude inglesa. Reconhece que aos olhos dos seus filhos é uma relíquia da era da inocência tecnológica. Tem, num tempo de substituições imediatas para qualquer coisa que falhe ou falte, costumes tão arcaicos como percorrer o seu apartamento reparando pequenas coisas, apagando luzes que não fazem falta, fechando torneiras que gotejam, guardando sobras de papel. Os filhos comentam com os amigos que o pai criou-se na pobreza. Ele corrige-os: eu cresci foi na austeridade.
Recorda que depois da guerra havia falta de tudo em Inglaterra. A roupa foi racionada até 1949, os móveis até 1952, a comida até 1954. O racionamento era para uma criança uma coisa natural. A sua mãe administrava tudo rigorosamente, inclusive as guloseimas.
O governo trabalhista do pós-guerra melhorou as coisas: tiveram, por exemplo, fácil acesso a leite e a sumos de citrinos. Os racionamento e os subsídios faziam com que satisfazer as necessidades básicas da vida fosse algo ao alcance de todos. Desde 1945 até meados dos anos 60 funcionou um programa em larga escala de construção de habitações MODESTAS mas DIGNAS.
Havia CARÊNCIAS, mas tudo era tolerável particularmente porque existia solidariedade nas famílias. Até os ricos se tornaram mais modestos, menos OSTENSIVOS, menos dirigidos ao consumo conspícuo.
Contemplando aquelas circunstâncias a partir da perspectiva actual, Tony Judt vê as virtudes desse tempo de RELATIVA POBREZA. Pessoalmente, ele não desejaria o seu retorno, mas recorda que a austeridade não se vivia só como uma condição económica das pessoas: aspirava a uma ÉTICA pública. Clement Attlee, um homem modesto que foi primeiro-ministro trabalhista entre 1945 e 1951, encarnou as reduzidas expectativas da época. Representava a classe média reformista, moralmente séria e austera. Quem, pergunta-se Judt, entre os actuais líderes dos países prósperos poderia pretender o mesmo, ou sequer entendê-lo? Explica que a seriedade na vida pública é, como a pornografia, algo que é difícil definir mas que se reconhece quando se vê. Ela significa COERÊNCIA de intenção e acção, uma ética de RESPONSABILIDADE pública.
Agora temos uma visão empobrecida da comunidade: a solidariedade no consumo é tudo o que nos identifica com aqueles que nos governam. Se queremos melhores líderes, devemos aprender a pedir mais deles e menos para nós. Enfim, um pouco de austeridade.
-----xxx---
A austeridade aqui elogiada nada tem a ver com a definição que a palavra agora parece ter tomado (em exclusivo e erradamente). Uma coisa é certa: os povos austeros por natureza raramente chegam à presente austeridade.
...
----R. Herbon:
Vivemos numa sociedade da abundância (aparente e fomentada pelo crédito que, como se viu, um dia cobra a sua factura) onde as pessoas cada vez são mais infelizes.
Não me recordo quem escreveu (...) que a felicidade fica a meio caminho entre a escassez e o excesso. Não tenho dúvida disso.
----P.Correia:
Tantas vezes me tenho interrogado sobre isto também - a necessidade reaprendermos a viver com menos para conseguirmos ser melhores do que somos.
Imersos nestas sociedade pós-modernas europeias que durante algumas décadas fez da cultura do desperdício uma bandeira, perdemos o contacto com o essencial.
... "a austeridade não se vivia só como uma condição económica das pessoas: aspirava a uma ética pública."
------ jj.amarante:
Precisamos portanto de lançar mais impostos sobre os muito ricos para trazer, também a eles, os benefícios da austeridade! ...
------lucklucky:
"Trata-se de uma corrida vertiginosa em direcção à novidade pela novidade em si mesma,
onde o prazer já nem sequer reside no que se tem mas no que se adquire,
onde as mercadorias caducam de um dia para o outro"
Pelos vistos esta "igualdade" em que um pobre pode comprar um produto que há 10 anos nem um rico poderia ter, é má...
------Vento:
A austeridade não é uma medida que se impõe, é também uma atitude natural face às circunstancias.
Aquilo que no presente definem como austeridade não passa de uma medida que visa suprir a perda de resultados de uns em DETRIMENTO do bem-estar de outros.
É esta, como exemplo, a medida preconizada pelos austeros Passos e Portas e outros mais que no aconchego do conforto de seus gabinetes, proporcionado pela massa de cidadãos com e sem recursos, e com ordenados garantidos ao final do mês, pagos por essa mesma massa de anónimos, debitam leis, refundações e reformas que simplesmente refodem o que outros iniciaram.
É muito fácil pedir essa austeridade quando a simples equação de TIRAR, literalmente, o que FAZ FALTA a uns para SOBREVIVER e o colocar nas mãos dos que já TÊM e não o usam para reverter o ciclo que eles mesmo implementaram, está na ordem do dia.
É necessário que se EDUQUE para REJEITAR o SUPÉRFLUO concentrando-nos no essencial.
Mas este ESSENCIAL não pode ser comparado ao essencial do passado.
Mas esta austeridade que na realidade vivemos eu já a vejo há muito tempo: em África, sem me esquecer do Biafra; na América-Latina; a miséria do Subcontinente indiano que reforça a ideias das castas para justificar a "austeridade"; mas também em muitas partes da Ásia e da Europa de Leste; e no underground mundo AUSTERITÁRIO nos EUA.
Na realidade, Passos e Portas, e em geral o PSD/CDS, unidos aos demais aprendizes do Club de Bilderberg dispersos pela Europa, instituições europeias e Internacionais, sem esquecer a ONU e o FMI, assimilaram e vivem, tal como respiram, esta mentalidade super-elitista para si e quarto-mundista para todos os outros...
------ Zé T.:
o AUSTERITARISMO está associado ao NEOLIBERALISMO que enviesa a economia e a política a favor da Finança global e da Oligarquia económica para estes poderem Saquear os recursos comuns e Explorarem ainda mais os trabalhadores e a classe média, os contribuintes, os consumidores e os pequenos produtores !!.
No fundo as Elites que preconizam estas políticas e os governantes fantoches e capatazes que as aplicam,
promovem o empobrecimento geral a favor de uma minoria, e
em vez de desenvolvimento e mais igualdade e cidadania, solidariedade e Humanismo,
promovem as favelas, a injustiça e desigualdade, o crime, a violência e a perda de direitos Humanos, sociais, políticos, laborais e ambientais.!!.
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