As sondagens que vão aparecendo começam a deixar algum amargo de boca a quem, como eu, viu renascer a esperança numa verdadeira alternativa a este governo e ao marasmo que se apoderou do país aquando da mudança de líder do PS. António Costa corporizou, e bem, essa necessidade, criando uma verdadeira coligação de vontades, dentro e fora do PS.
No entanto o tempo vai passando e o vendaval transforma-se a largos passos numa brisa ou mesmo na quietude anterior. E a percentagem de abstenções a subir, que atinge já os 40,4%, é o mais importante dado que nos permite perceber que a desmobilização voltou e que a descrença se torna a instalar.
Será que o PS se contenta com uma vantagem tão magra em relação aos partidos da direita? Será que desistiu de cativar os abstencionistas, que é o grupo que pode dar a vitória ou a qualquer grupo ou movimento populista, dos que se vão desenhando e testando a desilusão dos cidadãos? Será que não precisa de seduzir a o eleitorado para a necessidade de uma maioria absoluta?
A afirmação de valores e de ideias não depende dos mercados nem das negociações europeias. Como já manifestei anteriormente, as posições cautelosas do PS no que diz respeito ao tratado orçamental e ao pagamento da dívida só demonstra a inteligência e seriedade da sua liderança. Mas falta o resto, falta tudo o que poderá criar a tal onda que nos leva a acreditar que há alternativas à apagada e vil tristeza com que nos resignamos a viver.
Queremos saber quais as reformas que o PS quer para os serviços públicos:
- Como vai remodelar o SNS? Investir nos cuidados primários? Como vai formar e incentivar Médicos de Família? Como vai organizar as Unidades de Saúde? Como vai organizar a referenciação dos cuidados? Como vai reorientar as prioridades de investimentos dado o tipo de patologias existentes e futuras, pelo envelhecimento populacional? Como vai rentabilizar e optimizar os os recursos humanos numa área com carências gritantes a nível médico e excedentes a nível técnico e de enfermagem?
- O que entende mudar em relação ao sistema de ensino? Como vai escolher os professores para o ensino público? Como vai avaliar as alterações curriculares que têm sido feitas, a concentração de escolas, a distribuição das ofertas a nível geográfico? O que vai fazer ao ensino de adultos? Quais os resultados dos reforços a Matemática e Português? Vai ou não alterar o acesso ao ensino superior?
- O que entende mudar nas carreiras da função pública? Vai manter a forma de remuneração ou vai alterá-la? Como pretende renovar os quadros? Ou quer esvaziá-los para continuar a fazer contratualização de serviços?
- Como entende dinamizar o mercado de emprego? Vai continuar a aumentar a idade da reforma e os horários de trabalho ou vai fazer o contrário? O que pensa dos empregos nas áreas de apoio social? O que entende fazer em relação à promoção da igualdade de oportunidades para homens e mulheres, combatendo a exclusão das últimas por causa da gravidez e apoio à família? O que pensa das creches e infantários nas empresas, dos horários parciais, do teletrabalho?
Posso lembrar-me de milhares de perguntas às quais ninguém sabe o que pensam aqueles que se vão apresentar a eleições. Mais do que gastar muito ou pouco dinheiro, as pessoas querem ver ideias exequíveis, que possam significar uma melhoria nas suas condições de vida.
António Costa terá que falar destes problemas e de outros que verdadeiramente interessam os cidadãos. A recuperação da ideia da regionalização (com a qual eu até concordo) diz quase nada a quase todos. Dá a sensação de que está a tentar ganhar tempo, como se estivesse a fazer sapateado enquanto espera pelo actor principal.
O PS tem que se esforçar por ganhar a confiança dos eleitores. De outra forma será mais um balão a esvaziar, numa festa que não chegou a começar.
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“A Miséria da Política” (passe o exagero) (-por JV Costa, no moleskine, 17/2/2015)
A actividade política portuguesa, a todos os níveis – institucional, partidária, social – está débil. Débil em intensidade e sobretudo em qualidade. A produção teórica é escassa e superficial, imperando a auto-censura dos autores que dão por certo que ninguém lhes lê um texto de mais do que uma página A4. Exceptua-se a intervenção crítica e informativa no domínio económico, mas nem sempre equilibrada por uma igualmente rigorosa e aprofundada análise política.
Aliás, escasseiam os analistas políticos de qualidade. A presença na televisão é predominantemente de economistas ou de políticos partidários reformados. Já poucos têm a dizer alguma coisa interessante, muito menos de radical. “D'Alema di' una cosa di sinistra, di' una cosa anche non di sinistra, di civilità… D'Alema di' una cosa, di' qualcosa! Reagisci!” (Nanni Moretti, “Aprile”).
Pior ainda é o trabalho teórico dos partidos. A menos que se confunda com isso simples artigos de opinião ou propostas de acção política concreta, PS, PSD e CDS têm trabalho teórico nulo, o do BE é escasso e o do PCP desgasta-se em incontáveis e indigeríveis comunicados, todos a usar um estilo, linguagem e esquema de raciocínio a quererem convencer que ainda há quem cultive o marxismo-leninismo (o pior é quando os mais arrebatados descambam para o estalinismo).
Na blogosfera (e FB,...), as “análises” são frequentemente ocas e limitam-se a amplificar em “sound bites” posições elementares, geralmente de indignação emotiva. Quando provêm de grupos proclamado como de debate independente, não é difícil, no Facebook ou nos blogues, fazer corresponder o seu discurso estereotipado ao de partidos políticos, por vezes até em versão mais extrema e reducionista de cartilha. Basta ver que, em redor dessas intervenções esvoaça sempre o mesmo enxame de implacáveis defensores da ortodoxia.
A ação política dos partidos, em oposição, é muito incipiente no uso das novas tecnologias e é de suspeitar que o alcance dos seus sítios, pesados e à imagem dos seus órgãos impressos, fique muito aquém dos seus principais instrumentos de construção de imagem e de respeitabilidade política: a acção institucional (legislativa, autárquica e, distantemente, europeia) e a influência sindical. (... ... )
-------[por V.Magno]:
... o apelo urgente que faz no final do texto à imaginação colide com a ausência de uma qualquer referência no texto às primárias abertas do (partido) LIVRE e da (coligação) Tempo de Avançar (TdA), aos métodos deliberativos que aplicam na elaboração de todos os documentos produzidos (caramba, até foi possível assistir em directo pela internet às votações das emendas enviadas) ou à própria natureza da TdA, que acaba por ser inovadora no panorama nacional - uma coligação que agrega um partido, movimentos e independentes.
Afinal a imaginação a que apela já está a ser testada e agitada pelo LIVRE há um ano para cá. Mesmo que as pessoas - bloguistas incluídos - andem demasiado distraídos ou com pouca paciência para a estudar e acabem por a adjectivar com expressões como "boleia ingénua". E eu aproveito para fundamentar este meu argumento noutro parágrafo do seu texto. O João Vasconcelos-Costa afirma: "Iniciativas da sociedade civil, movimentos sociais e culturais, associações comunitárias, etc., poderiam ter um papel importante na luta contra a desafecção da política e, em unidade com os partidos e outros corpos sociais, ir desbravando o terreno para uma absolutamente necessária reconversão do sistema político." Esta frase documenta uma vez mais uma escassez de estudo cuidado do que se está a passar em Portugal.
Não estará a experiência da sociedade civil organizada, em Portugal, a entrar para a arena da política? Procure as listas das direcções nacionais da última década das maiores organizações não-governamentais em Portugal. Leia os nomes. Analise depois as listas de candidatos nas últimas autárquicas e Europeias em partidos sobretudo da esquerda (LIVRE já incluído no caso das Europeias) e compare. Ou pegue já na lista de subscritores e do Conselho da TdA, por exemplo, que são públicos.
Há movimentação mas é preciso querer conhecer as pessoas - os mais activos da sociedade civil organizada em Portugal não são propriamente famosos. Se nos deixamos distraír apenas pelos interlocutores que os media seleccionam para entrevistar regularmente, escapa-nos facilmente este trabalho de bastidores que - reconheço - antes era difícil de averiguar dentro dos partidos tradicionais, mas agora é mais fácil de medir nestes projectos recentes precisamente por estes tornarem tudo muito visível e público.
Avisos em orelhas moucas?
(por Diogo Moreira, 12/2/2015, 365forte)
“The once-great PSOE - Spanish Workers Socialist Party - has fallen to 18pc and risks fading away like the Dutch Labour Party, or the French Socialists, or Greece’s Pasok. You can defend EMU policies, or you can defend your political base, but you cannot do both.”
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A maioria "mais longe"
(por Pedro Figueiredo, 15/2/2015, 365forte)
Se os reis portugueses tiveram todos um cognome, conforme a relevância política que tiveram na condução do país (como D. Dinis, O Lavrador, por ter plantado o Pinhal de Leiria, que viria a ser determinante para, uns reinados mais tarde, servir de matéria prima aos barcos no período expansionista), também os governos deviam ter.
Esta legislatura do XIX Governo Constitucional de Portugal poderia ficar denominada pela maioria "mais longe”.
Fizeram gala disso mesmo. Desde o memorando da troika ao próprio discurso político. Esta maioria viu mais longe. Mais longe até que o próprio Partido Socialista na recente questão da transparência da propriedade dos órgãos da comunicação social, proposta chumbada por duas já nesta legislatura e que agora regressa pelas mãos da maioria com ideias “bem mais severas”, escreve o Público.
Mais longe foi também na separação que promoveu entre classes, acentuando obviamente os índices de pobreza.
Cortou, em nome da inevitável austeridade, direitos sociais, alguns deles de fazer cair o queixo. Foi mais longe em tantas outras áreas que fica até difícil fazer uma comparação.
Ficou, por isso mesmo, mais longe dos cidadãos que governa.
Beneficiado ainda por um mandato da Presidência da República como o que terminará em 2016, marcado por episódios a mais para quem auto-proclama que está ainda para nascer alguém mais sério.
Mais longe, mais sério. Levou tudo tão mais longe que acabou por carregar mesmo o país nessa demanda.
Carregou no acelerador. Está a ir tudo muito longe. Demais.
O futuro dilema do PS
«O choque frontal entre a União Europeia e a Grécia está a transformar, em pó, partidos que outrora estiveram no centro do poder.
Sabe-se que o centro decidia o poder, porque as classes médias eram maioritárias e estas, na democracia, encontravam ali a sua guarda pretoriana. A crise e a austeridade implodiram o centro, onde outrora se ganhavam as batalhas eleitorais. As classes médias estão em fuga em busca de um pastor que as guie, agora que elas deixaram de ter destino.
Das cinzas de alguns partidos do centro estão a nascer, nas margens, arautos da desgraça ou da salvação. A estabilidade está a ser corroída pelo ácido e quem está a dissolver-se, com maior velocidade, são os partidos da social-democracia, tal como aconteceu com os comunistas depois do fim do Muro de Berlim. O PASOK grego tornou-se um clube de amigos. O seu antigo líder, Papandreou, uma ilusão.
Na Espanha, o PSOE vive numa guerra civil devastadora, enquanto a radicalidade do Podemos ocupa o seu espaço. Na França, só o músculo securitário de François Hollande vai travando o colapso do PSF, a que até Manuel Valls queria tirar o nome de "socialista". A deslocação para o centro dos sociais-democratas, a estratégia da "terceira via" de Tony Blair, entrou em colapso, porque a classe média (o paradisíaco "centro") está a evaporar-se na Europa da austeridade. Se juntarmos a isso a fobia da segurança que está a fazer renascer o nacionalismo radical, nota-se que à social-democracia falta um discurso alternativo face à hegemonia ideológica neo-liberal que ocupa o poder político, cultural e financeiro na Europa.
Os partidos sociais-democratas deixaram de surgir como o centro de gravidade e alienaram a sua capacidade de ser a alternativa. E, entre a esquerda radical e a direita cheia de certezas, ainda buscam um discurso distinto. Portugal é sempre o último país onde se colocam estas questões fulcrais. Mas o PS está prestes a ter de se confrontar com ele.»
Fernando Sobral, via Entre as brumas
Quatro notas sobre o (movimento) Tempo de Avançar (TdA)
(1/2/ 2015, R.Bebiano, http://www.aterceiranoite.org/2015/02/01/quatro-notas-sobre-o-tempo-de-avancar/ )
Quatro curtas notas sobre o modo como decorreu a convenção da candidatura cidadã Tempo de Avançar, que durante o último sábado reuniu no Fórum Lisboa perto de 800 pessoas.
O seu objetivo expresso e comum foi o de preparar uma alternativa de esquerda
em condições de se apresentar às próximas eleições legislativas como escolha consistente, construtiva, autónoma e mobilizadora.
Primeira nota.
Foram discutidas e aprovadas durante a convenção as grandes linhas programáticas de um programa eleitoral
a desenvolver e a tornar público ao longo dos meses mais próximos (em breve disponíveis aqui
http://www.tempodeavancar.net/ ).
O objetivo nuclear que norteou este esforço foi o de contribuir para uma imprescindível viragem na governação do país, assumindo a responsabilidade de,
à esquerda, propor soluções ao mesmo tempo sustentadas, ousadas e credíveis.
Segunda nota.
A convergência de posições não traduziu qualquer procura no sentido de uniformizar ou de diluir as correntes que estiveram na origem deste processo.
Tal como se pretende fazer em relação à aproximação das esquerdas e aos compromissos políticos futuros, insistiu-se no essencial, naquilo que une, naquilo que é prioritário e urgente,
resolvendo-se as naturais discordâncias democraticamente, mas sempre
sem minimizar ou silenciar as vozes que as possam exprimir.
Terceira nota.
Os debates fizeram-se sempre pela positiva,
na construção de um programa próprio, preparado para marcar um rumo novo e para unir.
Sempre na perspetiva de fazer convergir o maior número possível de cidadãos e de setores políticos situados à esquerda do nosso mapa político.
Nem uma só intervenção apontou para a edificação de qualquer bunker político suposto portador da verdade,
tal como não se ouviu qualquer elogio ao Partido Socialista ou ataque expresso ao Bloco de Esquerda ou ao PCP.
Embora tivessem sido referidas as indecisões do primeiro e a escusa dos segundos em assumir uma dinâmica de governo.
Quarta nota.
Ao contrário de uma desmoralizadora tendência que tem sido observada nos tempos mais recentes em outros lugares e movimentos, foi muito apreciável a percentagem de pessoas jovens que esteve presente na convenção e que durante o dia se mostrou mobilizada e participativa.
O que augura dinâmicas essenciais na mobilização de novos setores do eleitorado e na construção de uma alternativa política consistentemente voltada para o futuro.
Existe agora um caminho a percorrer junto da sociedade. Um caminho que só se faz com trabalho, persistência e capacidade de persuasão. Visando mostrar de forma clara que esta proposta não se destina a «dividir a esquerda»,
mas antes a colaborar de forma positiva, com ideias e propostas, e também com gente com rosto, na configuração de uma escolha e na construção urgente de uma experiência convergente de governo.
Essencial para devolver a esperança e a dignidade às pessoas. Imprescindível para libertar o país do pesadelo. A ambição é muita, mas nada se faz sem ela.
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http://www.tempodeavancar.net/
orgs que apoiam: Forum Manifesto; Livre; MIC Porto; Renovação Comunista; ...
(boa técnica:
"ocupar"/comprar um pequeno partido já existente; mudar-lhe a 'Direcção', o Nome, o Programa, ... e ir a Eleições...)
--------------- AGIR - PTP:
Joana Amaral Dias, ex-dirigente e ex-deputada do BE, vai ser a cabeça de lista do AGIR, formação que se legalizará aproveitando o já existente Partido Trabalhista Português (PTP).
O acordo feito entre os ativistas do AGIR e o PTP prevê que agora este partido atualize a sua designação para AGIR-PTP (ou vice-versa, não está decidido).
Os ativistas do AGIR aprovaram hoje à tarde em Lisboa um manifesto onde se enfatiza que "as divisões entre esquerda e direita apenas nos enfraquecem".
"Agir é essa proposta: não interessa se és de esquerda, de direita, de centro, ou não te reconheces em lugar nenhum, o que interessa é a tua vontade de participar nesta ruptura popular e construir uma verdadeira democracia", lê-se no documento.
O essencial do programa do AGIR está centrado numa reforma do sistema político centrada nos problemas da participação popular e do combate à corrupção.
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Parem para pensar:
Os principais partidos que têm responsabilidades no estado em que estáo país, são o PS e o PSD, e o CDS. Trés partidos apenas.
Porque razão não podemos dar o benefício da dúvida a outros partidos e limpar a corja dos que têm destruído o país nestes quarenta anos?
"Agir é essa proposta:
não interessa se és de esquerda, de direita, de centro, ou não te reconheces em lugar nenhum, o que interessa é a tua vontade de participar nesta ruptura popular e construir uma verdadeira democracia".
Quem é que não percebe que no fundo é exactamente isto que todos queremos:
Ruptura com este sistema corrupto?
E a solução para correr com toda esta corja é
Não votar em nenhum dos 3 partidos (PS e PSD+CDS) do arco do Gamanço! do "centrão de interesses privados e obscuros".
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O líder do PS-Madeira e candidato da
COLIGAÇÃO MUDANÇA (PS-PTP-PAN-MPT),
Victor Freitas, defende Renegociação da Dívida, o pagamento da dívida indexado ao crescimento económico e admite coligação pós-eleitoral, mas só à esquerda (+ BE, PCP, ...).
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O movimento «Nós Cidadãos»
entregou hoje cerca de 8500 assinaturas no Tribunal Constitucional para se constituir como partido político e poder candidatar-se às próximas eleições legislativas, informou o porta-voz Mendo Henriques.
"Ao longo dos últimos meses reunimos mais de 11 mil assinaturas, mas nós gostamos de fazer com rigor as coisas e entregámos cerca de 8500", mais do que as necessárias (7500) para ser um partido político,
...acrescentou que espera "que no prazo de dois meses" o movimento/partido esteja "cá fora".
Concorrer às próximas eleições legislativas é um objetivo do movimento, que, segundo Mendo Henriques, já está a trabalhar num programa eleitoral.
"A lei eleitoral obriga-nos a ser partido para poder dar voz aos cidadãos e, portanto, o primeiro horizonte que nós temos são as eleições legislativas", sublinhou.
Segundo o porta-voz, o programa eleitoral está a ser constituído juntamente com "associações e movimentos cívicos", e terá "medidas que farão a diferença".
Quanto à pessoa que vai ser o rosto da candidatura do Nós Cidadãos às próximas legislativas, Mendo Henriques referiu apenas que "o cabeça de lista será escolhido em congresso".
Porém, admitiu que o movimento está "em contacto com muitas personalidades independentes e que vêm de quadrantes
que estão insatisfeitos com as políticas do [chamado] arco da governação", mas cujos nomes só serão revelados "em devida altura".
Em relação ao eleitorado que pretendem atingir, Mendo Henriques referiu que são os "abstencionistas", as pessoas que "estão indignadas com as soluções" dos últimos governos e que, por isso, "querem mudar o país".
Mendo Henriques aproveitou também para criticar "o pior que há da esquerda", que classificou como "confisco fiscal",
e da direita, que chamou de "um conjunto de facilitadores e de privilegiados".
A entregar as assinaturas no TC estavam outras seis pessoas, entre elas, o antigo deputado do PSD Pedro Quartin Graça.
Este texto de Francisco Louçã, na linha do Manifesto para uma esquerda que responda por Portugal.
«
As três alianças e os meios de as conjurar: a terceira, a da esquerda
Como argumentei ontem e anteontem, haverá uma coligação de direita e ainda uma política do PS absorvendo os seus partidos periféricos, para depois se aliar ao PSD que sobrar de Passos. E poderia haver uma terceira convergência, só que, ao invés das duas anteriores, esta é de difícil concretização: a da esquerda que se une.
Seria natural porque é a que decorre da convergência sobre políticas essenciais, no campo alargado que se tem oposto à liberalização das leis do trabalho, às privatizações e ao desgaste dos serviços públicos. E, mais importante, os principais partidos desta área apresentam propostas construtivas que são próximas: recusando o Tratado Orçamental, defendem em consequência a única resposta concreta que pode fundamentar uma governação de esquerda, a reestruturação da dívida, sabendo que entra rapidamente o conflito com o euro.
Seria natural ainda, e não é de menos, porque responderiam à exigência, essa sim natural senão desesperada, do “unam-se”. Por isso, é difícil compreender o seu acantonamento eleitoral. E haverá um preço a pagar por uma persistência de contraposições que estão ao arrepio da exigência do momento político: a esquerda precisa de força e corre o risco de se apresentar fraca. Nenhum discurso de auto-suficiência ou auto-satisfação pode disfarçar a arreliante sensação de fragilidade da postura dos partidos de esquerda. Como se interroga Manuel Loff, “a pergunta evidente é saber se o PCP e o Bloco podem, desta vez, interromper o círculo vicioso da desilusão e baralhar o cálculo perverso do voto útil no PS”.
Esta convergência, ao contrário das outras, desarrumaria. As outras procuram consolidar o regime na sua era de austeridade, esta procuraria uma alternativa à austeridade. As duas primeiras alianças confirmam e confiam na alternância entre o PSD e o PS, enquanto este polo político, pelo contrário, desafiaria o rotativismo, o que a esquerda parece ter desistido de fazer até agora. Multiplicaria a capacidade de influência de curtíssimo prazo (condicionar as decisões da governação e ajudar o fôlego do movimento popular) e de curto e médio prazo (apresentar uma alternativa de governo depois de um novo governo do PS que governe como o velho). Responderia ao “voto útil” no PS e, portanto, passaria a ser uma alternativa clara.
No entanto, para se realizar, contra a rotina do fechamento da esquerda, a convergência tinha que superar as tradições dos partidos e isso é o mais difícil. João Oliveira, líder parlamentar do PCP, tem de facto razão ao perguntar se uma simples coligação diminui em vez de aumentar (sugerindo que assim aconteceria). Embora o exemplo da coligação do PS na Madeira seja pouco transponível, provou-se aí mais uma vez que o que soma é a credibilidade com propostas e com as pessoas para essas propostas e não simplesmente uma soma de coligação, porque esta pode ser uma subtração. No entanto, ficar tudo na mesma também não é opção.
Eu vou mais longe: uma limitada e ocasional coligação só entre o Bloco e o PCP diminuiria e não vejo nela nem viabilidade nem vantagem. Em contrapartida, um pólo envolvendo-os com uma parte importante da esquerda social multiplicaria, porque seria a única novidade da campanha e, sobretudo, porque seria portadora da alternativa mais consistente: Portugal contra a dívida e contra uma Europa destrutiva. De facto, essa proposta é a única que tem soluções para Portugal, é a única que resolve o problema orçamental e financeiro, é a única que pode pagar uma política de investimento e emprego, é a única que enfrenta a subserviência da elite nacional perante Berlim.
Se esse polo, como quer que ele se apresente (e sobre isso não faço agora nenhuma sugestão, para não condicionar nem influenciar ninguém, nem discuto aqui a evidente importância das eleições presidenciais para novos sinais de novos tempos), envolver independentes e activistas, quem esteja farto da austeridade e da sua missa cantada e não aguente a mentira europeia, então ele contará.
Desse modo, esse polo ...
...
...
Desse modo, esse polo faria o que nunca se fez e responderia a uma crítica que, por muito que custe, tem fundamento:
a esquerda ainda não aparece a ninguém, nem aos seus militantes, como portadora da capacidade de governar e da preparação para o fazer e, portanto, do empenho em criar a relação social favorável para esse poder.
A solução de alguns analistas é pedir à esquerda que aceite a austeridade e os “compromissos europeus” e, portanto, que se torne social-democrata para “parecer governamentável”.
Ou seja, dizem-lhe que mostrará estar pronta para governar se se tornar igual aos partidos e políticas que quer vencer.
Ora, sobretudo para quem recusa a facilidade da transigência, é exigível fazer mais do que “parecer governamentável”:
é preciso apresentar um programa consistente, com pessoas credíveis, disputando a relação de forças e mostrando por onde se pode caminhar.
A Grécia demonstrou que, se e quando for eleito um governo de esquerda, o confronto será uma vertigem e, se a esquerda quer ganhar, tem de enfrentar imediatamente Merkel e os seus obedientes.
Só a esquerda unida o pode fazer, se é que se leva a sério a ideia de um “governo patriótico” ou de um “governo de esquerda”.
Não é evidente que nos partidos de esquerda haja vontade suficiente ou audácia para uma aproximação que configure esse polo, porque teria que partir deles.
Podem mesmo escolher justificar-se com o povo que não vota ou que descrê.
Ou podem contribuir para apresentar ao povo uma proposta que leva a sério a necessidade de vencer a austeridade neste tempo que conta.
Eu prefiro a luta pela vitória contra o situacionismo que apodrece Portugal.
---(-por Francisco Louçã, via EntreAsBrumasDaMemória, 8/4/2015)
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