... basta estar atentx para perceber que esta crise foi assumidamente inventada pelo 1% das pessoas que detêm a maioria da riqueza mundial, para escravizar na precariedade as restantes 99%.
Rolos de tinta foram gastos com crónicas e horas a fio de rádio e televisão, com vendilhões da teoria de que todxs temos que ser empreendedorxs e, por isso, empresárixs de sucesso (como se fosse possível), a lucrar milhões com a pobreza dxs outrxs (percebem a contradição?). E, se não somos, a culpa é toda nossa! E dos nossos pais. E avós. (Mas sim, a culpa é) Dos banqueiros do BPN e Lehman Brothers ou dos governos que os sustêm? (e das agências de 'rating' manipuladoras, dos especuladores bolsistas, dos empréstimos agiotas, dos intermediários corruptos e burlões, ...) “Ah, isso agora é muito complexo. Talvez sim, talvez coiso.”
Não! Não temos de ser todxs empresárixs. Nem a culpa da crise é dos pais e avós, cujos salários e reformas reais não aumentam desde os anos 90, mas a quem a banca ligava perguntando: “tem sonhos para realizar? Temos um crédito pré-aprovado!” E que legitimamente quiseram dar uma vida melhor axs filhxs. Nem é dxs filhxs que aproveitaram aquilo que no norte da Europa já existia há muito: não agonizar como servos medievais, ser da classe média e poder viver remediado, usufruindo de uns poucos dias de férias, descansando uma vez por semana, tendo direito a lazer, num cinema, num restaurante ou numa piscina de hotel na Madeira ou no Algarve ou no estrangeiro (quem o tem não é mais produtivo?). Se forem alemãxs, francesxs, inglesxs, tudo bem. Se são portuguesxs: o horror dos horrores, gente que só quer boa vida.
A propaganda do 1% foi-nos sendo emprenhada de mansinho. Agora é à grande – desde que o PSD se instalou no governo, o seu maior feito não foi a implementação das políticas de empobrecimento e roubo de salários e pensões. Foi o extraordinário golpe de propaganda que nos faz acreditar que o merecemos. E, no entanto, na Alemanha diminuíram a idade da reforma há poucos dias. Elxs são mais produtivos, dir-me-ão? Experimentem dar em Portugal as mesmas condições, horários e salários da Alemanha e aí falaremos de produtividades comparadas, com todo o gosto!
Todos os dias, pessoas ... balbuciam, dormentes, a conversa do patrão, do 1%, em vez de se defenderem como empregados que são ou pequenos empresários ou prestadores de serviços, todxs pertencentes aos mais pobres 99%. Ouço-xs contra as greves(*), contra quem se manifesta, contra os direitos dxs outrxs. Até lhes irem ao bolso. E aí, indignam-se muito, às vezes ainda contra os seus pares ou contra imigrantes ou contra uma qualquer minoria (normalmente quem mais sofre com a austeridade). Caíram na conversa do bandido. De quem divide para reinar.
... grande parte dos cidadãos mordeu o isco da propaganda dos super-ricos 1% e seus acólitos a avençados. Fizemo-lo porque fomos educadxs para servir e calar. Mas ainda (e sempre) é tempo de arrancar o anzol – no entanto, quanto mais tempo passar, maior será a ferida. Por isso façam-no ainda hoje, pelas vossas mãos. Não esperem por líderes de partidos, organizadores de manifs nem pelx vizinhx.
Juntai-vos e Acordai !
* - se uma greve vos afecta directamente (em vez de criticar os grevistas...), exigi os vossos direitos e uma compensação das empresas que não cumprem os seus contratos com os utentes/clientes ... ex: se o Metro/Carris ... faz um dia de greve exijam que a empresa lhes dê mais um dia de uso gratuito do seu passe já pago; (se 2 dias de greve --> exigir 2 dias extra gratuitos) ... se a empresa de electricidade ou de internet ou telefone não cumpre com o serviço (fornecimento em qualidade, quantidade, ...) exijam uma redução no valor pago e/ou uma multa a aplicar pela entidade reguladora ! - quanto ao conflito entre a empresa e trabalhadores ou as dificuldades técnicas ou outros impedimentos, isso é (concorde-se ou não) matéria para analisar noutras instâncias.
Mas como faço ...? Com manifs, com cartazes/faixas, cartas e e-mails para a empresa, para os mídia (jornais, TVs, rádios, blogs, FB, rede de e-mails e mensagens, ...), para autoridade reguladora, para «defesa do consumidor», para a «assoc. de utentes...», para os deputados dos vários partidos, para o governo, para o tribunal (queixa-crime), para o parlamento europeu, ... mas FAÇA, seja Cidadão de Pleno direito, activo e não passivo. Chega de ser continuadamente enganado e espoliado !!