---- O Estado ao serviço da dívida. (-J.Lopes, 'Dica 33', 8/4/2015)
«Portugal, por leviandade, incompetência (e ...), ficou à mercê da (alta finança/) Europa suposta defensora da solidariedade e da coesão e capitulou vergonhosamente aceitando juros de usura alegremente recebidos por todo o arco da governação.
Com os juros avultados impostos pela ‘troika', que são um valor absoluto, e os prazos de amortização inquestionáveis e inexequíveis, foi-nos imposta uma taxa de esforço inimaginável que tornou o país exangue e congelou severamente a economia. Assumimos um serviço da dívida incomportável que absorve todos os recursos financeiros disponíveis e o resultado visível foi o desemprego galopante e a miséria social crescente.»
---- Abre-te, Sésamo? (-por Fernando Sobral )
«A Europa já não é a caverna cheia de tesouros descoberta por Ali Babá. Escusa-se de dizer: "Abre-te, Sésamo!" A Grécia do Syriza descobriu isso: disse a frase mágica, mas a porta não se abriu e não teve hipótese de partir para junto dos eleitores gregos com um saco cheio de ouro.
A Europa (líderes políticos e poderes financeiros) fechou-se sobre si mesma e só fica com pele de galinha quando Alexis Tsipras apanha o avião para Moscovo e em troca do dinheiro que Vladimir Putin não tem (mas do gás a preços mais baixos que pode disponibilizar) testa a frágil Linha Maginot da Europa: a aliança com a UE e a NATO pode ser trocada por uma outra com o Kremlin. [ Tsipras e Putin: UE à beira de um ataque de nervos. Ou a UE a semear ventos e a colher tempestades.] E é aí que os Estados Unidos, que têm uma estratégia, fazem soar as sirenes, enquanto os europeus continuam a olhar apenas para a caixa registadora, que transformaram no símbolo da ideologia europeia. No meio de tudo isso, Tsipras aproveita para arrepiar os alemães contabilizando as "indemnizações da ocupação nazi" devidas à Grécia. Se isto não é uma Europa comum, com uma moeda única, o que será a integração europeia? A crise económica europeia transformou-se numa desidratação política e moral do Velho Continente. O modelo de vida criado no século XVIII está a desmoronar-se completamente e a Europa, face aos poderes e práticas emergentes em todo o mundo (globalização e neoliberalismo), afunda-se, com a cabeça enterrada na areia. Afinal tudo se reconduz a interesses particulares. (...) O problema grego é apenas a borbulha mais visível, e que mais depressa rebentará, nesta Europa de interesses privados disfarçados de interesse comum. Onde todos fingem uma vontade única. A Europa foi, em tempos, um "Abre-te, Sésamo!". Hoje é uma caverna fechada, cheia de teias de aranha. E sem ideias de futuro.»
---- Why are we sacrificing Greece for the insiders? (- J.Lopes, 'Dica 29') «The Greeks are again being faced with a choice between their democratic mandate and their European commitment. This is pretty stark stuff. Amazingly, all the mainstream political parties have been queuing up to bash the Greek government. Why is this?
The Greek economy is broken. The society is fractured and there is a humanitarian disaster in the country, with many people surviving off food kitchens. Yet from Europe, when the Greeks need understanding and sympathy, they get threats.»
«What the Greeks have done, and this is what has attracted me to become as engaged as I could be in this situation, what they’ve done in the past few months, is astounding. They have dismantled – I think definitively – and banished an entire previous political class. (...)
There is a spirit of dignity in Athens that is worth a great deal more than money. That’s something very profound to observe. I’ve only observed it on maybe two or three occasions in a lifetime. And that is a spirit which is contagious and it may be felt in Spain, and it may be felt in Portugal and it may be felt in Ireland, and elsewhere before long.
...the words of Zola: la vérité est en marche et rien ne l’arrêtera. Merci.»
---- Grécia em tempos de Páscoa Sei que pode parecer estapafúrdio, mas é para isso que me pagam: eu acho que, de certa maneira, os gregos são Jesus Cristo. Obviamente, vão acabar por morrer para nos salvar dos nossos pecados. É uma pena, mas vai ter de ser. E nós, de certa forma, no momento em que fomos considerados, por Schäuble, como exemplo do sucesso da política de austeridade, sem que a nossa ministra das Finanças tivesse um ataque de riso, ou de profundo choro, acabámos por fazer um belo Judas. (...)
Varoufakis está, neste momento, a ser julgado por ter andado a dizer que ia salvar o mundo e que fazia milagres. Teorias novas, que nunca tínhamos ouvido porque não havia alternativa aos nossos deuses. Teorias que assentavam na preocupação com os pobres e os que menos têm. Varoufakis afirmava ter multiplicadores capazes de fazer o tal milagre da multiplicação. O que faz Juncker quando apanha o Cristo Varoufakis no seu tribunal (UE/ BCE)? Lava as suas mãos. O Schäuble (min.Fin. Alem.) que decida. (...)
Poderá a Grécia erguer-se do túmulo ao fim de três dias? Parece-me demasiado optimista. E em três anos? Se isso acontecer, poderá a palavra de Varoufakis espalhar-se pelo mundo e mudar tudo? Não faço ideia, ... » - João Quadros