Temos de ter sempre a França
Com poder de síntese, Jacques Sapir resume as regressivas alterações da legislação laboral, literalmente decretadas pelo governo francês, ao “pagamento de um resgate” à UE, em geral, e ao Euro, em particular,
para ter uma limitada tolerância em matéria de défice, confirmando que a EXTORSÃO faz parte deste regime europeu de esvaziamento da soberania democrática nacional.
Numa outra reflexão, Sapir aponta para a natureza do movimento social em curso, comparando-o com o de 1995 e sublinhando nesse exercício uma eventual diferença:
“constitui, na prática e mesmo que uma parte dos actores não tenha disso consciência, o primeiro movimento CONTRA a União Europeia e as regras que esta impõe”.
Felizmente, existe uma certa França que se REVOLTA, que recusa as medidas de Hollande, Valls ou de outro desses produtos de décadas de transformação do PSF num partido sem o S e sem o F (desde 1983, em nome da Europa...).
É uma França que recusa então os termos de um PESADELO político:
europeísmo social-liberal, na melhor das hipóteses,
retintamente neoliberal na mais realista, ou extrema-direita.
Por isso, tenho repetido por aqui a pergunta:
como é que se diz "depois queixem-se" em francês?
Jacques Sapir não está sozinho e o facto de outro grande economia político SOBERANISTA DEMOCRÁTICO, Frédéric Lordon, ter emergido à sua maneira como uma espécie de Pierre Bourdieu nestes tempos é um bom sinal.
Bourdieu foi, no ciclo de protestos de 1995, um dos raros e CORAJOSOS intelectuais públicos a intervir a favor das reivindicações populares, numa paisagem ainda dominada pelo ranço intelectual dos “novos filósofos” e similares neoliberais.
O Le Monde diplomatique, onde Bourdieu também escrevia e onde Lordon hoje escreve, era e é uma ave rara numa IMPRENSA social cada vez mais empresarialmente CONDICIONADA.
Pode ser que entre a CGT, o movimento «Noite a Pé» e a candidatura presidencial de Jean-Luc MÉLENCHON surja algo das cinzas da ESQUERDA francesa,
a que entretanto ardeu nas chamas do europeísmo social-liberal e dos compromissos eleitorais gerados por um sistema político INJUSTO.
Temos de ter sempre uma certa França, também nas ideias que são forças materiais nas ruas e nas praças, fiel, em 2016, a um certo espírito de uma certa história que não acabou:
1789, 1848, 1871, 1936, 1945, 1968, 1995...
(-por João Rodrigues, 30.5.2016, Ladrões de B.)
Um país frágil
Portugal atravessa, com grande probabilidade, um dos momentos em que a capacidade autónoma para decidir o seu futuro está mais limitada.
Esta posição resultou de opções institucionais, bem como da evolução de conjunturas que não conseguimos nem controlar nem influenciar de forma minimamente eficaz.
As partilhas de soberania que concedemos no passado, não só na União Europeia, foram feitas no pressuposto das vantagens decorrentes da pertença a essas instituições,
mas igualmente na convicção de que conseguiríamos intervir na sua gestão. Ora isso, na prática, não acontece.
Por um variado conjunto de razões, o nosso país não tem hoje um mínimo de influência significativa em instâncias onde, sob uma vontade maioritária que não nos representa, são ditadas regras que condicionam quase em absoluto o nosso quotidiano.
A nossa posição face a Bruxelas/Frankfurt (leia-se, muitas vezes, Berlim) é de permanente “demandeur”.
Somos dialogantes porque aprendemos as lições gregas, usamos a voz para nos não confundirmos com o triste Portugal, “atento, venerador e obrigado”, de um passado recente.
Testamos identidades com quem possa ter agendas pontualmente coincidentes com a nossa, embora ironicamente cada um persista em mostrar-se “diferente” do outro, mas estamos ainda longe de conseguir gerar plataformas com real eficácia.
Na prática, por estes dias, apenas somos responsáveis pelos nossos erros.
O que vier a correr bem, na Europa e no mundo, pode vir a beneficiar-nos, mas temos uma imensa exposição a tudo quanto possa vir a desregrar-se no exterior. Chama-se a isto ser um país frágil.
“Fechamos para obras”? Não.
Já aqui andamos há quase 900 anos e atravessámos crises bem piores, até existenciais, convém lembrar aos mais tremendistas. Na História, todos os becos têm saídas, só que, às vezes, não são as mais felizes.
Portugal vive hoje no fio da navalha orçamental, tendo de esperar que a “lei de Murphy” não se lhe aplique – o que pode correr mal, corre mal.
Devo dizer que, não tendo sido um entusiasta desta solução governativa, cujos riscos continuo a achar elevados, tenho hoje uma imensa admiração pelo trabalho que António Costa está a desenvolver.
Acho notável o seu esforço patriótico de tentar aliviar marginalmente o sofrimento provocado por políticas que agravaram a pobreza e o desemprego.
Sempre entendi que a leitura comparada dos resultados previstos no “MoU” da Troika com as estatísticas reais devia ser obrigatória no Eurogrupo e em algumas faculdades de Economia que por aí se titulam em inglês.
Só uma cegueira de burocratas europeus e de académicos obstinados em ter a razão dos números contra as pessoas é que parece não entender o que podem significar algumas décimas temporárias de flexibilidade,
com efeitos na sustentabilidade de políticas públicas de um país sem “safety nets” para os mais carenciados, cuja evolução macroeconómica – seja ela qual for! - nunca afetará minimamente a estabilidade do euro.
O que se passa entre Portugal e as instâncias europeias não é uma querela económico-financeira, como muitos querem fazer crer, é uma questão puramente política.
E é assim que deve ser tratada.
Não sei como isto irá acabar. Veremos se o acordo grego apazigua os mercados, se a irresponsabilidade do referendo de Cameron nos não sai cara a todos.
E, claro, se Trump vier por aí, então o caso muda de figura e não vão chegar os coletes salva-vidas.
(Artigo que ontem publiquei no "Jornal de Negócios")
(-por Francisco Seixas da Costa, 2ou3coisas, 28/5/2016)
---Se faz favor
(-por D.Crisóstomo, 28/5/2016, 365forte)
Então é assim: Francisco Louçã está espantado e em choque porque na Áustria há tipos de extrema-direita. Sabe lá Deus como, coisa nunca vista, um tipo extremista e xenófobo nascido em solo austríaco? Coisa recente e novel, só pode, nos bons velhos tempos não havia disto.
Não havia, e a culpa, Louçã conclui, é da União Europeia, essa maker-of-nazis. A conclusão está feita, a argumentação está por fazer, mas deduz-se ser óbvia, certamente. Pois então, não pode ser, na Áustria da gente bué recomendável que o conselheiro de Estado recomenda (deduz-se que nos países com a extrema-direita no poder aquilo seja pocilgas culturais), "de Viena capital da Europa", nos tempos áureos antes da UE malévola, onde Viena era opressora e colonialista de checos, bósnios, croatas, eslovenos, eslovacos, etc etc, essa mesma, de boas famílias, quem diria, que não foi a provocadora da IªGuerra Mundial nem nada, lá terá gente esquisita. E apesar do pseudo-fascista nunca ter ganho em Viena, nem na primeira nem na segunda volta, ter estado bem longe disso, estaremos na capital do país "que dá hoje metade dos votos a uma figura de um partido nascido da saudade da invasão pelas tropas nazis", pois, isto é coisa estranha, partidos com maiorias em democracias fundados por gente que esteve em partidos de regimes totalitários? Não temos cá disso, nunca se viu, isso é coisa do diktat de Bruxelas também. Aliás, o FPÖ, o partido nacionalista citado, já tinha o seu líder como governador da Caríntia, um estados da Áustria, e, com os seus 42 deputados, era já terceira força política antes da entrada da Áustria na União Europeia em 1995. Mas enfim, deixemos lá isso, detalhes meus.
Continuemos. "Se este é o resultado da fragilidade do regime democrático, da decadência das suas políticas sociais, do medo dos refugiados e da perturbação criada pela guerra fria de baixo nível nas fronteiras da Rússia", e de muitos outros factores, muito bem, de acordo, continue, pois "então é caso para nos questionarmos sobre a sobrevivência da própria política europeia, porque ela é um dos factores principais desta desagregação" e prontus. A UE, deve estar lá nos tratados, é a culpada do tipo anti-UE ter arrecadado muitos votos na Áustria interior e rural. E da Rússia. E dos refugiados. Isto lá estava mesmo bom e nos conformes antes da UE meter o bedelho, como é óbvio. Aliás, nos dois temas, Rússia e refugiados, é isso que se exige nas ruas: UE fora daqui, cada um por si, não queremos cá cooperação, xô.
"Quanto ao discurso, nem vale a pena cuidar disso". É, é melhor não, ainda nos estragava a narrativa e isso era chato. Ainda víamos que o tipo que Francisco Louçã denuncia tinha um discurso completamente odioso ao projecto europeu, a Schengen, às liberdades, direitos e garantias europeias, à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, ao mercado único, ao plano de reinstalação de refugiados europeus, a qualquer reestruturação da divida da Grécia, etc etc. Que dizia perceber que o risco para Portugal Áustria se chama Comissão Europeia e Banco Central Europeu. Mas não vale a pena cuidar disto.
Francisco Louçã sublinha ainda outros casos de alerta: "entretanto, forças afins da extrema-direita dominam ou participam nos governos da Polónia, Hungria, Dinamarca, Finlândia e Holanda". Ora bem, antes de mais é bom ver Louçã ao lado da Comissão Europeia e das forças progressistas europeias na denuncia do governo polaco, apelidando-o de "extrema-direita", também estou de acordo (estamos, apesar de tudo, a falar de um partido que pertence à família europeia do Partido Conservador britânico). Também concordo com a classificação relativamente ao governo húngaro, do Partido Popular Europeu (Duarte Marques dirá que não, mas eu e Louçã suportamos-nos neste documento, entre outros). Na Finlândia, os Verdadeiros Finlandeses lá estão na coligação, verdade, também concordamos. Agora, não sei aonde terá desencantado as forças de extrema-direita no governo dos Países Baixos (o Dijsselbloem é um lodoso feioso, mas não exageremos). E na Dinamarca, aspas aspas, mas aqui ainda posso supor que a argumentação será que o nacionalista Partido Popular Dinamarquês faz parte da maioria parlamentar que apoia o governo - mas então, ...
---- Se faz favor (-D.Crisóstomo, 28/5/2016, 365forte)
...
... O post contínua, realçando que há governos progressistas que fazem aparentes contra-sensos na legislação laboral
(coisas nunca vistas também e que claramente devem ser da inteira culpa da UE que os obriga, coitados, umas vítimas certamente, é ver como é nos estados fora do espaço comum, exemplares nesta matéria [o facto de a extrema-direita suíça, por exemplo, ter a maior bancada na câmara parlamentar federal também deve ser culpa da UE ou assim])
e que os federalistas estão depressivos, quais derrotados da vida, devido ao conjunto de chefes de estado e governo que nos calhou na rifa. Pronto, e aqui fico inquieto.
Porque sei que Francisco Louçã sabe muito bem o que é o federalismo e o que é o inter-governamentalismo, e que o primeiro reivindica precisamente, por oposição ao segundo, que o destino da União passe a ser mais integrado e dependente da vontade dos seus cidadãos eleitores e não dos líderes nacionais.
Que o federalismo defende o escrutínio e a responsabilização dos órgãos políticos europeus, que estes respondam apenas perante eleitorado europeu e o parlamento que os representa.
Que os órgãos políticos europeus não estejam dependentes das vontades e desejos de governantes de parte da União,
mas sim que dependa exclusivamente dos anseios e opções da maioria da população europeia.
Dizer que os federalistas estão decepcionados com Schauble, Hollande ou Cameron é como afirmar que os marxistas estão decepcionados com os baixos salários pagos pela McDonalds.
Partilhamos do diagnóstico de que é imperfeito, nunca o negámos, mas não é este o modelo defendido.
Mas o grande ausente do post de Francisco Louçã, que se baseia no resultado das eleições presidenciais austríacas para defender a sua (legítima, sem dúvida) tese eurocéptica
é, precisamente, o vencedor das eleições presidenciais austríacas. Alexander Van Der Bellen ganhou este escrutínio, vencendo nos estados do Tirol, Voralberg, Alta Áustria e Viena.
Foi o candidato mais votado em 14 das 15 maiores cidades austríacas, tendo vencido também em todas as nove capitais estaduais. O novo presidente da República da Áustria é um ecologista (ex-líder do partido ecologista austríaco), ex-deputado, um economista keynesiano, especialista em políticas públicas, e antigo director da faculdade de ciências sociais e economia da Universidade de Viena.
É também um filho de refugiados e que se identifica como um declarado federalista europeu. Isto também é culpa das políticas europeias?
Entendamos-nos.
Sim, há um problema, que não é novo, com o poder de influência da extrema-direita em certas partes da Europa (dentro da UE e fora dela).
E que, os dados demonstram, (à semelhança dos Estados Unidos da América) é basicamente
um combate entre uma Europa das cidades e uma Europa do interior rural,
entre uma Europa cosmopolita e uma Europa nacionalista.
E neste combate há as forças progressistas que se concentram na oposição e na alternativa a um retorno civilizacional
e não em partilhar trincheiras nacionalistas com quem nada mais partilham.
Foram estas forças que na passada semana venceram as eleições na República da Áustria.
(Disclaimer: Francisco Louçã foi meu professor e um dos melhores que tive. Todavia, nesta temática, dele sempre discordei, como é aparente)
--- Europa, F.Louçã, Nacionalismo, União Europeia, Áustria, Federalismo, Extrema direita, ... ...
---- http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2016/05/27/uniao-pergunte-se-faz-favor-uniao/ por F.Louçã.
---- http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//NONSGML+REPORT+A7-2013-0229+0+DOC+PDF+V0//EN relatório do Parlamento Europeu sobre direitos fundamentais na Hungria. -por Rui Tavares
---Jaime Santos
28 Maio, 2016
Dou de barato que a ideologia austeritária que hoje domina a Europa contribui em larga medida para o crescimento da Extrema-Direita. Quando não há diferenças entre a maioria dos Partidos do PPE e do PSE (e quando neo-fascistas húngaros e polacos se sentam nas bancadas do PPE em Estrasburgo) é natural que o eleitorado rural ou operário abandone as fileiras da Esquerda para votar na Extrema-Direita. Acontece na Áustria, como acontece em França com a FN. Mas convenhamos, atribuir toda a culpa pela existência da Extrema-Direita à UE é algo exagerado. Sempre existiu uma forte tradição de Extrema-Direita na Áustria (Hitler era afinal austríaco), mesmo antes do Anschluss de 1938 e que continuou após 1945. O FPO não é um epifenómeno recente. A UE pode ter responsabilidades na gestão da crise dos refugiados (e alguns países europeus têm responsabilidades relativamente ao eclodir da Guerra na Síria), mas não podemos contestar o princípio de que todos os Países dentro da União devem receber refugiados, como resulta aliás das obrigações impostas pela carta da ONU. Ora, é também essa nossa obrigação de acolher quem precisa que está a alimentar os Partidos de Extrema-Direita por essa Europa fora. Atribuir à fraqueza da resposta da UE perante os egoísmos nacionais (incluindo no Reino Unido) a causa desses mesmos egoísmos, é confundir a consequência com a causa…
--- Nuno Silva
Uma negociação entre uma UE extremista neoliberal, e uma Inglaterra extremista neoliberal, estávamos á espera de quê?
Protecção de pessoas!!?? De seres humanos!??
É óbvio que a Alemanha já desistiu, porque arrogantemente acha que atingiu o seu “estágio”. Nem tentou, como sempre, meter dinheiro vivo nas negociações com a Inglaterra, como sempre fez.
Mas a história ensina-nos, que quanto mais tarde a Europa combater a arrogância da Alemanha, e os seus aliados (mais perigosos), mais grave será a resolução de problemas futuros…
--- Jose
A chamada “UE” não é união, nem aduaneira. As chamadas instituições europeias, algumas nem previstas em nenhum “Tratado Europeu” o poder foi assaltado por que ousou fazê-lo.
A Comissão Europeia perdeu iniciativa e as ordens têm origem duvidosa, mas geralmente são dadas pelo “Presidente do Eurogrupo” que é justamente uma instituição informal sem existência formal. Ou vêm de Merkel e vinham também muito de Schäuble. Tudo poderes usurpados e a representar poderes mal esclarecidos.
No meio da baralhada há uma instituição que manda e muito, demais. É o BCE que tem as economias, que se submeteram ao Euro, com a corda laçada na garganta e as pontas das cordas em Frankfurt. A cada esticão alguém fica para trás.
Está em curso um processo de anexação das economias através da chamada união bancária.
Para ter sido possível arregimentar colaboracionistas nos diferentes países cujas economias estão em curso de anexação foi desenhada esta política de recessão e punição que fragilizou a defesa das democracias pluralistas e no caso da Grécia até ousaram fazer um golpe de estado.
Estas políticas associadas à execução de políticas externas de agressão dando a cara pelos EUA cercaram a chamada “UE” de guerras por fora e terrorismo por dentro.
Tudo tem efeitos colaterais e neste caso é a desconfiança e o voltar de costas de quem não tem a tal corda na garganta com a ponta em Frankfurt.
Ficou em evidência que não existem cidadãos da chamada “UE”. Existem cidadãos das suas nações e países que erguem a voz chamando os seus à sua casa de sempre construída com sangue, suor, lágrimas e muita ousadia. Ninguém fica com “pele de galinha” pelo hino da chamada “UE”.
Sob a capa desta desunião Frankfurt continua a esticar uma e outra corda ficando sempre alguém para trás.
http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2016/05/27/uniao-pergunte-se-faz-favor-uniao/
--- Ernesto:
... então:
“Lembro que uma “força afim da extrema-direita” também participa no governo da Grécia, o que parece ser inconveniente para o autor. Tal como parece ser inconveniente mencionar as forças afins da extrema-esquerda que dominam ou participam em governos europeus.”
-Em 1º lugar, atendendo ao que parece ser o seu conceito politico, depois do centro politico, só existe extremismo, é isso, ou percebi mal? Dou o exemplo do PAF, acha que era uma “coisa” moderada? Com bom senso?
Nada extremista no que respeita à relação do estado com o cidadão, no modelo económico-social que acha que o País devia ter ( relembro o projecto de 10ª melhor economia mundial, ou nova Singapura), na educação e saúde, onde claramente fomentou e financiou a iniciativa (lucros) privada e seus beneficiários (lucros pagos pelo estado),
em detrimento do ensino e saúde pública, devidamente consagrados na constituição?
Acha que foi moderada e nada extremista a saga privaticionista do ex-governo PAF?!
“As políticas seguidas pelos governos francês e italiano (que são governos de esquerda) são políticas reformistas que promovem a prosperidade económica e social. Em democracia, os arruaceiros não contam mais do que os eleitores que votaram nestes governos.”
-Olhando para este parágrafo parece que ambos cumpriram as metas do défice e que as sanções a Portugal e Espanha são exemplares e únicas.
Algo que julgo saber ser errado, se não sabe, fica já a saber que a própria Alemanha deveria ter sanções, que como pode facilmente constatar, não apareceram ainda por parte da “UE”. Se não entendeu esta parte, diga, que eu explico com todo o gosto!
“Na minha opinião, os gregos deviam começar a ser mais críticos no momento de votar, mas têm o direito de escolherem quem quiserem com todas as consequências, boas e más, que daí vierem.”
-Imaginando-me como Grego, peço-lhe para me indicar em quem devia ter votado ou em quem devia votar no futuro. Desde já o meu obrigado..
“Lamento o afastamento do Reino Unido da União Europeia. Como democrata, respeito as opções do seu povo e espero que as negociações conduzam à melhor solução de integração que satisfaça ambas as partes.”
-Pois eu, como democrata, não respeito quem para seu proveito ameaça com a saída da “UE” , e que o que quer em troca são “rebuçados” anti democráticos
como por exemplo, retirar os benefícios sociais dos enfermeiros estrangeiros a laborar no seu território, isto obvia e escandalosamente, porque são estrangeiros!
Muito democrático, não dúvida haja dúvidas!!!
Nota: Quando escrevo “UE” não é gralha, é apenas o meu comentário ao artigo em discussão. Não existe UNIÃO!!!
Já agora, tem alguma coisa a dizer sobre o artigo em causa? É que, permita-me, mas nada do que referiu me parece ser para este debate…
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----- União? Pergunte se faz favor: União?
(-por F. Louçã, 27/5/2016, blogues.publico.pt)
A Áustria escolheu por uma unha negra o presidente que não é o homem da extrema-direita. O país de Freud e de Reich, de Mozart, Haydn, Schubert, Mahler, Strauss e Klimt, de Godel, Wittgenstein e Von Neumann, de Viena capital da Europa,
esse é o país que dá hoje metade dos votos a uma figura de um partido nascido da saudade da invasão pelas tropas nazis (e já não é o primeiro susto que a Áustria nos prega).
Se este é o resultado da fragilidade do regime democrático, da decadência das suas políticas sociais, do medo dos refugiados e da perturbação criada pela guerra fria de baixo nível nas fronteiras da Rússia,
então é caso para nos questionarmos sobre a sobrevivência da própria política europeia, porque ela é um dos factores principais desta desagregação.
Quanto ao discurso, nem vale a pena cuidar disso. Como lembrou Teresa de Sousa, para já passou o susto e portanto as instituições europeias tratarão de esquecer o assunto o mais depressa possível – até à próxima.
Entretanto, forças afins da extrema-direita dominam ou participam nos governos da Polónia, Hungria, Dinamarca, Finlândia e Holanda.
Mas, se isto é o susto, o que dizer da normalidade?
No Reino Unido, o primeiro ministro conservador ajusta contas dentro do seu partido e com a direita nacionalista convocando um referendo a nada menos do que a participação na União Europeia.
Em França, o presidente do Partido Socialista provoca o tumulto popular com uma lei que forçaria a precarização do trabalho, como já o tinha feito Matteo Renzi em Itália.
Na Grécia, o parlamento aprova medidas de austeridade para serem aplicadas se não resultarem as medidas actuais, um novo pacote de austeridade, numa lei à condição que pelo menos deixa claro o caminho que é imposto ao país. (e que o governo grego já veio dizer que não consegue cumprir/impor)
Esta é a normalidade. Não se faz portanto ideia do que vem a seguir. O normal já é o assustador.
Repare-se na negociação entre a Comissão Europeia e Cameron.
Para facilitar o discurso do chefe conservador, Juncker e os seus comissários concederam-lhe restrições aos direitos dos trabalhadores europeus em Inglaterra:
as enfermeiras portuguesas (e todos os outros) perderão o abono de família para os seus filhos.
Ou seja, na dificuldade – criada pelo jogo político de Cameron –, o argumento para ficar na União Europeia é que as suas regras deixem de se aplicar quando se trata de pessoas.
Isto é a normalidade europeia nos dias que correm.
Talvez por isso, as palavras dos federalistas decepcionados são das mais lúcidas que podemos ler sobre a Europa (como é o caso, entre nós, de Viriato Soromenho Marques).
Acreditavam numa convergência, acreditavam em mecanismos comuns, acreditavam em políticas dirigidas, acreditavam em cooperação
e sai-lhes Schauble e Cameron, Juncker e Hollande.
Mas, ao reconhecerem o problema com a franqueza de quem defende os seus pontos de vista, traçam o retrato do medo que a União vai suscitando.
Não são os únicos a perceberem que o risco para Portugal se chama Comissão Europeia e Banco Central Europeu.
Entendemo-nos.
Quando Bruxelas nos repete a palavra União já não quer dizer nada.
--- O FMI no imbróglio grego e as lições para Portugal
«O FMI está numa crise de identidade e quem lê o Jornal de Negócios não estranhará essa conclusão, que releio a partir de uma análise que publiquei recentemente (deixo a discussão do que se passa na União Europeia para outras núpcias).
Por muito tempo, o Fundo foi um pilar dos "programas de ajustamento" que, testados em África e na América Latina, conduziram sempre a um mesmo resultado,
transferência de rendimento para o topo da escala,
destruição da pequena agricultura e urbanização,
privatizações e especialização de cada economia no sector exportador,
com consequências sociais devastadoras no empobrecimento e desemprego para parte importante da população.
Mais recentemente, esta competência técnica foi usada para desenhar os programas para a Grécia, Irlanda e Portugal, e o resultado foi do mesmo tipo, ajustamento recessivo.
Mas nem num caso nem noutro, no "Terceiro Mundo" ou na Europa, nunca os dirigentes do FMI mostraram alguma vulnerabilidade em relação aos efeitos da sua política. Até aos dias de hoje. (…)
Alguns dos dirigentes do FMI parecem por isso ter percebido agora a crise que têm em mãos. (…) Não é difícil concluir que estas palavras e boas intenções têm por ora pouco impacto.
Quando o Fundo está a conduzir uma política concreta num programa para um país, estes protestos de generosidade social são evidentemente ignorados. (…)
No meio dos arrependimentos, chega entretanto a vez do susto. Durante a recente conferência para apresentação das previsões para 2016, Maurice Obstfeld, o economista-chefe do FMI,
reconheceu que já temos crescimento muito débil desde há demasiado tempo e que esse resultado está ligado a baixos salários,
além de criar a ideia de que elite económica é que beneficiou do tempo da austeridade (conferência de imprensa de 12 de abril de 2016).
O Boletim do FMI, do dia seguinte, vai mais longe e reconhece uma deterioração da dívida pública, de novo (Boletim do FMI, 13 de abril de 2016).
Um estudo de uma equipa do FMI considerava mesmo que uma das causas da recessão é o aumento da desigualdade nos últimos anos.
Não saímos da cepa torta.
O FMI sugere uma solução:
aumentar o investimento em infraestruturas, sobretudo o investimento público, ou seja, expandir os orçamentos (FMI, World Economic Outlook, cap. 3, outubro 2014).
Por outras palavras, fazer exactamente o contrário do que tem vindo a impor aos vários países.
Será suficiente? Depende.
William White, da OCDE, avisa que a próxima crise pode ser pior do que a de 2007 (podemos ter bancarrotas "épicas", diz ele).
Talvez tudo resulte de ter sido fácil demais:
lucros exagerados, sugere o The Economist, e especulação sem freio.
Era exactamente o que o FMI preconizava:
libertem os capitais de regulamentos e restrições, soltem o monstro e teremos prosperidade.
O resultado é o que está à vista e o FMI assusta-se com a sua criatura.
Portugal, uma das cobaias desta operação, bem faria em atentar no fracasso do FMI.»
(-por Francisco Louçã, 31/5/2016 , via http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/ )
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