---- Exit, Brexit, Lexit
...
... Ambrose Evans-Pritchard, a favor do Brexit no Daily Telegraph de ontem, com argumentos que vão à raiz do problema político, ou não fosse ele um dos autores do melhor aviso, feito no ano passado, à social-democracia do continente - “podes defender as políticas da UEM ou a tua base eleitoral, mas não podes defender as duas ao mesmo tempo”:
“Para lá da espuma, estamos perante uma escolha fundamental:
restaurar o autogoverno pleno desta nação ou continuar a viver num regime supranacional (…)
O projecto da UE sangra as instituições nacionais e não as substitui por algo que seja admirável ou legítimo (…)
Não tivemos qualquer comissão da verdade e da reconciliação para lidar com o maior crime económico dos tempos modernos.
Não sabemos quem é responsável pelo quê, porque o poder é exercido numa interacção nebulosa entre as elites em Berlim, Frankfurt, Bruxelas e Paris (…)
Os que mandam também não aprenderam nada com o fracasso da UEM.
O fardo do ajustamento continua a recair sobre o Sul (…)
Temos pela frente mais uma década perdida.”
Imaginem o que diria se (os britânicos) estivessem no Euro ...
(- por João Rodrigues às 13.6.16 )
Merdaxit (-por OJumento, 14/6/2016)
Não entendo a indignação que por aí vai com o Brexit, ao que parece mesmo depois da Europa os ter tentado comprar com cedências os britânicos dizem “não, obrigado”.
Como de costume nestas situações, os poderes europeus reagem com as chantagens do costume e, pior ainda, com ameaças económicas sugerindo aos cidadãos britânicos que ou votam pela permanência ou estão tramados.
Esta Europa tão miserável em que se está tornando tem um único argumento para se manter unida, o dinheiro.
Ou se fica ou se tem menos dinheiro, ou se faz oi que o Eurogrupo manda ou se fica sem dinheiro, ou se cumpre o défice ou se pagam multas em dinheiro.
Esta Europa tem um único argumento para continuar a existir, ganhar dinheiro.
O problema é que são cada vez mais os que nada ganham com uma Europa
onde a lei é a do mais forte,
onde a competitividade se consegue com injustiça social e com
a destruição dos valores que fizeram o que a Europa é hoje.
Os senhores do Eurogrupo inventaram o Grexit, a ideia era expulsar a Grécia, tudo foi feito para minimizar os custos de uma bancarrota grega e só o receio dos custos de uma saída controlada da Grécia aparou as unhas do Eurogrupo.
A ideia era expulsar a Grécia e Portugal, dando-lhes o estatuto preferencial,
talvez no quadro de um Mediterrâneo com Estados que já não o são.
Mas as coisas correram mal os comissários extremistas, em vez de um Grexit e talvez de um Tugaxit, têm nas mãos um Brexit.
Mas o mais grave é que sem o Reino Unido as saídas da União Europeia passam a designar-se genericamente por Merdaxit.
------ O futuro de uma ilusão
(-por CRG, 15/6/2016, 365forte)
"In England such concepts as justice, liberty and objective truth are still believed in. They may be illusions, but they are powerful illusions. The belief in them influences conduct, national life is different because of them." -- George Orwell
Do estudo de Platão no secundário retirei que o mundo real, os humanos e as suas instituições são sempre imperfeitas, mas, como refere Orwell, é essencial que exista um ideal que nos molde e que nos inspire.
A UE detinha essa característica essencial:
conseguia transmitir um ideal de civilização, apesar de todas os seus problemas e de toda a hipocrisia e cinismo dos nossos tempos.
O projecto político da UE consistia na união (ou confederação) de Estados soberanos e iguais entre si a fim de criarem uma prosperidade partilhada.
Esta interdependência tornaria obsoleta a competição e inveja entre Estados, o que, por sua vez, seria garante de paz - finalidade última.
Uma união de iguais em democracia com vista a um aumento sustentado dos níveis de vida: este era o ideal europeu.
Infelizmente (sem embargo de a "Europa" ser usada demasiadas vezes como uma desculpa fácil para os governos nacionais), como acontece nas grandes máquinas burocráticas, os meios tornam-se nos fins:
as normas, afastadas do seu elemento teleológico, tornam-se quase leis da natureza cujo cumprimento é a única coisa que importa.
A UE tornou-se divisiva, surgindo um clima de ressentimento e desconfiança entre os membros.
Mas, pior do que tudo, destruiu o seu ideal.
Actualmente, para o europeu comum, a UE transformou-se em sinónimo de austeridade, de empobrecimento sem melhoria num futuro próximo, de uma agenda ideológica imposta por burocratas excluídos do julgamento democrático.
Resultado:
os argumentos para a manutenção de um país na UE deixam de ser os benefícios da sua pertença, mas sim os malefícios da sua eventual saída.
Comentar post