Sexta-feira, 11 de Dezembro de 2015

Democracia e guerra perpétua

«E agora, senhoras e senhores, a “guerra contra o terror”! Pensando bem, nela já estávamos desde o 11 de Setembro, mas em cada nova curva desta eterna história do Ocidente cercado de inimigos reemerge esta retórica paranóica do “isto agora é a sério!” Ou seja, depois das guerras mundiais e das guerras coloniais do séc. XX, passámos a viver num estado de guerra perpétua? Não se dizia que o fim da Guerra Fria trouxera o Fim [feliz] da História? Onde ficou tudo quanto se disse sobre o triunfo de um modelo de sociedade capitalista e radiante, de um way of life que só o Ocidente soubera criar e que lhe cabia ensinar ao resto do mundo?... (...)
     Levante-se, portanto, a nação em armas, e que se deixe de “bons sentimentos” e de “acolhimento generoso”! Guerra é guerra! Requer disciplina social, como a imposta pelo estado de emergência em França, ou suspendendo normas previstas na Declaração Universal de Direitos Humanos (incluindo a interdição da tortura), como se fez nos EUA, no Reino Unido ou, desde há semanas, em França.   Requer mais recursos, como os que vêm pedindo os falcões de serviço para os orçamentos militares, dispensando qualquer limite de endividamento público.   E requer soldados, como os muitos que agora acorrem aos centros franceses de recrutamento (de 100-150/dia em 2014, passou-se para 1500 desde os atentados de 13 de Novembro — cf. Le Monde, 19.11.2015).
    Espero que ninguém julgue que tudo isto se faz sem consequências para a democracia, sem riscos para a nossa liberdade e a nossa segurança.  E não falo apenas de segurança perante a violência dos terroristas, mas perante a (violência) dos Estados que se dizem em guerra contra o terror. Quantos inocentes já foram, e vão ser, vítimas da sua violência?  Não falo só de Guantánamo ou das prisões ilegais da CIA; falo de centenas de franceses cujos direitos têm sido violentados desde que o Governo impôs o estado de emergência, sujeitos a interrogatórios violentos sem que contra eles um juiz tenha pronunciado uma só acusação, cujas casas são rebentadas! Não se julgue que se trata apenas de cidadãos de religião muçulmana, tão franceses como os demais; falo de activistas ecologistas e/ou daqueles que se manifestam contra os abusos policiais.
    Como diz um centro de investigação da Queen Mary University (Londres), “o contraterrorismo” tem sido pretexto “para tornar sistémica a violência de Estado e para reprimir a oposição de qualquer natureza política: social ou religiosa, de protesto ou separatista. (…) Conflitos armados de longa duração entre atores estaduais e não estaduais têm sido transformados em guerras domésticas contra o terror, minando os princípios do Direito Internacional que gere o uso legítimo da violência.” (Building Peace in Permanent War, International State Crime Initiative&Transnational Institute, 2015)»   --  Manuel Loff  (via Entre as brumas..., 5/12/2015, JL)
------ Anda um espectro pela Europa: o espectro do fascismo
 
(--Daniel Oliveira, Expresso, 07/12/2015)
-----  França 2015   ('Morte aos portugueses, viva a Frente nacional')
. !!.


Publicado por Xa2 às 07:41 | link do post | comentar

2 comentários:
De Serpente Fascista e NeoLiberal globaliz. a 11 de Dezembro de 2015 às 10:21

O ovo da serpente

A FN de Marine Le Pen ganhou a primeira volta das eleições regionais em França e pode ser a grande vencedora da segunda volta, no próximo domingo, se Republicanos e Socialistas- os partidos do sistema- não conjugarem esforços para derrotar a FN.

Noticia o Le Monde que Sarkozy já manifestou a indisponibilidade de os Republicanos desistirem em favor do PSF, mas ainda não é conhecida a posição do partido de Hollande, o grande derrotado destas eleições.

Com pouco mais de 20% dos votos, o PSF foi castigado pelos eleitores franceses pela sua política errática, não conseguindo melhor do que o terceiro lugar.

Uma vitória da FN em mais de duas regiões no próximo domingo, será apenas mais um aviso para a Europa.

Preocupados apenas com os mercados e com o politicamente correcto, os lideres europeus têm contribuído de forma eficaz para a ascensão da extrema direita que vai emergindo em vários países. Continuar a defender que na hora da verdade os eleitores acabam por votar nos partidos do sistema, para impedir a vitória da FN é uma enorme cegueira.

Marine Le Pen - apoiada financeiramente por um banco russo e aclamada por Putin- poderá ser apenas o primeiro caso de sucesso da extrema direita europeia e se a vitória do próximo domingo se estender a mais do que 5 das 13 regiões francesas, então há razão para começar a acreditar que em 2017 o Eliseu poderá vir a ser ocupado por Marine Le Pen com o efeito de contágio que poderá alastrar a outros países europeus.

Por outro lado, uma vitória de Le Pen dará mais força a Putin e alterará inevitavelmente a relação entre a Europa e a Rússia.

Diga-se, em abono da verdade, que a vitória da FN vinha sendo anunciada há anos, não constituindo por isso uma surpresa. Surpreendente, é a indiferença dos líderes europeus face a uma ameaça que nem sequer foi velada, pois Marine Le Pen nunca escondeu ao que vinha ...

Em tempo: talvez seja precipitado afirmar que os acontecimentos de Paris foram determinantes para a vitória de Le Pen. Na verdade, na capital francesa a FN teve uma votação inferior a 10%.As causas da vitória da extrema-direita a nível nacional radicam em causas muito mais profundas, que tentarei analisar num dos próximos dias.
(-por Carlos Barbosa de Oliveira ,7/12/2015 ,http://cronicasdorochedo.blogspot.pt/ )


De Ditadura dos mercados e neoliberais. a 11 de Dezembro de 2015 às 10:41
A fragmentação da União Europeia segue dentro de momentos

07/12/2015 por João Mendes


Le Pen

Xenofobia, eurocepticismo, populismo, anti-emigração e pró-pena de morte. Parabéns União Europeia!
Depois de anos de ditadura dos mercados, austeridade fanática, corrupção generalizada,
apoio e participação em guerras e invasões ilegítimas que nada têm que ver connosco
e muito medo à mistura, eis o teu primeiro conseguimento:
uma França de extrema-direita. (vitória da Frente Nacional )

Se achavas o Tsipras radical, prepara-te para o que aí vem.
Pode ser que aprendas, tal como os peões da direita ressabiada portuguesa, o verdadeiro sentido da palavra.


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