Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2015

Por uma vitória da Grécia e dos povos da Europa   (14/1/2015, entre as brumas)

  A catástrofe humanitária em curso na Grécia terá um ponto de viragem no dia 25. Nesse dia, se se confirmarem as sondagens que dão a vitória ao SYRIZA, as eleições podem colocar o país, destroçado pela austeridade da troika e de sucessivos governos neoliberais, no caminho da soberania democrática. Será um momento decisivo para todas as pessoas que vivem na Grécia.

     Também será um momento importante para quem vive em Portugal, na Irlanda e em todas as sociedades sufocadas por uma farsa económica. Os programas de ajustamento estrutural fabricaram sociedades divididas. Se não lutarmos contra isto, essas sociedades entrarão num colapso definitivo e irreversível. Este não é o único caminho. A política pertence ao domínio dos seres humanos e não ao domínio da física.

     A chantagem exercida pelas instituições europeias e pelo governo de coligação sobre quem tem o direito de exercer o voto livremente é inaceitável, mas tem uma vantagem: mostra-nos que temos o dever de assumir uma posição. Essa posição é clara: só um governo de esquerda pode destruir o bloqueio da dívida e da destruição social. O direito soberano de decidir sobre o destino colectivo pertence a quem vive na Grécia; o dever solidário de dizer o que pensamos e queremos pertence a quem vê estas eleições como mecanismo de desbloqueio.

     Se a esquerda vencer, a dívida deixará de ser sagrada. Se a esquerda vencer, o euro e o Tratado Orçamental deixarão de ser sagrados. Se a esquerda vencer, o destino colectivo deixará as mãos de quem só gosta de eleições e liberdade quando as decisões são tomadas em gabinetes fechados por peritos convencidos da sua superioridade e oferecidas, com um laço em cima, a quem persiste numa luta ingrata pela sobrevivência.

     Esse destino colectivo voltará às mãos a que nunca deixou de pertencer: a quem vive na Grécia. Uma vitória da esquerda significará a vitória sobre os tabus que nos impõem a partir do eixo Bruxelas-Frankfurt-Berlim. E, se a esquerda vencer, uma frente internacionalista unida ganhará força para questionar as verdades adquiridas dos mercados, das finanças e da especulação. As mesmas verdades adquiridas que nos impõem todos os dias.

     Se a direita vencer, essa terá sido a decisão da maioria dos eleitores gregos. Mas não terá sido uma decisão livre de condicionamentos. A Comissão de Juncker não se manifesta acerca do escândalo Luxleaks, mas vai a Atenas para amedrontar pessoas e famílias que, ao longo de anos, têm resistido ao novo europeísmo, autoritário e gerador de miséria. O BCE de Draghi resgata bancos privados, mas promete apertar o garrote sobre um futuro governo de esquerda. O FMI de Lagarde reconhece não saber como ajudar a Grécia a recuperar, mas sabe que não quer a esquerda no poder.

     Estão com medo. Ainda bem. Quer dizer que, afinal, há alternativas. Sabemos que essas alternativas podem não ir tão longe como alguns gostariam e irão mais longe que o desejado por alguns aliados de circunstância. É bom que assim seja. A política foi feita para definirmos, em conjunto, o nosso destino colectivo. Não foi feita para aumentar os lucros de empresas transnacionais e fundos de investimento. Depois destas eleições, os aliados de circunstância podem inventar as acrobacias que quiserem: se a esquerda vencer, a dívida e o euro já não serão ícones sagrados.

    Quem vive na Grécia decidirá. Nós já decidimos de que lado estamos.

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Alexis Tsipras  (SYRIZA): 
«El 25 de enero Grecia cerrará la puerta al pasado. La victoria de Syriza es la esperanza del cambio para el mundo del trabajo y de la cultura europeos. Desde la oscuridad de la austeridad y el autoritarismo a la luz de la democracia, la solidaridad y el desarrollo sostenible. Pero Grecia es solamente el inicio del cambio que viene por el Sur de Europa.»      Na íntegra AQUI.

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"O verdadeiro risco está dentro da Zona Euro. Estagnação, deflação, desemprego elevado, esforços inúteis do Banco Central Europeu (BCE). E não está tanto na Grécia como se julga, mas na Itália e em Espanha", diz Daniel Stelter, ex-consultor do The Boston Consulting Group, e atual fundador e presidente do think tank alemão Beyond the Obvious (além do óbvio) de Berlim.

    Os políticos europeus não querem dizer a verdade aos europeus e, por isso, fizeram como que uma externalização, um outsourcing, para o BCE gerir a crise - é a imagem usada por este especialista alemão. "Mas o problema é que a política monetária pode estabilizar, mas não cura", avisa o autor de "A bomba de um bilião de dívida" e "Dívida no século XXI", a poucos dias da reunião do BCE mais esperada dos últimos anos.

    Stelter falou ao Expresso em cima de um tsunami provocado pelo Banco Nacional da Suíça:   "A decisão dos suíços não foi o primeiro cisne cinzento do ano, mas o primeiro canário dentro da mina de carvão. Coisas bem maiores virão junto". Guerra de divisas, recaída na recessão mundial, esgotamento da atuação do BCE são cenários que ele não descarta.     ...  -por  

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Dívida pública. Irlanda a favor de conferência conjunta com Portugal, Grécia e Espanha

     Riqueza dos mais abastados (1%) vai superar a da restante população em 2016
"A escala da desigualdade global é simplesmente estarrecedora", afirmou Winnie Byanyima, alertando para o rápido aumento do diferencial entre os mais ricos e o resto do mundo.  ...



Publicado por Xa2 às 07:41 | link do post | comentar

4 comentários:
De Neoliberal austeritarismo ERRADO ! a 19 de Janeiro de 2015 às 15:29
João Galamba,19/1/2015, corporações

A tal flexibilização:

«A apresentação, por parte da Comissão Europeia, dos termos em que vai assentar uma leitura mais flexível do Pacto de Estabilidade e Crescimento constitui o primeiro revés institucional do processo de constitucionalização das política de austeridade.
Apesar de manifestamente insuficiente, apesar de todos os seus erros e contradições, trata-se de um recuo com um profundo significado político.
Desde da viragem austeritária de 2010, esta "leitura inteligente" das regras orçamentais representa o primeiro reconhecimento institucional de que a aposta na austeridade fracassou e tem de ser revista.
A Comissão nunca o diria desta forma, como é evidente.
Mas há actos que valem mais que todas as palavras. (…)»


De Desigualdades: 1% ricos c. +50% recursos a 20 de Janeiro de 2015 às 12:45
O debate das desigualdades ainda mal chegou a Portugal
(-por R.P.Mamede, 20/1/2015, ladrões de B)
...
... livro O Capital no Século XXI, o ‘best-seller’ do economista francês Thomas Piketty, ... repletas dados e análises relevantes.
... Em primeiro lugar, no desenvolvimento do capitalismo a evolução das desigualdades não seguiu uma trajectória linear.
Se no início do século XX os países ricos eram caracterizados por níveis muito elevados de concentração dos rendimentos e da riqueza (por exemplo, 1% da população europeia ocidental detinha 50% do capital),
entre o início da primeira Guerra Mundial e o segundo pós-Guerra os níveis de desigualdade reduziram-se de forma acentuada.
Desde as décadas de 1970 e 1980 a desigualdade não tem parado de aumentar, mas ainda se encontra a níveis distantes do início do século passado (por exemplo, os 1% mais ricos detêm 25% do capital na Europa).

Em 2º lugar – e esta é a tese central de Piketty – é possível explicar o essencial das dinâmicas de crescimento das desigualdades (até ao início do século XX e nas décadas mais recentes) através da relação entre a taxa de rentabilidade do capital e a taxa de crescimento económico.
Mais precisamente, há cinco ideias no raciocínio de Piketty que importa reter:

i) é possível mostrar teoricamente que uma ligeira diferença entre a taxa de rentabilidade do capital e a taxa de crescimento económico
é suficiente para que as desigualdades se acentuem ao longo do tempo;

ii) em termos empíricos verifica-se que essa diferença foi substancial durante a maior parte do processo de desenvolvimento do capitalismo;

iii) só a ocorrência de acontecimentos dramáticos relacionados com as duas guerras mundiais do século XX (destruição física de bens de capital, revoluções, descolonizações, nacionalizações, inflação elevada, congelamento de rendas, tributação agressiva de rendimentos e património, etc.)
permitiram corrigir (temporariamente) as assimetrias na repartição da riqueza e do rendimento que decorrem de i) e ii);

iv) a combinação de um baixo crescimento demográfico (que implica a desaceleração do crescimento económico) e
de uma forte concorrência fiscal a nível global (que conduz ao aumento da rendibilidade dos capitais) fazem antecipar uma tendência para o aprofundamento das desigualdades no futuro; e, consequentemente,

v) são necessárias mudanças institucionais profundas para prevenir que as desigualdades no século XXI regressem aos níveis verificados no início do século XX
(tornou-se famosa a proposta de Piketty de um imposto mundial sobre o capital, que exigiria um maior controlo sobre os fluxos de capitais a nível internacional).

O trabalho de Piketty tem suscitado os mais variados tipos de críticas (muitas injustas, outras nem por isso):
desde a fiabilidade das fontes e do tratamento dos dados, passando pelo conceito de capital que utiliza, até à ideia subjacente de que é possível regenerar o capitalismo através da fiscalidade sobre o capital, ou ainda a escassez de análise teórica sobre os fenómenos identificados.

Aqui interessa-me menos revistar todas aquelas polémicas do que salientar dois aspectos. Primeiro, o trabalho de Piketty mostra de forma inequívoca que a tendência para o aprofundamento das desigualdades está bem presente nas nossas sociedades, pondo em risco alguns dos valores fundamentais sobre as quais assentam.
Segundo, ao contrário do que sucedeu na maioria dos países ocidentais nos últimos anos, o debate sobre as desigualdades ainda é pouco mais do que uma nota de rodapé no debate público em Portugal.

Podemos culpar a dimensão da obra de Piketty, que não facilita a sua leitura e discussão alargadas (ainda que a abordagem não seja muito técnica e o estilo de escrita seja convidativo e acessível).
Podemos também argumentar com a falta de dados sobre a distribuição do património em Portugal – e até mesmo a fragilidade dos dados disponíveis sobre os rendimentos.

Não podemos, no entanto, deixar de registar que é precisamente num dos países mais desiguais de todo o mundo industrializado que a discussão sobre as desigualdades é mais escassa.
Já vai sendo hora de acabar com este paradoxo.


De Neoliberal,Desigualdade,U.E.,Grécia,Pt a 20 de Janeiro de 2015 às 12:58
Mudanças na política económica da UE - onde anda o Governo Português?
( por AG, 20/1/201)

Um relatório da OXFAM veio ontem confrontar o Forum de Davos com o cálculo de que, no próximo ano, 1% da população mundial vai deter mais riqueza do que o resto dos 99 por cento:
a desigualdade está a atingir níveis obscenos com o sistema capitalista desenfreado e desgovernado.

Para combater a desigualdade na América o Obama anuncia hoje medidas que incluem consideráveis aumentos de impostos sobre os muito ricos, sobre heranças e sobre os bancos.

Na Europa também se ensaiam mudanças mas nada disto ainda. E mudanças não apenas por causa das eleições na Grécia, onde torço para que ganhe o Syriza.

Na ultima semana, a Comissao Juncker, por pressão da Itália e do Grupo dos Socialistas Europeus, decidiu finalmente que algum investimento público deixará de contar para o défice;
embora para já, a medida abranja apenas países com défices abaixo de 3% - portanto, não se aplique ainda a Portugal;
Mas todos os países podem suavizar a austeridade, alargando o calendário, desde que realizem "reformas estruturais";

Mas isso exige que Governo e PR se batam na Europa pelo reconhecimento dos sacrifícios que já fizemos em Portugal;
nós, Socialistas portugueses no PE, não temos descansado e não descansaremos.
Mas sabemos que é também precisa uma linha de negociação permanente em Bruxelas em representação do Estado.
Ora, capacidade diplomática e política é o que este Governo não tem, nem quer ter - como está à vista no fiasco quanto à Base das Lajes, e no abdicar de controle, predador, na PT e na TAP.

Uma outra mudança anda a ser preparada pelo BCE:
um programa de compra de obrigações dos Estados, equivalente ao que na América se chama de Quantitative Easing.
É um esquema de injector de liquidez na economia, crucial para inverter a ameaça de deflação associada à estagnação económica, que pode levar à total disrupção económica e financeira, e crucial para a capacidade da zona euro financiar a retoma económica e a criação de emprego.
Na semana passada, o Tribunal de Justiça da UE veio declarar que o programa de compra de dívida é legal.

Mas continua uma fanática oposição alemã, que junta em coro políticos, académicos, economistas e banca de investimento.
E também há oposição dos meios financeiros conservadores, em particular o britânico.

O argumento usado é o de que serão os contribuintes alemães a pagar os prejuízos dos eventuais incumprimentos de países financeiramente debilitados.
Casos explícitos da Grécia, Portugal, Chipre, Irlanda e implícito da Itália e da Bélgica, pelo menos. E tb o da França.

Por isso os alemães põem como condição que a responsabilidade de eventuais perdas não seja assumida pelo BCE, mas sim, repartida pelos 19 bancos centrais dos países do euro.
E insistem que a compra de dívida fique registada nas contabilidades de cada um dos 19 bancos centrais da Zona Euro, que devem dividir entre si as responsabilidades,
para que não haja uma "transferência fiscal" dos contribuintes alemães para os contribuintes dos países prevaricadores.

Ora, as operações de compra do BCE podem perfeitamente ser registadas nos livros de contabilidade dos bancos centrais.
E precisamente por isso nenhumas consequências impenderão sobre os contribuintes alemães.
A responsabilidade dos prejuízos cairá apenas sobre países que entrem em incumprimento - e, naturalmente, sobre os contribuintes desses mesmos países.

A este falso argumento, os opositores juntam outro, "ad terrorem" - o de que o QE irá provocar uma "dramática desvalorização do euro".
Ou seja, os alemães não só ficariam mais pobres, como perante uma "dramática desvalorização do euro", ressurgiria o velho espectro da sociedade alemã: a hiperinflação.

Estes são argumentos de desespero. A Alemanha, insensível as consequências devastadoras para as economias do sul da Europa, não parece estar satisfeita com o atraso que impôs ao BCE - de pelo menos 5 anos - na adopção das políticas de QE em relação aos EUA. Esperemos que essa sabotagem tenha o seu fim na próxima 5.feira.
... será o QE suficiente para impulsionar o crescimento e o emprego na Europa ? ...Os bancos tem de deixar de estar focados nas operações do mercado de capitais - meras aplicações especulativas ...


De Neolib obriga tb a EMIGRAÇÃO sangrenta a 21 de Janeiro de 2015 às 10:56
Grécia: a maior fuga mundial de cérebros - emigrantes qualificados, jovens e ...
(tal como em Portugal: uma desgraça e muito cara.)

-------

Young, gifted and Greek: Generation G – the world’s biggest brain drain

More than 200,000 Greeks have left the country since the financial crisis hit. The Guardian meets some who will be watching this weekend’s elections with great interest.
...
http://www.theguardian.com/world/2015/jan/19/young-talented-greek-generation-g-worlds-biggest-brain-drain


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