De ?Democracia? a 23 de Dezembro de 2015 às 19:13
O Estado concedeu, entre 2008 e 2014, 11.822 milhões de euros em apoios ao setor financeiro, segundo o parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2014, divulgada pelo Tribunal de Contas, na qual faz, pela primeira vez, um levantamento das ajudas públicas à banca.
Globalmente, as despesas públicas com a banca atingiram, nesses seis anos, os 17.635 milhões de euros, o equivalente a 10,2% da riqueza gerada em Portugal durante o ano passado, tendo, por sua vez, como realça o Tribunal de Contas, gerado receitas de 5.813 milhões de euros.
Assim, o Estado gastou em apoios públicos ao sector financeiro 11 822 milhões de euros entre 2008 e 2014, tendo o BES/Novo Banco representado 40% dos gastos com a banca. Estas transferências foram efetuadas através de entidades públicas como a Direção Geral do Tesouro e Finanças, o Fundo de Garantia de Depósitos, o Sistema de Indemnização aos Investidores e o Fundo de Resolução.
Tendo em conta tratar-se de pessoas coletivas de direito público, geridas direta ou indiretamente pelo Estado, o Tribunal de Contas entende que isso «confere natureza pública a esses fluxos financeiros, independentemente da sua origem e de se encontrarem, ou não, refletidos no Orçamento do Estado, e nessa perspetiva constituem apoios públicos ao setor financeiro».
Para se ter uma ideia da dimensão de tal montante astronómico, fizemos umas contas para compreender melhor o que essa cifra de oito dígitos representa:
92% do IRS cobrado em 2014 (€12.863 milhões)
5 vezes o montante arrecadado pelo Estado com o combate à fraude e evasão fiscal (€2.550 milhões)
1,7 milhões de portugueses a receber o salário mínimo durante um ano (€505, em 2015).
20 vezes o investimento previsto (€600 milhões) no novo Hospital de Lisboa Oriental
9,5 vezes as medidas de contenção orçamental contidas no Orçamento para 2015
605 vezes mais do que o Estado gastou, em novembro, com 206 163 portugueses beneficiários do Rendimento Social de Inserção.
De regabofe a 24 de Dezembro de 2015 às 15:49
Quando os Sr.s Passos Coelho, Paulo Portas e a Sr.a Ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque injectaram 1000(mil) milhões de euros no BANIF o ESTADO ficou com 61% do capital, certo?, logo, o banco ficou nacionalizado. Como é que o governo acautelou a gestão se só colocou lá na administração 1 (um) administrador não-executivo? Então 1000 milhões de euros deixam-se assim sem controlo !? E onde estava a fiscalização (Banco de Portugal) nomeado pelo governo para controlar este regabofe!? E o Sr. Presidente da República não disse nada!? Estava distraído ou era conivente com o desleixo? Os casos do BPN e BES não serviram para nada!?. Continuamos a pagar principescamente a estes administradores de bancos e a estes sem vergonha de políticos (jogadores de casino) e a admitir esta vergonha nacional!? E onde pára o Ministério Público!? Qual é o limite para o povo se revoltar com toda esta podridão ou será que temos cú para aguentar muito mais?
De Nicolau dos Santos, Expresso (Parte 1) a 28 de Dezembro de 2015 às 09:42
Desculpem, mas não há peru, rabanadas e lampreias de ovos que me façam passar o engulho da fatura que neste final do ano veio parar outra vez aos bolsos dos contribuintes por mais um banco que entrega a alma ao criador, no caso o Banif, no caso mais 3 mil milhões. É de mais, é inaceitável, é uma ignomínia para todos os que estão desempregados ou caíram no limiar da pobreza por causa desta crise e mais uma violência brutal para os que continuam a pagar impostos (e que são apenas cerca de 50% de todos os contribuintes).
Todos nos lembramos do cortejo dos cinco maiores banqueiros portugueses (Ricardo Salgado, Fernando Ulrich, Nuno Amado, Faria de Oliveira e Carlos Santos Ferreira) a irem ao Ministério das Finanças e depois à TVI exigir ao então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, para pedir ajuda internacional. Todos nos lembramos como o santo e a senha da altura era o da insustentável dívida pública portuguesa por erros de gestão do Governo de José Sócrates. Todos nos lembramos das sucessivas reafirmações de que a banca estava sólida por parte do Banco de Portugal e do governador Carlos Costa. Todos nos lembramos dos testes de stress aos bancos conduzidos pela Autoridade Bancária Europeia – e como os bancos nacionais passaram sempre esses testes. E depois disso BPI, BCP, CGD e Banif tiveram de recorrer à linha de crédito de 12 mil milhões acordada com a troika. E depois disso o BES implodiu – e agora o Banif também. E depois disso só o BPI pagou até agora tudo o que lhe foi emprestado. E antes disso já o BPN e o BPP tinham implodido. E a Caixa vai ter de fazer um aumento de capital. E o Montepio é uma preocupação. É de mais! Chega! Basta!
No caso do Banif, é claro que o governador Carlos Costa tem enormes responsabilidades na forma como o problema acabou por ter de ser resolvido. No caso do BES foi ele também que seguiu a estratégia da resolução, da criação do Novo Banco e do falhanço total dessa estratégia – a venda rápida que não aconteceu, a venda sem despedimentos que também não vai acontecer, os 17 interessados que afinal eram só três, as propostas que não serviam, e o banco que era para ser vendido inteiro e agora vai ser vendido após uma severa cura de emagrecimento. É claro também que a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tem responsabilidades diretas no caso, por inação ou omissão. E é claro que o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, geriu politicamente o dossiê.
Mas não confundamos os políticos e o polícia com os bandidos, com os que levaram a banca portuguesa ao tapete. E para isso nada melhor do que ler o excelente texto que o Pedro Santos Guerreiro e a Isabel Vicente escreveram na revista do Expresso da semana passada com um título no limite mas que é um grito de alma: «O diabo que nos impariu» - ou como os bancos nacionais destruíram 40 mil milhões desde 2008. Aí se prova que houve seguramente muitos problemas, mas que a origem de tudo está no verdadeiro conúbio lunar que se viveu entre a banca e algumas empresas e alguns empresários do setor da construção. Perguntam os meus colegas: «Sabe quem é Emídio Catum? É um desses empresários da construção, que estava na lista de créditos do BES com empresas que entretanto faliram. Curiosamente, Catum estava também na lista dos maiores devedores ao BPN, com empresas de construção e imobiliário que também faliram». E como atuava Catum? «O padrão é o mesmo: empresas pedem crédito, não o pagam, vão à falência, têm administradores judiciais, não pagam nem têm mais ativos para pagar, o prejuízo fica no banco, o banco é intervencionado, o prejuízo passa para o Estado». Simples, não é, caro leitor?
De De Nicolau dos Santos, Expresso (Parte 2 a 28 de Dezembro de 2015 às 09:44
A pergunta que se segue é: e o tal de Catum está preso? Não, claro que não. E assim, de Catum em Catum, ficámos nós que pagamos impostos com uma enorme dívida para pagar que um dia destes vai levar o Governo a aumentar de novo os impostos ou a cortar salários ou a baixar prestações sociais. Mas se fosse só o Catum… Infelizmente, não. Até as empresas de Luís Filipe Vieira deixaram uma dívida de 17 milhões do BPN à Parvalorem, do Estado, e tinham ainda por pagar 600 milhões de crédito do BES. O ex-líder da bancada parlamentar do PSD, Duarte Lima, deixou perdas tanto no Novo Banco como no BPN. Arlindo Carvalho, ex-ministro cavaquista, também está acusado por ilícitos relacionados com crédito concedido pelo BPN para compra de terrenos. E um dos homens fortes do cavaquismo, Dias Loureiro é arguido desde 2009 por compras de empresas em Porto Rico e Marrocos, suspeita de crimes fiscais e burlas. Mas seis anos depois, o Ministério Público ainda não acusou Dias Loureiro, nem o processo foi arquivado.
Dos 50 maiores devedores do BES, que acumulavam um crédito total de dez mil milhões de euros, «o peso de construtores e promotores imobiliários é avassalador». No BPN, «mais de 500 clientes com dívidas iguais ou superiores a meio milhão de euros deixaram de pagar». E a fatura a vir parar sempre aos bolsos dos mesmos. Por isso, o artigo de Pedro Santos Guerreiro e Isabel Vicente é imperdível. Para ao menos sabermos que o que aconteceu não foi por acaso. Que muita gente não pagou o que devia ou meteu dinheiro ao bolso – e esperou calmamente que o Estado viesse socializar os prejuízos enquanto eles privatizaram os lucros.
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