Segunda-feira, 4 de Maio de 2015

Os estragos na cabeça

 Excertos do texto de José Pacheco Pereira, no Público:
     «Estes últimos anos de “ajustamento” moeram o corpo de muitos milhões de europeus, mas fizeram ainda mais estragos à cabeça de muitos, não tantos, mas muitos.
     Está a interiorizar-se um conjunto de falácias muito perigosas, a tornar-se habitual pensar fora da democracia, de uma forma mais ou menos soft mas, de facto, fora do quadro democrático, estão-se a aceitar como normal ou habitual procedimentos e práticas que subordinam toda a política “possível” a uma versão ideológica da política, que é o que é o “economês”.    Aceita-se como normal uma espécie de marxismo dos imbecis que é a determinação da política (superestrutura) pela infraestrutura (economia) em termos tão grosseiros que deixariam Marx coberto de vergonha e Adam Smith furioso com tanta ignorância. Vamos pagar caro por estes estragos na cabeça. Estamos já a pagar caro. (...)
     A “Europa” é hoje o argumento definitivo e ad terrorem que se usa hoje para bloquear qualquer debate sobre políticas. A “Europa não deixa”, isso “coloca-nos fora do euro”, os custos dessa atitude são “enormes”. É sempre o tudo ou o nada, o que é o retrato, esse sim, de um radicalismo real em que se tornou o debate europeu. O medo tornou-se o principal argumento, como se vê na Grécia: “portem-se mal e vão ver o que vos cai em cima”.
     Este tipo de argumentos é usado por todos os que se querem no “arco da governação, que na verdade significa, estarem dentro desta “Europa” e deste euro. Fora não há governação possível como se “viu na Grécia”. Isso significa que socialistas, social-democratas, democratas cristãos ou não cristãos, direitistas liberais, partidos do centro-direita e do centro-esquerda, partidos de esquerda “europeísta”, todos dizem isto. O mesmo.
     Mas acaso a “Europa” é uma entidade supra-política? Não é de “direita” ou de “esquerda”? Não é o resultado de uma hegemonia política de alguns partidos e alguns países e alguns governantes, em particular alemães? Não tem cor política? É neutra? Claro que não é: é até bastante à direita. O que torna particularmente irónico se não fosse trágico, ouvir um socialista dizer que quer estar com a “Europa”, ou seja com as políticas de direita da actual maioria europeia. O Tratado Orçamental selou esta aliança dando à “Europa” um modelo político de direita, a que todos devem obediência. (...)
     Estamos reduzidos a isto. E se aceitamos este quadro de partida chegamos sempre à chegada que convém a quem acha que isto é que é a “realidade” do “possível” em política. Foi nesta armadilha em que o PS se meteu ao aceitar o quadro do pensamento dominante (em nome seja lá do que for, da “Europa”, por exemplo) e assim colocar-se inteiramente no terreno de uma discussão pública cujos termos são os do governo e da maioria e que ela domina sempre melhor. Ao começarem a apresentação de um projecto político por aquilo que deve ser um complemento ancilar e não um ponto de partida, aceitaram o “economês” e todas as ideias simplistas sobre a sociedade, a política e a economia que lhes estão associadas. (...)
     Pobre país o nosso, entregue a estas cabeças e a este desastre ambulante que é hoje a Europa. Esta é das previsões mais fáceis de fazer: vai haver surpresas e todas elas fora do “consenso europeu”. É que a história não é feita de modelos, mais ou menos neo-malthusianos, que não incluem a complexidade da realidade, agora sem aspas. E essa realidade é o ruído de que falava Max Weber: a regra desses programas é falhar. A regra, não a excepção.»

-----  Um discurso ...   e   as  presidenciais  como  falso  escape 

.  Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje, imagina um possível discurso de Cavaco Silva se existisse, em Portugal, como é o caso nos Estados Unidos, a tradição de o presidente organizar um jantar humorístico com jornalistas:
    «Quero finalizar apelando uma vez mais aos compromissos. A estabilidade governativa é fundamental para o crescimento, como pode ser comprovado pelos últimos anos. Com uma maioria absoluta estável cresceu o desemprego, cresceu a dívida e cresceu o risco de pobreza


Publicado por Xa2 às 07:42 | link do post | comentar

12 comentários:
De + tempo para + Saquear ... a 5 de Maio de 2015 às 10:23
Quanto mais tarde melhor
(-por josé simões, 4/5/2015, DerTerrorist)

fuck.jpg

O enfoque está a ser colocado na elaboração do Orçamento do Estado pelo próximo Governo, que assim vai cair lá para a Primavera de 2016,
quando o Orçamento não é tido nem achado, nem vale uma pevide, nas contas eleitorais de Cavaco Silva,
mas quando a ideia é dar tempo, quanto mais tempo melhor, à
agenda de desmantelamento do Estado e dos serviços públicos, do Estado social, da escola pública e do Serviço Nacional de Saúde ,
(e de + PRIVATIZAÇÔES, de tudo o que resta nos transportes : REN, CP, TAP, Metros, Carris, STCP, portos Lisboa e Sines, ...; nas Águas de Portugal, no imobiliário 'prime', de empresas serviços e estabelecimentos públicos, ... --
pelo Governo de iniciativa presidencial que é como quem diz o Governo da direita
que é como quem diz o Governo PSD/ CDS que é como quem diz o Governo Passos Coelho/ Paulo Portas.


De Ag. Rating tuga «pior não é, se ...». a 5 de Maio de 2015 às 11:16
Portugal está acima de "lixo" (e tb abaixo de lixo)

A agência de 'rating' ARC Ratings atribuiu uma notação de "BBB-", primeiro nível acima da categoria de "lixo", com perspetiva estável à dívida soberana de Portugal na primeira avaliação que a empresa fez à economia portuguesa, foi hoje anunciado.

A ARC é uma empresa de 'rating' com base em Londres e Lisboa - anteriormente conhecida com Companhia Portuguesa de Rating - e tem como parceiros agências de 'rating' na Índia (CARE Ratings), Malásia (MARC), Brasil (SR Ratings) e África do Sul (GCR).

Num relatório hoje divulgado, a ARC Ratings (ARC) explica que a notação atribuída, que não foi feita a pedido do país, se baseia na vontade política de estabilizar a economia, numa recuperação económica mais apoiada nas exportações e na estabilidade política e continuidade de políticas entre os partidos do arco da governação, incluindo já as próximas eleições legislativas.

A gestão proactiva que limita os riscos associados à elevada dívida pública de 130% do Produto Interno Bruto (PIB), a queda do desemprego, o programa de compra de dívida pública por parte do Banco Central Europeu e o facto de pertencer à zona euro são outros dos fatores que justificam a atribuição da notação de "BBB-", refere a ARC.

Em relação aos riscos que a economia portuguesa enfrenta, a ARC destaca o histórico de fraco crescimento económico, incluindo antes da crise, a falta de competitividade da economia, a elevada dívida pública, a elevada alavancagem da economia e os riscos de contágio associados a uma eventual saída da Grécia do euro.

Para a atribuição da notação de "BBB-" com perspetiva estável, a ARC baseou-se numa previsão de crescimento económico entre 1,5% e 2% a médio prazo, numa descida, ainda que muito moderada, da dívida pública para níveis abaixo dos atuais 130% do PIB, no regresso da confiança dos investidores, numa melhoria da posição externa e na estabilidade no setor financeiro.

A ARC refere ainda que uma melhoria da notação do 'rating' de Portugal poderia ser originada uma "transformação estrutural da economia" resultante de uma "melhoria significativa da economia real".

Em sentido contrário, a ARC refere que o 'rating' de Portugal pode sofrer um corte caso ocorra um cenário de deflação ou a adoção de políticas fraturantes.

----------
Mas quem é o imbecil que não previa isto ?
Claro que as CRIMINOSAS agências de RATING e a moribunda Troika vão colaborar e tentar perpetuar os seus Bons Alunos no Poder.
O segundo resgate que foi empurrado para depois das eleições já faz parte da estratégia da CAPTURA nacional cuja cumplicidade está bem representada por estes governantes abaixo de lixo, que usurparam o Poder em 2011 com um falso programa, já então, orientados superiormente por esta máfia de interesses internacionais.
Com 93% de Divida em 2010, cortavam-nos o rating a caminho de lixo, agora com uma Divida de 135% já estamos a subir !!!!?
Só mesmo imbecis acreditam nisto !

3 BANCARROTAS DEPOIS DE 74 … OBRIGADO PSD !

A 1ª foi em resultado do PREC de extrema-esquerda em que vocês se piraram para Espanha e Brasil, deixando os socialistas a aguentarem a comunada e a acantonar guerrilheiros, deixando o caminho livre para o vosso regresso e o recuperar dos vossos bens.

A 2ª, em resultado da bancarrota deixada pela AD de Balsemão, Cavaco e JSalgueiro.

A 3ª, porque sim, porque apeteceu a alguém, porque apeteceu ao PSD, porque Portugal era o único que estava a crescer em plena crise, porque Portugal foi o único a quem aconteceu, e até, porque crise mundial só mesmo desde Junho de 2011 !!

E por tudo isto somos castigados e roubados continuadamente por este PREC de direita, porque ostracizado pelo Bando do Cavaquistão entendeu ser a sua vez de ir ao pote !!!

"Não estamos a ser governados por gente séria.

A revelação de Manuela Ferreira Leite, em programa televisivo, foi seguida por um silêncio quase sepulcral. Nenhum dos jornais que se auto-proclamam como "referência" mencionou o assunto. A excepção honrosa foi o jornal i . ...

Portugal cria 10.000 novos milionários por ano

Quase 30% dos milionários portugueses surgiram nos últimos 2 anos. 60% de toda a riqueza está concentrada nos 10% mais ricos.
E quantos milhares abaixo do limiar da pobreza?
Obrigado PSD/CDS, PR ...


De Anos '80/'90, tugas e cavacos. a 22 de Maio de 2015 às 17:39
[Política e sociedade em Portugal e no mundo, nos anos '80 e '90 ]

Blogonovela "O Ilusionista de Trapalhândia

----- 4º episódio: O Farol das Amoreiras

Ao fim de 20 lições de dicção, Hannibal já pronunciava com desenvoltura "supercalifragiliespiralidoso", mas continuava a engasgar-se com o "Rato que roeu a rolha da garrafa do rei da Prússia".

As suas preocupações, no entanto, eram outras.
Na iminência da entrada de Portugal na CEE precisava de aplicar os TRUQUES que engendrara para convencer os tugas que com ele seriam felizes.
Os ventos da História estavam do seu lado (e os fundos europeus ...) e traziam até Portugal a Internacional CONSUMISTA que será a sua maior aliada.

O primeiro sinal de que a Internacional Consumista podia estar a chegar a Trapalhândia não veio do cometa Halley que nesse ano visitou de novo a Terra, anunciando a comercialização do telemóvel.

Veio da URSS com a chegada de Gorbatchov ao Poder. ... A Perestroika (transparência) é palavra de ordem (precedida pelo movimento sindical-político "Solidariedade" polaco de L. Walesa, católico apoiado tb pela Santa Sé)
e segue-se a Queda do Muro de Berlim (e da RDA, países de 'leste'/ pacto de Varsóvia, e URSS)

e a solidariedade do mundo contra a fome desperta, com um sinal de esperança, no mega concerto Live Aid, que põe o mundo a cantar "We are the World".

Em Trapalhândia, os tugas fazem filas.
Para levantar dinheiro no multibanco e preencher os boletins do totoloto, na esperança de equilibrar o orçamento familiar.
As agências de viagens andam numa azáfama a organizar excursões de todo o País para Ulisseia.
Motivo:
nas Amoreiras acaba de ser inaugurado o farol da sociedade de consumo à tugalesa - o Centro Comercial das Amoreiras.

Trapalhândia entra formalmente para a CEE (comunidade económica europeia) no dia 1 de Janeiro de 1986 e o primeiro bébé proveta a nascer no País já é um cidadão comunitário.
Ambos os acontecimentos podem ser registados com as novas máquinas fotográficas descartáveis.
No Hospital de Santa Cruz faz-se a primeira transplantação cardíaca. A medicina tuga vive um ano de glória.

Acaba o papel selado e começa o "Cartão Jovem" .
A sociedade de consumo proclama eufórica : "Venham a mim as criancinhas".

"Era Uma Vez na América" enche as salas de cinema, enquanto a campanha de Freitas do Amaral sob o lema "P'ra Frente Trapalhândia" é feita ao bom estilo americano.
Mário Soares "é fixe" e ganha as eleições em Fevereiro, mas quem vai p'rá frente é a sociedade de consumo.
A D. Branca está presa, mas a Bolsa faz a sua vez e os tugas entram em euforia bolsista (todos compram acções... e perdem depois, prenúncio da especulação imobiliária e crise financeira e 'estatização' das perdas/dívidas privadas dos bangsters).

O vai-vem Challenger explode com sete tripulantes a bordo. Pausa no programa de voos tripulados.
Os tugas passam a voar nas asas do sonho, por sua conta e risco…


(Continua)
VER EPISÓDIOS ANTERIORES AQUI

(- por Carlos Barbosa de Oliveira , 22/5/2015, http://cronicasdorochedo.blogspot.pt/ )


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