Os estragos na cabeça
«Estes últimos anos de “ajustamento” moeram o corpo de muitos milhões de europeus, mas fizeram ainda mais estragos à cabeça de muitos, não tantos, mas muitos.
Está a interiorizar-se um conjunto de falácias muito perigosas, a tornar-se habitual pensar fora da democracia, de uma forma mais ou menos soft mas, de facto, fora do quadro democrático, estão-se a aceitar como normal ou habitual procedimentos e práticas que subordinam toda a política “possível” a uma versão ideológica da política, que é o que é o “economês”. Aceita-se como normal uma espécie de marxismo dos imbecis que é a determinação da política (superestrutura) pela infraestrutura (economia) em termos tão grosseiros que deixariam Marx coberto de vergonha e Adam Smith furioso com tanta ignorância. Vamos pagar caro por estes estragos na cabeça. Estamos já a pagar caro. (...)
A “Europa” é hoje o argumento definitivo e ad terrorem que se usa hoje para bloquear qualquer debate sobre políticas. A “Europa não deixa”, isso “coloca-nos fora do euro”, os custos dessa atitude são “enormes”. É sempre o tudo ou o nada, o que é o retrato, esse sim, de um radicalismo real em que se tornou o debate europeu. O medo tornou-se o principal argumento, como se vê na Grécia: “portem-se mal e vão ver o que vos cai em cima”.
Este tipo de argumentos é usado por todos os que se querem no “arco da governação”, que na verdade significa, estarem dentro desta “Europa” e deste euro. Fora não há governação possível como se “viu na Grécia”. Isso significa que socialistas, social-democratas, democratas cristãos ou não cristãos, direitistas liberais, partidos do centro-direita e do centro-esquerda, partidos de esquerda “europeísta”, todos dizem isto. O mesmo.
Mas acaso a “Europa” é uma entidade supra-política? Não é de “direita” ou de “esquerda”? Não é o resultado de uma hegemonia política de alguns partidos e alguns países e alguns governantes, em particular alemães? Não tem cor política? É neutra? Claro que não é: é até bastante à direita. O que torna particularmente irónico se não fosse trágico, ouvir um socialista dizer que quer estar com a “Europa”, ou seja com as políticas de direita da actual maioria europeia. O Tratado Orçamental selou esta aliança dando à “Europa” um modelo político de direita, a que todos devem obediência. (...)
Estamos reduzidos a isto. E se aceitamos este quadro de partida chegamos sempre à chegada que convém a quem acha que isto é que é a “realidade” do “possível” em política. Foi nesta armadilha em que o PS se meteu ao aceitar o quadro do pensamento dominante (em nome seja lá do que for, da “Europa”, por exemplo) e assim colocar-se inteiramente no terreno de uma discussão pública cujos termos são os do governo e da maioria e que ela domina sempre melhor. Ao começarem a apresentação de um projecto político por aquilo que deve ser um complemento ancilar e não um ponto de partida, aceitaram o “economês” e todas as ideias simplistas sobre a sociedade, a política e a economia que lhes estão associadas. (...)
Pobre país o nosso, entregue a estas cabeças e a este desastre ambulante que é hoje a Europa. Esta é das previsões mais fáceis de fazer: vai haver surpresas e todas elas fora do “consenso europeu”. É que a história não é feita de modelos, mais ou menos neo-malthusianos, que não incluem a complexidade da realidade, agora sem aspas. E essa realidade é o ruído de que falava Max Weber: a regra desses programas é falhar. A regra, não a excepção.»
----- Um discurso ... e as presidenciais como falso escape
«Quero finalizar apelando uma vez mais aos compromissos. A estabilidade governativa é fundamental para o crescimento, como pode ser comprovado pelos últimos anos. Com uma maioria absoluta estável cresceu o desemprego, cresceu a dívida e cresceu o risco de pobreza.»
presidenciais 2016
http://observador.pt/2015/05/03/palavras-dos-candidatos-presidenciais-chegam-as-nuvens/
Quem disse isto?
novoa
António Sampaio da Nóvoa apresentou a sua candidatura esta quarta-feira e, no discurso que fez, garantiu que não ia ser “um espectador impávido perante a degradação do país”. Num momento emotivo em que encheu o Teatro da Trindade, declarou ainda que não permitirá “que o país seja dominado por corporações ou interesses ilegítimos”.
Numa análise ao discurso, verifica-se que as preocupações mais repetidas pelo candidato e ex-reitor da Universidade de Lisboa têm a ver com os portugueses, o futuro e Portugal. Curiosamente, a palavra “podemos” aparece no top pois tornou-se uma espécie de slogan de Nóvoa.
E quem disse isto?
neto
Henrique Neto, empresário e ex-deputado do PS, foi o primeiro a apresentar-se ao eleitorado. Escolheu o Padrão dos Descobrimentos para se lançar à aventura com um discurso pragmático em que criticou o Governo e a troika e não se coibiu de falar também como empresário. “Nos últimos anos assisti revoltado à quase destruição da classe média, ao empobrecimento das famílias portuguesas e a um ataque insensível e sem sentido às pessoas que trabalham, aos funcionários públicos e aos reformados”, declarou.
O socialista considerou ter chegado “a hora da verdade e da coragem, da lucidez e da experiência se darem as mãos, para levar a cabo a transformação necessária e mudar o que tem de ser mudado e que os portugueses reclamam”. Uma dessas mudanças é a do tecido empresarial do país. Outra é a melhoria da qualidade de vida dos portugueses, afetados pelas políticas de austeridade.
E quem disse isto?
morais
“Os governantes mentem todos os dias, enquanto o povo tem sede de uma justiça que nunca chega”, afirmou Paulo Morais na apresentação da sua candidatura no Porto. O ex-vice-presidente da Câmara do Porto faz da luta contra a corrupção uma das suas bandeiras políticas há vários anos e o discurso com que se apresentou à corrida eleitoral refletiu isso mesmo.
Segundo Paulo Morais, “os partidos do poder transformaram os processos eleitorais em circos de sedução em que acaba por ganhar quem é mais eficaz a enganar os cidadãos. As eleições transformaram-se assim em concursos para a escolha do maior mentiroso. E o troféu em jogo neste concurso é a chefia do Governo”. Sobre os deputados à Assembleia da República, disse mesmo que se “entretêm apenas a fazer negócio” e que “largas dezenas” acumulavam funções parlamentares com a de gestores, diretores, administradores ou consultores de grupos económicos “que beneficiam de muitos favores do Estado”.
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outros Presidenciáveis:
. Marcelo R.S. ( PSD, comentador TV, ...)
. Carvalho da Silva ( CES, ex-sindicalista CGTP, ...)
. Marques Mendes ( PSD, comentador TV, ...) ?
. Santana Lopes ( PSD, STCMisericórdia L., ...)
Carvalho da Silva: "Não quero ser fator de perturbação"
07.05.2015
António Pedro Ferreira
Manuel Carvalho da Silva não será candidato presidencial.
"Não cheguei a entrar na corrida e nem apareci na linha de partida", diz ao Expresso. Na primeira pessoa, explica que as presidenciais precisam de uma esquerda unida. Ele não conseguiu
Rosa Pedroso Lima
Não quer ser nem "bode expiatório" nem "fator de perturbação" na corrida das presidenciais. O líder histórico da CGTP chegou a manifestar-se "disponível" para uma candidatura a Belém, mas agora assume que fica de fora.
"Não contam comigo", disse ao Expresso Manuel Carvalho da Silva nas primeiras declarações públicas após as notícias da sua "desistência"como candidato presidencial.
Na última semana, Carvalho da Silva ouviu várias personalidades da vida política, sindical, académica e até de meios católicos.
Quarta-feira à noite, terá reunido com a sua equipa de conselheiros para tomar uma decisão.
As dificuldades do atual cenário político e a "atomização" dos candidatos à esquerda terão pesado na decisão de afastar Belém dos seus projetos de futuro.
"A esquerda só ganhará as eleições presidenciais se o PS estiver todo e se a esquerda estiver toda unida", diz ao Expresso.
A conclusão da dificuldade de protagonizar "uma convergência" foi a razão principal para a sua decisão, que afirma ser "definitiva" e que o afasta da corrida do próximo ano.
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