Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

     Se eles esquecem, lembremos nós!   (-por Santana Castilho, Aventar,21/5/2014)

    No domingo voltamos às urnas para eleger os deputados de um parlamento com pouco poder para operar as mudanças, muitas, de que a Europa carece.   Sendo assim no plano político-burocrático, blindado para servir os poderosos, a cidadania europeia teria uma oportunidade ímpar (utopia a minha!) para recuperar a dignidade que a ganância levou e a solidariedade desaparecida, que alimentou outrora o sonho europeu.  Mas a campanha dos partidos do Governo está a ser um desolador mar de esquecimentos.

     Sendo o estado social um dos princípios fundadores da ideia europeia e uma das vertentes mais abalroada pela intervenção que acabamos de sofrer, não ouvimos sobre o tema uma ideia nova, muito menos um par de soluções avançadas.

    Sendo certo que está a chegar nova onda de fundos comunitários, esperava eu que a campanha servisse para os candidatos se pronunciarem sobre a forma como encaram as prioridades para os utilizar.   E não se tendo dado relevância que baste aos (nefastos) efeitos sociais da crise e ao acentuar dos desequilíbrios entre ricos e pobres, cada vez mais estratificados nos seus mundos, julgava eu que os ia ouvir falar sobre o que se proporiam fazer, uma vez eleitos, para defenderem a coesão social em risco.

    Sendo o sistema monetário europeu impeditivo de uma desvalorização da moeda, que tornasse as nossas exportações mais competitivas e desincentivasse as importações, não vimos discutida (porque, entendamo-nos, a matéria não é tabu, menos ainda em tempo de eleições) a permanência no euro, nem sequer abordada a necessária reformulação das políticas que o suportam, a começar pelo papel do Banco Central Europeu, que empresta a um para que nos reemprestem a cinco.

    Sendo o chamado “pacto orçamental” mais suicida ainda para a nossa economia que as medidas selvagens de austeridade económica impostas pelo mainstream bem pensante (e bem remunerado), entenderam os candidatos que seria mais interessante perorarem retoricamente sobre quem chamou a troika que explicar aos eleitores as consequências draconianas que esse pacto terá sobre os desesperados a quem pedem o voto.

    Sendo a União Europeia, no dizer esclarecido de Pacheco Pereira, “um monstro híbrido e perigoso, controlado por uma burocracia que detesta a democracia e que acha que ela (a burocracia, clarifico eu) é que sabe como se deve governar a Europa e cada país em particular”, não julgaram os democratas candidatos ao Parlamento Europeu que seria obrigatório discutir o insustentável défice democrático europeu.   Preferiram, com essa omissão assassina para a democracia, reforçar a ideia de que a única matéria que na União se sujeita ao voto popular é a sua eleição.

    Sendo nós, portugueses, um dos povos que mais sofreram com as políticas erradas da União Europeia, digam os candidatos o que disserem, mais ainda face aos esquecimentos que os assolaram, o escrutínio de domingo será sobre um Governo que foi além da troika. Mesmo com um protocandidato a recomendar “desabafem nas redes sociais, mas não deixem de votar neles” e outro a proclamar “dever cumprido”, muitos dos que não considerarem inútil o escrutínio de domingo não vão esquecer o que o duo europeu (Comissão Europeia mais Banco Central Europeu) da troika fez ao país e que ficou fora da indigência discursiva dos candidatos dos partidos do Governo:

    1. Compulsando os orçamentos de Estado de 2011 a 2014, verifica-se que o volume dos juros pagos aos credores (28.528 milhões de euros) é quase idêntico ao volume obtido com o corte da despesa pública mais o aumento de impostos (28.247 milhões de euros).   Dito de outro modo, a degradação do Serviço Nacional de Saúde e da escola pública, o fecho de maternidades, centros de saúde e repartições de finanças, entre tantos outros serviços, a redução de salários e pensões e o aumento brutal de impostos, com nuances confiscatórias em muitos casos, serviu para pagar só juros aos nossos “benfeitores”, sem que um cêntimo tenha sido abatido ao montante da dívida.

    2. Apesar do discurso impante do Governo e da troika, (o que se compreende porque o falhanço de um é síncrono com o falhanço da outra) em três anos de aplicação de uma receita que não conseguiu cumprir um só dos seus múltiplos objectivos, a dívida da administração pública cresceu à razão média de 23.236 milhões de euros anuais, ou seja, aumentou 69.708 milhões de euros.

    3. Três anos de ajustamento expulsaram do nosso país 250.000 cidadãos e elevaram o desemprego jovem para o número quase redondo dos 50%.  Ao mesmo tempo que alguns banqueiros transferiram créditos tóxicos para a nossa dívida pública, a coberto dos golpes que, sendo públicos, persistem impunes, 2 milhões de concidadãos estão condenados sem apelo nem recurso ao limiar da pobreza e a classe média está quase extinta.   Salvam-se, reconheçamos, os mais ricos:  cresceu o fosso que separa os 10% mais ricos dos 10% mais pobres.   E não é só porque diminuiu a “riqueza” dos últimos. É sobretudo porque aumentou, e muito, a dos primeiros.



Publicado por Xa2 às 13:54 | link do post | comentar

3 comentários:
De Não voto no desgoverno/ centrão-interess a 21 de Maio de 2014 às 14:29
As dez razões porque não voto neles
(CDS/PP-PSD ... ou partidos do desgoverno e centrão de interesses)

1. Porque são aldrabões
Há muitas circunstâncias que podem vir a impedir que um partido não cumpra as promessas eleitorais, o importante é que a governação seja coerente com o projecto eleitoral. No caso do actual governo o debate eleitoral e as propostas foram mentiras deliberadas para enganar os eleitores.

2. Porque são incompetentes
Em três anos o governo cometeu imensos erros devido a incompetência, isso foi evidente nas previsões económicas, no famoso guião da reforma do Estado ou em decisões importantes como o porto de Lisboa que tem andado a saltitar entre a margem norte a margem sul do Tejo.

3. Porque não governam para o povo
Os grandes beneficiários das decisões governamentais foi a banca, designadamente a banca portuguesa que estava à beira da falência decido a corrupção e má gestão e a banca alemã que precisava a todo o custo que não houvesse qualquer reestruturação da dívida portuguesa.

4. Porque são oportunistas
As idas de Vítor Gaspar para o FMI de Arnaut para o Goldman Sachs ou do licenciado que é catedrático a tempo parcial 0% e grande especialista mundial na economia do pentelho para a EDP revela como o grande objectivo desta gente é enriquecer a qualquer custo.

5. Porque não prestam
É frustrante ver um Rangel esganiçado e um Nuno Melo a mostrar que pouco mais é do que um betinho amigo de Paulo Portas, nunca a direita apresentou tão maus candidatos, gente sem ideias e que mesmo no ataque aos adversários revela falta de imaginação. Só mesmo alguém muito dotado, honesto e rigoroso como o Rui Rio conseguiria ver qualidade nesta gente.

6. Porque são invejosos
O ódio aos funcionários públicos é mais profundo do que a mera aversão ideológica, é um ódio de quem nunca subiu por mérito, de quem estudou numa escola pouco credível, de quem nunca ascendeu a um cargo por concurso.

7. Porque não quero a Europa que eles querem
Eu não quero uma Europa condicionada por conservadores finlandeses, modelada para ajudar a Alemanha a enriquecer cada vez mais, dirigida por oportunistas rascas. Quero a Europa solidária do tempo de gente como Delors, Helmut Kholl ou de Brandt.

8. Porque não têm ideias
A única ideia desta gente é reconduzir a economia e a sociedade ao tempo das desigualdades, querem crescimento À custa de um modelo selvagem, querem o retrocesso social. Em três anos não tiveram uma única ideia que se considerasse um progresso. Chega desta cultura política miserável.

9. Porque são canalhas
Não têm a mais pequena consideração pelos portugueses a não ser que sejam banqueiros e grandes empresários e mesmo assim preferem os defensores dos salários baixos e do oportunismo social. Não revelam a mais pequena sensibilidade em relação ao sofrimento que provocam.

10. Porque não gosto deles
Só a sua presença me irrita.

http://jumento.blogspot.pt/ 19/5/2014


De Mentiras e DesGoverno/ crimes econo-soci a 21 de Maio de 2014 às 14:49
O doce perfume da mentira

«Todas as campanhas abusam da hipérbole, mas existia ainda algum temor da mentira desbragada. ...

A direita insiste na sua estória sobre Maio de 2011. A Troika teria vindo chamada pelo PS a ele deveriam ser assacadas todas as tropelias que o Governo lhe consentiu ou até incentivou. Dupla mentira:
o PS tudo fez para evitar a Troika. Passos e Portas tudo fizeram para que a Troika entrasse. ...
Segunda mentira: se o programa correu mal, a culpa foi do desenho inicial, assacado aos socialistas. Esquecem o seu regozijo com a intervenção. Esquecem que o programa inicial era medicina benigna, comparada com a que Vítor Gaspar apimentou, na mira de mostrar serviço e conquistar melhor emprego. conseguiu.

... existe uma terceira mentira de imensa amplitude. Alega a dupla trauliteira que o PS é o partido da despesa pública, ao longo de quarenta anos. Falso.
Desde que existe estado de direito, o PS governou 14 anos e meio: 1977-1978, 1995-2002 e 2005-2011. O PSD em maioria absoluta governou quase dez anos, de 1985 a 1995. E em coligação com o CDS governou 10 anos: de 1980 a 1983, de 2002 a 2005 e de 2011 a 2014. Ou seja, a direita só ou coligada é responsável por 20 anos de desgraça governativa e de despesismo consciente. Alguns exemplos mais gritantes:
O pagamento de indemnizações e rendas empoladas artificialmente às Misericórdias, em 1980, com o pretexto de terem sido “esbulhadas” de serviços de saúde, o que foi falso;
Um novo sistema retributivo que aumentou em 28%, num só ano, a despesa em ordenados da função pública;
o 14º mês aos pensionistas em 1992; a contagem fictícia de anos de contribuição para a segurança social, a famosa “compra de anos”, que induziu a reforma artificialmente antecipada dezenas de milhares de beneficiários activos;
a aposentação no ensino aos 52 anos;
a prescrição de medicamentos subvencionados pelo SNS, nas consultas privadas, três meses antes das eleições de 1995, fazendo disparar a factura farmacêutica;
os dois submarinos do Dr. Portas, decididos entre 2002 e 2004.
Em matéria de despesismo, o PSD/CDS abriram escola: fazem o mal e a caramunha.

Após 2011 uma nova forma de desbaste do Estado atacou em Portugal. A delapidação do património:
a ANA concessionada por 50 anos e vendida aos franceses a preço de saldo, em ocasião de saldo;
as jóias da coroa, EDP e REN, despachadas com tanta rapidez que nem deu para corrigir as rendas.
A privatização dos CTT, apresentada como êxito e agora entrando em rápida perda de valor bolsista.
A TAP só não foi despachada por ninguém querer pegar no “brinde” da empresa paulista de manutenção que gera prejuízos.
A EGF, vendável num abrir e fechar de olhos, se não fosse a servidão que a vincula aos municípios seus participados.
Os Franceses querem as águas (o que só parcialmente conseguiram na Grécia), os Alemães ainda não excluíram a TAP da sua ambição.
Outra forma de delapidação consiste na destruição de activos:
o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, limitado por lei a deter 55% de obrigações nacionais, vai ver desaparecer esta cláusula para ter que comprar obrigações do tesouro até 90 % dos seus recursos, o que o levará a baixar os activos estrangeiros.
A mistificação chega a enganar um respeitável diário que titula ingenuamente “Pensões menos expostas a dívida estrangeira”.
A mentira subtil chega a fazer parecer que é bom o que é deveras mau. Sempre poetas, estes financeiros.

Mas a poesia não faz esquecer que o desemprego em três anos subiu de 9 para 15%;
que a emigração por dois anos seguidos, passou aos valores do tempo da guerra colonial, 110 a 120 mil emigrantes, agora todos com formação profissional qualificada;
o risco de pobreza aumentou para 25% e o número de pobres, de 16 para 18 %;
a frequência do ensino superior foi reduzida para além do efeito demográfico e a desistência dos estudos aumentada por incapacidade financeira das famílias;
a constituição de novas famílias, com o elevado desemprego jovem, tornou-se mais difícil o que certamente influencia a baixa da natalidade;
a dívida pública passou em três anos de 90 para 130% do PIB, tornando os seus encargos anuais iguais ao orçamento da Saúde.»
[Público] António Correia de Campos. http://jumento.blogspot.pt/ 20/5/2014


De Campanha de centrão de m... neoliberal a 22 de Maio de 2014 às 12:24
Alberto Souto de Miranda: (via CamaraCorporativa)

-- «O Tratado Orçamental e o défice tendencial de 0,5% do PIB, condenam Portugal ao empobrecimento ou são compatíveis com uma estratégia de crescimento?
--O Orçamento Europeu (1.25% do PIB/28) é suficiente para concretizar políticas que promovam o emprego, o crescimento equilibrado e a coesão?
O Banco Central Europeu deve poder intervir no mercado primário da dívida pública?
--A dívida dos Estados Membros deve ou não ser mutualizada acima de 60% do PIB ?
-- A relação de forças entre a Comissão e o Conselho e entre pequenos e grandes países deve ser repensada?

Uma campanha para eleições europeias devia descodificar estas questões, evidenciando vantagens e desvantagens para Portugal.
Mas quanto mais a campanha avança mais embrutecida fica. Estamos reduzidos a esgares de falsas púdicas ofendidas, a frases simplórias e ao discurso rastejo e vazio.

Vazias ficam depois os auditórios e surdas as ruas. Hoje chegámos ao grau zero:
a invocação abrincalhada do “direito à indignação”. Espero que os portugueses, no Domingo, se indignem à séria.»


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